sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Áudios do velório e sepultamento de Orlando Zapata Tamayo

Conforme prometi ontem, apresento agora em dois áudios as manifestações durante o cortejo fúnebre que seguiu por Banes até chegar ao cemitério onde foi enterrado o que restou deste grande lutador pacífico, torturado até a morte pela ditadura comunista dos Castro.

É um momento comovente, sobretudo pela espontaneidade das palavras ditas pelos que se manifestaram. O tempo todo as pessoas gritam "Libertad!" que, para nós que não conhecemos o que é viver prisioneiro dentro do próprio país, sem direito sequer a dizer o que pensa, parece uma palavra vazia ou velho e desbotado clichê. Entretanto, para esta gente, esta palavra é o bem mais precioso, a única coisa que importa porque o resto vem como conseqüência, porque em Cuba esta ausência está cobrando vidas.

Na primeira parte algumas pessoas se despedem de Zapata, cantam o hino de Cuba e dona Reina fala de sua dor e revolta com bravura, sem medo dos algozes de seu filho. Na segunda parte, apenas dona Reina conclui sua despedida do filho assassinado, mostrando que sua dor não a enfraquece. Ela não desmaia, chora ou se lamenta; antes, acusa com valentia os assassinos de seu filho e conclama outros a não terem medo de denunciar perante o mundo a crueldade desta ditadura insana, miserável que dura já mais de meio século.

Depois de ouvir isto, só nos resta ficar em silêncio e meditar sobre a nossa responsabilidade individual em denunciar, ou dar as costas a essa infâmia. Dona Reina nos ensina a não ter medo, a não se acovardar ante um tirano arrogante e cruel, e as lições que esta senhora nos passa não podem cair no vazio.

Escutem com reverência. Fiquem com Deus e até a próxima!

Comentários: G. Salgueiro

Parte I: marcha opositora nas ruas de Banes durante o enterro do prisioneiro de consciência Orlando Zapata Tamayo

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Parte II: marcha opositora nas ruas de Banes durante o enterro do prisioneiro de consciência Orlando Zapata Tamayo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O sepultamento de Zapata e a carta a Lula

Esperei até agora (17:28 pm) para fazer esta edição, porque o site do Diretório Democrático Cubano anunciou que iria divulgar um áudio (ou vídeo) da passeata nos funerais de Zapata Tamayo em Holguín. Entretanto, como eles ainda não disponibilizaram, deixo para outra oportunidade, ou, quem sabe, até fechar esta edição o vídeo já esteja disponível e o coloco no final. Mas haverá outros dois, que não vi circulando pelo Brasil que dizem muito, de uma e outra parte envolvidas neste evento hediondo que vale a pena assisti-los.

Como este fato teve repercussão internacional, com protestos e artigos de repúdio vindos de todos os países livres, os jornalões brasileiros resolveram informar mas com aquele estilo porco de chamar o ditador de “presidente” Raúl Castro. O Pravda Tupinikin (O Globo) foi um dos primeiros a comentar este assassinato ainda ontem mas, como não podia deixar de ser, não ouviu a voz da dissidência. Na matéria eles só ouviram o lado dos criminosos, onde um cínico e nauseabundo alcoólatra Raúl Castro teve a petulância de dizer que “A tortura não existe, não houve tortura e não houve execução. Isso acontece na base de Guantánamo”, referindo-se à base americana, mas os entrevistadores, por serem coniventes e/ou mal informados, não concordaram com ele respondendo-lhe que sim, que há incontáveis presos políticos em várias prisões cubanas em Guantánamo e que sofrem as mais desumanas torturas e maus-tratos, como receberem comida deteriorada e com vermes, dividir cela com ratos e baratas, tomas água infectada e com fezes, etc.

