sexta-feira, 12 de outubro de 2007






Um fato insólito, perverso e demoníaco acaba de ocorrer na Argentina, com a condenação à prisão perpétua do Padre Christian Federico Von Wernich, pelo “crime” de ter sido durante a ditadura dos anos 70-80 Capelão da Polícia de Buenos Aires. Este caso arrasta-se há 4 anos, desde os quais o Padre Von Wernich esteve preso mesmo antes do julgamento, na penitenciária Marcos Paz.


A perversidade dessa condenação reside em que a perseguição revanchista que vem ocorrendo em toda a América Latina, de modo especial na Argentina, aos que combateram o comuno-terrorismo que se instalara no continente, a ordem era condenar o padre de qualquer maneira e assim obedeceram docilmente os subservientes magistrados que o julgaram.


Foi, durante todo o tempo, um julgamento parcial, uma farsa patética que, mesmo levando meses para se chegar ao veredicto, seu resultado já era conhecido como nos “julgamentos” dos tribunais revolucionários em que a condenação precede o julgamento. Como nos tempos de Stalin; como nos tempos dos fuzilamentos em Cuba por Fidel e Guevara; como na China Comunista, no Vietnã, na Coréia do Norte e no Irã, com a única diferença de que levou anos para ser concluído.


Na ocasião em que foi preso, uma testemunha de acusação, Julio Jorge Enmed, que também estava preso por crimes políticos, foi subornado pela CONADEP para depor falsamente que o Pe. Von Wernich participou de tortura e seqüestro de presos-políticos, em troca de sua liberdade como réu comum, uma quantia em dólares e exílio em outro país. Como a promessa não foi cumprida, Enmed retratou-se em juízo contando todo o fato mas este seu depoimento foi retirado do processo; coincidentemente depois desta retratação, Julio Jorge Enmed morre em um “atropelamento de carro” e com ele seu testemunho de que mentira sobre as acusações feitas ao Pe. Von Wernich.


Como se tudo isto já não fosse criminoso demais, durante as audiências que começaram em maio deste ano, o juiz que conduzia o caso proibiu a entrada da Srª Cecilia Pando, (esposa do Major Mercado) na sala de audiências porque ela vestia uma blusa com a foto de um militar assassinado pelos terroristas ERP/Montoneros, por EXIGÊNCIA da bruxa comunista Hebe de Bonafini que considerou isto como “uma afronta”. Entretanto, este mesmo juiz permitiu, durante todos os meses em que durou o martírio do julgamento do Pe Christian, a presença no mesmo recinto das comunistas agremiações “Mães” e “Avós da Praça de Maio” que afrontavam os presentes com aqueles ridículos panos brancos na cabeça, com cartazes pedindo a condenação de todos os “terroristas de Estado” e gritando palavras atentatórias ao Pe. Von Wernich.


Durante todo este calvário o Pe. Christian só contou com o apoio dos grupos de Militares e familiares das vítimas do terrorismo. O chefe do Exército, Gen Roberto Bendini, declarou ao final do julgamento que “hoje, ‘somente’ através da Justiça pode-se iniciar um caminho que leve algum dia os argentinos à reconciliação nacional”, numa clara alusão à sua satisfação com o veredicto, sendo ele reconhecidamente de esquerda e bajulador de Kirchner.


De todas as punhaladas e pedradas que recebeu, entretanto, a mais traiçoeira e mortal veio da própria Igreja Católica, através do Comunicado da Comissão Nacional de Justiça e Paz que em nenhum momento abriu sua boca ou fez pronunciamentos para defender o Padre Von Werniche que só agora, depois de sua condenação perpétua, emite uma nota repugnante acreditando na “justiça” feita aos “jovens idealistas”. As vítimas e familiares desses terroristas que vão se danar, junto com o Padre Christian! Reproduzo abaixo a nota para que se perceba que também lá há duas igrejas: uma de Cristo e outra de Marx. É a esta que pertence a tal “Comissão de Justiça e Paz”.


“Ante o veredicto do tribunal que julgou o sacerdote Von Wernich, a Comissão Nacional de Justiça e Paz quer manifestar sua dor e seu pesar por todas aquelas ações diretas, em colaboração ou cumplicidade, que alguns integrantes da Igreja Católica puderam levar a cabo e que possibilitaram o seqüestro, a tortura e o desaparecimento de pessoas durante uma ditadura militar no país.


