Em fins de maio desse ano, surgiu na Colômbia um enorme escândalo que pretendia macular a honra e a campanha do candidato à presidência pelo Centro Democrático, Oscar Iván Zuluaga. Do fato eu fiz inúmeras traduções e escrevi artigos, onde pode-se ver com clareza meridiana o desespero de Juan Manuel Santos e seus acólitos, uma vez que Zuluaga fazia uma campanha limpa sem sequer tocar no seu nome e subia nas pesquisas de forma tão avassaladora, que levou as eleições para o segundo turno com maioria dos votos.
Surge agora um escândalo ainda maior, com o áudio de uma entrevista dada no último dia 06 de junho por Rafael Revert, um suposto hacker que teria providenciado ou participado da fraude, onde ele afirma que “se infiltrou” (na verdade foi isto que ele fez mas rotulou de “grosseiro” quando foi assim classificado pelos jornalista que o entrevistaram) a pedido do Ministério Público mesmo! Quer dizer, não basta ao Promotor Geral, Eduardo Montealegre, bajular Santos descaradamente, afirmar não ter visto qualquer irregularidade no vídeo nitidamente fraudado, oferecer proteção ao espanhol Revert. Sabe-se agora, pela boca do próprio hacker que se infiltrou, que o Ministério Público não só sabia como autorizou e apoiou a infiltração!
Ao tomar conhecimento dessa gravíssima e reveladora entrevista, o Notalatina faz esta edição extra, apresentando um artigo de Eduardo Mackenzie onde ele analisa brilhantemente esse fato, e o audio - INÉDITO - da entrevista dada por Rafael Revert à La W Radio da Colômbia. Leiam o artigo e ouçam o audio para ver como está a situação da Justiça colombiana, e entender por que nós brasileiros devemos nos preocupar com as eleições presidenciais no vizinho país no próximo dia 15 em segundo turno. Fiquem com Deus e até a próxima!
Semana disse a que veio de modo muito feio
Eduardo Mackenzie
A pergunta é: Semana recebeu o apoio do G2 cubano na elaboração do petardo molhado contra o candidato presidencial do Centro Democrático? As análises que vários especialistas fizeram do vídeo que a revista de Felipe López Caballero lançou à opinião pública como um osso, para confundi-la, uma semana antes do primeiro turno da eleição presidencial de 25 de maio de 2014, demonstra que os artífices desse embrulho trabalharam com precipitação, incompetentemente, e não contaram com a habilidade e determinação dos colombianos para desnudar essa nova conspiração contra a democracia.
O exame mais superficial desse vídeo mostra que Semana, antes de colocar esse vídeo em sua página web, o adulterou: incorporou-lhe textos e sons que ele não tinha. Supõe-se que as frases incorporadas ao vídeo respondem exatamente a frases pronunciadas pelos personagens que aparecem lá. Entretanto, isso não foi assim. No vídeo há frases do personagem que se parece a Oscar Iván Zuluaga que não são transcritas. O contrário também é certo: agregaram textos e sons que Semana atribui a Zuluaga embora as imagens e gestos dele não coincidem com tais sons. Há cortes no vídeo que foram aproveitados para acrescentar sons e micro-gestos. Uma grande parte das frases atribuídas ao suposto “hacker”, Andrés Sepúlveda, não têm respaldo em imagens. Nessas condições, os falsificadores lhe fazem dizer coisas que ele talvez jamais tenha pronunciado.
No momento de escrever essa nota, o assessor jurídico de Oscar Iván Zuluaga duvida até que o personagem que aparece nesse vídeo, cuja imagem é congelada várias vezes de maneira curiosa, seja o Zuluaga da vida real. Em uma revista bogotana o advogado Jaime Granados declarou: “A campanha do doutor Oscar Iván Zuluaga foi infiltrada ilegalmente. O vídeo é ilegal e como tal não pode ser considerado como prova na Colômbia nem em nenhum lugar civilizado. Foi editado, foi manipulado, e o que nos interessa estabelecer com nossos experts, e o poremos em conhecimento do Ministério Público para que ele chegue até o final neste caso, é determinar quem o fez, por que o fez, e quem está por trás dos que fizeram esta montagem faltando oito dias para as eleições presidenciais”.
Jaime Granados lembrou que Juan Manuel Santos viu-se envolvido no passado em outro problema de manipulação de provas, no caso do contra-almirante Arango Bacci, da Armada Nacional, que teve que pagar anos de cárcere por essa falsificação, antes de ser absolvido pela Corte Suprema de Justiça. O jurista assinalou: “Pôde-se estabelecer que a digital não era do almirante, correspondia morfologicamente à dele mas havia sido falsificada e posta em um documento, e a Corte Suprema o absolveu e determinou investigar entre outros o hoje presidente Juan Manuel Santos”.
Acrescentou que a montagem que alguns tratam de fazer valer contra o candidato presidencial Oscar Iván Zuluaga “coincide com o esquema de guerra suja, de campanha negra que o senhor J.J. Rendón faz, [ex-assessor de Santos até uns poucos dias] e fez em outros países como Panamá, Venezuela, México, etcétera”.
