sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

O Notalatina pede desculpas pela ausência de edição dos dias 25 e 26, mesmo tendo um vasto material para divulgar; todavia, problemas de ordem técnica me impediram de informá-los sobre os últimos acontecimentos na Venezuela.



Nesses dois dias muitas coisas aconteceram. O que tem chamado mais a atenção, sobretudo dos venezuelanos, nos episódios relacionados à greve geral, é o comportamento do presidente eleito do Brasil que, através do seu emissário, Marco Aurélio Gracia, ofereceu a Chávez gasolina e técnicos da Petrobras para ajudá-lo a sair da crise, provocando a indignação geral dos opositores que têm manifestado seu repúdio com veemência, à solidariedade do brasileiro para com o “companheiro”.



Com relação à situação dos petroleiros, Cuba não fica atrás na presteza; enviou pessoal da confiança de Fidel para ocupar o lugar dos marinheiros mercantes venezuelanos, o que provocou revolta entre os opositores. Chávez demitiu 90 marinheiros, ocasionando sérios problemas, pois alguns tiveram complicações cardíacas, com o choque da notícia, que necessitavam de cuidados hospitalares urgentes, segundo denúncia felta pela Cruz Vermelha Venezuelana, mas encontravam-se embarcados, porém presos em celas. Há alguns correndo risco de vida, mas, certamente, isso pouco importa ao “loco” Chávez.



São muitas as notícias mas, mesmo com o acúmulo de dois dias de informações, hoje divulgo apenas duas cartas: uma, intitulada “Manifesto de cidadãos venezuelanos aos povos do mundo”, escrita por Elizabeth Sanchez Vegas e outra que me foi enviada por uma amiga, escrita por um venezuelano, enderaçada ao presidente Lula, uma carta forte e contundente. Ambas são muito interessantes, entretanto, tenho ressalvas quanto ao “Manifesto”, pois omitiu um dado da maior importância (talvez o objetivo principal) nesse movimento cívico, que é a recusa absoluta de toda uma nação, à implantação do castro-comunismo em seu país. Isso é o eixo fundamental do movimento que foi capaz de unir patrões e empregados, civis e militares, homens e mulheres de todas as idades e classes sociais. O povo venezuelano diz NÃO ao castro-comunismo, e a prova mais eloqüente disso é o nível de suportabilidade para enfrentar a escassez de gêneros alimentícios e combustíveis, com resignação e paciência em filas quilométricas, e ainda com ânimo para ir às ruas protestar, por amor à pátria. Bravo povo venezuelano!

NI UM PASO ATRÁS!



MANIFESTO DE CIDADÃOS VENEZUELANOS AOS POVOS DO MUNDO



Caracas, 25 de dezembro de 2002



A Venezuela vive hoje a pior crise política, econômica e social de toda a história que nos levou à maior pobreza, desemprego, insegurança, violência e polarização entre venezuelanos, nunca antes conhecida. Para superar esta crise, democrática e pacificamente, a maioria dos venezuelanos só pede a Chávez uma saída eleitoral ou sua renúncia. Os venezuelanos não queremos um golpe militar nem intervenções alienígenas, nem nada que substitua os mecanismos democráticos. Só pedimos a realização de eleições livres.



Chávez, desde 1999, empreendeu um sistemático ataque contra os trabalhadores e seus sindicatos, os partidos políticos, inclusive alguns dos que o apoiaram, os meios de comunicação e jornalistas, os empresários e agricultores, a igreja, as próprias instituições do Estado quando se pronunciam contra si e todos os cidadãos.



Chávez não é um democrata; utiliza a plataforma democrática para tratar de impor-nos uma revolução pela qual o povo venezuelano não votou. Que o mundo não se engane. Chávez e o reduzido grupo que hoje o apoia, quer impor-nos uma revolução que não é pacífica porque não tem feito outra coisa que ofender, agredir e desqualificar. Que não é democrática, senão totalitária porque não entende de opositores, mas de inimigos a destruir, e que não é participativa porque nos exclui e nega-se a permitir a participação de todos na solução da crise.



Desde o ano de 2001 e até a presente data, distintos setores vêm empreendendo legítimas ações de protesto que gradualmente têm aglutinado à imensa maioria dos venezuelanos, como o demonstram as marchas e concentrações que se realizam diariamente em todo o país, assim como as pesquisas de opinião, exigindo infrutuosamente, primeiro, retificação ao governo, com diálogo efetivo e, por último, uma solução eleitoral à crise. Há mais de 20 dias o povo venezuelano encabeça uma Parada Cívica Nacional com o propósito de exigir uma saída democrática à atual ingovernabilidade. Em que pesem os esforços nacionais e internacionais, o governo foge, por todos os meios ao seu alcance, de uma sincera negociação para alcançar um acordo eleitoral.



Não se trata, como este governo quer apresentar demagogicamente ante o mundo, de uma conspiração midiática das elites contra um governo à serviço dos pobres. Trata-se de uma luta de todo um povo contra um governo incapaz, mentiroso, cínico e surdo, que nos levou à maior pobreza, desemprego, angústia e desesperança nunca antes conhecidos pelos venezuelanos.



OS VENZEULANOS EXIGIMOS SAÍDA ELEITORAL JÁ!



Elizabeth Sanchez Vegas – NetForCubaInternacional – www.netforcuba.org



INÁCIO LULA DA SILVA NÃO ENTENDE O QUE QUER A OPOSIÇÃO VENEZUELANA?



