quarta-feira, 24 de maio de 2006



O Notalatina ficou praticamente o mês todo sem atualização mas é com enorme alegria que hoje volto a atualizá-lo, e numa edição especial. E esta edição torna-se especial porque quero falar de um evento ocorrido nos dias 15 e 16 de maio em São Paulo, Brasil, o Seminário Internacional sobre Democracia, Liberdade e o Império das Leis promovido pelo Mídia Sem Máscara, onde pudemos assistir palestras de altíssimo nível proferidas por personalidades do mundo liberal da América Latina, Estados Unidos e Europa.


Coube-me a honra de convidar para proferir a palestra O futuro da democracia na América Latina, ninguém menos que Alejandro Peña Esclusa, grande guerreiro venezuelano, meu amigo pessoal e autor dos livros 350 – Como salvar a Venezuela do castro-comunismo e O continente da esperança lançado recentemente na Venezuela e brevemente aqui no Brasil, com tradução minha para o português.


Antes de falar sobre a palestra do Alejandro, quero contar como foi a sua vinda para o evento. Como todos sabem, Peña Esclusa é mais uma das incontáveis vítimas da perseguição insana do delinqüente Chávez, e tem contra si três processos por “incitação à desordem”, “desobediência civil” e “promoção à rebelião no país”, todas elas forjadas tal como nos casos de outros opositores ao regime castro-chavista, sejam militares, jornalistas, clérigos e ex-funcionários do Estado.


Bem. A “saga” começa quando envio um e-mail convidando Alejandro para participar do Seminário que ele de imediato aceita mas conta que, apesar de sua condenação de 1 ano e meio sem poder sair do país ter expirado há três meses, a Procuradoria ainda não havia dado baixa no processo, de modo que, para viajar ao Brasil seria necessário que enviássemos uma carta-convite explicitando que a promotora do evento se responsabilizaria por todos os custos durante sua estada aqui, para que através de seu advogado a solicitação fosse encaminhada ao Tribunal a fim de liberarem sua saída do país.


Foi providenciado o solicitado mas não satisfez à “zelosa” Justiça venezuelana. Agora eles pediam que fossem enviados os mesmos documentos com a assinatura do responsável pelos custos da viagem, com as reservas do hotel e dos vôos, ambos com data e horário. Providenciado isto, também não foi suficiente; pediram então que tais documentos fossem enviados no original, porém escrito em espanhol. Tudo fizeram para dificultar a saída do país de um homem decente, sem qualquer mácula em seu currículo, porém tratado como um reles criminoso que necessitava ser “vigiado” em todos os seus passos.


O tempo passava e a aflição crescia até que, na sexta-feira 12, já no fm da tarde, veio a confirmação de que fora liberada sua viagem.


Desde o sábado que antecedeu o Seminário em São Paulo, a cidade que o abrigava vinha sendo abalada por rebeliões nos presídios, culminando com a libertação pelo indulto do “Dia das Mães” de 12 mil criminosos, muitos deles pertencentes ao PCC (Primeiro Comando da Capital) que, organizados e treinados pelo MST (Movimento dos Tabalhadores Rurais Sem-Terra), atacaram impiedosamente a Polícia Militar de São Paulo, incendiaram ônibus e levaram o pânico à capital paulista.


Não sei se chame de “coincidência” ou “obra da Providência Divina” o fato de termos Peña Esculsa dentre os palestrantes nesta ocasião, porque o que São Paulo vivia naqueles dias era do conhecimento deste venezuelano, não teoricamente mas na prática de anos da “revolução bolivariana”, onde assassinatos, depredações, saques, incêndios criminosos por bandos de delinqüentes venezuelanos (lá, as “milícias bolivarianas”, os “carapaica” e os “tupamaros”, TODOS sob a proteção governamental) ou mercenários cubanos disfarçados de “técnicos”, “professores” e “desportistas”.