Oscar Morales Guevara, expert em temas informáticos, foi um dos primeiros em examinar ponto por ponto, imagem por imagem o questionado vídeo. Morales detectou cada falsificação que o vídeo-montagem de Semana contém. Seu estudo pode ser lido aqui.
Acerca do uso da palavra “golpe” por parte de Oscar Iván Zuluaga, palavra que foi explorada de maneira grotesca por Semana e pelos propagandistas da campanha de Juan Manuel Santos, Oscar Morales explica o seguinte: “Zuluaga refere-se no áudio a um possível golpe de Santos e do Exército contra as FARC, como forma de salvar sua imagem ante o país, pois [poderia] mostrar orgulhoso que o Governo está atuando de maneira contundente contra a insurgência terrorista e assim ganhar mais apoio eleitoral nas eleições. Sepúlveda responde: ‘estamos esperando’, fazendo alusão a que muito possivelmente alguma fonte (desconhecida) lhe informará quando haverá uma nova operação das Forças Militares contra as FARC. Quando diz ‘estamos’, é fácil entender que se refere aos foros de inteligência onde ele participa e onde se compartilha informação pública sobre as FARC. A Revista Semana fez um grande esforço para vender a palavra ‘golpe’ como de Zuluaga para Santos, porém o contexto da conversação indica que se tratava de um ‘golpe’ do Exército Nacional contra as FARC”.
Entretanto, a intenção de Semana foi muito turva, pois escreveu e destacou esta frase: “Resta um mês para dar um golpe, irmão, diz o candidato Zuluaga ao hacker”.
A frase real do vídeo diz o contrário: “Resta um mês para ele dar um golpe”. Oscar Morales anotou: “Semana acrescentou pejorativamente a palavra ‘irmão’, para dar mais dramaticidade. Típico do G2”. Essa palavra, com efeito, não existe no vídeo.
O jornalista Mauricio Villegas Londoño, que também analisou o vídeo de Semana, sublinhou: “Ficaria assim evidenciado um complô contra Zuluaga porque não tem sentido que o escritório que prestava os serviços à campanha gravasse um vídeo de maneira ilícita a seu próprio cliente, para destruir sua própria empresa e pondo em risco de prisão a um de seus empregados por obtenção ilícita de sustento probatório”.
Horas depois da divulgação desse vídeo, alguns jornalistas, muito afinados entre si, começaram a difundir a idéia de que o candidato presidencial do uribismo pensava em “dar um golpe contra Juan Manuel Santos”, quando, na realidade, a suposta conversação, onde essa palavra aparece, apontava para um golpe da força pública contra as FARC. Os manipuladores pareciam triunfar. Porém, o ambiente se transformou em histeria pura, que alertou a opinião pública, quando alguns chegaram ao extremo de pedir que Zuluaga se retirasse da campanha presidencial e outros, os mais exaltados, exigiram a detenção mesma do candidato.
O Ministério Público não se atreveu a dar esse passo, e o golpe lançado contra Zuluaga volta-se agora contra os falsificadores que deverão explicar à Justiça, se o Ministério Público se digna respeitar o devido processo, por que lançaram como prova contra Oscar Iván Zuluaga um falso positivo audio-visual tão fácil de demolir.
A outra pergunta é: O Ministério Público violou a reserva do sumário ao passar clandestinamente a Semana um documento, o vídeo chamado “de Semana”, que fazia parte de uma investigação penal? Tudo indica que sim. O diário El Tiempo informou que em 15 de maio passado, o espanhol Rafael Revert “ingressou no programa de Proteção de Testemunhas, depois de entregar ao Ministério Público o vídeo que ele mesmo gravou da reunião entre o candidato Oscar Iván Zuluaga e o hacker Andrés Fernando Sepúlveda”. Dois dias depois, Semana pôs em linha seu vídeo. Este vídeo foi uma cópia do recebido pelo Ministério Público? Foi outro diferente? Por que Semana e o Ministério Público calam a respeito disso tudo?
Quem é pois o tal Rafael Revert que El Tiempo apresenta como “testemunha protegida” do Ministério Público e como um “espanhol” que trabalhava com Andrés Sepúlveda? Quem é esse personagem que traiu assim seu empregador? Que nacionalidade tem esse tipo realmente? Que contatos tem com Cuba?
Pois é necessário saber que toda esta confusão do “hacker neo-fascista” começou com um alerta das próprias FARC em Cuba. Elas pediram ajuda ao G2 cubano e dias depois o Ministério Público invadiu em Bogotá um serviço de escutas, dissimulado mas perfeitamente legal, do Exército colombiano. Semanas depois, o Ministério Público deteve Andrés Sepúlveda e o acusou de “violar segredos de Estado” por haver interceptado correios eletrônicos de negociadores das FARC em Havana. Porém, como essas comunicações não são nem podem ser segredos de Estado, tinha que mostrar Oscar Iván Zuluaga como instigador de um golpe de Estado contra Santos. Mas a mediocridade dos manipuladores fez com que esse avião também caísse no chão. E a popularidade de Oscar Iván Zuluaga continua crescendo.
Comentários e tradução: Graça Salgueiro
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