domingo, 24 de fevereiro de 2013

Zapata Tamayo, Hermanos al Rescate e os cinco espiões cubanos

Eu havia dito que não ia mais falar da blogueira cubana e não vou mesmo, pois deixo que a VERDADEIRA DISSIDÊNCIA, aqueles que sofreram na carne os horrores da perseguição, tortura, prisão e morte de seus familiares que esta criatura jamais conheceu, falem. Eles têm AUTORIDADE para tal. E não posso deixar passar batido o que provocou verdadeiro repúdio entre os dissidentes, uma vez que esta criatura foi apresentada ao mundo como “opositora ao regime”. Entretanto, tendo a chance de viajar pelo mundo, em vez de cumprir com aquilo que se dizia dela e toda a oposição - sobretudo os exilados que lhe deram um voto de confiança como uma voz dissidente - esperava ansiosamente, defendeu os mesmos objetivos-chave dos ditadores Castro. Em vez de pedir a libertação dos presos-políticos, ela pediu a liberdade dos cinco espiões castristas. E isso ninguém perdoa, mesmo que depois ela tivesse retificado dizendo que foi “ironia”. Não colou, nem para mim e muito menos para os dissidentes cubanos.

Ontem completou 3 anos do assassinato do opositor Orlando Zapata Tamayo e hoje, 17 anos do assassinato de quatro jovens do grupo de socorro “Hermanos al Rescate”. Rendo minhas homenagens a eles, republicando a edição que fiz por ocasião do falecimento de Zapata Tamayo, e aos Hermanos al Rescate, através de um vídeo inédito que documenta o momento da ação criminosa e depoimentos de familiares dos assassinados.

Na descrição do vídeo produzido em 2011 pela organização “M.A.R. por Cuba”, lê-se: “Em 24 de fevereiro de 2011 vai-se completar 15 anos da derrubada de dois aviões bimotores do grupo humanitário “Hermanos al Rescate”, por parte de um avião militar MIG-19 do governo cubano. Um informe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos de 29 de setembro de 1999, chegou à seguinte conclusão: ‘O Estado de Cuba é responsável pela violação do direito à vida - Art. I da Declaração dos Direitos e Deveres do Homem - em prejuízo de Carlos Costa, Pablo Morales, Mario de la Peña e Armando Alejandre, os quais pereceram como conseqüência de ações diretas de seus agente na tarde de 24 de fevereiro de 1996, enquanto riscavam o espaço aéreo internacional’. Em Hermanos al Rescate chegaram a participar voluntários de dezessete nacionalidades distintas, entre eles três pilotos argentinos, os Hermanos Lares”.






Yoani Sánchez pede a libertação dos cinco e o fim do embargo, mas se esquece de pedir a libertação dos presos-políticos cubanos que estão nas prisões castristas

Nota do Blogueiro de Baracutey Cubano

Já estão se mostrando as cartas e as caras e, no melhor dos casos, a muito limitada visão política de Yoani Sánchez.
Yoani erroneamente acusou os Estados Unidos de “ingerencista” pelo Embargo norte-americano imposto à tirania castrista, ao qual Yoani, do mesmo modo que a tirania, lhe chama de “bloqueio”. Yoani SIM está sendo ingerencista quando se intromete para pedir a liberdade dos 5 espiões confessos da Red Avispa que se encontram em solo norte-americano, alguns deles cidadãos norte-americanos de nascimento, que espionavam contra os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que planejavam ações terroristas. Yoani tem acesso à Internet, portanto a ignorância não é o seu pecado. O Embargo norte-americano foi a justa resposta ao roubo das propriedades norte-americanas, sem que esses confiscos fossem a juízo para debater as quantidades ou formas de pagamento delas, que era o que estabelecia a Constituição de 1940, a qual aceitava a nacionalização de propriedades estrangeiras, embora a incipiente tirania o que levou a cabo realmente com esse roubos foi sua ESTATIZAÇÃO. A restauração da Constituição de 1940 foi uma das bandeiras ou pilares que Fidel Castro usou para captar prosélitos e seguidores durante a luta contra o regime de Fulgencio Batista. Yoani sabe muito bem, pois não é tão jovem, que as arcas de Cuba as roubou e dilapidou a tirania castrista de múltiplas maneiras antes da captura e prisão dos espiões terroristas da Red Avispa. A propaganda, a subversão, a doutrinação e a repressão foram algumas dessas maneiras, sem esquecer os luxos da cúpula castrista como foram, por exemplo, as mais de 50 luxuosas residências que Fidel Castro teve por todo o país. Yoani Sánchez SIM, devia pedir a LIBERTAÇÃO imediata de todos os presos políticos cubanos em Cuba, assim como pedir também a investigação da morte de opositores, em particular, a de Oswaldo Payá Sardiñas.
Yoani Sánchez disse posteriormente a essas declarações que não entenderam suas palavras, pois ela as havia dito em sentido irônico. Para que cada um valore o sentido correto dessas palavras, assistam ao vídeo com suas declarações. Não obstante, darei aqui minha opinião: minha opinião é de que não havia ironia nem nada sarcástico em suas palavras sobre os 5 espiões e terroristas, já que essa petição estava no “pacote” ou “comboio” com a petição da retirada da Base de Guantánamo e o levantamento do Embargo, que ela chamou em várias ocasiões de “bloqueio”, que é a que usa a tirania. 