E mais adiante, com a maior cara de pau, este assassino sentencia: “Lamentamos muitíssimo (a morte). Isso é resultado dessa relação com os Estados Unidos”. Para quem não conhece a história destes mártires cubanos, em fevereiro de 2003, aproveitando que o mundo estava com os olhos postos na guerra Estados Unidos x Iraque, Fidel jogou nas masmorras de sua ilha pessoal 75 dissidentes, alegando que todos eles “eram mercenários traidores da pátria” e que “eram agentes da CIA a serviço do Império”. Zapata se encontrava no meio desses “traidores”, daí que os Estados Unidos são os responsáveis pela prisão, tortura, espancamento, negação de atendimento médico e, finalmente, o óbito. E Lula lá, se fingindo de morto, disse que “Se tivessem pedido pra conversar comigo, eu teria conversado com eles e qualquer presidente teria conversado. Não nos recusamos a conversar”. E mais adiante, visivelmente irritado, disse: “Se essas pessoas tivessem falado comigo antes, eu teria pedido para ele parar a greve e quem sabe teria evitado que ele morresse. Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por uma greve de fome”. Ora, a questão não é “convencê-lo a parar a greve fome” mas interceder junto à ditadura para que ela libertasse todos os presos políticos, condenados injusta e fraudulentamente! Se Lula tivesse tido acesso aos dissidentes, teria sido gentil e intercederia em favor deles, ou agiria do mesmo modo “intercedeu” pelos boxeadores que buscaram asilo político durante o PAN? Quem não lembra disso? Mas Lula não fez nem fará nunca, porque ele é conivente com todos esses crimes que se cometem em Cuba, na Venezuela, na Bolívia, em qualquer país cujo governante é membro do Foro de São Paulo e ainda mais com o terrorismo das FARC!

Bem, mas o fato é que esta carta existe sim, e vai ser publicada hoje aqui no Notalatina com a fonte primária. Ocorre que ela não pôde ser entregue porque a embaixada brasileira em Havana RECUSOU-SE a receber os opositores, muito certamente, obedecendo ordens superiores, do Brasil e de Cuba, para não atender “gente desse tipo”.

Ainda com relação às notícias veiculadas pelos jornais brasileiros, o colunista da Folha de São Paulo, Clovis Rossi, em artigo publicado ontem sob o título “Quando o silêncio é cumplicidade”, parecendo estar condenando o governo brasileiro pelo silêncio em relação à morte de Zapata Tamayo, começando pela ignorância de dizer que o falecido era “operário como Lula”. Não, “seu” Rossi, Zapata Tamayo não era “operário” mas pedreiro! Não o compare com esta criatura abominável e hipócrita que só nos envergonha mundo afora! Não macule a honra de um homem que o Sr. não conheceu nem sabe NADA a respeito dele! E fechou o artigo com uma frase tão canalha, tão infame, tão miserável que preciso comentar aqui. Disse o comunista Rossi: “Zapata, se tivesse sido brasileiro dos anos 70, talvez aderisse à luta pelos direitos humanos e, hoje, estaria sendo homenageado por membros do governo Lula. Morre em Cuba, e o governo Lula faz silêncio”.

“Seu” Rossi, em primeiro lugar, o senhor sabe, perfeitamente bem, que nos anos 70 os únicos defensores dos direitos humanos eram os militares, porque esta raça de víboras que se adonou do poder, não defendia liberdade e democracia mas uma ditadura nos mesmos moldes, financiada e mantida, seja ideológica, seja em treinamento de guerrilha e terrorismo, por Cuba. Nem Zapata Tamayo nem qualquer outro dos quase 300 presos políticos da Ilha-Cárcere JAMAIS pegou em arma, JAMAIS explodiu bombas nem carros em seres humanos indefesos, JAMAIS assaltou bancos nem cofres abarrotados de dólares, JAMAIS seqüestrou pessoas ou aviões, JAMAIS praticou atos de terrorismo! JAMAIS, “seu” Rossi! A única arma desta gente, “seu” Rossi, é a palavra. A única coisa que eles pedem é para ter liberdade de ir e vir, direito a ter opinião diferente da ditadura, direito à propriedade privada. Em suma, direito de ser gente livre – como já foram um dia – e não escravos, percebe?