O que se discutia no recinto daquele auditório era a defesa da liberdade e o império das leis, enquanto lá fora São Paulo ardia em chamas, numa clara demonstração de que os inimigos da liberdade – os comunistas de todos os matizes - não querem paz, nem ordem e muito menos progresso.

Reinava no auditório um silêncio sepulcral e respeitoso, quando Alejandro iniciou sua palestra. Através de um Power Point ele foi discorrendo todo o processo de comunização da América Latina, planejado e executado desde o Foro de São Paulo (do qual falo desde que criei o Notalatina), sobretudo em relação a seu país, a Venezuela.


Na primeira página ele mostra como são os planos para a destruição da Democracia na Venezuela:


1. Subordinação a Fidel Castro e invasão cubana - (já existem 20.000 cubanos em solo venezuelano, espalhados em TODOS os setores da vida nacional, sobretudo na PDVSA, em altos postos das Forças Armadas e da guarda pessoal do delinqüente Chávez);2. Assembléia Constituinte para controlar os Poderes - hoje quase que 100% nas mãos de aliados de Chávez;3. O terror seletivo como mecanismo de dominação – neste caso, a perseguição política a pessoas isoladas como o General Néstor González González (de quem na próxima edição divulgarei mais um vídeo exclusivo), por ter denunciado a invasão e o acobertamento pelo governo a terroristas das FARC; à jornalista Patricia Poleo, por ter denunciado que também foi obra do governo, como queima de arquivo, o assassinato do procurador Danilo Anderson e do próprio Peña Esclusa, por tantar abrir os olhos do povo venezuelano para a implantação do castro-comunismo na Venezuela;3. Propaganda para manipular a opinião pública – com as tais “missões” cubanas que em verdade NADA de produtivo trouxeram ao país, senão a doutrinação castro-comunista e,4. A oposição atua com mecanismos tradicionais.


Sobre o futuro da Venezuela, Alejandro diz o seguinte: “Não há saída eleitoral para a crise. O regime castro-chavista radicalizará em 2007”, caso vença as eleições de 4 de dezembro deste ano, pondo em prática a “segunda fase de expansão internacional”. A única solução constitucional é aplicar o Artigo 350”, cujo teor é claro:


Artigo 350“O povo da Venezuela, fiel à sua tradição republicana, à sua luta pela independência, à paz e à liberdade, desconhecerá qualquer regime, legislação ou autoridade que contrarie os valores, princípios e garantias democráticas ou menospreze os direitos humanos”.Constituição da República Bolivariana da Venezuela


Quanto à expansão Continental, ela se dará através do Foro de São Paulo, inicialmente, e depois através do Fórum Social Mundial. Já tive oportunidade de comentar isto aqui, e agora o Alejandro reforça minha teoria com um novo argumento. Segundo ele, o Foro de São Paulo foi criado com o objetivo de reunir em torno de uma única organização partidos de esquerda e agremiações terroristas, com o intuito de colocar no poder de governos latino-americanos políticos comprometidos com o castro-comunismo, em decorrência do fim do “socialismo real”.


Isto tornou-se concreto na Venezuela, no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, no Chile e marcha para concretizar-se no Peru, no México, na Guatemala e na Nicarágua. Os objetivos delineados no Foro de São Paulo são postos em prática através dos encontros anuais do Fórum Social Mundial, que opera através de redes em torno de todos os Continentes, não só latino-americanos. Para Esclusa, agora o que prevalece são as ações coordenadas desses FSM pela repercução mais abrangente e imediata que podem dar aos planos do Foro de São Paulo.


Ainda com relação à expansão Continental, o Foro de São Paulo – e particularmente Chávez - apóia as candidaturas de López Obrador e dirigentes locais do PRD no México; a Frente Farabundo Martí em El Salvador (tendo apoiado anos atrás a candiatura de Chafik Handal que perdeu, hoje falecido);na Nicarágua, apóia Daniel Ortega, candiato à presidência cuja eleição ocorre ainda este ano, e seu partido terrorista a Frente Sandinista; na Guatemala apóia sindicalistas e o candidato indígena (a maior massa de manobra atualmente na América Latina, que acabou dando a vitória ao cocalero Evo Morales na Bolívia) e a Cuba (sempre Cuba!), uma oxigenação na falida economia, com os petrodólares venezuelanos, além de vários tipos de acordos e investimentos.



