quarta-feira, 6 de novembro de 2002

Conforme imaginávamos ontem, a manifestação pacífica dos opositores venezuelanos para a entrega do documento ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) pedindo o plebiscito ou a renúncia do presidente Hugo Chávez, teve represálias por parte dos ensandecidos chavistas. A reportagem é do jornal “El Nuevo Herald”



Ainda nessa edição de hoje, o Notalatina traz com exclusividade uma entrevista dada pelo recém libertado preso político cubano Oscar Elías Biscet, por telefone, à jornalistas em Miami. Essa entrevista demonstra a coragem desse homem que, mesmo tendo cumprido sua pena integralmente, ainda que injusta e ilegal, foi libertado em “condicional”, e proibido de falar. Mas os bravos não se curvam diante de um déspota assassino. A ele, todo meu respeito e admiração.



CHAVISTAS ATACAM MARCHA OPOSITORA EM CARACAS



Silene Ramirez – Reuters – Caracas



A oposição ao presidente venezuelano Hugo Chávez, entregou ontem as assinaturas para pedir um referendo sobre a permanência do mandatário, após uma marcha cercada de distúrbios que foram repelidos pela Polícia com gases lacrimogênios e balas de borracha.



Os fatos violentos se prolongaram por mais de quatro horas nos arredores da sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no centro de Caracas, e onde concluiu a marcha de milhares de adversários, que custodiaram em seu recurso o que os dirigentes opositores afirmaram serem mais de dois milhões de assinaturas, transportadas em um caminhão blindado.



Boletins médicos e dos bombeiros registraram nove feridos, dois por armas de fogo, e entre eles um jornalista estrangeiro. Umas 50 pessoas mais foram atendidas por asfixia e contusões leves, ocasionadas por pedradas e outros objetos.



Os choques se produziram quando centenas de adeptos do mandatário se aglomeraram no entorno do CNE, para tentar impedir que fossem entregues as assinaturas recolhidas pela oposição em 18 dias, e exigir a celebração de um referendo que consulte a população de 23 milhões de habitantes se quer a renúncia imediata de Chávez.



Líderes oficialistas os exortaram a desistir de seu intento para evitar a violência, porém os “chavistas” estiveram renitentes e inflamados; ergueram barras de ferro, tampas de esgoto e caixas de papelão às quais tocaram fogo para colocar barricadas nas ruas.



O deputado Julio Borges, do opositor Primero Justicia, destacou ao entregar as assinaturas que “conseguimos entrar aqui sem pedras, sem bombas, sem paus, simplesmente com bandeiras, com gritos e com a alegria do povo venezuelano... para manifestar-se com uma caneta e com o voto”.



A polícia Metropolitana (PM) de Caracas lançou gases lacrimogênios e balas de borracha para dispersá-los, enquanto “chavistas” lhes devolviam pedras, paus e garrafas.



Os acontecimentos geraram tensão e nervosismo entre a população do quinto exportador mundial de petróleo bruto, que há quase sete meses viveu choques violentos entre “chavistas” e adversários em meio a uma massiva marcha opositora, com um saldo de 19 mortos e centenas de feridos, que precedeu a saída de Chávez do poder por 47 horas em abril.



Desde então, enfrenta uma férrea oposição e a “desobediência” declarada por um grupo de militares – investigados por sua possível participação no golpe – que pedem a renúncia do mandatário, a quem acusam de exercer uma ditadura e culpam pela recessão econômica em que vive o país.



Finalmente a marcha chegou ao CNE, onde em meio a um alvoroço e aplausos algumas pessoas transportaram as caixas com as listas de assinaturas e outras cantaram o hino nacional. O presidente do órgão eleitoral, Roberto Ruiz, ao recebr as assinaturas condenou os “atos de vandalismo”. Ruiz expressou seu “mais categórico repúdio a esse grupo de pessoas, a esse grupo de vândalos que queria impedir que esta manifestação chegasse às portas do CNE”.