É simplesmente nojento, ler os noticiários brasileiros! Infelizmente o vídeo do sepultamento de Zapata ainda não chegou, mas relato o que se passou durante o velório e enterro. Primeiro, as dificuldades da senhora Reina Tamayo para conseguir levar os restos mortais de seu filho à Banes, Holguín, onde residiam, sendo acompanhada por um forte aparato da Segurança do Estado que exigia pressa em enterrá-lo. Chega à Banes no fim da tarde, onde vários ativistas acorrem à sua residência para assinar o livro e prestar-lhe as condolências. Ante o impedimento para que o ex-preso político Jorge Luis García Pérez, o “Antunes” pudesse estar presente, disse a senhora Reina: “As Damas de Branco e muitos irmãos estão comigo. Porém, se eles não deixam Antunes chegar, eles vão saber quem é esta mãe!

Segundo informações de outros ativistas, agentes do regime impediram que opositores de outras cidades pudessem se deslocar até o local do enterro, e desde o dia 23, data do falecimento de Zapata 25 pessoas já foram presas. Durante o cortejo fúnebre, hoje pela manhã, as pessoas gritavam “Liberdade!” e “Viva Zapata Tamayo!”. Durante o sepultamento no cemitério Sur La Güira, Reparto Mariana Grajales, às 7:30 da manhã de hoje, a corajosa e destemida dona Reina, como uma verdadeira leoa ferida, disse em homenagem ao filho morto: “Não admito mensagens de Raúl Castro para esta mãe porque eles assassinaram premeditadamente Orlando Zapata Tamayo. Cínico! Não permito que agora mande mensagens; meu filho já leva impregnado em seu corpo os golpes, as marcas e o negro do golpe efetuado em Holguín”. E seguiu seu corajoso e emocionado discurso ante a tumba do filho morto: “Esta mãe diz: Raúl, Fidel, não me digam nada! Queria falar de frente com eles para dizer-lhes cínicos, descarados, mataram meu filho, o levaram até onde vocês queriam por sua postura contestadora, por seus princípios, por seu valor! O levaram até aí porém não importa, aqui resta sua mãe, aqui resta sua família que levarão a cabo sua luta pacífica pelos direitos humanos. A palavra de Zapata Tamayo era morrer pela liberdade e pela democracia do povo cubano e viver eternamente nela. Que descanse em paz, Orlando Zapata Tamaya!”

Enquanto isso, Lula, que nunca sabe de nada, nem sabia da existência ou mesmo morte deste mártir do comunismo castrista, refestelava-se com os irmãos ditadores em “Punto Cero” esta casinha simplória que vocês vêem ao fundo da foto. Em matéria publicada no site do Juventud Rebelde, Lula declara-se “alegre por haver efetuado esta visita a Cuba” e reconheceu que o Brasil tem o propósito de ser o primeiro aliado em matéria de investimentos para o seu desenvolvimento. Dá asco saber que os US$ mais de 300 milhões vão ser arrancados do nosso bolso para financiar os luxos destes assassinos e o pior: à nossa revelia! No vídeo que segue no final desta edição vejam os sorrisos de contentamento deste ser abjeto, junto com o outro nauseabundo Franklin Martins, no momento em que assinavam o compromisso de entregar nosso ouro ao bandido. E o outro vídeo, também no final, uma manifestação ocorrida ontem na Espanha, em frente à embaixada cubana.

Segue agora a tradução da carta que não quiseram receber na Embaixada do Brasil em Cuba, para depois posar de vítimas de que não sabiam da existência da mesma. Quem quiser ver o original com as assinaturas, basta acessar aqui. Fiquem com Deus e até a próxima!

Comentários e traduções: G. Salgueiro

*****

Havana, 21 de fevereiro de 2010

Sr. Luiz Inácio Lula da Silva

Presidente

República Federativa do Brasil

Estimado Sr. Presidente:

Ao tomar conhecimento de sua próxima visita a Cuba, integrantes dos 75 prisioneiros de consciência, injustamente condenados duramente na Primavera de 2003, abaixo-assinantes, nos dirigimos ao Sr. para solicitar-lhe que nas conversações que manterá com os máximos representantes do governo cubano, contemple nossa situação e a dos demais prisioneiros políticos pacíficos cubanos, e advogue por nossa libertação. Igualmente aspiramos a que o Sr. se interesse pelo prisioneiro de consciência Orlando Zapata Tamayo, que desde dezembro vem mantendo uma greve de fome para reclamar seus direitos e hoje encontra-se em condições de saúde perigosas para a sua vida no Hospital Nacional de Reclusos, na Prisão Combinado del Este.

