quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Farsa, mentiras e cinismo como políticas oficiais de Estado

No dia 10 de dezembro Chávez voltou a Cuba para realizar mais uma cirurgia, alegando que havia surgido “outro foco do câncer” mas, como das vezes anteriores, não disse onde nem a extensão da gravidade. Ele sabia, desde que foi descoberta a doença, que esse era um tipo de câncer muito agressivo e que dificilmente alcançaria a cura, e que sua perspectiva de vida era aproximadamente até outubro de 2012. Com a obsessão de poder que sempre lhe norteou, foi orientado pelos ditadores Castro a antecipar as eleições para outubro e orientado pelos médicos a guardar repouso, pois assim alcançaria se juramentar em janeiro e com isso assegurar que sua “revolução bolivariana” poderia continuar quando ele partisse. Ele não respeitou, fez intensa campanha e discursos prolongados, sustentado por esteróides para amenizar as dores.

Sua vitória foi anunciada, apesar da mais grosseira de todas as fraudes, e logo depois saiu de cena. Em fins de novembro ele volta a Cuba para “exames” e quando retorna faz um anúncio de que deveria se submeter a mais uma cirurgia, viajando dois dias depois. Essa cirurgia foi na coluna lombar, cujo câncer já havia feito metástase. A partir daí, começaram as farsas mais grotescas inventadas pelos Castro, utilizando Nicolás Maduro como porta-voz. Ocorre que desde o início o médico venezuelano exilado nos Estados Unidos, Dr José Rafael Marquina, vem detalhando o estado de saúde de Chávez e seus comentários são tão precisos que a filha de Chávez, que está no CIMEQ acompanhando-o, exigiu que toda a equipe do hospital fosse trocada por uma guarda de honra.

Segundo informa o Dr Marquina, a cirurgia na coluna resultou ser um absoluto fracasso, pois além de não lhe devolver a mobilidade, outras complicações surgiram. No Natal Chávez havia desenvolvido uma pneumonia, tinha febre constante e as funções renais também começaram a ficar comprometidas. Maduro viajou para Havana e em cadeia de televisão informou aos venezuelanos que iria visitar o presidente, que seu quadro clínico estava bem e que havia conversado com ele por telefone durante 20 minutos. Nessa conversa, segundo Maduro, Chávez havia-lhe dito que “já estava fazendo exercícios físicos”, mas que a recuperação estava sendo lenta e difícil, e seguia dando esperanças aos venezuelanos de que Chávez “vai se recuperar, pois ele tem muita energia e vontade de viver”.

Bem, no dia 25 o Dr Marquina informa através de sua conta de Twitter que o quadro clínico é este: “Não está entubado mas começaram a lhe administrar oxigênio via máscara, pois apresenta septicemia, pneumonia, falha renal, respiratória e da cirurgia, efusão pleural, dor intensa, anemia, hipóxia (falta de oxigênio no organismo) e febre”. Em outros “trinos” o Dr Marquina informava que a efusão pleural, que é o líquido que se forma em volta do pulmão (na pleura), poderia colapsar o pulmão e que com a febre e a anemia, estavam causando-lhe sérios problemas respiratórios. No dia 28 o estado se agrava e o Dr Marquina dispara mais estes trinos: “Entubado, com linhas centrais e arteriais, tubo nasogástrico e recebendo alimentação parenteral (venosa). Recebendo ventilação mecânica com elevadas pressões e oxigênio a 100%, produto de um distress respiratório. Negam acesso a outros familiares de Chávez pelo impressionante quadro clínico. Só Maduro, as filhas, Jorge Arreaza (genro e ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação) e Raúl Castro têm acesso ao paciente”.

É crível que uma pessoa que apresenta um quadro clínico desses tenha condições de redigir uma carta dirigida às Forças Armadas? Pois foi isto que Nicolás Maduro disse aos militares venezuelanos. Leiam parte dela: “Aqui em Havana, na Cuba revolucionária, me sinto pleno de fé em Cristo redentor, em Sua misericórdia infinita, pleno de fé no amor de nosso povo que me cura com suas orações e bênçãos de cada dia, cheio de fé pelo compromisso e a lealdade que a Força Armada revolucionária me está demonstrando nesta hora tão complexa e difícil”.

No dia 31 de dezembro as comemorações de fim de ano foram suspensas, assim como a do 54º aniversário da revolução cubana, em 1º de janeiro. As informações continuam sendo desencontradas e vagas por parte do governo, pois enquanto Maduro diz que Chávez passa por uma recuperação “difícil”, seu genro Arreaza afirma que o quadro é “delicado mas estável”. A realidade é bem distinta, segundo o Dr Marquina que volta a “trinar” no mesmo dia das declarações de Maduro e Arreaza: “Chávez poderia durar vários dias mais em suporte artificial e padecendo um sofrimento desnecessário. A respiração é totalmente controlada pelo ventilador mecânico (traqueóstomo) com altas pressões e oxigênio 100%. Está sedado muito profundamente e não responde a nenhum estímulo externo. Não tenho informação de que lhe estejam praticando diálise mas poderiam considerá-la se a falha renal continua. Pacientes tão graves têm deficiências de proteínas e o fluido intra-vascular escapa da circulação causando edema. O edema e a retenção de líquidos que ele apresenta é bastante generalizada e agrava o prognóstico. Está recebendo quantidades muito altas de albumina humana para melhorar a função renal e o edema generalizado. Definitivamente não poderá estar em (Caracas) em 10 de janeiro e tomar posse. Esta manhã os médicos se reuniram em privado para informar às filhas o mal prognóstico”.