Queremos expresar nossa solidariedade com todas as vítimas desse período de nossa história e esperamos que a ação da justiça possa atuar como reparação e consolo para os sobreviventes, seus familiares e a de todos os desaparecidos.


E em nosso compromisso com o presente e olhando para o futuro para afiançar um espaço de amizade e diálogo entre os argentinos, que permita nos converter ‘de habitantes a cidadãos’, queremos afirmar que a violência, em qualquer de suas expressões, não é cristã nem evangélica e muito menos se não respeita os seres humanos e seus direitos elementares.


Que frente ao imperativo de que a justiça busque a verdade sobre o passado, o desafio de projetar uma nação sem excluídos nos ajude a encontrar os caminhos de encontro e reconciliação que tornem possível na justiça e na paz, a construção de uma pátria de irmãos.
Comissão Nacional de Justiça e Paz”.


A indignação com esta nota foi tão absurdamente grande, que amigos do Padre Christian Von Wernich disponibilizaram os e-mails dos bispos do Arcebispado 9 de Julho e eu os indico aqui também, porque esses servidores de Satanás foram piores do que Pilatos, uma vez que duante o julgamento entregaram seu servidor à própria sorte e no final, ainda se regozijaram com o infortúnio da vítima, pranteando os seus algozes. Segue abaixo os nomes, e-mails e telefones para quem quiser se dirigir a esta malta de INIMIGOS de Cristo:


arzobispado@arzbaires.org.ar – telefone: 4-343-0812;
Arcebispado de 9 de Julho – Monsenhor Marín de Elizalde - obispado@morea.dataco23.com.ar – Fone: 02317-42262.


Uma das cartas visivelmente indignadas foi a do Ten Cel Emilio Nani, herói da Guerra das Malvinas e do ataque ao Quartel La Tablada onde foi gravemente ferido e perdeu um olho (na foto com o tapa-olho), a qual reproduzo abaixo pois é de todas a mais contundente e reveladora. Quero, todavia, disponibilizar aqui o endereço do blog do Padre Christian e seu e-mail, onde vocês podem deixar uma mensagem de apoio. Em caso de enviar mensagem por e-mail, solicito que o façam em letras grandes porque ele tem dificuldades de vista. No blog você terão acesso à mensagem que ele escreveu após o veredicto que eu ia reproduzir e que muito me emocionou, mas preferi dar ênfase à do Cel Nani que me chegou depois e não está acessivel noutra publicação.


Antes de encerrar meus comentários, completamente consternada com esta injusta condenação, lembro dos dois últimos versículos das “Bem-Aventuranças” (ou Sermão da Montanha) que deve estar sempre presente em nosso espírito, de cada um de nós que, por Cristo, lutamos contra o demônio do comunismo:


“Bem-aventurados sereis vós, quando vos insultarem e perseguirem,
e mentindo disserem todo gênero de calúnias contra vós, por minha causa.
Exultai e alegrai-vos! Porque será grande a vossa recompensa no Reino dos Céus!”


É isto que direi ao Padre Christian Federico Von Wernich. Anotem: http://www.padrevonwernich.blogspot.com e christianvonwernich@gmail.com. Fiquem com Deus e até a próxima!


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Senhor,
Bispo de 9 de Julho
Mons. Martín de Elizalde


De minha maior consideração:


Com estupor li no diário “Clarín” do dia 10, que uma nova iniqüidade se estaria por cometer com o Reverendo Padre Christian Von Wernich, desta vez pela mão da hierarquia eclesiástica, que longe de demonstrar a grandeza inspirada em Nosso Senhor Jesus Cristo, se somaria à chusma sedenta de sangue e repleta de ódios, rancores e sede de revachismo.


Fazer eco a um veredicto de um tribunal popular disfarçado de justiça, pelo qual desfilaram mendazes testemunhas aos que se lhes deu crédito de veracidade em suas repugnantes declarações, não faria mais do que convalidar o quão afastados estão os bispos da grei católica e o quão próximos se encontram de seus inimigos.


