quarta-feira, 20 de novembro de 2002

O Notalatina apresenta hoje, excepcionalmente, um resumo dos últimos acontecimentos na Venezuela que, conforme anunciamos ontem, está em ponto de ebulição. Uma guerra civil é quase iminente, fruto da prepotência, intransigência e autoritarismo do seu mandatário, um desordeiro que se espelha e é respaldado pelo tirano senil, a múmia do Caribe, Fidel Castro.



Peço desculpas aos leitores pelo tamanho da edição de hoje, que é bastante extensa mas vale a pena ler, se quiser ficar a par do que de fato está ocorrendo e que nos jornais brasileiros não vemos nem uma pálida imagem da realidade vivida por nossos irmãos vizinhos venezuelanos.



A COMISSÃO DA MARCHA OPOSITORA CHEGOU À ASSEMBLÉIA NACIONAL



Unión Radio



Às 2:45 da tarde chegou à Assembléia Nacional a comissão designada pelos organizadores da marcha da oposição, para entregar aos deputados um documento em defesa da descentralização e da Polícia Metropolitana. Os representantes chegaram custodiados por efetivos da Guarda nacional e não da Polícia Metropolitana, em virtude das tentativas de violência que se desataram nas proximidades do Palácio Federal Legislativo e que a GN teve que repelir com a ação das bombas lacrimogênias.



A 1:20 da tarde desta terça-feira, efetivos da Guarda Nacional lançaram bombas de gás lacrimogênio contra simpatizantes do oficialismo que haviam se colocado na esquina de El Chorro, para impedir a chegada da marcha da oposição à Assembléia Nacional. Isto aconteceu a poucos metros do avanço da concetração que se organizou para apoiar a Polícia Metropolitana e rechaçar a militarização deste corpo policial subordinado à Prefeitura da Capital. A ação da GN foi para que ambos os grupos não se encontrassem, e assim evitar incidentes maiores como os já regisytados em marchas passadas.



Minutos antes, o diretor da PM, Henry Vivas, alertou sobre focos violentos que esperavam para emboscar aos que vêm marchando em forma pacífica desde a Praça Altamira, por isso impôs aos organizadores chegarem até a esquina de El Chorro.



Nas imediações do metrô de La Hoyada, os prefeitos de Chacao, Baruta, assim como o governador de Carabobo, Henrique Salas Feo, conversam com o comissário Vivas sobre a inconveniência de chegar ao Parlamento, porém mostram-se renitentes em acatar a sugestão. “Há um total desacordo porque desejamos simplesmente chegaraté lá e entregar o documento”, porém o mandatário regional esclareceu que esperam por uma ordem final por parte do prefeito Alfredo Peña. Por seu lado, o prefeito de Chacao, Leopoldo López ratificou que querem entregar o documento porque é um direito, “viemos de uma maneira cívica e pacífica e o governo está sequestrando, uma vez mais, nossos direitos”. Refutou que vinham de um modo tranquilo, porém gera-se uma situação cada vez mais tensa: “os violentos estão do outro lado; lamentavelmente o governo demonstrou uma vez mais que é intolerante”.Recomendou ao secretário geral da OEA, César Gaviria, que sente diante do televisor e veja o que está se passando.



Leopoldo López informou que o comissário Vivas denunciou que os policiais tomistas sequestraram as duas baleias da PM e estão dispostos a dispará-las na marcha, por isso a cautela necessária a respeito. “Isto é absurdo, que cada vez que chegamos a esta esquina não nos queiram deixar passar”, criticou López. Disse que a comissão de dez pessoas que entregariam o documento à Assembléia Nacional está disposta a socorrer o Parlamento.



Desde bem cedo da manhã na chamada praça da Liberdade, se congregaram os participantes da marcha que chegariam até a Assembléia Nacional, em protesto pela intervenção durante o fim de semana da Polícia Metropolitana (PM).



O presidente da Associação de Prefeitos, Saady Bijani declarou da Praça Francia de Altamira que a intervenção da PM constituía uma ação contra a autonomia municipal. Portanto, conclamou os cidadãos a não ficarem calados e sair em marcha pois “não podemos ficar calados. Aqui estamos os prefeitos com nossa gente, para reclamar o respeito absoluto, sacrossanto ao estado de Direito e à Constituição Nacional”. Assegurou que o documento que entregarão ao parlamento tem o propósito de “ordenar ao chefe de Estado a anular esse decreto nefasto, essa monstruosidade jurídica e legal”.



