Eu havia decidido “tirar uma folguinha” hoje, depois da exaustiva semana acompanhando cada passo do movimento pelo referendum da Venezuela ocorrido ontem, mas diante das notícias dos jornais brasileiros e dos comentários e artigos que tenho lido pela Internet, não dá para ficar calada.
Em primeiro lugar, os resultados das pesquisas que os jornais brasileiros divulgaram NÃO correspondiam à realidade vivida e divulgada na Venezuela por jornais de credibilidade incontestáveis, e fico sinceramente me perguntando: onde esses jornalistas tupinikins fabricaram tais resultados? Em segundo lugar, é preciso que se conheça a realidade e as normas eleitorais daquele país para poder se entender - e julgar - a abstenção como arma, e não ficar dizendo tanta estupidez como tenho lido, não apenas em relação a esse referendum mas toda vez que a Venezuela realiza algum sufrágio.
A “pérola” de hoje vem de dona Míriam Leitão, no artigo “Razões e reflexos da derrota de Chávez”, que pode entender de economia (digo “pode” porque eu não entendo nada e por isso não posso julgá-la) mas não sabe NADA do que se passa realmente na Venezuela. E digo isto com a autoridade (sem qualquer modéstia) de quem estuda o Movimento Comunista na América Latina há quase 10 anos e tem fontes de informação sérias, confiáveis e isentas, enquanto que dona Miriam pauta-se pela cartilha comuno-petista dos jornalões tupinikins. Até parece palavra de ordem, pois só os jornais brasileiros, empenhados em desinformar e entortar a cabeça dos leitores com mentiras, divulgaram que o “SIM” tinha a preferência do eleitorado e que a vitória de Chávez era dada como certa.
Bem, ano passado se fez isto também (no Brasil e no mundo, nos jornais de esquerda), anunciando apenas as pesquisas pagas pelos petrodólares chavistas que não refletiam a realidade, e naquela ocasião ele logrou êxito através de uma mega-fraude já fartamente provada, inclusive pelo Notalatina. Desta vez, porém, a situação foi bem diferente e mesmo lá na Venezuela, ninguém se atrevia a dizer que a vitória do “SIM” era certa porque todas as pesquisas diziam o contrário, com uma margem de vitória da oposição em mais de 15%.
Então, o que foi que aconteceu este ano que Chávez perdeu? O pleito foi limpo, sem fraudes? A maioria do povo rejeitava de fato a modificação da Constituição? Dona Miriam afirma, baseada em suas fontes confiabilíssimas, que “Além de todas as bocas de urnas trazerem a vitória de Hugo Chavez, o alto índice de abstenção indicava isso: 50% não tinham ido votar. Os analistas achavam que isso favoreceria Chavez porque quem não ia votar é porque estava desanimado”. É preciso saber, dona Miriam, em primeiro lugar, que o voto não é obrigatório na Venezuela e em segundo, os abstencionistas não são “pessoas desanimadas” mas opositores, que utilizam deste recurso como uma forma de protesto por não querer legitimar uma coisa ilegal e ilegítima. Além disso, se o número de abstenções for superior ao número de votantes, a eleição será anulada. Ademais, não foi permitido a boca de urna, sendo qualificado como “delito eleitoral” e passível de punições judiciais, conforme informei ontem.
Com relação à vitória do resultado REAL e esperado do “NÃO”, não foi porque este ano não se fraudou mas porque surgiram fatos novos que Chávez não esperava, como o movimento estudantil que surgiu em maio em protesto ao fechamento da RCTV (que não guarda NENHUMA semelhança com os “caras-pintadas” tupinikins), e que ganhou a confiança e apoio de boa parte da população; alertas contundentes e com ampla divulgação sobre a fraude que estava sendo montada pelo governo – como das vezes anteriores; pronunciamentos denunciando o crime que era a implantação do modelo comunista, por parte do alto prelado da Igreja Católica e do Gen Baduel, uma força opositora de última hora mas de grande impacto nas FAN; uma vigilância e fiscalização rigorosa por parte da oposição praticamente colada nas 33 mil mesas de votação em todo o país, durante o escrutínio e validação das atas no CNE, conforme pude comprovar durante todo o dia e madrugada de ontem, através da cobertura da televisão e informes de amigos na Venezuela, como nos confirma Alejandro Peña Esclusa nesta nota: A verdadeira “Operação Torquês”.
