Na última edição do Notalatina eu mais ou menos insinuei que teria havido algum acordo para que finalmente o resultado do referendum refletisse a realidade das urnas, pois desta vez Chávez enfrentou fatores adversos e um número bem mais significativo de vigilantes e atentíssimos opositores que impediram que se consumasse a fraude que o governo planejava. Eu sabia, naquela ocasião, que os resultados haviam sido manipulados, que a demora na divulgação estava intimamente ligada a essa fraude mas não tinha provas. Hoje as tenho e vou apresentar, inclusive com alguns vídeos que não deixam qualquer margem de dúvidas sobre o “estado de guerra” em que se encontrava a Venezuela naquele domingo 2 de dezembro, que entrará para a História daquele país como o Dia da Vitória. Aqui neste vídeo, numa entrevista que o dirigente opositor Antonio Ledezma dá a um canal de televisão (que infelizmente não sei qual é), ele aponta inúmeras irregularidades, inclusive há a apresentação da líder estudantil da UCAB Zaimar Castillo, uma garota de pouco mais de 20 anos que dá uma lição de moral, dignidade e respeito às liberdades que deveria fazer corar o Chapolim de Miraflores.
Na segunda-feira pós-referendum os jornais do mundo inteiro – e do Brasil de modo especial - enalteciam duas grandes bobagens: o “espírito democrático” do mandatário venezuelano, por ter aceitado a derrota, e que “agora o povo venezuelano finalmente acordou”. Ora, o povo venezeulano há anos reage e rechaça este governo golpista e ditatorial mas as sucessivas fraudes, referendadas por organismos internacionais como a OEA e a União Européia, não permitiam que sua vontade fosse respeitada, malgrado as infinidades de denúncias com provas irrefutáveis, feitas por respeitáveis e competentes cidadãos daquele país.
E a outra bobagem, sobre o “espírito democrático” do ditador de Miraflores, cai por terra a partir mesmo da proposta de uma modificação da Carta Magna que acabava com o regime democrático e punha em seu lugar um regime socialista-ditatorial. Ainda sobre os jornais, durante esses 9 anos em que Chávez governa a Venezuela nunca se falou tanto – favoravelmente – sobre esta peçonhenta figura como agora. Parece que, por um lado, todos ficaram condoídos com o “sofrimento” dele pela perda e por outro, orgulhosos do espírito democrático, ético, digno e magnânimo ao “aceitar” a derrota. Como veremos a seguir, não houve “dignidade” nenhuma neste acatamento forçado e, ainda assim, fraudulento.
Conforme eu disse na edição passada, desde o princípio da noite do domingo que, tanto o CNE quanto todos os comandos (inclusive os Militares e Chávez) estavam de posse dos resultados mas Chávez não aceitava, por hipótese NENHUMA, sair perdedor do seu grande projeto castro-comunista. As declarações feitas à impresa pelo Chefe do CUFAN (Comando Unificado da Força Armada) e também Comandante do “Plano República”, Gen de Divisão Jesus González González, refletiam um homem tenso, de semblante crispado que traía suas palavras de que “estava tudo bem”; e as declarações do Vice-Presidente da República e presidente do Comitê Central do Comando Zamora, organização governamental que liderou a campanha pelo SIM, Jorge Rodrigues, do mesmo modo refletiam a frustração diante de uma realidade implacável, enquanto suas palavras, mentirosas, pois ele já estava de posse dos resultados, diziam que a apuração ainda estava sendo feita e que as pessoas aguardassem com calma.
Mas, afinal, o que aconteceu nos bastidores do poder naquelas 8 horas de angustiante espera? Ao tomar conhecimento de que a vitória da oposição era acachapante e por isso mesmo difícil de se fraudar, Chávez começa a analisar em seu gabinete com o alto Comando Militar no Fuerte Tiuna, encabeçado pelo Ministro da Defesa, General Gustavo Rangel Briceño e os chefes do CUFAN – general Carlos José Mata Figueroa (Exército), vice-almirante Va Zahim Ali Quitana (Armada), general Luis José Berroterán (Aviação) e general Fredys Alonzo (Guarda Nacional), além de Jesse Chacón, Diosdado Cabello, José Albornoz e Miguel Pérez Abad. Estes diziam a um indócil e irascível Chávez que ele tinha que acatar os resultados da derrota, quando mandaram retirar o palanque armado na frente do Palácio com um boneco gigante do presidente (ver foto) e dispensar os jornalistas convidados para uma coletiva de imprensa.