O Brasil, pelo caminho da democracia e da paz, alcançou altos níveis de desenvolvimento e reduzido consideravelmente a pobreza, e por tal motivo constitui um exemplo demonstrativo de que mediante o respeito e a livre expressão, a justiça social e o alento à criação, podem se alcançar elevadas cotas de prosperidade para os povos. Com isso, ademais, conseguiu prestígio e autoridade moral e ética internacionalmente. Seu desempenho, Presidente, foi encomiável em tal sentido.

O Sr. poderia ser um magnífico interlocutor para obter que o governo cubano se decida a fazer as reformas econômicas, políticas e sociais urgentemente requeridas, avançar no respeito dos direitos humanos, conseguir a ansiada reconciliação nacional e tirar a nação da profunda crise em que se encontra. O Sr. poderia contribuir significativamente para a felicidade e o progresso do povo cubano. Em tal sentido, posteriormente a sua visita, os representantes diplomáticos brasileiros, ao mesmo tempo em que mantenham sua relação com as autoridades cubanas, deveriam escutar as opiniões da sociedade civil, inclusive os familiares dos prisioneiros de consciência e políticos, assim como da oposição pacífica.

Receba o testemunho de nossa consideração e respeito.

(Seguem as assinaturas de 53 dos 75 presos da “Primavera Negra”).





quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Assassinado Orlando Zapata Tamayo pelo regime comunista cubano

*1968 - † 2010

Quando esta edição for publicada já será o dia seguinte ao de uma morte que abalou e comoveu o mundo hispânico, especialmente os cubanos. No Brasil isto não vai ser comentado, nem numa discreta notinha de rodapé porque “não pega bem”, porque o país está atolado até a medula em escândalos e porque as preocupações brasileiras estão voltadas para a candidatura presidencial. É sempre assim: no Brasil, Cuba só é destaque quando Lula vai lamber as botas dos assassinos ditadores que esta imprensa servil tem o descaramento de chamar de “presidentes”. Ou então, quando o genocida Fidel é condecorado com alguma menção indecente, como ser indicado para “Prêmio Nobel da Paz”.

Mas o Notalatina, que começou sua existência na rede denunciando os crimes ocorridos nas masmorras castristas, não vai se furtar a esta denúncia e à homenagem a um mártir da revolução cubana, Orlando Zapata Tamayo, assassinado pelo regime castro-comunista, após 85 dias de greve de fome, maus-tratos, tortura física e psicológica, tudo isto resultante de uma prisão injusta durante a “Primavera Negra de Cuba”, ocorrida em 18 de fevereiro de 2003.

Depois que assumiu a Presidência do Brasil Lula esteve várias vezes em Cuba. Os opositores ao regime escreveram várias cartas e solicitaram entrevistas com ele, na tola esperança de que Lula pudesse interceder a seu favor mas, nem resposta às cartas nem encontro com os dissidentes este cúmplice de genocidas quis, obviamente porque esta gente não merece sua atenção. Hoje Lula estará em Cuba atendendo convite feito pelo ditador Raúl Castro e a morte de Zapata Tamayo não entrará na agenda, porque, certamente pensarão com alivio os dois criminosos comunistas, “é um ‘gusano’ a menos”.

A Constituição Cubana de 1986, garante:

Sobre “Direitos, Deveres e Garantias Fundamentais”:

Artigo 49. “Todos têm direito a que se atenda e proteja sua saúde. O Estado garante este direito”.

Artigo 53. “Todos os direitos de reunião, manifestação e associação são exercidos pelos trabalhadores, manuais e intelectuais, os camponeses, as mulheres, os estudantes e demais setores do povo trabalhador, para o qual dispõem dos meios necessários a tais fins. As organizações sociais e de massas dispõem de todas as facilidades para o desenvolvimento de tais atividades nas quais os membros gozam da mais ampla liberdade de palavra e de opinião, baseados no direito irrestrito à iniciativa e à critica”.