Expliquem-me o por quê de resposta tão veloz quando guardaram ominoso silêncio ante os crimes do padre Antonio Puigjané, contra o qual não só não se tomou nenhuma medida, como o cobiçaram e protegeram.


Expliquem-me o silêncio ante os crimes cometidos pelas organizações terroristas, como por exemplo os do Exército Montonero – do qual o padre Adur foi seu capelão - , ou as cumplicidades – entre outros – dos padres Mujica, Vernazza, Carbone, Capitanio, Cuberly, os irmãos Dri, os chamados padres palotinos, as monjas francesas, ou dos bispos Hesaynne, Novak e de Nevares, apenas para mencionar uns poucos, que não só convalidaram as mais de 20.000 ações perpetradas por elas na década de 70 (assassinatos seletivos, seqüestros, atentados com bombas, subjugação de cidades, unidades militares e delegacias, etc.), ao não emitir jamais a menor condenação e se foram severos críticos das ações das FFAA, em cumprimento de claras ordens governamentais.


Monsenhor, eu jamais senti ódios, apesar de ter sobejos motivos para isso: no ano de 1977 tentaram seqüestrar minha filha mais velha quando tinha apenas 5 anos de idade – coisa que jamais se apagou de sua mente - ; durante os anos 70 minha família foi vítima de graves ameaças e, como broche de ouro, em 23 de janeiro de 1989, durante a recuperação do Quartel de La Tablada atacado pela organização terrorista Movimiento Todos por la Patria, conduzida, entre outros, pelo padre Puigjané, estive a ponto de perder a vida ao ser gravemente ferido. Não satisfeitos com isso, estes “jovens idealistas” conduzidos por essa caricatura de sacerdote, não vacilaram em voltar a ameaçar minha família aproveitando-se das circunstâncias de encontrar-me internado em UTI. Hoje, como conseqüência das condutas ambíguas (ou talvez não tão ambíguas) de uma sociedade hipócrita – da qual o clero faz parte –, tenho o temor de começar a ter sentimentos que não quero albergar em meu espírito.


Depois dessas vivências, com tristeza e consternação, vejo que depois de tantos anos de silêncio os bispos decidiram rompê-lo, porém não para exigir a Verdade, como pediu o Cardeal Bergoglio, mas para referendar a mentira.


Ao proceder desta maneira, não farão mais do que agregar mais ressentimento ao que, desde 25 de maio de 2003, se veio fomentando desde os mais altos níveis dos poderes do Estado.


Que espécie de bispos são que, para reconciliar-se com a chusma terrorista que atacou a sociedade argentina, não vacilam em somar-se aos ataques contra os que a defenderam?


O que os faz converter-se em seres especuladores e complacentes que, para disfarçar os encargos de supostas cumplicidades com os que cumpriram com o sagrado dever de defender a Pátria, há mais de 30 anos, não duvidam um instante em aduzir ou demonstrar coincidências ideológicas com os que a atacaram?


Em que se converteram que não vacilam em agradar os terroristas enquistado nos poderes do Estado?


Que confiança podemos ter nesta categoria de pastores que têm um discurso diferente para cada circunstância?


Se o Sr. é capaz de dar respostas a estas perguntas, as receberei com muito gosto.


Creio que chegou o momento de definir de que lado estão, tirando definitivamente a máscara: se do lado dos que impulsionaram a agressão marxista e atacaram sistematicamente a Santa Igreja Católica Apostólica Romana ou do lado dos que jamais nos fastamos dela.


Atenciosamente,


Emilio Guillermo Nani
Tenente Coronel (R)
Veterano de Guerra


Comentários e traduções: G. Salgueiro






terça-feira, 9 de outubro de 2007






Na última edição do Notalatina eu havia prometido falar na edição seguinte sobre Cuba e a situação dos presos-políticos que estão sofrendo torturas e maus tratos que podem levá-los à morte. Infelizmente, o trabalho não me permitiu atualizar quando pretendi e menos ainda sobre o mencionado assunto.


Hoje, todavia, não poderia deixar de comemorar com júbilo esta data histórica, em que há 40 anos um mega-assassino foi “tirado de circulação”, esta “máquina de matar” apelidada de “el chancho” – “o porco” (com muita propriedade, pois não gostava de tomar banho), aquele cujo nome era Ernesto Guevara.


