O Notalatina volta com notícias da Venezuela, trazendo hoje comentários do Dr. Rómulo Lander e duas análises sobre essa situação insustentável pela qual passam nossos vizinhos irmãos venezuelanos.
É ao mesmo tempo angustiante e gratificante ver a coragem e determinação desse bravo povo que segue, há exatos 21 dias, numa incansável e pacífica luta pela democracia e liberdade, apesar da forte repressão feita pelo insano presidente Chávez e seu séquito de terroristas que o aplaudem e dão cobertura.
A cada mensagem recebida diariamente, (e às vezes são tantas que quase fico sem saber o que reportar) mais meu coração se une a essa brava gente e com eles grito em pensamento: NI UM PASO ATRÁS!
Amanhã é véspera do Natal. Rogo ao pequeno Deus que nasce para a nossa salvação, que ilumine com Sua inefável Luz os irmãos venezuelanos e proteja toda a Venezuela contra o castro-comunismo.
Felices Navidades a todos los hermanos Latinoamericanos!
Caracas, 23 de dezembro de 2002 – 5:00 PM
A situação aqui em Caracas e em toda a Venezuela continua crítica. A Parada Nacional continua hoje em seu vigésimo primeiro dia. Tudo está parado, todos os dias marchamos pelas ruas em uma busca pela liberdade.
Hoje, dentro de uma hora, às seis da tarde, irei marchar com tochas e velas pela avenida principal das Mercedes para terminar na Praça da Meritocracia no leste da cidade. Afortunadamente, todavia, há pouca violência. Só dois ou três mortos por dia (na Venezuela toda) por efeitos de bala, nas marchas. Neste momento, vejo pela televisão, a entrevista com um jovem ferido a bala, na marcha de ontem na cidade de Maracaibo.
A gasolina escasseia, 90% dos postos estão fechados. No momento há alimento nas casas. As pessoas passam horas nas filas para inscrever-se no registro eleitoral (os novos eleitores). Todos desejamos uma saída democrática e eleitoral a esta tragédia. Não queremos o regime Castro-comunista que tentam implantar na Venezuela. Quanto a essa intenção, não há dúvida. A disputa é agora ou nunca. Pouco a pouco a violência vai aumentando, todavia os Círculos Bolivarianos da morte ainda não fizeram sua aparição na cena. Sabemos que Chávez não deseja as eleições e, além disso tem o poder de fogo em suas mãos. Portanto, ninguém sabe o que vai se passar aqui. É claro que existe uma alta motivação para continuar com a parada; ninguém pensa em suspendê-la, mesmo quando, é certo, algumas casas comerciais menores têm aberto suas portas nestes dias. Isso é algo que se tolera com dignidade e sem ofensa. São companheiros que estão com a causa anti-chavista, porém necessitam pagar suas contas deste mês. Esses casos não afetam a essência da parada geral. São bem tolerados. A PDVSA e os Marinheiros dos petroleiros estão firmes na parada e isso é muito importante. Requerem todo o nosso apoio.
NEM UM PASSO ATRÁS E CEM PASSOS À FRENTE!
Rómulo Lander
PLEBISCITO
Benjamín Molpo
Ao observar as ações e reações do governo frente a um reclamo cada vez mais amplo, não se pode evitar de recordar o que dizia um filósofo, algo como que atrás de todo déspota há um jurista para justificar seus abusos e cobranças injustas e violentas. Sem compreender que todos estes abusos e ações equivocadas, não detêm nem ajudam a melhorar o clima de tensão que hoje se vive.
O governo tomou o caminho mais difícil para todo o governo democrático: o Plebiscito, como forma de manter-se no poder. Ignorando o sentido comum e ainda mais o dissimulado das formas. E isto traz como consequência o contrário do que seria a meta sã de todo governo: a governabilidade na paz. E é que em cada ação o oficialista, faz crescer ainda mais a plataforma motivacional da oposição.
O oficialismo e seus sofistas, igualmente a Protágoras, se especializam em converter qualquer argumento oco em sólidas afirmações, só cuidam de “dignificar” seus crimes, e assim elaborar toda uma cadeia de coerção física com “bases legais e patrióticas” e todo o deslocamento de uma sorte de mitologia comunicacional que o explique.
As mensagens do oficialismo ainda apelam aos sinais-clichês, tirados dos símbolos fascistas (paradoxo), cujas mensagens não só calam entre seus partidários, como são sinais intimidatoriais contra seus oponentes.
Porém, ainda com todo este deslocamento, não é suficiente, e ainda se aguça mais a idéia de sufocar e afogar qualquer saída eleitoral. Desta forma, sabe que já não é aceitável decapitar um ou dois oponentes para deter um movimento opositor, senão sua preocupação e objetivo prioritário são milhões de oponentes e de maneira midiática provocar um plebiscito, através do desgaste e da desilusão da aparente inação. Por isso sua estratégia propagandística converte-se rapidamente no centro do seu esforço: os rumores, ativar os navios petroleiros, dividir a oposição e quebrar a parada, para conseguir a desmotivação da maioria.
