As cobras já começaram a se picar em Cuba. Há muito boato misturado com verdades que nunca chegaram ao conhecimento do grande público, sobretudo os cubanos e há, mais do que isso, informações omitidas, silêncios injustificados, “mistérios” inalcansáveis.
Especula-se muito na imprensa acerca da real situação do velho tirano: há quem diga que ele já está morto e o regime estica a mentira da convalescença até que se ajeite a nova estrutura de poder – disputada a tapa; outros, afirmam que sequer aquela declaração passando o comando ao seu irmão Raúl foi escrita por ele, e que a assinatura constante no documento é falsa. A verdade é que há mais mistérios do que supõe nossa vã filosofia, não entre o céu e a terra, mas num ponto específico do Caribe, em torno de um monstro assassino que tem em seu haver milhares de mortes de gente inocente.
Nada se sabe de concreto a respeito desta situação tão ansiada por milhares de pessoas no mundo todo. Ninguém sabe em qual hospital internou-se o tirano; ninguém sabe “quem” o operou; ninguém tem sequer o direito de perguntar como estão as coisas e jornalistas não credenciados à Ilha estão sendo mandados de volta ao seu país do aeroporto mesmo, sem permissão de entrar sequer como turista, coisa que em países livres e civilizados jamais aconteceria. Apenas todos esperam calados e pacientes que as notícias sejam dadas do modo que o regime acha conveniente. Nos jornais oficiais, Granma e Juventud Rebelde, só há evasivas, como se faltasse o que falar. O ministro da Saúde cubano, José Ramón Balaguer, diz que “o comandante passa bem”, e quem quiser que acredite e se contente com esta “esclarecedora” informação.
Por outro lado, é estarrecedora a comoção que tomou conta de alguns setores da Igreja Católica. No Peru, foi oficiada uma missa na Basílica de Nossa Senhora das Mercês, pelo padre Marcial Tejada, que exortou as centenas de participantes a pedir pela saúde do “lider revolucionário” para que ele se levante são e salvo. Segundo palavras do tal “padre”: “Nos alegramos de nos unir para oferecer nossas preces com carinho e afeto para Fidel Castro”, após revelar sua admiração pelo “estadista que conduziu os destinos dos cubanos durante os últimos 47 anos”. Que meigo, que terno!...
Já a Conferência dos Bispos Católicos de Cuba (COCC) (seria uma sucursal da CNB do B?) emitiu uma nota aos fiéis católicos que dizia: “Os Bispos de Cuba pedimos a todas as nossas comunidades que ofereçam orações para que Deus acompanhe em sua enfermidade o Presidente Fidel Castro e ilumine aos que receberam provisoriamente as responsabilidade de Governo” e mais adiante, “o delicado estado de saúde de Castro é um momento especialmente significativo para o povo cubano”, e que a Igreja Católica “compartilha desta preocupação e das súplicas de todos os crentes”.
Não posso me calar diante de tamanha afronta! Quantas vezes esses “bispos” se preocuparam com o destino daqueles miseráveis encarcerados injustamente nas masmorras infectas, por ordem deste amaldiçoado que ora agoniza? Quantas vezes esses malditos “bispos” rezaram uma ave-maria pelos fuzilados por este mesmo abjeto assassino, justo por serem Cristãos? Quantas vezes estes “pastores” comunistas lembraram de pedir que se rezasse pela saúde do Dr. Guillermo Fariñas que agoniza por uma greve de fome desde 31 de janeiro, para que este ditador moribundo permitisse a todos os cubanos o direito de acesso à Internet? Quantas noites insones de vigília passaram estes abomináveis “bispos”, orando pelos milhares de bebês abortados por ordem deste maldito regime ditatorial, presidido por este verme que se ultima? Quantas vezes eles “exortaram” os fiéis para unir-se em preces pelos que morrem a míngua, de fome, perseguidos, torturados, escravizados, sem assistência médica e carentes de tudo nesta mesma Cuba oprimida pelo quase-defunto Castro? E o Vaticano, quando emitirá nota unindo-se às preces deste clero sinistro e nefando, que cospe sem pudor sobre a Cruz de Cristo, para “seu irmão” enfermo?
Os que lerem este ato de repúdio que registro aqui que julguem quem está com a razão. São 47 anos de sangue inocente derramado que agora o mundo inteiro esquece e apaga da História, aliás, que cuidou-se sempre e muito zelozamente de negar ao conhecimento público, como se não fossem vidas humanas que sofreram sob o jugo de um homem só, perverso até a mais ínfima parcela de seu ser.
Ontem à noite recebi uma informação que dizia ser “de fonte confiável”, que repasso sem confirmação, dando conta de que Castro já estaria morto e Raúl havia sido baleado numa disputa pelo poder com outros generais. Como nenhuma informação oficial é fornecida, nem para os cubanos da ilha nem para o mundo, é difícil saber o que de fato está ocorrendo nos bastidores deste teatro do absurdo. Acho pouco provável que esta notícia seja verdadeira mas também não posso descartá-la totalmente; só o tempo dirá se confere com a realidade.
Como se sabe, Raúl Castro não é bem quisto, nem nas Forças Armadas nem no PCC e sua ascenção não deve estar sendo bem digerida, embora todos sempre soubessem que está escrito na Constituição que ele seria o substituto de Fidel após sua morte. Todavia, saber não significa “aceitar” e não creio que os que ficaram de fora do butim estejam aceitando tudo isso pacificamente. Um deles, que sempre andou colado ao velho abutre e que defende a “revolução” com unhas e dentes é o ministro das Relações Exteriores Felipe Pérez Roque; outro que não creio que fique quieto sendo solenemente ignorado, como foi, é o presidente da Assembléia Nacional, Ricardo Alarcón, um sujeito ambicioso que se acha mais competente que Raúl e com desenvoltura suficiente para tomar as rédeas do país.