No dia 1º de janeiro Nicolás Maduro dá uma entrevista a TeleSur desde Havana, e não treme um músculo da face diante de tantas mentiras que profere para mais uma vez iludir o povo. Algumas de suas citações beiram à imoralidade e o desrespeito absoluto com o povo venezuelano, pois ele SABE que mente, SABE que Chávez dali só sai num caixão mas diz coisas como essas: “Nós temos a confiança e a fé em Deus e nos médicos que nosso comandante Hugo Chávez irá evoluindo e que mais cedo do que se imagina sairá deste situação complexa e delicada que é a pós-operatória. Ele está absolutamente consciente do complexo estado pós-operatório e nos pediu expressamente, nos ratificou que mantivéssemos o povo informado sempre com a verdade, por dura que ela fosse em determinadas circunstâncias”. Consultado sobre como tinha visto o primeiro mandatário nacional, Maduro respondeu: “o vi com uma força gigantesca”. Explicou que “ao saudá-lo com a mão esquerda, ele me apertou com uma força gigantesca enquanto falávamos”. Bem, o doutor Marquina diz que Chávez está sedado, traqueostomizado e que “não responde a nenhum estímulo externo” mas, diante da presença de Maduro, os milagres acontecem. Assistam à entrevista abaixo.



(Entrevista de Maduro a TeleSur)

Entretanto, horas antes dessa entrevista de Maduro, o Dr Marquina também ofereceu uma entrevista e demonstrava preocupação ante o estado de saúde de Chávez e as mentiras que eram dadas aos venezuelanos como se fossem um espelho da verdade. Disse o Dr Marquina: “Em qualquer outra parte do mundo lhe teriam feito a cirurgia sem tantas complicações. Excesso de complicações e lentidão na recuperação são produto de inexperiência dos médicos que o assistem”. Assistam a entrevista do Dr Marquina abaixo, pois ela é muito esclarecedora.
  
(Entrevista Dr Marquina)
 

Que a medicina cubana é uma estrondosa farsa não é novidade para ninguém e isso vai custar a vida de Hugo Chávez. Entretanto, para os ditadores era mais do que o desejo de tratar da saúde daquele que lhes enche as arcas com 100 mil barris de petróleo/dia, mas o dinheiro mesmo que ele está deixando lá, junto com a vida. A exploração do câncer de Chávez já valeu aos Castro - em um ano e meio de tratamento - US$ 18 bilhões em petróleo e transferências financeiras. O deputado do partido Projeto Venezuela, Carlos Berrizbeitia informou que “as autoridades cubanas e venezuelanas sempre trataram de esconder a condição de Chávez para que, irresponsavelmente, ele fosse para uma campanha eleitoral enfermo”. Acrescentou que os cidadãos precisam saber se foi legal o gasto de 14 milhões de dólares que, segundo seus cálculos, custou às arcas públicas a enfermidade de Chávez. Diz ele que “custa 130 mil dólares diários, montante que inclui uma comitiva que supera 150 pessoas e 600 horas de vôo entre Havana e Caracas”.

E já estava fechando a edição quando recebi essa nova entrevista que o Dr Marquina ofereceu ontem ao portal DLatinos TV, onde ele explica com muita clareza qual é o estado real e atual de Chávez. Assistam a entrevista e depois leiam o que disse Arreaza, o genro de Chávez, no mesmo dia que o Dr Marquina dá estas informações.



“A equipe médica nos explica que a condição do presidente Chávez continua sendo estável dentro de seu quadro delicado” e que “o Comandante Chávez continua batalhando duro e envia todo o seu amor a nosso povo. Constância e paciência!”.

Bem, essa entrevista continua mas a parte seguinte ainda não foi publicada, de modo que ficará para outra oportunidade. Foi divulgado que Adán Chávez está em Havana a pedido das sobrinhas, para decidir junto com ele se desligam ou não os aparelhos que mantêm Chávez vivo. Comenta-se ainda a imensa insatisfação da família com o fracasso do tratamento do ditador venezuelano e que chegaram à ilha também, médicos russos. A edição de hoje foi apenas para falar do estado clínico do paciente Chávez, mas na próxima eu abordo o questão constitucional da tomada de posse em 10 de janeiro, a briga pelo botim antes mesmo do atual ocupante do cargo ter-se afastado oficialmente. Fiquem com Deus e até a próxima!

Traduções e comentários: G. Salgueiro