Por outro lado, a oposição sem se propor a isso, converteu-se em um movimento social, forte e coeso para um fim, evoluiu desde as primeiras queixas isoladas, em todo um movimento representante das forças sociais mais díspares, que julgam este processo auto-denominado revolucionário.
Também vimos como estas forças levantaram-se contra as “instituições”, ou melhor dizendo, contra as manipulações de tais instituições, acompanhadas desde cedo de modo destrutivo pelos meios de comunicação, e estes foram incrementando seus recursos argumentativos para desmascarar a ideologia hegemônica deste projeto político.
Agora, sem dúvida, presenciaremos uma escalada de violência e protestos que variarão em intensidade. E ao final, se chegará a um bifurcação: a evolução para a institucionalidade democrática ou a consolidação do projeto.
Porém, não resta dúvida que o poder físico do governo não poderá conter muito tempo o poder moral e democrático da maioria. Ainda assim, prevalece no ânimo do oficialismo provocar o plebiscito, seja com a Assembléia Nacional e os legisladores ou os Fales de nossas orgulhosas FAN.
Todos temos que opinar...
Fonte: El Gusano de Luz
ANÁLISE DA SITUAÇÃO XIX
Orlando Augusto Nieto Willett
O presidente, desde Carenero, no estado de Miranda, afirma estar ganhando a “batalha petroleira, social, política e militar...”, além de afirmar que “mãos internacionais interessadas em pôr a mão no país” e em ”privatizar” imagino a PDVSA. Disse também que estão preparando as demissões e as demandas penais contra os que propiciaram a parada e sabotaram a indústria. O governo usando a coação e a força, tenta levar ao porto mais navios.
1. Evidentemente, desde sexta-feira, o governo em seu empenho para ativar os navios, busca afanosamente dar a impressão de começar a controlar a situação. É importante ressaltar que esta parada, até pouco tempo não existia. Para o vice-presidente era algo de ficção, e nessa matéria ele apenas lia. Para a senhora que se ocupa do trabalho, tampouco foi algo real. De maneira que a Parada Cívica Nacional surgiu como algo do nada. De repente, de improviso. Algo surgido do nada, faz fila nos postos de gasolina, bancos, supermercados, lojas e centros comerciais.
2. Outro aspecto importante é a impressão que temos, os Venezuelanos, da inexistência de instituições. À noite escutamos um advogado de alguns tripulantes dizer, como a própria procuradoria impedia que eles cumprissem com o seu dever de assistir a seus clientes, na ausência da defensoria do povo. Escutamos perplexos um grupo de juristas que analisavam o amparo que admitiu o TSJ e as falhas e violaçõe legais e constitucionais que implicam a decisão e a anarquia de sua interpretação. Patente de pirataria, segundo alguns, entregue ao governo para que faça o que lhe dê na telha. A alocução do Ministro da Defesa e de outros empregados do governo. É surpreendente, também, constatar o que continua sucedendo com a Polícia Metropolitana.
3. Porém o mais inaudito é que o governo ignora a motivação essencial da Parada Cívica Nacional, que não é outra que o de exigir o direito de resolver este problema pela via eleitoral. O presidente disse ao jornal Folha de São Paulo que para que o referendo seja possível, tem que modificar a constituição. Mente uma vez mais. O jornal Le Monde Diplomatique feito uma história de vilões. A campanha de desinformação é brutal. Busca-se encaminhar à oposição o mesmo argumento pós-abril de golpismo, com o agregado de sabotadores. A Coordenadora tem excelentes cunhas; algumas podiam ir para o exterior. É estranho que se o governo ataca a certos meios poderosos na Venezuela, estes mesmos meios não podem agenciar suas influências para equilibrar esta situação nos países adequados.
4. Durante a última marcha, um PM perguntou se no Natal marcharíamos também, e lhe disse que sim, fazia falta sim.
Conclusões: A sociedade civil está mobilizada, está consciente das razões políticas, na correta acepção do termo, que a fizeram assumir há um ano uma atitude combativa. Participa na Parada Cívico Nacional por convicção. Não é momento para oportunismos. A unidade da coordenação do comitê de conflito deve manter-se. Com sensatez, com calma, de maneira clara e contundente. O apoio aos Negociadores da Mesa é total. Porém, por razões do tempo na Parada, da época do ano, a condução deve ser particularmente habilidosa. O governo continua esperando pelo milagre do desgaste e da fadiga. É um presente que não podemos lhe dar, como tampouco a vida de nenhum Venezuelano mais.
Fonte: El Gusano de Luz
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