As ridículas “viúvas” desse monstro assassino ficaram muito indignadas com a matéria da revista Veja e, num ato que lembrava a juventude hitlerista da década de 30, integrantes do PC do B queimaram pilhas de revistas em frente à editora e o site do PT não economizou palavras para enaltecer o monstro e achincalhar a revista. O Senado brasileiro, por sua vez, numa demonstração vergonhosa e torpe de seu pendor em se transformar de fato num chiqueiro, num celeiro de gente da pior espécie sem nenhum estofo moral, ético e que mereça o nosso respeito, resolveu homengear esta figura infeliz justo no Dia da Avição, 23 de outubro, “esquecendo-se” de que esta é a data comemorativa de um grande brasileiro, Santos Dumont. Mas é bom que o “Pai da Aviação” não seja lembrado naquele lupanar pois, de vergonha, já basta o que passa o grande Ruy Barbosa e que já devia, há tempo, ter sido retirado de lá em respeito à sua honrosa biografia.


E para realizar minha comemoração em grande estilo – bem ao contrário da pretendida pelo Senado brasileiro -, traduzo um texto do Pedro Corzo, jornalista e documentarista cubano, um amigo muito querido, e autor de diversos documentários dentre os quais “Guevara: Anatomia de um mito”, cujo comentário e divulgação do vídeo, o Notalatina apresentou com exclusividade para o Brasil em 10 de novembro de 2005.


Este texto é, na verdade, a Parte I sobre a personalidade psicopática de Ernesto Guevara (que está dividida em três partes ou capítulos) de seu penúltimo livro “Cuba: Perfis do Poder” (o mais recente será lançado dia 12 deste mês, intitulado “Mártires do Escambray”) com o qual fui presenteada pelo autor, de quem recebi os direitos autorais de tradução e que será publicado no Brasil pela editora É Realizações, provavelmente no próximo ano, e que o Notalatina oferece hoje a seus leitores com exclusividade para o Brasil. Trata-se da biografia das cinco principais personalidades da revolução cubana, a saber: Fidel e Raúl Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Ramiro Valdés, escrita com muito zelo e fidedignidade, pois traz depoimentos de vários cubanos que conviveram e conheceram pessoalmente estas personalidades.


A raça dos comunistas (de todos os matizes) só lembra de uma frase dita por este assassino contumaz que o transforma em um ser bom, dócil e terno. Creio que esse texto do Pedro Corzo desmonta completamente tal mentira tão fartamente propalada para fabricar um mito onde existia um monte de lixo humano, e acrescenta mais detalhes ao perfil deste “Apóstolo da Violência”, como ele muito apropriadamente o chama, aos tantos que os estudiosos do tema já sabem. Desfrutem e divulguem sem economia.
Fiquem com Deus e até a próxima!

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Ernesto Guevara: Apóstolo da Violência


Por Pedro Corzo


Primeira parte sobre Che do livro “Cuba: Perfis do Poder”


“Não sou Cristo nem um filantropo; sou todo o contrário de um Cristo”
Che


Não compreendemos como em um período histórico no qual a violência converteu-se em algo más que detestável, existam “pacifistas” que elaborem apologias a Ernesto Guevara, um indivíduo que, independente de doutrinas ou ideologias, foi um dos teóricos mais conseqüentes que teve a violência como prática política, em uma das etapas mais convulsivas de nossa América no passado Século XX.


Sua identificação com uma das personalidades mais desapiedadas da História Moderna, a faz notar em uma carta que dirige desde a Costa Rica à sua tia Beatriz, em 10 de dezembro de 1953: “Em El Paso tive a oportunidade de passar pelos domínios da United Fruit convencendo-me mais uma vez do quão terríveis são esses polvos capitalistas. Jurei ante uma foto do velho e pranteado kamarada Stalin, não descansar até ver aniquilados todos estes polvos capitalistas”.


O indivíduo que alguns pretendem apresentar como um ser justiceiro e de profundo espírito cristão, escreveu uma carta à sua mãe, em 15 de julho de 1956 de uma prisão mexicana: “Não sou Cristo nem um filantropo; sou todo o contrário de um Cristo. Luto pelas coisas nas quais acredito com todas as armas de que disponho e trato de deixar morto o outro, para que não me preguem em nenhuma cruz ou em nenhuma outra coisa”.