Artigo 57. “A liberdade e inviolabilidade de sua pessoa são garantidas a todos os que residem no território nacional. (...) O detido ou preso é inviolável em sua integridade pessoal”.

Há mais capítulos e artigos desta Constituição que são apenas fachada para uma farsa criminosa, mas fico apenas com estes para acusar o regime comunista dos ditadores Castro de violar a própria Carta Magna, contra aqueles que discordam de suas regras, como se pode ver com o assassinato de Orlando Zapata Tamayo e dos quase 300 presos políticos.

Zapata foi preso em fevereiro de 2003 e condenado – num julgamento sumaríssimo e com provas e testemunhas falsas, como todos ou demais – a 3 anos de prisão, sendo esta pena aumentada mais tarde para 36 anos por delitos de “desacato”, “desordem pública” ou “resistência”. Zapata não foi o primeiro a morrer nestas circunstâncias, tampouco será o último, pelo menos enquanto esta maldição vigorar na Ilha. No livro “Cuba e castrismo: Greves de Fome no presídio político”, seu autor José A. Albertini relata os casos de dez presos políticos que morreram durante greves de fome em distintos períodos. São eles: Francisco Aguirre Vidaurreta e Luis Álvarez Ríos, El Príncipe, em 1967; Roberto López Chávez, Isla de Pinos em 1967; Carmelo Cuadra Hernández, La Cabaña, em 1969; Santiago Roche Valle, Kilo Siete, em meados da década de 1970; Pedro Luis Boitel Abrahan, El Príncipe, em 1972; Olegario Chalot Espileta, Boniato, em 1973; Reinaldo Cordero Izquierdo, Cinco e Meio, em 1973; Enrique García Cuevas, Cárcel Pretensazo, em 1973; José Barrios Pedré, Prisão Nieves Morejón, em 1977 e em 23 de fevereiro de 2010, Orlando Zapata Tamayo, hospital da Prisão de Combinado del Este em Havana.

E para provar a farsa dos próprios artigos desta Constituição de fachada, além da hediondez da morte de Zapata Tamayo, as notícias que me chegavam ontem, no início da noite, davam conta de que as residências dos opositores em Holguín, cidade natal de Zapata, estavam cercadas com policiais que impediam a saída ou entrada dos residentes ou amigos que ali quisessem entrar. Os telefones foram cortados e até a mãe de Zapata, a senhora Reina Tamayo Danger, que foi levada às pressas ao hospital para se certificar da morte do filho, estava impedida de falar com as pessoas. O jornalista José Ramón Pupo Nieves contou que puseram uma guarda nas escadas de sua casa, configurando-se assim a prisão domiciliar. Quer dizer, o regime comete um crime hediondo e os culpados e penalizados são os amigos do morto!

Às 10:30 da manhã de ontem, o Diretório Democrático Cubano, com sede em Miami, emitiu um vídeo onde alguns líderes opositores falaram por telefone com membros do Diretório, em uma entrevista coletiva, e davam as últimas notícias sobre Zapata, cuja vida já se extinguia. Vejam no vídeo abaixo:




No princípio da noite veio a dolorosa confirmação. E fico me perguntando: onde está a Igreja Católica cubana que não moveu uma palha na defesa deste ativista ou ofereceu consolo à sua mãe durante todo o período que durou esta tragédia? Onde está o Vaticano e seus puxa-saco do regime comunista da Ilha que nem uma vez se dirigiu, ou dirigiu uma palavra de conforto aos dissidentes ou de repreensão ao regime? Onde estão os incontáveis organismos de “direitos humanos” que emudeceram ante tal barbaridade?

Em 2008, quando faziam 40 anos do abate do monstruoso e frio assassino Ernesto Guevara, a Câmara dos Deputados fez uma sessão em sua homenagem. Mas nenhum desses hipócritas e pervertidos parlamentares irá hoje a tribuna denunciar este crime porque Orlando Zapata Tamayo era apenas um cubano pobre, pedreiro, negro e defensor da liberdade e democracia em seu país. Nenhuma destes “nobres” parlamentares irá derramar uma lágrima ou dirigir uma carta de pêsames à família enlutada, mas certamente fará discursos inflamados sobre o convênio assinado por Cuba e Brasil de importar a revolução através de seus agentes, que vêm implantar em cinco estados o programa “Si, yo puedo” de alfabetização.