De qualquer modo, tudo o que temos são especulações, fantasias, boatos e previsões; nada além disso. Não creio que este mega-assasino sobreviva ao aniversário dos 80 anos, em 13 de agosto, tão alardeado mundo afora mas penso que a notícia de sua morte – se ocorreu ou ocorrer - será guardada para depois desta data, a fim de não estragar a festa e manter-se o mito de sua boa saúde e longevidade. Como faço aniversário dois dias antes deste ser abominável, agradeceria infinitamente a Deus se Ele me presenteasse com a partida definitiva deste ser nefasto da face da terra.
E para encerrar o Notalatina de hoje, publico abaixo uma análise da situação de Cuba feita pelo jornalista Nelson Rubio em que ele aborda alguns aspectos desta luta pelo poder na Ilha. Tenham um ótimo final se semana, fiquem com Deus e até a próxima (que pode ser a qualquer momento em edição extra).
****
Cuba: a luta pelo poder
Nelson Rubio, jornalista de Noticias 1140 AM
Raúl Castro tem as rédeas do poder em Cuba, porém permanece invisível para os cubanos, alimentando uma grande incerteza sobre o futuro da ilha que continua pendente da saúde do ditador cubano Fidel Castro, enquanto se detectou uma discreta mobilização de seguranças e efetivos das Forças Armadas.
Informações fidedignas divergentes em Havana apontam para um crescente protagonismo do general Julio Casas Regueiro, presidente do Grupo de Administração Empresarial (GAESA), ante a resistência que Raúl Castro está encontrando para ser admitido como pleno sucessor de Fidel Castro, cuja situação e paradeiro são um mistério total.
Alarcón não admite ser marginalizado
Várias fontes assinalaram que em Cuba se está vivendo nestes momentos uma pimeira luta política entre Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento cubano e Raúl Castro. Informações contrastadas apontam Raúl Castro como autor do “testamento político” de Fidel Castro, o Proclama lido através da televisão, que ratificou máximos poderes para Raúl, porém eliminou do novo núcleo duro da Revolução Ricardo Alarcón, de 69 anos, defensor intransigente do sistema de partido único.
Os eixos que Raúl Castro busca
Nestas primeiras horas de confusão, a primeira luta política se perfilaria entre Alarcón e Raúl Castro, que quer consolidar uma transição pacífica sobre vários eixos: José Ramón Balaguer (direção de programas de saúde); José Ramón Machado Ventura, Esteban Lazo (educação) e Carlos Lage (planos energéticos). Porém, Alarcón teria ameaçado de frustrar esses planos ao assinalar que tem vídeos do desdobramento da operação de Fidel Castro para rebater o rumor difundido em Cuba de que ele morreu na operação.
Vizinhos de bairros da capital comentaram à Agência AFP que as Brigadas de Resposta Rápida e grupos de partidários mobilizados nos centros de trabalho, permanecem ativados para repelir eventuais ações da oposição interna.
Uma bomba no meio do folhetim brasileiro
Em Havana se mantém um estado de preocupação ante o vazio de poder aberto desde a noite de segunda-feira, no momento em que todas as casas de Cuba com televisão estavam dependentes do folhetim popular brasileiro “Senhora do Destino”. Na quarta-feira pela manhã, as únicas notícias nos diários Granma e Juventud Rebelde remetiam ao Proclama de Fidel Castro. Ante este silêncio e a opacidade de Raúl Castro, Ricardo Alarcón irrompeu de novo declarando à Agência Prensa Latina que Fidel Castro se recupera bem e está com bom ânimo.
Casas e Rodríguez, em primeiro plano
Esta declaração surpreendente de Ricardo Alarcón, um homem que fala inglês fluente e que atuou como porta-voz durante sua etapa nas Nações Unidas, como posteriormente ante as principais cadeias de televisão dos Estados Unidos, aumentou a incerteza sobre o poder de Raúl Castro no momento em que parece produzir-se a primeira controvérsia entre o sistema de partido único ou um cenário que abra oportunidade aos movimentos opositores.
O general Julio Casas Regueiro e o major Luis Alberto Rodríguez López-Calleja (genro de Raúl Castro) teriam rechaçado o chamamento de Ricardo Alarcón à mobilização das Brigadas de Resposta Rápida. O general Casas mantém o apoio do Exército e Raúl Castro como sucessor legítimo de Fidel Castro, com o primeiro objetivo de garantir uma tranqüilidade econômica que não colapse o setor turístico.
A prova da Cúpula dos Não-Alinhados
Várias fontes indicam que Raúl Castro fixou em 2 de dezembro a data limite para concluir esta primeira transição. Raúl Castro esperaria até a celebração da Cúpula dos Não-Alinhados, pautada entre 11 e 16 de setembro, para aparecer como o novo líder da revolução cubana.
Porém, antes da trasmissão da Mesa Redonda, onde Fidel Castro supostamente enviou uma segunda mensagem, Alarcón teria ameaçado em frustrar eses planos ao assinalar que tem vídeos das radiografias e do desenrolar da cirurgia de Fidel Castro, para rebater o rumor difundido em Cuba de que ele havia morrido na operação. O que está ocorrendo em Cuba corrobora de forma paradoxal o chiste bobo que um dia Raúl Castro utilizou, sobre o que se passaria no dia do desaparecimento de Fidel Castro. “É impossível sabê-lo porque não se pode substituir um elefante por cem coelhos”, disse então. Deu, naquele momento, as pistas do que parece agora se viver na Ilha.
Comentários e tradução: G. Salgueiro