Miguel Sánchez, “El Coreano”, um dos que treinou os expedicionários do (iate) Granma, conheceu Ernesto Guevara no México. Refere que Guevara era uma pessoa isolada, pouco sociável e que lhe chamava a atenção sua crueldade com os animais. Conta que ele pegava gatas grávidas para fazer experiências médicas e que quando acabava com os filhotes os colocava em um saco que lançava violentamente contra o chão. Guevara não tinha problemas só com os gatos; na Sierra Maestra disse a um de seus subalternos: “Félix, esse cachorro não dá um latido mais; tu te encarregas de fazê-lo. Enforca-o. Ele não pode voltar a latir”.


Outro exemplo de seu caráter vilento e até certo ponto sádico, observa-se em uma carta que dirigiu à sua primeira esposa, Hilda Gadea, que se encontrava em Lima, Peru. Escreve ele em 28 de janeiro de 1957: “Querida velha. Aqui na selva cubana, vivo e sedento de sangue, escrevo estas ardentes linhas inspiradas em Martí. Como um soldado de verdade, ao menos estou sujo e maltrapilho, escrevo esta carta sobre um prato de lata, com uma arma a meu lado e algo novo: um cigarro na boca”.


Esta sede ele não demonstrou saciá-la. Segundo expõe Anderson em seu livro “Che”, várias fontes cubanas descreveram como ele assassinou Eutimio Guerra quando ficou evidente que ninguém tomaria a iniciativa. Isto ao que parece inclui Fidel, que após a ordem de matar Eutimio, sem indicar quem deveria cumprí-la, se afastou para proteger-se da chuva.


O assassinato de Eutimio Guerra foi presenciado pelo Comandante do exército rebelde, Jaime Costa, que refere que Guevara gritou: “se não fazem vocês, faço eu”, disparando de imediato no prisioneiro. Costa afirma que foi nessa ocasião que Guevara proferiu a frase “ante a dúvida, mata-o!”. Costa continua dizendo que os fuzilamentos sem julgamento que tiveram lugar na cidade de Santa Clara, nos primeiros dias de janeiro de 1959, foram decisão de Ernesto Guevara e não de Ramiro Valdés como afirmam alguns investigadores.


Ao crime somava a crueldade. Guevar conta em seu livro “Passagens da Guerra Revolucionária”, que haviam processado e executado dois indivíduos que haviam cometido vários assassinatos na Sierra, porém que depois simulou a execução de outros três que tiveram um grau menor de responsabilidade. A experiência que deveu ter sido extremamente traumática, é descrita por Guevara com a frieza de um forense: “Depois se realizou o fuzilamento simbólico de três dos rapazes que estavam mais ligados às trapalhadas do chinês Chang, porém aos quais Fidel considerou que se devia dar-lhes uma oportunidade; os três foram vendados e sujeitos ao rigor de um simulacro de fuzilamento. Depois dos disparos no ar, quando os três se deram conta de que estavam vivos, um deles me deu a mais estranha e espontânea demonstração de júbilo e reconhecimento em forma de um sonoro beijo, como se estivesse em frente a seu pai”.


Esta prática se repetiu inúmeras vezes depois do triunfo da insurreição; junto a pessoas que eram fuziladas se colocavam outras com as quais se simulava a execução, com o propósito de que se convertessem em delatores.


A disciplina que Che impunha entre seus homens era inflexível e cruenta. Sua falta de sensibilidade e misericórdia é percebida em um relato do seu livro “Passagens”, no qual ele descreve com orgulho como encontrou moribundo um combatente rebelde que, cumprindo ordens suas, foi enviado desarmado à primeira linha de frente, para adquirir um fuzil, já que o havia castigado tirando-lhe o seu porque havia dormido em uma guarda. Isto ocorreu durante os enfrentamentos que tiveram lugar na cidade de Santa Clara.


Sua conduta para com os militares do regime antigo foi ainda mais cruel. Procedeu execuções sem processos judiciais e sem garantias processuais. Afirma Jaime Costa que o responsável pelas primeiras execuções na cidade de Santa Clara foi Guevara e não Ramiro Valdés.


