O Notalatina apresenta hoje uma análise da situação sócio-político-econômica de Cuba, de autoria de Ismael Sambra e, embora longa, é fundamental que seja conhecida, pois revela aspectos da situação que poderemos viver nesses próximos 4 anos de governo socialista.
Quando Fidel Castro tomou o poder, em 1959, Cuba era um país promissor e em franco crescimento. 43 anos depois, em absoluta decadência, miséria e opressão do seu povo, o tirano do Caribe cinicamente acusa o embargo norte-americano pelo caos que o país vive. É bom prestarmos atenção porque o governo que breve irá conduzir nosso país, certamente irá acusar o presidente que sai pela “ingovernabilidade”, o que demandará medidas de recessão. Ainda não tomou posse, mas já vem dando mostras sutis disso, quando se refere ao teto do salário mínimo que, com fins nitidamente eleitoreiros prometia elevá-lo para R$ 240,00 entretanto, depois de ganha a batalha afirma que dará o aumento “que for possível” e não o que prometera em campanha.
A MISÉRIA EM CUBA COMO POLÍTICA DE GOVERNO
Por Ismael Sambra
Desde sua chegada ao poder em 1959, Fidel Castro quis demonstrar que antes em Cuba se vivia mal e que seu governo levou justiça e riqueza ao país. Todavia, quando Fidel Castro chega ao poder se encontra com uma economia florescente, onde o peso cubano tinha o equivalente a um dólar e até o superava. Hoje em dia, 43 anos depois daquele “acidente histórico”, a ilha vive submergida na pobreza e com uma economia totalmente arruinada. Porém, a Fidel Castro não importa este fracasso. De todos os modos as privações, a escassez e a miséria criadas por seu nefasto regime, lhe serviram para defender-se e sustentar-se. É mais do que isso, a ruína econômica foi provocada por ele e finalmente manejada como uma arma ideológica e como estratégia política para manter o povo submisso.Com muito menos da metade das catástrofes criadas por Fidel Castro, qualquer outro governo no mundo teria inevitavelmente colapsado. Entretanto, a deterioração social, moral e econômica provocadas na nação, o têm ajudado paradoxalmente a sustentar-se. Como se explica isso?
Na perene incerteza tem vivido o povo cubano, com um governo que vive culpando um inimigo externo, os Estados Unidos, dos problemas internos. Não devemos estranhar. Com tal justificativa têm governado os comunistas desde que tomaram o poder em 1917 na Rússia, até que perderam quando em 1989 a cúpula governante aceitou que o único culpado do descalabro sócio-econômico era o inoperante sistema adotado, incapaz de produzir benefícios e riquezas reais para o homem. Fidel Castro escolheu tal sistema como modelo, não porque confiasse nele como modelo para o desenvolvimento, mas porque era o que mais lhe convinha para perpetuar-se no comando. Viu que na Rússia Stálin e seus sucessores se mantivera, apesar dos milhões que morreram de fome e frio. Não importa que o povo viva na miséria, sempre haverá em quem jogar a culpa.
Desta maneira, Fidel Castro pode distrair o povo. O povo se emaranha dia a dia em uma luta tenaz pela sobrevivência. O fato de ter que se deitar pensando no que vai comer no outro dia e em como resolver as necessidades básicas para a família, não deixa a ninguém espaço nem tempo para mais nada e muito menos para organizar um protesto massivo e lutar contra o verdadeiro culpado pelo desastre: o totalitarismo comunista. A miséria em Cuba é muito mais que um acidente, é um fato premeditado. Nem sequer nos melhores anos da década de 80 se eliminou o Cartão de Racionamento de roupas e alimentos, quando se abriram os chamados “Mercados Paralelos” a preços exagerados com as importações de países socialistas. Isto vem completar a diabólica fórmula de repressão da chamada “Ditadura do Proletariado” que tem sido na prática, uma ditadura contra o proletariado.
A POLÍTICA EM PRIMEIRO LUGAR
Em Cuba não existe liberdade política e a política está em primeiro lugar. A presença de um só partido em Cuba contradiz as idéias de José Martí, nosso Apóstolo da Democracia, que proclamou que “a liberdade política assegura... a dignidade do homem” e que “os partidos vêm a ser o molde visível da alma do povo, seu braço e sua voz...” (Obras Completas, t. 2, p. 35). O doutrinamento político tem sido e é um elemento de primeira ordem nos governos comunistas. Em Cuba e nos países que se empenharam na construção do comunismo, a política sempre predominou acima dos valores e princípios econômicos. Os comunistas esqueceram de propósito a regra de que “sem o crescimento sustentável da economia, é falsa qualquer tipo de conquista social”. Em sua maioria as chamadas leis revolucionárias não têm sido outra coisa que leis populistas para conseguir adeptos, distanciados de toda lógica e dos pilares econômicos que sustentam um país.
