Duas notícias estarrecedoras divulgadas hoje, me obrigam a deixar de lado o trabalho para fazer a denúncia no blog: na Venezuela madurista agora, para fazer qualquer compra em supermercados e farmácias, o cidadão tem que deixar sua impressão digital como forma de “controle” contra um alegado contrabando. E na Colômbia, um mega assassino de cognome “Popeye”, que trabalhou desde a adolescência como matador profissional de Pablo Escobar, o rei do cartel de Medellín, depois de cumprir parte de sua pena recebe liberdade condicional.
Na Venezuela os militares controlam até os supermercados |
Bem, vamos primeiro ao fato insólito da Venezuela. Como é de conhecimento público, denunciado por mim mesma há tempo, a escassez que o venezuelano comum vem sofrendo atinge níveis inimagináveis. Para controlar - e pôr garrote - não só na população mas sobretudo no empresariado, o usurpador presidente Maduro resolveu, a partir desta terça-feira 26 de agosto, utilizar uma máquina “captahuella”, a mesma que recolhe as impressões digitais (daí seu nome) nas mesas de votação em período eleitoral. Antes disso ele já marcava o povo como os judeus nos campos de concentração, com um carimbo contendo um número que era posto no braço, para que a pessoa não voltasse a fazer compras (em qualquer estabelecimento, pois a tinta não saía com facilidade) no prazo inferior a uma semana.
A novidade de hoje vem como pretexto de coibir o contrabando de mercadorias que, segundo Maduro e seus capachos, sai ilegalmente da fronteira com a Colômbia que tem preços mais atraentes e é revendido na Venezuela no câmbio negro. Saliento que há pouco mais de uma semana Maduro esteve reunido com o presidente Santos na Colômbia, para tratarem dessa questão do contrabando, depois da qual ambos impuseram um fechamento de suas fronteiras a partir das 20:00 h.
O que Maduro não revela é que o suposto contrabando não é causa mas conseqüência de seu incompetente (des)governo, uma vez que a produção industrial vem sofrendo baixas constantes por duas razões: o controle cambiário do CADIV que não permite o fluxo necessário do dólar, que é controlado com mão de ferro e necessário para as importações. E a baixa produção da matéria-prima que está toda nas mãos do Estado. Sem matéria-prima nacional e sem poder importar, por causa do controle da compra e venda de dólares, os empresários e produtores venezuelanos não têm como produzir e daí a escassez. Maduro e seus ministros alegam que não havendo mercadorias suficientes para todos, a solução é criar um “cartão de racionamento”, do mesmo modo que existe em Cuba há décadas. Não sei se é por ignorância mesmo ou má-fé, pois como ele recebe ordens desde Havana, o que deve mudar não é a política econômica mas a “distribuição equitativa”, confirmando a máxima de que “o socialismo é a igualdade na distribuição da miséria”.
A respeito dessa nova norma, o constitucionalista José Ignacio Hernández afirmou que o uso dessas máquinas é contrário à Constituição, porque o sistema econômico venezuelano parte do princípio da soberania do consumidor. Segundo Hernández, “são os cidadãos, e não o Estado, que decidem que bens querem adquirir. Com o sistema biométrico, o Estado é quem vai decidir e isso é inconstitucional”. Para Maduro, entretanto, “Somos obrigados a implementá-lo para combater o contrabando, a voracidade e todos os métodos da burguesia criminosa e parasitária para destruir nosso país. As famílias venezuelanas são as vítimas. É tanta a guerra que quando conseguimos certos níveis de abastecimento, eles baixam o número de caixas para que as pessoas durem horas nas filas”.
Bem, não vou me alongar muito nesse tema mas alerto apenas que no Brasil estamos caminhando para isso. Sem liberdade de mercado, controle cambiário, escassez de matéria-prima e travas gigantescas na importação, é evidente que todo o resto vem em cadeia e com ele o desemprego. Não tem nada a ver com a suposta “burguesia criminosa”, mas com um Estado falido por má administração e roubo descarado para as mãos (ou as contas em paraísos fiscais) da Nomenklatura e a boliburguesia. E nem é preciso ser economista para entender isso, de tão elementar que é...
