domingo, 16 de maio de 2004

Reabrimos hoje o Notalatina com novo layout, mas com o mesmo espírito combativo de sempre, denunciando o que a imprensa escandalosamente omite da população leitora do país, sobretudo os desmandos criminosos que vêm sendo praticados contra aqueles que ousam discordar do sistema.



A Venezuela já é uma sucursal de Cuba, não somente pela quantidade de terroristas e espiões infiltrados desde os mais altos escalões do governo, ou disfarçados como agentes de saúde e desportistas, mas também pelas atitudes francamente ditatoriais e ilegais, orquestradas pelo abutre insepulto do Caribe, Fidel Castro.



No final da semana passada o ditador Hugo Chávez, valendo-se de mentiras e falsas provas, resolveu “desnaturalizar” cinco pessoas muito incômodas ao poder, dentre eles o jornalista cubano-venezuelano, Robert Alonso, que escreveu este ensaio que reproduzimos abaixo.



O que mais revolta esta corja vermelha é que eles sabem que podem tirar a vida de um ser humano julgado “inconveniente” mas, seu espírito, isso eles não conseguem roubar, nem destruir.



Matéria relativa ao assunto vocês poderão ler no site Mídia Sem Máscara – www.midiasemmascara.org



O orgulho de ser cubano-venezuelano



Robert Alonso autoriza a reprodução deste ensaio em qualquer meio de comunicação social, que queira fazer eco com ele.



Ontem, 13 de maio de 2004, às 11 da noite, quando me inteirei que a “respeitável” Assembléia Nacional da República Bolivariana da Venezuela havia solicitado – sem dúvida alguma seguindo as sagradas ordens do lacaio de Castro – revogar-me a cidadania venezuelana, me veio à mente aquela tarde, há exatamente 38 anos, 14 dias, três horas e uns quantos minutos, quando meus pais me anunciaram que eu era cidadão venezuelano, 5 anos após haver chegado à Venezuela buscando o oxigênio da liberdade.



Não vou negar que senti uma profunda tristeza, pois pensei – então – que estava me despojando da nacionalidade que havia herdado de meus antepassados, alguns dos quais deram a vida pela liberdade de Cuba, tanto na era colonial espanhola, como na colonial soviética. É difícil para um menino de 16 anos deixar tudo para trás, chegar em uma nova pátria onde vai começar tudo de novo... e do zero, para acrescentar a esse indescritível e dramático trauma, a aquisição de uma nova cidadania. Nessa noite me deitei chorando como naquela outra do meu aniversário, em 23 de agosto de 1961, quando apaguei a luz de meus dias felizes na Cuba que me deu a vida, para empreender uma longa e tormentosa viagem no destrambelhado e amontoado navio espanhol, junto a mil e tantos cubanos mais, chamado “Marqués de Comillas”, que abriria as portas de uma nova e produtiva vida na terra de grandes libertadores, onde seus habitantes viviam empapados dessa dignidade que só se pode encontrar dentro da democracia e da liberdade.



À medida que foram passando os anos, foi-se distanciando de mim o acento e os traços daquele menino cubano que deixou sua pátria pela mão de seus pais. Aos dois meses de ter-me tornado venezuelano, morreu de leucemia em meus braços minha primeira noivinha. Lupita, a peruinha mais linda da urbanização El Paraíso em Caracas, que me honrou com o primeiro beijo de amor e compartilhou comigo os sonhos que injustamente a morte truncou. Aprendi a dançar nos “guateques” que montávamos, os rapazes do bairro San José, próximo ao San Bernardino de minha adolescência. Meu primeiro carro o dirigi pelas anárquicas ruas de nossa cidade capital... e o primeiro cigarro que fumei (“Lido”, com certeza), o fiz nas escadas do histórico Colégio América, hoje – lamentavelmente – desaparecido.



Continuaram passando os anos e as vivências nesta nova terra nobre e generosa – onde repousam os ossos de meus avós chegados de Cuba – até que me fiz homem, fundei um lar e procriei quatro filhos para abonar o solo tricolor da Venezuela livre que me havia entregado tudo. Chegou um momento em que se me fazia tremenda e dolorosamente difícil definir o que era mais: se venezuelano ou cubano. Optei por considerar-me o que verdadeiramente sou: CUBANO-VENEZUELANO.



Aqui prosperou minha família e tudo, ABSOLUTAMENTE TUDO o que tiramos deste solo, o reinvestimos nele. Hoje não tenho nada material, pois a Fazenda Daktari, meu único e adorado patrimônio, junto aos utensílios que nela se encontravam, ficaram nas mãos dos esbirros do oprobrioso, maléfico, satânico e demoníaco regime que hoje tenta depredar e apropriar-se da Venezuela. Uma vez mais, o mesmo inimigo que nos despojou de nossas propriedades na Cuba de Castro, arremeteu contra nossos bens na terra onde pensava morrer livre, sem ter outro dono além de Deus, o Todo Poderoso.



Porém, o que não sabem estes novos esbirros e lacaios ao servoço do CASTRO-COMUNISMO INTERNACIONAL na Venezuela, é que jamais poderão despojar-me de minha dignidade e das lembranças vividas em minha terra adotiva e sobretudo, SOBRETUDO, apagar de meu coração o orgulho de ser CUBANO-VENEZUELANO. O exílio me ensinou que, de tudo o que se deixa para trás, só tem importância a lembrança; que não há que chorar por nada que não se possa chorar por alguém... e que o mais apreciado na vida é a pátria... quando esta é livre.



Não me arrependo de absolutamente nada. Ainda tomando em conta os circunstanciais fracassos ao longo desta longa, solitária e árdua luta pela liberdade de minhas duas pátrias, se tivesse que começar de novo, com os mesmos contratempos e desgraças, não duraria um só segundo em fazê-lo. Aquele homem que não encontre nenhuma causa justa pela qual estaria disposto a morrer, não poderia encontrar razão alguma para continuar vivendo em paz com a sua consciência.



Venezuela e Cuba voltarão a ser livres e soberanas e com elas o seremos minha família e eu. Não importa quantos decretos sejam publicados na Gaceta Oficial desta nação que hoje mancham próprios e estranhos a serviço de uma aberração de regime – que tem semeado morte e desgraça ao longo e ao largo do globo terrestre – para revogar-me a nacionalidade venezuelana. Depois de tudo, trata-se de letras mortas impressas em um perecível papel barato. Ninguém neste mundo poderá eliminar, por decreto, meus sentimentos pátrios e minha irrevogável decisão de dar a vida, se for necessário, para que meus filhos continuem vivendo e terminem seus dias em qualquer das duas mais formosas terras que tenha sonhado O Senhor: Cuba e Venezuela!



Da clandestinidade, 15 de maio de 2004.



Robert Alonso



“A liberdade não se mendiga: Se obtém com o fio da espada!” - Antonio Maceo y Grajales.



Tradução: Graça Salgueiro



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