A vitória foi aceita e divulgada porque não havia como enganar o povo mais uma vez, mas o que estava programado era mesmo a fraude. Para tanto, algumas providências foram tomadas:
1. O CNE emitiu um “Aviso Oficial” que copio textualmente:
“O Conselho Nacional Eleitoral, no uso das atribuições conferidas no artigo 209 da Lei Orgânica do Sufrágio e Participação Política, no marco da celebração do Referendo da Reforma Constitucional de 02 de dezembro de 2007, informa aos representantes dos Blocos em torno das opções do SIM e do NÃO, assim como os representantes dos meios de comunicação social que, de acordo com o previsto nas Normas para Regular o Referendo da Reforma Constitucional, publicado na Gaceta Eleitoral nº 401, fica terminantemente proibido a publicação de pesquisas, estudos ou sondagens de opinião, a partir da segunda-feira 26 de novembro de 2007”. E assina, Tibisay Lucena, Presidenta do Conselho Nacional Eleitoral.
Como se pode ver, desde que a reforma constitucional foi aprovada na Assembléia, criou-se um mecanismo oficial para impedir que a população (e a opinião pública) tomasse conhecimento da preferência, porque todo mundo sabe que as pesquisas da última semana podem modificar o cenário, através da divulgação da mídia que pode manipular para um lado ou para o outro e influenciar os eleitores idecisos.
2. Durante todo o dia, em entrevistas ou coletivas de imprensa, tanto Chávez quanto membros do Governo insistiam em pedir que a “as partes” aceitassem o resultado, fosse ele qual fosse, do mesmo modo como no ano passado porque a “vitória” já estava sacramentada pela mega-fraude;
3. Mais ou menos por volta das 10 h. recebi um informe dando conta de que fora colocado um palanque na frente do Palácio de Miraflores e de que Chávez havia convocado a imprensa para uma coletiva, sendo confirmado pela repórter da CNN que se dirigia para lá, certo que estava da vitória;
4. No referendum do ano passado a votação encerrou-se às 4 da tarde mas estendeu-se até mais ou menos às 5 h., porque fora determinado pelo CNE que as mesas só encerrassem suas atividades quando não houvesse mais pessoas na fila. Em torno de 7 da noite o CNE anunciava a vitória de Chávez, tendo apurado pouco mais de 50% das urnas. Este ano o encerramento foi mais ou menos na mesma hora mas o resultado só foi revelado 1:30 da manhã do dia 03.
Por que a demora? Nenhuma justificativa plausível era dada por parte do CNE, que dizia que tinha havido um acordo com as partes de que só se revelaria o resultado quando 80% ou 90% das urnas estivessem apuradas porque, segundo eles, a disputa estava muito emparelhada. Os líderes da oposição, que SABIAM dos resultados porque estavam acompanhando através das atas, emitiam pronunciamentos exigindo que o CNE informasse ao público por uma questão de respeito ao povo, uma vez que eles estavam proibidos de falar.
Soube através de uma amiga venezuelana, durante este intervalo, que o palanque havia sido retirado do palácio. A demora em fazer o anúncio foi porque não havia como fraudar, com toda a fiscalização da oposição presenciando o escrutínio, e a vitória era mesmo do NÃO. Chávez não aceitava isto e o CNE não tinha como satisfaser os caprichos do “menino voluntarioso”. Então, deu-se um resultado onde a derrota do ditador foi pequena, apertada, pois assim se mascarava um pouco a realidade acachapante de que a maioria absoluta do povo o rejeita e rejeita sua ideologia sinistra e criminosa.
Mas a grande vitória ainda não foi alcançada, pois Chávez tem pela frente 5 anos de mandato e os poderes da Lei Habilitante. Através dessa LH ele pode fazer e desfazer o que lhe der na telha, legalmente, o que é um perigo a partir dessa derrota sofrida ontem, pois não podemos esquecer que Chávez é um psicótico em surto, comunista e com um projeto revolucionário para toda a América Latina. De todo modo, essa vitória serviu como um oásis em meio ao deserto que os venezuelanos estão vivendo.
E ontem também houve eleições em Cuba e na Rússia, onde Putin e seu partido Rússia Unida (RU) sairam vitoriosos, na base da fraude, e das pressões do FSB sobre quem não dança de acordo com a música do Kremlin. E em Cuba, Fidel foi indicado mais uma vez para o cargo de deputado, podendo “concorrer” à Presidência no próximo ano. Como se vê, as ditaduras se servem sem qualquer pudor de um instrumento da democracia, para consolidar sua ditadura. Mas, como o sr. da Silva não feqüentou escola e detesta ler ou estudar, fica apregoando que na Venezuela há excesso de democracia somente porque as pessoas votam. Fiquem com Deus e até a próxima!
Comentários: G. Salgueiro
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