O Ministro da Defesa, Gustavo Briceño, levanta-se e depois de expressar seu respeito ao Comandante-em-Chefe, o adverte de que a Força Armada não iria reprimir a população. Chávez observa todos e em seguida diz: “Me mentiram, me enganaram” e recrimina Cabello com violência porque o Comando Zamora lhe informava constantemente a vitória do SIM, enquanto os informes da DIM e do DISIP diziam o contrário. Em seguida Chávez começou a receber mensagens desde a Brigada de Pára-Quedista acantonada em Maracay e da Brigada Blindada acantonada em Valencia, dos militares identificados com o general Baduel, dizendo que era inconveniente prolongar essa agonia e que eles não iriam reprimir a população, caso a verdade lhes fosse negada e se consolidasse a fraude mais uma vez. Chávez manda buscar um funcionário do CNE para que confirme as informações e este afirma que os dados são “irreversíveis”.
Os generais dizem então a Chávez: “Presidente, ponha as cifras que quiser, sempre e quando ganhe o NÃO, como é o justo, o preciso e o verdadeiro; não queremos enganos. E outra coisa: deve deixar muito claro que as tendências do voto não vão mudar, nem hoje nem amanhã. Queremos que chame o CNE e diga isso em seu nome e com o nosso respaldo”. Chávez fica calado e depois se retira para um aposento que possui no Forte e fica lá por um bom tempo. Neste quarto, sozinho com sua consciência e encarando de frente sua derrota, ele deve ter esmurrado paredes (e talvez, chorado, porque apresentava os olhos mais inchados do que de costume), pois como mostram claramente as fotos, no momento em que ele resolve “admitir” a derrota e faz um pronunciamento em cadeia nacional, sua mão direita apresenta cortes e hematomas que não haviam quando votou, conforme pode-se ver nos detalhes.
Finalmente ele retorna e “aceita” a vitória do NÃO. Esta foi a jogada: internacionalmente ele apareceria como um democrata e internamente, evitava uma provável guerra civil. Os números revelados para o mundo, portanto, foram os do acordo que passam longe de ser uma “vitória pírrica”, conforme debochou o ditador venezuelano. As cifras REAIS, conforme apontavam as últimas pesquisas de intenção dos votos feitas no último dia permitido pelo CNE, 25 de novembro, que davam 49% para o NÃO e 34% para o SIM, com uma diferença pró-oposição de 15%, foram: Bloco do “NÃO” – 6.585.433, e Bloco do “SIM” 3.265.324.
Depois do pronunciamento público, já na segunda-feira, Chávez tem um encontro com os Chefes Militares na sala “Simón Bolívar” do Palácio de Miraflores, e dentre outras coisas, faz uma ameaça velada à oposição dizendo “preparem-se porque virá uma nova ofensiva com a proposta dessa reforma, ou transformada ou simplificada”. Ocorre que o Art. 345 da Constituição vigente é claro quando diz que, “se declarará aprovada a reforma constitucional se o número de votos afirmativos for superior ao número de votos negativos. A iniciativa de reforma constitucional que não for aprovada, não poderá apresentar-se de novo em um mesmo período constitucional à Assembléia Nacional”, de modo que Chávez deve ter blefado, para parecer superior.
Em seguida, diz que a vitória da oposição foi uma “vitória de merda” porque desta vez ele não conseguiu fraudar, porque a vitória não foi sua; acusa alguns opositores, nitidamente referindo-se a Baduel, de terem sido cooptados pelo “império” e compara-se, mais uma vez, a Cristo, dizendo que até Ele teve um traidor dentre os seus. Vejam aqui o pronunciamento completo que o Notalatina apresenta com exclusividade, e que o ditador venezuelano finaliza gritando “Pátria, Socialismo ou Morte! Venceremos!”, ao que os militares presentes respondem à saudação. Observem o detalhe da mão direita ferida que aparece nesse vídeo claramente.
Dentre os vídeos recebidos de minhas fontes venezuelanas há este muito grave, apresentado pelo mesmo repórter que entrevistou Ledezma, onde ele apresenta um panfleto demonstrativo de que a fraude estava preparada e a interceptação de uma comunicação via rádio onde Freddy Bernal, aquele que municiou e protegeu o assassino de Puente Laguna no massacre do 11 de abril, dá instruções para desatar a violência na noite e madrugada posterior ao referendum. Aos poucos vão sendo descobertos os detalhes dos crimes que foram planejados para sacramentar mais uma fraude que, graças à intervenção do General Baduel, de quem tenho infinitas reservas mas cujo espírito do verdadeiro Militar fala mais alto, e cuja influência em grande parte das FAN é inegavelmente patente, pela primeira vez estes Militares deram um rotundo NÃO a Chávez e sua insanidade poupando a população de uma guerra civil.
E para culminar, o General de Divisão do Exército, Jesus González González, Chefe do CUFAN e do “Plano República”, entregou seu cargo ao chefe de Estado e solicitou passagem para a reserva. Este general também estava encarregado do Centro de Totalização do CNE e foi um dos que pediram a Chávez que aceitasse com humildade a derrota e falasse ao país. Como se vê, ainda há homens com brio e dignidade dentro das FAN venezuelanas e se houve alguma “vitória pírrica”, esta ficou mesmo com o ditador de Miraflores. Fiquem com Deus e até a próxima!
Comentários: G. Salgueiro