Continuando, ele aponta o apoio às FARC na Colômbia e a candidatos contrários ao presidene Uribe; à Confederação de Nacionalidades Indígenas, no Equador; mais que apoio, a proteção paternalista ao cocalero Evo Morales, na Bolívia; apoio descarado à candidatura de Ollanta Humala, no Peru, inclusive com um projeto de cidadania aos peruanos ilegais na Venezuela como modo disfarçado de “compra de voto” e no Uruguai, financiando a Frente Amplio que deu vitória ao atual presidente Tabaré Vázquez.


Peña Esclusa abordou ainda o caso do ex-presidente Lucio Gutiérrez, da Bolívia, que era o candidato do Foro de São Paulo (está escrito numa das atas a disposição de quem quiser ler) mas que foi logo defenestrado por não ser tão radicalmente esquerdista. Para ele, alguns desses candiatos são meras peças de transição para a passagem a um governo mais radical.


E com relação a isso ele fez uma crítica sobre o artigo do jornalista Andrés Oppenheimer, em que este dizia haver no nosso continente duas esquerdas: uma “boa” e moderada, onde se incluíam Lula, Mchelle Bachelet, Vázquez e Kirchner, e outra mais radical onde se situavam Chávez, Morales e Fidel. E sobre isto Peña Esclusa fez uma ponderação com a qual concordo plenamente, de que essa “esquerda moderada” o é só na aparência (talvez estratégica, digo eu), pois não podemos esquecer todos os apoios incondicionais que Lula ofereceu a Chávez: em 11 de abril, com a renúncia de Chávez e posterior retomada do Poder; na greve geral de dezembro de 2002, dando apoio a Chávez e não aos grevistas petroleiros e finalmente, na farsa do Referendum Revocatório em 2004. Não podemos esquecer também, das verbas milionárias oferecidas pelo “governo brasileiro” para suprir as necessidades da Venezuela, sobretudo para a construção do metrô de Caracas, enquanto negava o mesmo ao de São Paulo.


E qual o objetivo continental de tudo isso? Para Peña Esclusa, os objetivos são destruir os sistemas democráticos da região; destruir as instituições já existentes como o CAN (do qual Chávez já se desligou), o MERCOSUL, o G-3, e substituí-las por instituições castro-comunistas como a ALBA (e acrescento eu), a Integração Regional das Forças Armadas, tudo isto com a intenção de exportar a Revolução cubana ao resto do mundo.


Qual a defesa que temos frente ao avanço do castro-comunismo? Criação de uma aliança continental pela democracia, a conformação de um foro com sinal contrário, que Peña Esclusa lançou como sugestão ser o “Anti-Foro de São Paulo”, e a inclusão de todas as correntes democráticas neste processo.


Ao terminar sua exposição, Peña Esclusa foi aplaudido de pé, por um bom tempo, enquanto se viam nos rostos dos presentes a certeza de que ali não estava um demagogo revolucionário mas um homem seguro de suas convicções, um guerreiro com coragem e honestidade, que expõe sua vida todos os dias por uma questão de consciência e de amor ao próximo, sobretudo seus compatriotas venezuelanos. Não é tarefa fácil o que temos pela frente mas é preciso começar JÁ (como bem observou Olavo de Carvalho em sua exposição), pois “eles” estão nessa luta há décadas e não há mais um só minuto a perder; eu acredito que as sementes plantadas neste Seminário e nesta exposição particularmente, darão frutos, desde que arregacemos as mangas e nos ponhamos a trabalhar.


Fiquem com Deus e até a próxima!


Comentários: G. Salgueiro