Assim o Estado cubano se sustenta não com o que produz, mas com o que rouba do povo. A gratuidade da educação e a atenção à saúde é uma das maiores vigarices que inventaram contra os trabalhadores, pois estes são mal pagos, mal alimentados e obrigados ao silêncio. A inconformidade e a dissidência estão vedadas e só levam ao exílio, ao cárcere e ao “paredón” de fuzilamento.
Nisto é que unicamente tem sido eficiente Fidel Castro. Sua máquina repressiva atuou sempre em ponto, desde as repressões psicológicas até as físicas. Durante anos tem sido capaz de paralizar as fábricas para obrigar os operários a assistirem os desfiles, os atos de recepção de altos funcionários ou para celebrar qualquer acontecimento político que beneficie seu regime. O vimos recentemente paralizando a escassa produção e o débil funcionamento da economia, para mobilizar os estudantes e os trabalhadores no caso do menino Elián González. Tudo isso se traduz em gastos e perdas econômicas. Jamais um país com economia de mercado, onde se respeitam as leis da produção e onde os operários são pagos por cada hora de trabalho físico e produtivo, cairia em semelhante disparate. Daqui começam as economias para a prosperidade. Os milhões que Fidel Castro gasta em Cuba e no estrangeiro para propagandear seu nefasto regime, teriam servido melhor para desenvolver o comércio e alimentar melhor seu povo. As ruas de Toronto, para citar só este exemplo, estão cheias de gigantescos anúncios luminosos que dizem somente CUBA SIM e sabemos que cada um custa mil dólares.
DILAPIDAR MILHÕES
CUBA SIM, CASTRO NÃO, diriam então nossos cartazes, se contássemos com dinheiro; porque Castro é o problema e demasiadas são as suas violações. Todas as nações democráticas devem exigir de Castro o respeito à livre expressão e aos direitos humanos em troca de ajuda econômica. Espanha e Canadá podem desempenhar um papel fundamental neste sentido. Estas violações não são um problema de assuntos internos de Cuba, mas um problema que importa a todos, porque Fidel Castro continua zombando de todos quando nas Cúpulas Iberoamericanas e outros eventos internacionais assina acordos de respeito aos direitos humanos e ao pluripartidarismo, mas imediatamente persegue e encarcera os cubanos quando fundam outros partidos e defendem a liberdade. O diálogo sobra, porque não se pode dialogar com um vigarista, nem com alguém que só quer fazer monólogos.
Em Cuba a miséria e a prostituição aumentaram, não por culpa do Bloqueio Americano, como disse Mr. Gilbert Parent, um Speaker da Câmara dos Comuns no Canadá e como dizem alguns, ao querer culpá-lo pelos altos níveis. O principal bloqueio foi imposto por Fidel Castro, à livre atividade econômica dos cubanos em seu país. Castro continua como dono das empresas que agora reparte entre os ambiciosos capitalistas a quem não importa dar oxigênio a um tirano. A miséria e a prostituição aumentaram por culpa de um sistema que fracassou desde o ponto de vista político, econômico e social e por culpa de Fidel Castro que não faz profundas mudanças. As meninas se prostituem em Cuba cada dia mais, por um prato de comida ou por alguma roupa para vestir, porque ele arruinou a nação enviando tropas internacionalistas a lutar em Angola e outros países, onde morreram inutilmente milhares de cubanos, e prestando ajuda logística a grupos terroristas. Seu descarado apoio aos grupos ETA na Espanha e as FARC na Colômbia, o põem na lista dos governos que apoiam o terrorismo. Milhões, tudo isto tem custado ao povo cubano.
Castro pode comercializar com outras nações que querem comercializar e realizam políticas independentes às dos Estados Unidos, como por exemplo, o Canadá. Então temos que em Cuba não há comida nem outros recursos elementares para a população, simplesmente porque Castro não tem interesse nem dinheiro com que comprar. Castro ficou na ruína depois de haver dilapidado de 4 mil a 5 mil milhões de dólares anuais, do dinheiro recebido como subsídio soviético, os quais estavam muito interessados em mantê-lo como satélite frente aos Estados Unidos, quando da Guerra Fria. Castro pode exportar e importar quanto quis.
