Ontem, infelizmente, não foi possível editar o Notalatina mas hoje trazemos uma análise interessante sobre a situação venezuelana, pela pena de William Butler Salazar, enviado por uma correspondente, que sintetiza tudo que vem ocorrendo por lá. Apesar de ter sido escrita no passado dia 09, continua atual porque nada mudou, desde então. Ele faz sérias e graves denúncias, mas com um certo amargor, como quem já cansou de lutar. Graças a Deus não é essa a postura da grande maioria dos opositores que continuam suas gestões, com a mesma garra e coragem de quando começaram.
Há ainda uma matéria do El Nuevo Herald muito chocante, sobre os adolescentes que são recrutados por paramilitares não identificados, mas provavelmente, pela descrição dada, às Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Nessa matéria eles revelam o requinte de barbarismo e crueldade no “treinamento” que lhes é imposto, por esses sanguinários terroristas que falam, ironicamente, “em nome da paz”.
A GUERRA CIVIL VENEZUELANA EM SEU PONTO CRÍTICO
Por William Butler Salazar
A desobediência civil por parte de todos os setores da Venezuela aumenta diariamente. A paralização dos centros de trabalho, anunciada pelo diretor deles, Ortega, é quase total. A produção do petróleo caiu dramaticamante durante o mês de novembro. Os embarques de petróleo e minerais pelo rio Orinoco estão quase a zero. Abastecimento de comida, água potável e gasolina diminuem. As usinas geradoras de energia elétrica têm armazenamento para 14 a 30 dias de operação. Os mortos e feridos aumentam. O presidente Chávez não tem intenções de diminuir o poder. O momento final da crise se aproxima.
Carlos Ortega, presidente da Confederação dos Trabalhadores Venezuelanos, com uma paciência e sabedoria meritórias, consciente de que seus contrários são criminosos fortemente armados, os quais têm demonstrado sua vontade de assassinar inocentes desarmados, utilizou esses últimos meses para organizar a oposição por parte do único grupo que tem capacidade de confrontar-se com o regime de Chávez. Convenceu os seus associados a unirem-se em uma parada total da indústria venezuelana. Seguro de que manifestações pela parte trabalhadora poderia trazer um banho de sangue, solicitou a estes que ficassem em suas casas. A prioridade de Ortega é promover no país uma parada total e a entrada de dólares reduzida a zero.
O presidente Chávez e seu governo de matadores não entregarão o poder. Como revolução, o que ocorre na Venezuela é um fenômeno. Os rebeldes, e quero dizer os rebeldes de verdade, as FARC colombianas, as milícias cubanas e os militantes dos Círculos Bolivarianos, de forma não tradicional, todos respaldam o governo no poder. Estes grupos estão fortemente armados, igual a James Bond; foram licenciados para matar. Seu objetivo é manter Chávez no poder, custe o que custar.
O team Castro/Chávez/CNN unir-se-ão de novo para desenvolver este novo drama, até que se encerre com um saborzinho bem ao gosto dos países irmãos simpatizantes. Fatos serão distorcidos igualmente ao que houve no suposto “Golpe” de 11 de abril. Sem exceção, a imprensa mundial continua expondo a tese absurda de que o Exército derrubou Chávez durante esses dois dias de abril. Mentira total e absurda. Chávez saiu do seu gabinete acompanhado de dois militares, associados intimamente a ele. Enquanto Chávez descansava no Fuerte Tiuna e na Ilha Orchila, o governo identificou com detalhe a oposição. Ao voltar, eliminou todos do processo opositor sem um disparo. Ortega, com um sexto sentido incrível, se havia distanciado desta farsa a tempo.
A oposição continua hoje armada unicamente com suas caçarolas. Trinta pessoas, destas, quatorze mulheres, receberam tiros no dia 6 em Carcacas. Os acusados como autores deste crime são ajudantes do prefeito chavista. Na medida em que as paradas trabalhistas reduzirem o controle de Chávez sobre a situação no país que governa, não lhe restará outro remédio que promulgar a Lei Marcial. O Exército cumprirá suas ordens ao pé da letra. A oposição, incapaz de defender-se sem armas, se encontrará em um beco sem saída. As Forças Armadas foram guilhotinadas desde o General mais alto, ao soldado mais raso. Todo alto oficial não considerado revolucionário foi despedido. Oficiais de grau baixo, não pertencentes ao grupo revolucionário de Chávez, foram redistribuídos. Durante os últimos dois anos, novos inscritos foram doutrinados por instrutores cubanos.