Não creio que uma filóloga, nada inexperiente na comunicação e seus meios, não tenha podido encontrar palavras que deixassem claramente exposto o sentido irônico ou sarcástico de suas palavras sobre os 5 espiões. Outra razão pela qual tenho essa opinião é que hoje, 21 de fevereiro, no programa televisivo La Diferencia, conduzido pelo jornalista Roberto Rodríguez Tejera do canal Telemiami, em uma entrevista ao vivo com Reinaldo Escobar, esposo de Yoani Sánchez, Escobar expressou que essas palavras de sua esposa foram ditas com ironia, porém ocorreu que no final da entrevista Escobar expressou que com respeito às famílias dos pilotos mortos (referindo-se aos 4 pilotos assassinados nos dois aviões civis desarmados da organização humanitária Hermanos al Rescate derrubados por aviões de guerra castristas) e pelos quais foram sentenciados alguns dos membros do MININT que hoje cumprem prisão nos Estados Unidos, devem deixar essa novela de Montescos e Capuletos e virar a página. Essas palavras as disse em tom depreciativo. O condutor do programa, que havia anunciado erroneamente que as declarações de Yoani no Congresso do Brasil haviam sido ditas hoje, quando realmente foram ditas ontem, não comentou nada a respeito dessas palavras do esposo de Yoani Sánchez.

O tratado sobre a permanência da Base de Guantánamo levou-se a cabo entre dois governos LEGÍTIMOS e DEMOCRÁTICOS em eleição e em exercício e, até que não exista um governo democrático em Cuba que exija o fim dessa base militar, a mesma se manterá.

Yoani devia expressar ao Congresso brasileiro que os Estados Unidos são um dos maiores sócios comerciais que a tirania cubana tem, assim como os Estados Unidos são o maior provedor de alimentos a Cuba, chegando estes a 80% dos alimentos que chegam a Cuba, assim como o relevante fato de que os Estados Unidos são o maior fornecedor de ajuda humanitária a Cuba, bem como de remessas, e que ambas somam mais de 3 milhões de dólares anuais. A tirania sempre seguirá lançando a culpa de seus fracassos econômicos aos Estados Unidos. No caso do levantamento do Embargo norte-americano, a tirania continuará lançando a culpa nos Estados Unidos da mesma maneira que Hugo Chávez a lança aos norte-americanos em que pese que a Venezuela de Hugo Chávez nunca teve um Embargo norte-americano.

Os tiranos sempre lançam a culpa de seus fracassos em outros e sempre haverá pessoas que acreditarão, ou fingem acreditar, da mesma maneira que muitos cubanos em Cuba aceitam que a ausência ou limitação de alimentos como a mandioquinha, a mandioca, a batata-doce, a batata e o sal, o peixe, tomate, frutas tropicais, o leite natural de vaca, etc., tenham a ver com o Embargo norte-americano. O medo e o oportunismo, além de provocar a aceitação e o acatamento, cegam e fazem calar...

Yoani Sánchez põe “uma boa e três más”. Isso me fez lembrar que na manifestação na qual morreu em 1961 o jovem católico Armando Socorro Sánchez produto das balas de uma metralhadora checa castrista, havia membros da Segurança do Estado (segundo conta um deles em um livro de testemunhos do MINIT publicado em Cuba e escrito pelo então oficial e jornalista Juan Carlos Fernández) que nessa manifestação golpeavam os manifestantes anti-castristas enquanto eles, os membros da Segurança do Estado, gritavam palavras de ordem anti-castristas que confundiam os manifestantes atacados. (A esse respeito, leiam o excelente artigo “O Agitador” do historiador Carlos I. S. Azambuja. G.S.).

Yoani Sánchez pode ou não ser uma legítima ativista cívica, porém o mais importante é não centrar toda a representação, as esperanças e os sonhos de todo um povo, nela ou em qualquer outra pessoa. Se for assim, não aprendemos nada desta trágica história de 54 anos. Por certo em Cuba se dizem umas palavras dentro da oposição que podem ofender por não ser “politicamente corretas” e elas são: “todo mundo é da Segurança do Estado até que se prove o contrário”. Ninguém deve se ofender por essas palavras, já que as desagradáveis surpresas foram muitas nestas mais de cinco décadas de ditadura totalitária. O importante é que essas palavras não devem nos deter no dizer e no atuar para conseguir a liberdade, a democratização e o progresso em Cuba. Essas palavras só nos devem incentivar a ser mais reflexivos, inteligentes e prudentes. 

Por último, a atual “tarefa de choque” do castrismo é aparentar que em Cuba se estão fazendo mudanças que levarão a mudanças substanciais. Há várias maneiras de ajudar o castrismo nessa tarefa mesmo sem ser agentes: uma delas é sendo seus idiotas úteis.

Comentários e traduções: G. Salgueiro