O Notalatina de hoje é especialmente dedicado às vozes silenciadas “na marra” em Cuba e Venezuela. E o motivo desta escolha é que hoje, 18 de março de 2006, faz 3 anos daquilo que ficou conhecido como a “Primavera Negra de Cuba”, quando o tirano mega-assassino do Caribe, Fidel Castro, resolveu silenciar as vozes de 75 pessoas, entre elas jornalistas, bibliotecários, sindicalistas, médicos, economistas, ativistas de direitos humanos, entre outros, que se opunham pacificamente ao seu regime genocida, brutal, desumano e ditatorial há malditos 47 anos.
Hoje também se inicia em Quito, no Peru, a “reunião de meio de ano” da Sociedade Interamericana de Imprensa, cujo tema principal é a liberdade de imprensa que vem sendo vergonhosamente confiscada, sobretudo na Venezuela pós-ditadura castro-chavista. A Venezuela está representada por David Natera Febres, editor do jornal “Correo del Caroni”, recentemente eleito vice-presidente para a Liberdade de Imprensa pela Sociedade Interamericana de Imprensa. O próprio David vem sofrendo perseguições por parte da mal disfarçada ditadura castro-chavista e não poderia ser melhor representante dessas vozes em tão importante evento.
Mas o regime de Chávez nega, do mesmo modo que se nega em Cuba, que haja qualquer tipo de repressão aos jornalistas e comunicadores e que isto é coisa “orquestrada desde a máfia de Miami” e dos defensores do governo Bush. Entretanto, o que dizer da jornalista Patricia Poleo, hoje exilada nos Estados Unidos para escapar de vários processos que a condenavam por desmascarar e denunciar implacavelmente os crimes cometidos pelo regime, sobretudo o escândalo (ainda sem condenação dos verdadeiros responsáveis) pelo assassinato do procurador Danilo Anderson e do seu próprio guarda-costas (sim, ela pecisava, pois vivia sob ameaça de morte)?
Patricia foi a primeira perseguida e há poucas semanas, precisamente no dia 08 de março, o jornalista Gustavo Azócar Alcalá, 15 minutos após terminar seu programa de televisão “Café con Azócar” no estado de Táchira, foi preso (o primeiro dentre outros que lhe seguirão) sem qualquer formalização de culpa ou julgamento. O motivo da prisão, dito por ele a El Nuevo Herald, foi “estão me prendendo simplesmente porque estou dizendo a verdade”, através de uma ligação do celular dado por sua esposa, já na cela da prisão, e por isso a ligação era em voz baixa e entrecortada, aproveitando os descuidos dos guardas.
Nesse programa Azócar dava a conhecer, ao vivo, documentos sensíveis que demonstravam graves delitos cometidos por um dos mais importantes juízes da região: o oitavo juiz de controle, Jorge Ochoa, nascido na Colômbia, nacionalizado venezuelano e nomeado em 2001, havia apresentado documentos de estudo falsificados quando fez prova ante o Tribunal Supremo de Justiça para obter o importante cargo no sistema judiciário venezuelano. Além disso, Azócar apresentou um informe do Departamento de Segurança (DAS) da Colômbia, no qual detalhava-se que Ochoa se outorgava estudos de pós-graduação em Direito na Universidade Externado de Colombia e na Universidade Libre de Colombia, os quais NUNCA realizou.
Esse juiz desempenhou um papel crucial para encarcerar mais de uma dúzia de dirigentes locais da oposição, por sua participação nos acontecimentos de 11 de abril de 2002, quando o governador do estado de Táchira, Ronald Blanco La Cruz foi deposto temporariamente do seu cargo, do mesmo modo que Chávez. Azócar explicava deste modo que sua detenção era uma “passagem de fatura do governador Blanco La Cruz, porque o juiz Ochoa é seu protegido”. Azócar afirma que este “é um julgamento político e há demasiada ingerência do governo no poder judiciário tachirense”. Não parece que ele se refere ao Brasil e a situação nauseante, patética e vergonhosa que o país tem vivido desde que se instalaram as tais CPI, cujas águas tornam-se cada dia mais turvas mas não levam nenhum dos marginais à prisão?
Do mesmo modo, estão sendo perseguidas e com incontáveis acusações de “delitos graves”, todos pelas mesmas razões – tirar a máscara do regime e expor sua podridão repleta de crimes de toda ordem, do mesmo modo que estamos vendo com o PT, aqui no Brasil -, as jornalistas Marianella Salazar e Ibéyize Pacheco, duas bravas guerreiras que afirmaram que nada disso serve como ameaça para calar suas vozes ou fazê-las aoelharem-se perante o títere de Fidel Castro, Hugo Chávez.
Além de Marianella, Ibéyise, Patricia e Azócar, acabo de saber pela minha amiga a jornalista Eleonora Buzual que estão sendo perseguidos: Gabriela Matute, insultada pelo prefeito da capital Juan Barreto; Laureano Márquez, Teodoro Petkoff e o diário “Tal Cual”, (ajuizado por causa de um artigo humorístico); Marsha Lee González, repórter do diário “El Luchador” do estado de Bolívar, vítima das ameaças por parte de funcionários do regime; Milagros Márquez de Telecaribe; Marlene Piña, de Notitarde; Daniel Herrera de NC Televisión; José Gregório Jaén e Rómulo Gómez, também de Telecaribe, golpeados uns, e mantidos presos e despojados de seu material informativo outros, ao serem agredidos na Universidade de Carabobo por um grupo auto-identificado com o oficialismo; as jornalistas Luclenys Silva, da televisão CMT e María Alejandra Salas, de Venevisión, golpeadas por um dos escoltas do Procurador Geral da República. E ainda os jornalistas Manuel Roca, José Brito, Héctor Cordero e Angel Morillo, que estão sendo perseguidos pelo governador do estado de Anzoátegui, Tarek William.