La Cabaña, seu primeiro comando depois do triunfo insurrecional, foi o bastião militar onde mais ex-militares e colaboradores da ditadura derrocada foram executados. Segundo a jornalista Hart Phillips, do New York Times, foram “uns 400 nos dois primeiros meses”; e testemunhos do jornalista Tetlon do London Daily Telegraph, “às vezes funcionavam quatro tribunais simultaneamente, sem advogados nem testemunhas de acusação, chegando a se julgar, contemplando a pena capital, até 80 pessoas em julgamentos coletivos”. Tetlon relata que ele (Guevara) ordenou pessoalmente, entre outras, a execução do tenente José Castaño Quevedo, cujo único crime foi ocupar a direção do Birô para a Repressão de Atividades Comunistas – BRAC -, uma vez que no processo não se efetuaram demandas contra o tenente.


Apesar das inúmeras afirmações e investigações que concluem que em La Cabaña foram executados várias centenas de pessoas, dezenas sob a responsabilidade do próprio Guevara, o ex-sacerdote Javier Arzuaga, paróco de Casablanca da Ordem de São Francisco e que assistiu espiritualmente a muitos dos fuzilados, refere em seu livro “Cuba 1959: A Galera da Morte” que, “não houve mais de cinqüenta e cinco fuzilamentos em La Cabaña” entre janeiro e junho de 1959. Segundo Arzuaga, que teve com Guevara várias entrevistas, o comandante era um homem incisivo que desde o primeiro encontro lhe afirmou que em seus prédios, La Cabaña era o único que dava formação política, religiosa e ideológica a seus soldados e que afirmou que haviam usado os capelães na Sierra Maestra porque neessitavam deles, porém que nesse momento não era assim, e simultaneamente lhe advertiu que havia muito o que julgar e fazer pagar, e que para isso haveria um paredão.


O ex-sacerdote, que evidentemente sentia algum tipo de admiração por Guevara e pelo processo revolucionário, um sentimento muito normal na época, o descreve como um indivíduo de muitas facetas. Segundo refere, o primeiro era um idealista radical que estava disposto a transformar tudo ou eliminá-lo segundo o caso. O outro, um Che obsesionado pela justiça igualitária que sem o menor reparo e sem se preocupar em absoluto pelos efeitos colaterais e as últimas conseqüências, irá aniquilando até reduzi-lo a pó, quando se lhe cruze o caminho, e pela justiça exemplarizante em cujo exercício a crueldade será um mal menor imprescindível” e o terceiro, um indivíduo que só pedia a alguém que fizesse o que ele também estava disposto a fazer.


Ele conta que as visitas de revisão de causa sempre eram presididas por Ernesto Guevara e que terminavam às vezes com algo mais que uma ratificação da pena de morte senão que lhe agregava, “a execução terá lugar esta noite”.


O padre Arzuaga, um homem muito bondoso, tratou de ajudar na medida do possível as pessoas que iam ser executadas e em seu livro há relatos realmente fortes porém, sem dúvida, o que melhor expõe a natureza violenta e sem piedade de Guevara foi o caso de Ariel Lima. Conta o padre que intercedeu em favor de Lima, 21 anos, que havia sido condenado à morte e que Guevara lhe disse que quem decidia esses assuntos era o Tribunal de Apelações. Afirma que presenciou a revisão da sentença que só durou meia hora, com a alegação de que fosse executado nessa mesma noite e que, terminada a sessão, Guevara caminhava pela rua cheia de pedras quando uma mulher correu e se prostrou ante ele; era a mãe de Ariel Lima. “Che deu-lhe a volta e uma vez do outro lado lhe disse: ‘senhora, lhe recomendo que fale com o Padre Javier que dizem que é um mestre consolando’. E dirigindo-se a mim, entre mandão e burlão, disse: é sua”. Conclui o ex-sacerdote escrevendo: “essa noite odiei o Che”.


Guevara era vingativo, não esquecia as ofensas porém só as cobrava quando estava seguro de ganhá-las sem conseqüências. Vários oficiais do exército rebelde confirmam as diferenças entre os comandantes Guevara e Jesús Carreras. O comandante Carreras enfrentou Guevara quando este chegou ao Escambray, a discussão foi muito forte, Carreras o desafiou e Guevara aduziu que entre revolucionários não havia que combater. Depois do triunfo da insurreição, Carreras foi perseguido por mais de dois anos até que foi envolvido na conspiração do também comandante William Morgan e foram executados os dois. Os comandantes Lázaro Asensio e Armando Fleites estão convencidos de que Guevara foi quem ordenou a execução de seu companheiro Jusús Carreras.