Do mesmo modo, o grupo de prefeitos exigirá dos deputados a promulgação da Lei Orgânica do Poder Eleitoral. “Não permitam mais dilações com respeito à lei eleitoral, já há uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça; dêem-lhe cabimento, promulguem essa lei e de imediato convoquem o referendum consultivo. Não há outra opção senão que o povo decida os destinos do país”. Reiterou que não permitirão “a invasão de um poder sobre outro poder”. Ao manifestar que não aceitarão a invasão de competências e violação de autonomia, Bijani acrescentou: “já está bom que o centralismo tenha uma espécie de operação tenaz contra as regiões; por um lado nos têm negado recursos e agora pretendem (...) reduzir-nos à sua mínima expressão.



Peña sublinhou o caráter pacífico do trajeto



O prefeito da capital Alfredo Peña, denunciou os atropelos contra a autoridade civil, política e adiministrativa da cidade, ao intervir de forma “atropelada” na Polícia Metropolitana. “Aqui se impõe uma unidade com os sacerdotes, com os militares democráticos, com as mulheres, com os intelectuais, com os trabalhadores. 85% da população rechaça o presidente Chávez; temos que tirá-lo com votos e não com balas”, assinalou.



Esclareceu que a manifestação de hoje conta com as permissões necessárias, diferente das convocadas pelo governo, as quais, a seu ver, podem ser violentas. “O governo provocou em 11 de abril 19 mortos, em 04 de novembro 23 feridos e em 12 deste mês, 15 feridos e 2 mortos”. Enfatizou que a mobilização é de caráter pacífico em defesa dos direitos civis e políticos da comunidade. “A negociação não impede silêncio, nem mobilidade”, destacou.



Mendoza: segurança da marcha garantida



O governador do estado de Miranda, Enrique Mendoza, garantiu que 800 efetivos da Polícia Metropolitana resguardassem a mobilização, além de 4 mil e quinhentos funcionários municipais que estarão ao longo da rota.



Mendoza assinalou que os policiais estarão dispostos a cada cinco metros dos oito quilômetros, tal como constatou após fazer uma trajetória inicial. Assim mesmo, informou que a Disip também se colocou em pontos estratégicos. Aqui não há porque temer nada que impeça que as pessoas não possam fazer a marcha”, sublinhou Mendoza, ao advertir que só existe um ponto da rota com obstáculos: o da esquina El Chorro no centro da cidade, onde realizam-se trabalhos de perícia pela explosão ocorrida ontem, aparentemente pelo uso indiscriminado de fogos artificiais.



Prefeitos defendem autonomia municipal



O prefeito do município Chacao, Leopoldo López, assegurou hoje que a manifestação em respaldo à PM é distinta de todas, porque além disso conta com o apoio de sete governadores e 150 prefeitos de todo o país, que defendem a autonomia municipal. “Estamos dizendo não ao golpe de Estado contra a descentralização. Os prefeitos e governadores interpretamos o que se passou com a Polícia Metropolitana como um golpe contra a descentralização. Nós estamos contra esse sequestro da PM”, afirmou.



Na avaliação de López, têm que rechaçar a gravidade deste fato porque poderia repetir-se com outros municípios e suas polícias. “É por isso que estamos fazendo uma solicitação formal e contundente, com as pessoas na rua, de que nós não vamos nos deixar amedrontar e que se dêem esses golpes de estado”. O prefeito do município de Baruta, Henrique Capriles Radonski, enfatizou que amarcha não é só pelos direitos dos prefeitos, mas pela segurança dos cidadãos. “As pessoas estão com bandeiras, com seus apitos, flanelas, isto é algo absolutamente pacífico; as pessoas estão aqui pedindo que se respeitem seus direitos e a segurança é um direito que têm os cidadãos”, afirmou.

Capriles advertiu que a segurança dos caraquenhos está interditada, por isso rechaçam a intervenção da PM. “Nós vamos chegar à Assembléia Nacional; estamos resguardando as pessoas”.



Alfredo Ramos: O povo continuará na rua até a consulta popular ou a renúncia de Chávez



Enquanto participava da marcha opositora de hoje, terça-feira, o secretário executivo da Confederação dos Trabalhadores da Venezuela, Alfredo Ramos, comentou para a Unión Radio que “apesar dos poucos dias em que foi convocada a marcha, novamente uma multidão se aglomerou nas ruas para defender o regime de liberdades, para exigir do governo a restituição do Estado de Direito em relação à intervenção da Polícia Metropolitana por parte do governo autoritário de Hugo Chávez”.