O secretário da OEA, César Gaviria, ganhou o primeiro prêmio do bobo da corte quando declarou, durante sua recente visita à Venezuela, que não se atrevia a fazer frente a Chávez porque “não podia tolerar suas gritarias e alterações”. Hoje em dia, a OEA está a ponto de converter-se em cúmplice de Chávez. O presidente Toledo, do Peru, novo amigo de Hugo Chávez, solicitará à OEA a imposição do artigo 17 de sua constituição, o qual permite a uma nação solicitar ajuda de fora, se considera que não pode continuar “exercendo o poder de forma legítima”. Aprovada a resolução, chegarão voando as Forças Armadas cubanas. Os grupos revolucionários já estabelecidos no país receberão legitimidade. Uma análise do voto na OEA identificará de perto os afiliados ao Foro de São Paulo, inimigos declarados dos países democráticos da América.
Otto Reich, sub-secretário de Estado para assuntos latino americanos dos Estados Unidos*, seguiu a problemática da Venezuela de perto conjuntamente com seu embaixador em Caracas, Charles Shapiro. Têm as mãos atadas. Neste momento, qualquer interferência por parte dos Estados Unidos nos assuntos internos da Venezuela contra seu governo legítimo, traria um rebote político fatal para a administração Bush.
Agentes de inteligência cubanos já têm identificada a maioria dos opositores. O mesmo plano que Castro utilizou, antes da invasão da Baía dos Porcos, está preparado. Tão logo dêem a ordem, que mais provavelmente virá de Havana, as tropas de Chávez prenderão a oposição, igual como foi em Cuba, durante abril de 1961, dias antes da invasão da Baía dos Porcos. Quando as prisões não aguentarem nem um a mais, encherão todos os lugares públicos, como cinemas, com detidos. Todo homem entre 18 e 50 anos, não declarado em favor da revolução bolivariana, perderá sua liberdade. Uma vez terminada a crise estes serão soltos, porém, fichados.
A oposição na Venezuela, armada de caçarolas, ficará neutralizada. Todo aquele que desejar sair do país, lhe será permitido. Uma vez que conclua a conquista da oposição, o país sairá com ímpeto com pessoal importado de países pertencentes ao Foro de São Paulo: cubanos, brasileiros, peruanos, equatorianos e todo simpatizante esquerdista. Aqueles trabalhadores venezuelanos sem saída, quer dizer, as pessoas fichadas como da oposição porém sem possibilidade de mobilizar-se para o exterior, ficarão como escravos do estado bolivariano
Com o tempo a produção voltará e o país começará a funcionar de novo. Chávez terá controle total, igualmente a Fidel, e ao povo não restará outro remédio a não ser, tragar seu novo déspota. A revolução bolivariana terá realizado seu objetivo. Um povo a mais se converterá em escravo de outro líder malvado.
Em forma dolorosa os cidadãos pagarão pelos pecados de seus ancestrais, que não cuidaram das riquezas e das belezas que lhes repartiu o Senhor.
William Butler Salazar é engenheiro, autor e navegante.
* Quando o autor escreveu esse artigo, Otto Reich ainda não havia sido deposto do seu cargo.
MENINOS REVELAM AS ATROCIDADES DA GUERRA
Agência France Press – Bogotá
Os testemunhos de 13 menores que fizeram parte de um grupo paramilitar de extrema direita na Colômbia, evidenciam a crueldade com que são treinados estes meninos combatentes, em especial para acostumá-los à morte, segundo um dramático informe publicado ontem pelo diário El Tiempo.
”A mim me deram uma mão de (o cadáver de ) um homem, para que me acostumasse ao cheiro da morte. Me cumpria carregá-la no bornal até que apodrecesse”, assinalou um dos menores de 17 anos, dos que foram entregues por paramilitares às autoridades, como gesto de boa vontade a um eventual processo de paz.
Outro menor, da mesma idade, assinalou que viu vários de seus companheiros morrerem em combate. ”Isso faz a pessoa mais forte e o faz treinar mais para vingá-los”, disse. Recordou que o lema dentro do seu grupo era: ” o treinamento deve ser duro para que a guerra seja um descanço”.
Também disse que tinha aulas onde os doutrinavam: ”Autodefesas são um grupo político, anti-subversivo, que busca a paz do país. As autodefesas não matam gente inocente; só guerrilheiros”, lhes diziam.
Segundo testemunho de outro dos menores, uma vez como castigo lhe coube esquartejar um companheiro que havia morrido: “Me tremiam as pernas e as mãos. Nessa noite me banhei mais de uma vez, porém não podia livrar-me do cheiro do sangue”.
Os menores foram acolhidos pela estatal Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar (ICBF), entidade encarregada da situação da infância na Colômbia.
Na sede do ICBF, estes menores que saíram dos paramilitares unem-se a outros que desertaram da guerrilha e que foram seus inimigos por algum momento. O diário entrevistou igualmente a uma jovem, próxima de completar os 18 anos, que pertenceu às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia(FARC).
Fonte: El Nuevo Herald
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