Como resenha interessante, pode-se destacar que em 1959 Guevara criou uma força subversiva na Bolívia através do embaixador cubano em La paz, José Tabares del Real. Este esforço desestabilizador estendeu-se até junho de 1961 e desdobrou-se contra o governo democrático de um político de forte aval revolucionário, Hernán Siles Suaso. Mais tarde tentou organizar uma revolução na Argentina para a qual se aliou com elementos peronistas. Este broto abortou quando as autoridades argentinas descobriram duas escolas de guerrilheiros e detiveram um instrutor militar cubano, José Ramón Alejandro. Posteriormente, a autoridades bonaerenses apresentaram documentos que mostravam que a Embaixada de Cuba em Buenos Aires era um centro subversivo que Guevara dirigia desde Havana.


Anos depois, através de Jorge Ricardo Masseti, fundador do Prensa Latina, Che organizou uma força guerrilheira identificada como Exército Guerrilheiro do Povo que, segundo alguns analistas, incorreu nos erros táticos que ele repetiria na Bolívia. Junto a Masseti, morto no Chaco argentino, - Che morreria no Chaco boliviano -, caíram dois oficiais do exército cubano que haviam sido homens de confiança de Guevara: Hermes Peña e Raúl Dávila.


Não resta dúvida de que Ernesto Guevara possuía uma imerecida reputação nos aspectos teórico e prático na guerra de guerrilhas, que Castro não tinha. Foi um dos propiciadores da Conferência Tricontinental de Havana, em princípios de 1966, que seria, segundo seus planos, o vetor para as revoluções que convulsionariam a América, a Ásia e a África.


Suas freqüentes e longas viagens pelo estrangeiro nas quais proferia incendiários discursos revolucionários, o foram convertendo em uma espécie de porta-voz da Revolução Mundial e seus contatos diretos com Ben Bella, Gamal Abdel Nasser, Sekou Toure, Joseph “Tito” Broz, Ahmed Sukarno e as cúpulas do poder na República Popular da China e Vietnã, acrescentavam seu prestígio de indivíduo comprometico com mudanças políticas radicais.


Uma anedota que Carlos Franqui conta em seu livro “Cuba, a Revolução, Mito ou Realidade”, reflete até que ponto Guevara acreditava nas medidas extremas como índice do progresso do projeto que defendia. Conta Franqui que durante uma visita à República Árabe Unida, Egito e Síria, Guevara perguntou a Gamal Abdel Nasser quantas pessoas haviam abandonado o país depois do triunfo de sua Revolução, ao que o líder egípcio respondeu: “Muito poucas”, ao que o guerrilheiro retrucou: “Isso significa que em sua revolução não aconteceu grande coisa; eu meço a profundidade de uma transformação social pelo número de pessoas afetadas por ela e que pensam que não têm lugar na nova sociedade”.


Entretanto, este homem que mataria e morreria por suas convicções, assume durante sua juventude uma conduta inexplicável. Nunca participou ativamente contra os movimentos fascistas e anti-judeus que existiam na Argentina, nem tampouco se vinculou aos que combatiam diretamente a ditadura de Juan Domingo Perón.


Apesar de sua condição de membro da Federação Universitária Buenos Aires, organismo dirigido por socialistas e comunistas, não leva vida de militante nem são conhecidos artigos ou discursos nos quais ele exponha suas opiniões sobre os problemas que seu país enfrentava naqueles dias. Em uma palavra, não se conhece de sua parte ações contra os atos de força do governo de Juan Domingo Perón.


Nos primeiros meses de 1965, Guevara visita vários países africanos, entre eles a Argélia e a República do Congo, Brazzaville, e oferece a Massemba Debat seu apoio na formação e preparação das forças guerrilheiras que estavam se formando nesse país para atacar o antigo Congo Belga, que estava sob o comando de José Mobutu. A proposta de Guevara é aceita, situação que põe de imediato ao conhecimento de Fidel Castro que, sem duvidar, lhe facilita os meios e recursos necessários. Nesta viagem Guevara também oferece ajuda ao movimento independentista angolano, dirigido por Agostinho Neto.