Porém, Zapata não será esquecido, nem em Cuba, nem por todos aqueles que prezam a liberdade e por ela se arriscam e até doam suas vidas.

Segue abaixo um comunicado da organização “Diretório Democrático Cubano” sobre os fatos que levaram à morte este mártir da revolução cubana. Que Deus o acolha em Seu Reino entre os justos, onde não há mais dor nem sofrimento, e que console a família nesse momento tão doloroso. Que Deus nos abençoe a todos e nos fortaleça em Sua misericórdia e até a próxima!

Comentários e traduções: G. Salgueiro

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Diretório condena assassinato de Orlando Zapata Tamayo pelo regime castrista

Miami, 23 de fevereiro de 2010 – Diretório Democrático Cubano – O valente defensor da liberdade do povo cubano, Orlando Zapata Tamayo, morreu hoje assassinado pelo regime castrista, que negou-se a garantir seus direitos básicos. Zapata Tamayo, prisioneiro de consciência reconhecido pela Anistia Internacional, exigia tal garantia mediante uma greve de fome de mais de 80 dias de duração. Este grande da resistência cubana permanecia injustamente encarcerado desde 20 de março de 2003.

“Os abusos cometidos contra Orlando Zapata Tamayo comprovam que a tortura e o terror contra o povo são políticas de Estado sob o regime castrista. Esta morte é uma prova da prática do terrorismo de Estado”, assinalou Janisset Rivero, Secretária Nacional Adjunta do Diretório.

Em outubro de 2009, Zapata foi brutalmente golpeado por militares da prisão estadual de Holguín de tal forma, que lhe provocaram um hematoma interno na cabeça sendo obrigados a operá-lo. Começou sua greve de fome em 3 de dezembro de 2009 na prisão de segurança máxima Kilo 8 de Camagüey. Durante 18 dias, o major Filiberto Hernández Luis, diretor dessa prisão, negou água a Zapata, que era a única coisa que ingeria. O efeito desta tortura foi induzir-lhe uma falência renal. Em meados de janeiro Zapata foi transferido ao hospital Amalia Simoni da cidade da Camagüey, onde o deixaram quase nu com um forte ar condicionado ligado, o que lhe provocou uma pneumonia. Apesar de seu critico estado de saúde, o regime o transferiu na semana passada ao hospital da Prisão de Combinado del Este em Havana, onde não existiam condições para tratá-lo.

O Diretório Democrático Cubano assinala, além disso, que este crime soma-se à longa lista de atrocidades cometidas pelo regime dos irmãos Castro, que incluem milhares de fuzilamentos e um sem-número de casos de cubanos que têm padecido injusta prisão.

Também encontram-se injustamente privados de liberdade e em terríveis condições de saúde, os também presos de consciência Ariel Sigler Amaya e Normando Hernández Gonzalez, casos que requerem o apoio e a solidariedade dos cubanos e da comunidade internacional.

“Já assassinaram Orlando Zapata Tamayo, já acabaram com ele. A morte de meu filho foi um assassinato premeditado. Agradeço a todos os irmãos que lutaram para não deixar meu filho morrer. Aconteceu outro Pedro Luis Boitel em Cuba” [1], disse Reina Tamayo Danger ao Diretório Democrático Cubano.

O Diretório Democrático Cubano condena este horrendo crime, e alça sua voz para que o regime de Raúl Castro e os principais responsáveis pela morte deste defensor do direitos humanos, sejam condenados por este ato de lesa-humanidade.

A morte de Zapata Tamayo não será em vão e iluminará o caminho da resistência cívica em Cuba até conseguir a liberdade.


[1] Pedro Luis Boitel é caso mais mencionado, por tratar-se de um jovem, quase adolescente, preso injustamente nas masmorras cubanas, e que morreu de inanição em 24 de maio de 1972 após 53 dias de greve de fome, conforme nos relata Armando Valladares em seu livro “Contra toda Esperanza”, editado pela Kosmos-Editorial S.A, Panamá, 1985, de quem foi companheiro de cela e assistiu seu martírio.