E hoje na Colômbia foi libertado Jhon Jairo Velásquez Vásquez, mais conhecido como “Popeye”, um matador profissional que serviu ao cappo do Cartel de Medellín. Segundo ele mesmo conta, Popeye tinha apenas 12 anos quando presenciou numa briga de rua, um homem ser assassinado por outro, que lhe desferiu uma facada na jugular. Todas as pessoas que estavam na rua naquele momento fugiram horrorizadas, menos ele, que ficou encarando o assassino com uma fascinação ao ver o sangue esguichar do pescoço do agonizante. Diz ele: “Assim perdi minha inocência e voltei a nascer para o mundo que me coube viver. Não aquele que minha mãe sonhou, senão o que encontrei na rua e no mais profundo do minha condição humana. A partir desse dia, eu já não fui mais o mesmo. Pouco a pouco e sem notar, comecei a me transformar em “Popeye”.
Bem, Popeye é o único sobrevivente do bando de temidos sicários de Pablo Escobar e sai da prisão depois de cumprir 23 anos (três quintas partes da condenação) na penitenciária de Cómbita. Ele teve sua pena rebaixada por colaborar com a justiça e realizar trabalhos, mas para obter sua liberdade condicional teria pago 5.000 dólares. Popeye se uniu ao Cartel de Medellín aos 18 anos, quando “o patrão”, como era conhecido Escobar, começou a lhe encomendar assassinatos. Tem sob suas costas mais de 300 mortes, além de haver seqüestrado o ex-presidente Andrés Pastrana e o ex-vice-presidente Francisco Santos, quando era chefe de redação do jornal El Tiempo. Um de seus feitos foi a derrubada de um avião da Avianca em pleno vôo, no qual morreram 107 passageiros. Popeye admitiu com frieza que ordenou o assassinato de umas 3.000 pessoas, dentre elas centenas de policiais, jornalistas, juízes, magistrados, políticos e o candidato à presidência Luis Carlos Galán, quando Pablo Escobar travava uma guerra contra o governo para evitar sua extradição, inclusive o ataque ao Palácio de Justiça.
Agora este psicopata paga para ter a liberdade condicional e solicitou à Justiça que lhe dêem “garantias de vida”, através de escoltas armadas, pois teme ser assassinado por vingança. Saiu da prisão sob um forte esquema armado, enquanto a pessoas dignas, honradas e trabalhadoras, como o jornalista Ricardo Puentes Melo que já sofreu inúmeras ameaças reais a ele e sua família, o governo retira essa proteção “por não ver necessidade”.
Encerro esta edição com quatro vídeos de uma entrevista com o psicopata assassino Popeye, intitulada “As confissões de Popeye”. Fiquem com Deus e até a próxima!
Comentários e traduções: G. Salgueiro
9 comentários:
Graça,
espero que vc goste deste texto. Eu o traduzi e ele foi revisto por uma moça venezuelana, filha de amigos meus, e que diz que tem o "coração enrugado". Aceite-o como reconhecimento por seu trabalho.
Abr.
Bel
A Venezuela desapareceu
Confesso: não tenho idéia de onde estou nem sei para aonde vou. As referências que eu tinha, e que me orientavam na Venezuela, desapareceram. É como voar em meio à neblina, sem rádio e sem instrumentos. Nasci e cresci em Caracas, mas não sou mais caraquenho: já não me acho mais neste lugar, hoje transformado em aterro sanitário e em manicômio, povoado por pessoas estranhas, imprevisíveis, sem taxonomia.
Ao longo da minha vida, percorri quase todo o país, sentindo-o, incorporando-o ao meu ser, tornando-me parte dele. Hoje não o reconheço, não o encontro. O estrangeiro sou eu. Oito gerações de antepassados venezuelanos não me fazem sentir-me em casa. Mudaram a nossa comida, os odores da nossa terra, as lembranças, os sons, os costumes sociais, os nomes das coisas, os horários, nossas palavras, nossos rostos e expressões, nossas piadas, nosso modo de amar, o comércio, as farras, a amizade. Nosso cérebro e nosso metabolismo foram para o inferno, ignoto lugar carente de coordenadas.
Hoje, somos zumbis, alheios a tudo; letras sem livros, biografias de ninguém. Perdemos a identidade e posses. Eis uma maneira bastante criativa de expatriação: em vez de nos arrancarem do país, arrancaram o país e nos deixaram. Hoje, a Venezuela agoniza em algum exílio, porém, não num exílio geográfico. Não, a Venezuela extingue-se rapidamente num exílio de antimatéria, sem tempo e sem espaço. Seja qual for o interstício quântico em que ela se extingue, não poderemos alcançá-lo.
O país desapareceu da memória das coisas universais; não existem unidades ou instrumentos capazes de medir sua estranha ausência. Não há cadáver a ser sepultado, nem sombra, nem vestígio ou testamento que comprovem a morte. Tudo se perdeu num críptico buraco negro. Mais do que uma morte, deu-se um deslocamento no espaço-tempo.