Ante um cenário de opositores que gritava “liberdade, liberdade”, o funcionário comprometeu-se em um prazo máximo de 30 dias revisar as assinaturas contidas nos 360 volumes e fazer a análise jurídica da pergunta que se formula, e em outros 60 dias fixar a data do referendo.



Chávez afirmou que essa consulta é anti-constitucional. Embora tenha deixado claro que não teme ir às eleições, sustenta que a via legal é esperar até agosto de 2003, quando na metade de seu mandato a Constituição permite um referendo reconvocatório.



Líderes empresariais, sindicais e políticos da oposição ameaçaram concovocar uma greve indefinida se for fechada a possibilidade de um referendo.



”O POVO CUBANO NECESSITA VIVER EM LIBERDADE”, AFIRMA O OPOSITOR BISCET



Wilfredo Cancio isla



O dissidente cubano Oscar Elías Biscet, recém ex-encarcerado por uma condenação de três anos, lançou ontem contundentes acusações contra o regime de Fidel Castro e exortou a comunidade internacional a desfazer os vínculos com um governo que viola os direitos dos cidadãos da ilha.



”Enquanto exista em Cuba a ditadura castro-comunista, nós, os cubanos não podemos viver em liberdade e democracia, e continuarão sendo violados os direitos humanos”, afirmou Briscet em uma ligação telefônica de Havana.



Em uma coletiva de imprensa convocada na sede do Conselho pela Liberdade de Cuba (CLC) em Miami, Biscet conversou com uma concorrida audiência de repórteres, apenas quatro dias depois de sua libertação do cárcere Cuba Sí, de Holguín.



”Peço aos governos democráticos do mundo, às pessoas amantes da justiça e da liberdade seu apoio ao povo cubano, e não ao governo da ilha, que usurpou o poder e traiu o povo, desonrando-o”, manifestou o opositor.



Biscet leu uma declaração e logo sustentou um animado diálogo por mais de meia hora, com jornalistas e representantes do exílio cubano que se reuniram no lugar. Também se escutou uma mensagem gravada de Jeb Bush, que elogiou o exemplo do dissidente como “um desafio aos que usam a força e a repressão para dobrar os cidadãos e esmagar a liberdade”.



O dissidente, presidente da ilegal Fundação Lawton de Direitos Humanos, disse que após três anos de cativeiro regressou com a idéia clara de que “o povo cubano necessita viver em liberdade” e explicou que ”para a conquista dessa prioridade encaminhará seus passos, seguindo a estratégia de resistência pacífica”.



”Sou um lutador não violento e sempre encaminharei meus passos nessa direção, porém não nego outras opções de luta, porque então estaria negando o que fizeram patriotas cubanos como José Martí, Antonio Maceo e Máximo Gómez”, especificou.



A uma pergunta do El Nuevo Herald sobre sua posição ante o Projeto Varela - iniciativa da oposição interna para um referendo democrático baseado na Constituição vigente –, Biscet foi rotundo: “Quando me apresentaram o projeto em 1997, lhes disse (aos seus promotores) que tudo o que juntasse o povo era bom, porém que eu pessoalmente não assentia, porque jamais jurarei essa Constituição (aprovada em 1976)”, asseverou. “Só jurarei quando se estabeleça uma constituição democrática que respeite os direitos do meu povo”.



Interrogado sobre o embargo e a possível eliminação de restrições para as viagens de americanos à ilha, Biscet apelou para uma metáfora: “Minha postura é pragmática: se você tem um indivíduo que maltrata sua família em sua casa, o correto é expulsar esse indivíduo da casa, não dar-lhe mais dinheiro para que continue maltratando as pessoas”, considerou. “Se a comunidade internacional houvesse agido com Cuba da mesma forma que fez (o regime do apartheid) da África do Sul, há tempo que nosso país seria livre”.



Biscet anunciou que amanhã convidará representantes da imprensa estrangeira credenciados em Havana e, inclusive os jornalistas oficiais, para denunciar as arbitrariedades que se cometem nos cárceres cubanos.



Todas as informações desta edição foram extraídas do jornal El Nuevo Herald



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