Para Castro e o “Che”, esta colaboração se emoldura perfeitamente em seus projetos de desestabilização e subversão, que por sua vez era uma ferramenta a mais para aumentar o protagonismo político e a hegemonia da Revolução e de seus líderes.


A cruenta guerra africana se acentua com a partida de Guevara para o Congo com um contingente de 125 guerrilheiros, perfeitamente treinados e melhor armados, todos veteranos da luta insurrecional contra o regime de Fulgencio Batista. Segundo Jorge Risquet, membro do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, os internacionalistas cubanos no Congo só perderam seis homens, sem dar detalhes de quantos guerrilheiros africanos morreram sob o comando de Ernesto Guevara.


As forças cubanas chegaram a Kinshasa depois de atravesar o lago Tanganica. Seis meses mais tarde, em dezembro de 1965, Guevara regressa a Havana com o resto de seu contingente, decepcionado com as guerrilhas congolesas. De todas as suas fracassadas ações bélicas, a menos conhecida é a do Congo. Nesse país africano ele cometeu erros táticos e estratégicos que repetiria uma vez mais na Bolívia.


Porém, bem, para asseverar seu apostolado de violências, reproduzimos algumas de suas proposições:


A – Durante sua intervenção na Assembléia Geral das Nações Unidas, em 11 de dezembro de 1964, Guevara expressou: “Nós temos que dizer aqui o que é uma verdade conhecida, que sempre expressamos ante o mundo: fuzilamento, sim, temos fuzilado, fuzilamos e continuaremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta de morte. Nós sabemos qual seria o resultado de uma batalha perdida e os “gusanos” (Che foi a primeira pessoa a usar esta expressão, que significa literalmente “vermes”, ao referir-se a qualquer inimigo. Hoje, é um chavão usado pela Nomenklatura cubana especificamente em relação aos dissidentes cubanos, sobretudo aqueles residentes em Miami. G.S.) também têm que saber qual é o resultado da batalha perdida hoje em Cuba”.


B – “O caminho pacífico está eliminado e a violência é inevitável. Para conseguir regimes socialistas deverão correr rios de sangue e deve-se continuar a rota da libertação, mesmo que seja a custa de milhões de vítimas atômicas”.


C – “O ódio como fator de luta, o ódio intransigente ao inimigo, que o impulsiona além das limitações naturais do ser humano e o converte em uma efetiva, violenta, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm que ser assim; um povo sem ódio não pode triunfar sobre o inimigo brutal. Há que levar a guerra até onde o inimigo a leve: à sua casa, a seus locais de diversão; fazê-la total. Há que impedi-lo de ter um minuto de tranqüilidade, um minuto de sossego fora de seus quartéis e ainda dentro dos mesmos: atacá-lo onde quer que se encontre; fazê-lo sentir-se uma fera perseguida por cada lugar que transite. Então, seu moral irá decaindo. Se fará mais bestial ainda, porém, se notarão os sinais do decaimento que lhe assoma”.


Nota da tradutora: Este parece ter sido o “conselho” mais amplamente empregado em Cuba e que vige até hoje, tornado mais brutal e violento com o comando da ditadura nas mãos de Raúl há mais de um ano, o antes “apagado” irmão e “sombra” (mas também cérebro) do sanguinário Fidel. Mas, isto será tema para outra edição.


Fontes: “Ernesto Guevara, Mito e Realidade”, Enrique Ros.
“Passagens da Guerra Revolucionária”, Ernesto Che Guevara.
“Che”, Jon Lee Anderson.
“Cuba: Perfis do Poder”, Pedro Corzo.
Documentos, cartas, discursos e ensaios de Ernesto Guevara.


Pedro Corzo é jornalista e presidente do Instituto de la Memoria Histórica Cubana contra el Totalitarismo, que produziu, com a direção do cineasta Luis Guardia, o documentário sobre Ernesto Guevara intitulado: “Guevara: “Anatomia de um Mito”.


Artigo publicado originalmente por http://www.gentiuno.com


Comentários e traduções: G. Salgueiro