terça-feira, 15 de outubro de 2002

A DIVISÃO DOS VENEZUELANOS APROFUNDA A CRISE ECONÔMICA NO PAÍS



Duas magistrais manifestações a favor e contra o presidente Hugo Chávez, em três dias, mantêm a Venezuela imersa em uma incerteza política, completamente polarizada, pendente de uma nova greve geral e a caminho de um próximo precipício econômico.



Milhares de pessoas tomaram no domingo as ruas de Caracas. Ante o entusiasmo de seus seguidores, Chávez foi claro ao rechaçar o ultimatum apresentado pela oposição, que ameaça com uma greve geral para 21 de outubro próximo (para a qual a população vem sendo mobilizada e orientada), se ele não renunciar ou convocar eleições antecipadas. O presidente venezuelano replicou seus opositores, alegando que vão ter que esperar até agosto de 2003 para uma eventual convocatória a um referendum, a fim de revogar seu mandato.



Ocorre que a constituição venezuelana lhe faculta esse direito, pois fixa o período presidencial em seis anos, porém contempla a possibilidade de um referendum para revogar o mandato na metade do período, ou seja, no caso de Chávez, só em agosto de 2003.



Nessa verdadeira queda de braço, cada lado afirma ter a maioria consigo. Se na manifestação dos opositores na quinta-feira passada houve um milhão de pessoas, os chavistas afirmam que a manifestação em apoio ao presidente arrastou dois milhões às ruas do centro de Caracas.Para ajudar nessa camuflagem, o jornal oficial cubano Granma, de ontem, ilustrava entusiástica matéria com uma foto do evento. Não seria nada demais, se a foto não fosse do evento da oposição, publicada em outro informativo, o “Tal Cual”, denunciado prontamente pelos opositores do presidente.



O empresariado venezuelano ratificou que irá realizar a greve marcada para o dia 21. Segundo o presidente da Fedecâmaras, Carlos Fernández, “Não há outra forma como medida de pressão, para que haja uma saída democrática com eleições”. Por outro lado, o mandatário venezuelano assegurou ontem que o país não ficará paralizado pela oposição: “Me restam dois dias do ultimatum, porém o país não vão pará-lo. Quem vai parar este país pelo capricho de uma pessoa, pela obsessão de um grupelho de pessoas que querem que Chávez saia, custe o que custar?”, disse o presidente em um ato com pequenos e médios empresários.



O fato é que hoje, dois dias após a manifestação em seu apoio, o presidente Hugo Chávez viajou para Paris, onde foi encontrar-se com o presidente francês Jacques Chirarc. Em declaração à imprensa francesa Chávez debocha do movimento que se avoluma em prol da sua deposição: “Dei tanta importância a este ultimatum, que vim a Paris; o ultimatum é uma expressão do desespero, da irracionalidade, quer dizer, dos que não têm razão porque não querem dialogar, porque não têm nenhum projeto, não têm nenhuma liderança sobre o país; então, lançam qualquer coisa que se lhes ocorra para tratar de gerar alguma idéia no mundo acerca de uma suposta debilidade do governo que represento”.



A comunidade venezuelana que reside em Paris parece não concordar muito com essa percepção, fezendo uma barulhenta manifestação com apitos e caçarolas, no local onde se situa o hotel em que o mandatario está hospedado, pedindo sua renúncia.



Amanhã darei mais informações sobre essa tensa situação que a mídia brasileira prefere ignorar, como se fosse coisa sem importância uma possível guerra civil, bem ali, do nosso lado.



Hoje o Notalatina publica um artigo do Carlos Reis, que passará a colaborar neste espaço, com sua pena sempre lúcida.



A TREZE DIAS



(27 de outubro menos 13)



Muito gostaria de relaxar na forma da prosa, uma prosa amigável, entre amigos, mas também útil e prazeirosa para aqueles que não conheço. No entanto, A TREZE DIAS não consigo relaxar o suficiente para passar uma idéia de prazer ou algo amigável, senão no sentido do conforto pelo que ainda não aconteceu. Se aconteceu, por certo que foi sem o emblema da data e seu significado do fato consumado e irretorquível. Mas A TREZE DIAS o sentimento é esse: incredulidade e surpresa com o sentimento, esse já não meu, predominante no país com a vitória de Lula, não que aqui esteja a surpresa e a incredulidade, mas que a minha própria diante da minha (da nossa) sabedoria solitária ou quase, mas de qualquer modo, absolutamente minoritária.



Então se escrevo A TREZE DIAS com esse tom pesado e pressuroso, repleto de maus augúrios, todos verificáveis não na anatomia das aves, ou nas penas de um corvo, mas na História, na velha professora não mais ouvida, é porque estou convencido (parafraseando Lula) que estamos A TREZE DIAS do abismo. Se isso não me transforma em um novo Dr. Beto do Apocalipse, estou então mais para Cassandra, uma inconveniente e verdadeira desmancha-prazeres socialistas, A exatos TREZE DIAS. Azar. Sou pessimista sim, e daí? O número do azar não é exatamente o treze?



E quem, sabendo como começou o nacional-socialismo, não se deprime com os mesmos números nefastos ou búzios já jogados, um autêntico universo paralelo onde todo o mal conhecido se repete e se reconhece, ainda assim não fica pressuroso e pessimista? Somos nós, essa maravilhosa confraria de amargura! Gostei de uma frase que poderia ser o nosso lema de resistência, que alguém citou lembrando Lutero: “Vivo sou tua peste, morto sou tua morte”. Magnífica. Conheço outra versão mais popular e cinematográfica: “Nós sabemos o que vocês fizeram no verão passado”. O dilema, no entanto, continua; como fazermos o maior número saber se eles são Legião A (exatos) TREZE DIAS?



Carlos Reis





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