Logo dirão: “Venezuela? A Venezuela nunca existiu”. Ocorre-me que, na ausência de morte formal, dá-se a ausência de pranto. Aqui, não haverá velório. A coisa não vale nada. Os poucos sofredores potenciais irão, pouco a pouco, para o mesmo não-lugar em que o país escorregou para, nele, desvanecerem-se para sempre.
Estranho final para um país: sequer pudemos ser um Titanic e afundar com um tanto de tragédia e de romantismo. A elegância não foi precisamente uma de nossas características como povo. Não teremos a honra lúgubre de ser Pompéia. Não falarão de nós como de Nínive ou de Tróia. Nunca algum Homero poderá contar que tivemos um Aquiles. Não seremos lã para tecer lendas. Nosso final nos deixará apenas vergonha.
Miguel Ángel Landa (ator venezuelano)
In: www.elpropio.com
Trad. Belkiss Rabello
Rev. Carla Dopazo
Obrigada, Bel,
Eu não só conheço esse texto como o traduzi na ocasião (acho que tem mais ou menos um mês), e repassei para amigos. Acho que o Heitor De Paola o publicou, mas não estou certa.
Não publiquei aqui porque não costumo publicar textos de outros autores.
De todo modo, obrigada pela gentileza.
Abraço,
MG
Graça, muito obrigado por fazer o seu trabalho, é extremamente gratificante saber que há pessoas como você, expondo as moléstias do governo bandido atual, e como eles corroboram com regimes sanguinários, enquanto choram a todo instante do período militar que acabou a mais de trinta anos atrás.
Sinto que há pessoas no Brasil saindo deste torpor cultural até então hegemônico, e isso sem dúvida é resultado em grande parte do trabalho de pessoas como você, o dr. Heitor de Paola, e prof. Olavo de Carvalho, sendo que comecei a entender um pouco mais sobre o que está acontecendo graças aos vídeos do prof. Olavo no youtube, em que "esbarrei" ao procurar vídeos sobre política, e a quem só tenho a agradecer também.
Um grande abraço e que D'us lhe abençoe.
Querida graça, sou professor em Recife e seu grande defensor... Na verdade, estou levando o Foro para as aulas, ja que os livros não trazem. Queria entrar em contato com a Sra. Queto fazer um TCC sobre o Foro!
Olá, Carlos Pamila (ou Reginaldo Cabral?),
Obrigada por suas palavras.
Escreva para gracita.salgueiro@gmail.com que conversamos melhor.
Abraço,
MG
Olá descobri seu site através do FORA FORO, venho acompanhando tudo o que esta havendo, é revoltante quero saber se posso ajudar você em algo cumprimentos.
Graça o que tu poderia ver para nós destas coincidências referentes ao nosso recente pleito.
http://twitter.whotalking.com/topic/Tibisay+Lucena
Neste link consta que Tibisay Lucena estaria ou esteve no Brasil neste ano para se "tratar de Câncer".
Consta também que Dias Toffoli esteve na Venezuela no último pleito deste país.
http://www.tse.jus.br/noticias-tse/2013/Abril/eleicoes-na-venezuela-e-paraguai-foram-experiencias-positivas-diz-assessor-internacional-do-tse
E ainda neste ano Raul Castro se encontrou com Maduro na Granja do Torto
link:http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,na-granja-do-torto-raul-castro-recebe-nicolas-maduro,1530093
E nas vésperas da eleição Elias Jaua estava no Brasil
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/10/1537971-baba-da-familia-de-ministro-da-venezuela-e-detida-em-sp-com-arma.shtml
EU ACHO QUE DERAM UM GOLPE GRAÇA O MODUS OPERANDI É O MESMO QUE JÁ ACONTECEU EM OUTROS PAÍSES DA AL.
https://twitter.com/yennytiusso/status/526736540282937344/photo/1
UM ABRAÇO GRAÇA E CONTINUE COM O TEU TRABALHO PARA O NOSSO BEM
Eu comentei sobre tudo isso e anunciei o golpe que viria há tempo na Rádio Vox, nos meus programas Observatorio Latino e nos Boletins diários.
Nenhuma novidade, pois.
Abraço,
Graça preciso te mandar informações importantíssimas. Mandei já pro professor Olavo no email do site dele, mas não sei se é atual ou em funcionamento. Tens um email para comunicação?
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