Por exemplo, Cuba exportou ao Canadá na primeira metade de 2000, uns 187 milhões de dólares. Todavia, Cuba importou somente uns 132 milhões de dólares em bens do Canadá. E se compararmos com as importações realizadas em 1999, as quais ascenderam a 188 milhões no mesmo período, vemos que houve uma diminuição de 56 milhões de dólares (The Report, Newsmagazine, Canadá, 11.20.2000, pg. 24 – www.report.ca). Onde estão então o bloqueio, se o Canadá vende a Cuba tudo que Fidel Castro quer? Cuba, apesar do bloqueio americano, comercializa com mais 150 países do mundo! Não me cansarei de repetir que o único bloqueio que afeta Cuba, é o bloqueio interno que Fidel Castro criou a todas as liberdades.
A VERDADEIRA INFORMAÇÃO
Os jornalistas e a imprensa credenciada não deveriam perder isso de vista, na hora de publicar informações e comentários sobre Cuba. Com uma descrição adulterada e/ou tergiversada, se alimenta a mentira. Melhor não dizer nada, se não somos capazes de dizer tudo. Hitler trabalhou sua propaganda nazi-fascista sobre o princípio goebeliano de que ”a mentira repetida muitas vezes adquire categoria de verdade”. Fidel Castro faz isto e os jornalistas, em primeiro lugar, temos o dever supremo de desmascará-lo. Ele investiu milhões de dólares para confundir e chantagear, para prender lacaios e fanáticos detrás dos seus bastidores.
Alguns jornalistas credenciados em Cuba se fazem de tolos frente aos desmandos do ditador e a repressão que vive a nação cubana, porque não querem ser assinalados pelo tirano e expulsos de Cuba. Optaram, lamentavelmente, pela mancha da tibieza. Já sobram exemplos. Os jornalistas cubanos da linha oficial, como são assalariados por Castro, evitam desgostá-lo. Mas o que dizer dos que no estrangeiro usam sua pena, aproveitando-se da livre expressão para defender a tirania de Fidel Castro? São oportunistas frustrados porque “a tirania é una em todas as suas formas”, como disse José Martí. Respeitem os jornalistas cubanos independentes que trabalham para refletir informação e valorizar a realidade do que ocorre em Cuba. No enfrentamento com o regime terminam marginalizados, difamados, perseguidos, encarcerados e acusados de servir à CIA, porque a máquina repressiva do sistema não permite a ninguém a mais mínima liberdade de discordar.
Frente à disjuntiva, muitos cubanos se vêem forçados a ceder, a adotar uma dupla moral e a esperar uma boa oportunidade para escapar. O exemplo nos deram há umas poucas semanas os 25 peregrinos cubanos que desertaram da delegação que chegou a Toronto para celebrar com o Papa a Jornada Mundial da Juventude. Lhes perguntávamos se haviam assinado o documento que Fidel Castro inventou para eternizar o comunismo em Cuba. Nos disseram todos que sim, que não tinham outra opção a não ser assinar e quando lhes foi dada a oportunidade de viajar, escaparam. Todos são profissionais, todos merecem nosso profundo respeito, apoio e amor, porque escapar da opressão, vemos também como uma forma de rebeldia.
Só os homens da vanguarda enfrentam os sistemas despóticos a expensas de suas vidas. Fidel Castro acusa seus opositores de serem uma minoria, porém nunca se atreverá a realizar eleições livres nem nenhum referendum que o ponha em perigo. Sabe que não há tal minoria e que sua aceitação é cada vez menor. Sob seu governo, o trabalhador cubano se converteu no mais mal pago do mundo, com um salário mínimo equivalente só a 10 dólares por mês, em um país onde tudo se vende por dólar.
A catástrofe que confronta a Argentina há uns meses não é nada se a compararmos com a catástrofe que confronta Cuba, há mais de quatro décadas. A diferença reside em que os argentinos acostumados ao bem-estar, levaram ao colapso a quatro governantes e os cubanos acostumados às crises, suportam o seu, porque Castro utilizou, além disso, a miséria como arma ideológica para manter-se no pdoer e anulou qualquer capacidade de protesto. A miséria em Cuba já não assusta ninguém. Os cubanos parecem resignados a esperar e a viver dentro dela.
Fonte: La Voz de Cuba Libre (www.lavozdecubalibre.com)
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