Senhor Inácio Lula da Silva.



Tenho entendido que o Sr. foi um dirigente trabalhista, um membro do sindicato de trabalhadores do Brasil.



Também tenho entendido que muitos dirigentes de outros países crêem que o Sr. é um homem bom, modesto, humilde, que aparentemente tem boas intenções para com seu povo e o resto do mundo. E eu quero crer assim também.



Há três fatos que não combinam ou não se encaixam em absoluto na engrenagem de seu perfil político: 1) sua declaração em Havana, onde o Sr. agradeceu a Fidel Castro e seu regime assassino, imperialista e terrorista por haver permanecido, por continuar existindo, por seguir dando um exmplo; 2) suas declações indicando sua distância com Chávez e sugerindo uma mudança política de Chávez, e 3) suas declarações de agora, onde o Sr. assevera não entender os desejos da oposição venezuelana quando lhe reclamam o fato de que o Sr. esteja oferecendo gasolina, suporte técnico, navios, etc. ao governo de Chávez, para que este assassino, terrorista, esquizóide, possa uma vez mais burlar o povo que lhe pede em uníssono sua renúncia e uma saída eleitoral imediata à séria crise nacional.



Se o Sr. é verdadeiramente um líder sindical e dos trabalhadores, e não um comunistoide com fins macabros que teve a paciência de aparentar sê-lo durante mais de 40 anos, o Sr. deveria entender cabalmente que o Sr. DEVE IDENTIFICAR-SE com a posição do líder sindical Carlos Ortega, homem de origem humilde, como o Sr. que, igualmente a um extraordinário número de venezuelanos depositou uma vez sua confiança e voto em Chávez e depois de haver sido traído e abusado por este, mentém uma oposição férrea, pacífica, democrática e legal, junto aos mais de oito milhões de trabalhadores os quais ele representa, membros do maior e mais representativo organismo sindical da Venezuela, hoje contra Chávez. Vale acrescentar que esta posição é, hoje em dia, de acordo com as mais sérias pesquisas realizadas no país, a posição de mais de 80% dos venezuelanos e, por fim, a maioria absoluta. Consequentemente, é a posição do povo, do soberano venezuelano.



O Sr. sabe muito bem que ajudando com gasolina, com pessoal especializado, com navios e demais, o Sr. está ajudando a que o golpista Chávez, que tem a obrigação moral, social, política, ética e pessoal de responder a esse povo que está decidido a perder trabalho, saúde, propriedades, enfim, tudo, para conseguir uma mudança democrática, constitucional e pacífica em seu país, permaneça ainda mais no poder. O Sr. está traindo seus supostos ideais de trabalhador e de membro humilde e digno do povo, quando o Sr. se presta a ajudar um golpista que vem há 4 anos enganando, insultando, provocando, ameaçando, perseguindo e matando o povo da Venezuela.



O Sr. vai me dizer que também pertence aos que são cegos e surdos à atual crise da Venezuela? Quer-me dizer que as marchas de milhão e meio de venezuelanos não lhe dizem nada? Que a Parada Cívica Nacional de mais de 20 dias não lhe diz nada? Que os marchantes, protestadores pacíficos, mortos por um balaço de frente por franco-atiradores de Hugo Chávez no 11 de abril e em 6 de dezembro de 2002, não lhe dizem nada? Que tampouco nada lhe diz o fato de que Chávez tenha feito vários referendos e eleições quando o propósito e as pesquisas lhe convinham e agora negue-se rotundamente a levar a cabo qualquer dos dois, quando o povo soberano lhe pede e, certamente, o propósito e os resultados das pesquisas não lhe convêm? Que o Sr. não entende porquê a oposição a Chávez se molesta com o Sr.? Faça-me o favor, não nos tome por estúpidos!



Não seja o Sr. outro falso a mais, como todos os esquerdistas. Ainda não tomou o poder e já está o Sr. indicando sua solidariedade com regimes não-democráticos, os mesmos com os quais o Sr. quis manter distância quando o Sr. todavia não tinha assegurado a vitória eleitoral no Brasil. O Sr. respalda o Foro de São Paulo, o Sr. respalda Castro, Chávez, as FARC e a todos os organismos de esquerda da América Latina, os mesmos que têm bombardeado igrejas e matado centenas de inocentes crianças nelas. O Sr. quer criar uma bomba atômica no Brasil, etc., e os fins não devem ser precisamente bons. E há muito mais a dizer sobre suas intenções, porém vou permanecer no que me incumbe e interessa, como venezuelano: VENEZUELA.



Medite, pois ainda está em tempo. Uribe acabará com a guerrilha dentro de pouco tempo. O povo da Venezuela derrotará, julgará e encarcerará Chávez e os terroristas das FARC, de Castro e de Hussein que estão na Venezuela. A comunidade internacional, o exílio cubano, os dissidentes e os Estados Unidos acabarão com Castro muito em breve. O homem do Equador vai ter que entrar pela mesma porta dos demais. Não cometa um erro garrafal, deixe de cinismos, desate toda sorte de ligações com esses obscuros fantasmas da História e una-se aos libertários da América e do mundo.



ABAIXO Chávez, ABAIXO Castro, ABAIXO os terroristas, ABAIXO a esquerda internacional!



Stefano Pagani



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