Amigos, depois de lerem essa lista, só de jornalistas e comunicadores de mídia, presos e preseguidos (todos casos recentes, porque há muitos que foram assassinados e que o regime afirma ter sido por problemas com o “narcotráfico”), é possível suportar que o senhor presidente do Brasil, do alto de sua mais abjeta estupidez e conivência criminosa tenha a cara de pau de afirmar, perante o mundo, que “a Venezuela é um dos países mais livres e democráticos do mundo!”, mais até do que os Estados Unidos?
A farsa criminosa desta gente tem que acabar, tem que ser denunciada porque não falta muito para sermos nós também, brasileiros, os que vamos engrossar esse cordão tétrico, horripilante, indigno, de perder a liberdade de falar, de se expressar como um indivíduo livre, de denunciar esses crimes e abusos contra a pessoa humana que vem sendo perpetrado pelos comunistas impunemente.
E para concluir a edição de hoje, transcrevo a carta escrita pelo psicólogo e jornalista independente, meu colega de profissão, Guillermo Fariñas, aos irmãos da oposição. Fariñas está morrendo, em conseqüência de uma greve de fome e sede iniciada em 31 de janeiro, em protesto contra a proibição do uso de Internet pelo povo “a pé” daquela ilha-cárcere. No início da maldita revolução, houve um jovem, Pedro Luís Boitel que teve atitude semelhante dentro da masmorra La Cabana vindo a falecer, depois de 54 dias sem ingerir qualquer tipo de alimento líquido ou sólido. Boitel protestava por sua ilegítima prisão e o regime deixou que ele morresse sem qualquer tipo de assistência. Temo pela vida deste bravo neo-mártire, pois se depender deste maldito degenerado Castro, Fariñas irá a óbito sim.
Hoje, em vários países do mundo, esta data que entrou para a história como a maior vergonha, afronta e desrespeito à dignidade humana, conhecida como a “Primavera Negra de Cuba”, está sendo lembrada com manifestações em frente às Embaixadas de Cuba onde se pede a liberdade incondicional de todos os presos políticos e de consciência que já ultrapassa a casa dos 300, fora os inúmeros desconhecidos de que não se tem registro. Uno-me às manifestações em espírito, solidária com a dor dos injustamente condenados a até 28 anos de cárcere e aos seus familiares, amordaçados e sem ter com quem contar dentro da ilha para fazer justiça aos seus entes queridos e inocentes.
Fiquem com Deus e até a próxima!
Carta de Guillermo Fariñas aos irmãos da oposição
Santa Clara, 14 de março de 2006.
Meus queridos irmãos e irmãs de oposição ao regime totalitário que desde há pouco mais de 47 anos oprime a minha nação, a ilha de Cuba, vocês podem encontrar-se no exílio, nas prisões deste arquipélago ou aparentemente em liberdade nas ruas cubanas.
Quero mediante estas letras demonstrar minha comoção por toda uma grande série de documentos com chamados e petições para que eu abandone minha Greve de Fome e de Sede, para que seja instalada uma conexão direta da rede informática de Internet em minha casa, desde o passado 31 de janeiro deste mesmo ano.
Todavia, e apesar de minha satisfação porque o necessário humanismo está presente em vocês, meus irmãos de idéias e lutas, para conseguir a única democracia autêntica que pode existir neste mundo em que vivemos, tenho que respeitosamente rechaçar suas petições para que salve a minha vida.
Considero que minha pessoa, como jejuante, representa publicamente ante a opinião internacional, a toda a oposição pacífica e cívica, ao sistema político do Dr. Fidel Castro Ruz e devemos demonstrar aos que me reprimem, em conjunto com vocês, que um dissidente cubano é capaz de oferecer sua mesmíssima vida pelo que pensa, luta e sacrifica dia após dia, as coisas mais queridas para todo ser humano, seus familiares mais próximos e queridos.
Com esta greve ou jejum de alimentos sólidos creio que desminto a deteriorada acusação dos que nos oprimem em nossa própria terra, de que somos “Mercenários” a serviço de uma potência estrangeira. Com minha abstinência de nutrientes estamos demonstrado ao ditador cubano e seus seguidores que nenhum “mercenário” morre por algo que não seja dinheiro, enquanto eu e qualquer um de vocês estamos decididos a entregar até nossa vida por ideais.
Penso que o melhor que pode ocorrer como desfecho ao meu protesto cívico seja o desenlace final de minha noticiada morte, pois constituiria um desmentido muito prático às mentiras e calúnias castristas contra seus opositores.
Meus irmãos e irmãs, obrigado por sua humanitária preocupação pela minha vida e tenho esperanças de que saibam me compreender, embora não estejamos de acordo quanto ao aspecto de levar minha greve de fome e sede até às últimas conseqüências, ou não.
Por favor, peço-lhes desculpas em nome do futuro da Pátria por negar-me a cumprir ou aceitar seus conselhos, pelo qual minha greve continua até meu falecimento.
Sem mais, pela Liberdade e Democracia em Cuba.
Licenciado em Psicologia, Guillermo Fariñas Hernández
PS. Escrito da cama nº 1 da Sala de Terapia Intensiva do Hospital Universitário “Arnaldo Milián Castro”, Cidade de Santa Clara, província de Villa Clara, Cuba.
Fonte: PayoLibre
Tradução e comentários: G. Salgueiro