Alfredo Ramos opinou que “esta multidão está dizendo ao governo que nós vamos permanecer na rua até enquanto não se realize a consulta popular ou o presidente Chávez se vá, como o grande sentimento de mais de 70% dos venezuelanos; nós vamos continuar na rua com a mobilização popular”.



Segundo o secretário executivo da CTV, “as pessoas não aguentam mais um governo tão nefasto para o país, um governo que mantém as pessoas passando fome. Os níveis de desemprego chegaram a quase 24%, quase três milhões de venezuelanos não têm nenhum tipo de remuneração, nenhum tipo de sustento para dar a sua família e por outro lado uma crise social”.



Ledezma: Depois da marcha, deve-se convocar a parada



No marco da marcha opositora, o presidente da Aliança Bravo Povo, Antonio Ledezma, assegurou que coincide com as opiniões que exigem a convocatória já de uma parada geral. “Assim vamos estabelecer no seio da Coordenadoria Democrática. Eu creio que nos estão esgotando os tempos e as oportunidades, portanto, cada passo tem que ser muito bem calculado. Aqui não se trata de ser estravagante, nem de apelas a uma audácia exagerada, quando se fala de uma parada cívica indefinida; se fala de uma greve geral”, assinalou.



A seu ver, é hora de que se convoque uma greve geral que o povo da Venezuela reclama, como uma medida de pressão a um governo que está “zombando” das instituições, da justiça e da coletividade internacional. “Tendo aqui (César) Gaviriz (secretário geral da OEA) como supervisor da mesa de negociações, vemos que o governo atua com todo o descaramento e portanto aqui o que cabe é já depois desta marcha, a greve geral que o povo da Veenzuela está esperando”, afirmou.



General Rosendo: Parada deve ser a última cartada



O general Manuel Rosendo, ex-diretor do Cufan, assegurou hoje que a parada cívica deve ser a última estratégia a discutir-se na mesa de negociações e acordos, onde tenta-se resolver os principais problemas do país. Rosendo também se referiu sobre a utilização da Força Armada Nacional, para a manutenção da ordem pública. Em seu parecer, é uma medida “desesperada” e recordou aos oficiais que não pdoem cumprir cegamente ordens que atentem contra o povo venezuelano. Recordou disposições constitucionais e da legislação internacional que impedem o cumprimento de ordens que desrespeitam os direitos humanos. “Se incorrerem neste tipo de delito, vão acabar sendo julgados na Corte Penal Internacional!, advertiu.



Rosendo esclareceu que os funcionários da FAN só devem intervir quando os corpos policiais tenham sido ultrapassados na manutenção da ordem pública, tal como estipulam instrumentos jurídicos nacionais.



Coindustria respalda a marcha



O presidente da Coindustria, Lope Mendoza, asseguro esta terça-feira que a mobilização de hoje é um dos percursos mais importantes que se fez, já que é em apoio aos efetivos da PM e do prefeito da capital Alfredo Peña. Em sua opinião, o Tribunal Supremo de Justiça deve pronunciar-se sobre o decreto que ordenou a intervenção da PM e devolver a autoridade a Peña, tal como lhe garantem os princípios de autonomia estabelecidos na Constituição.



Por outro lado, em torno da convocatória para a parada geral realizada pelo oficial dissidente Enrique Medina Gómez, esclareceu que a Constituição só se rege pelas diretrizes da CTV, Fedecamara e a Coordenadoria Democrática. “Respeito a decisão do general Medina Gómez, porém sem dúvida alguma ele está rompendo o pacto da unidade”, sublinhou Mendoza, ao referir-se ao documento cívico-militar subscrito dias atrás entre opositores e oficiais declarados em desobediência civil.



Dispositivo médico garantido



O diretor de Saúde da Prefeitura da Capital Metropolitana, Pedro Aristimuño, informou que 120 paramédicos, 50 médicos e os efetivos de saúde de Chacao, Bombeiros de Caracas e Proteção Civil, prestarão seus serviços em um destacamento técnico que se implantou ao longo de todo o trajeto da marcha. Os profissionais de saúde contaram com 20 ambulâncias e 2 unidades de tratamento respiratório. Os centros hospitalares da cidade estão em estado de alerta ante qualquer eventualidade, e Aristimuño assegurou que conta-se com suficientes insumos médicos.



Segundo Aristimuño, a organização da mobilização é “impecável” e o ambiente é pacífico. Todavia, manifestou suas esperanças de que tudo se desenvolva com normalidade e em tranquilidade.



Todas essas informações foram enviadas por La Voz de Cuba Libre - www.lavozdecubalibre.com



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