DESCONSTRUINDO FALSOS MITOS
Depois de mais de dois meses afastada da rede, ontem finalmente me vi em condições de retomar minhas atividades e resolvi atualizar o Notalatina. Assunto não faltava e então escolhi a insistência de Chávez em reeditar um referendum para lhe garantir a perpetuação no poder, mesmo tendo sido fragorosamente derrotado em 3 de dezembro do ano passado. A matéria estava pronta mas quando fui transferir para o Blogger para editar, o bendito programa Windows Vista deletou sem mais nem menos e não consegui recuperá-lo. Aborrecida e triste, desisti de escrever tudo de novo.
Mas, antes de prosseguir com os comentários de hoje, quero agradecer sensibilizada o prêmio que me outorgaram a ANDEC, através da Ana, e o Blog do Clausewitz, o “Premio Apoyo a las Víctimas del Terrorismo”, que só agora pude tomar conhecimento e cujo banner já se encontra aqui, com muita honra. Esse prêmio me sensibilizou enormemente porque nesses seis anos de luta em defesa das liberdades e do respeito aos direitos humanos, sobretudo das vítimas das ditaduras castrista e venezuelana, jamais mereci algo parecido aqui no Brasil. Lá fora, ao contrário, meu trabalho goza de respeito e gratidão, principalmente entre os cubanos, que já me declararam “cidadã cubana” e dizem que querem me entregar a honraria pessoalmente lá na ilha, quando Cuba for verdadeiramente livre.
E por conhecer bem e manter contatos e estreitos laços de amizade com vários dissidentes do regime castro-comunista desde o ano 2000, é que me assombra a febre, uma quase mania alucinada que se faz em torno a um blog recente e sua proprietária residente na ilha. Estou me referindo, é claro, ao “Generación Y” e a Yoanis Sánchez, aos quais fui apresentada logo depois de inaugurado ainda no ano passado.
E o meu espanto reside no fato de que nunca aqui no Brasil se deu importância aos queixumes dos cubanos, os verdadeiramente perseguidos, humilhados, presos e torturados, como se dá ao que escreve essa moça que, diga-se de passagem, não traz qualquer novidade e passa bem longe do que representa o real sofrimento dos opositores legítimos.
Há tempo venho recebendo solicitações para indicar o “Generación Y” no Notalatina mas nunca atendi, pois como disse a um leitor outro dia, há incontáveis sites e blogs excelentes e que revelam a face mais cruel e desumana da ditadura castrista e que, até onde pude conferir, só o Notalatina denuncia o horror que vivem os presos-políticos e de consciência cubanos. Se vocês se derem ao trabalho de consultar os arquivos dos primeiros anos, no menu à direita, vão conhecer coisas horrendas que sofreram e sofrem ainda aqueles que se opõem ao regime, inclusive crianças e velhos. E sobre os presos políticos, o site mais completo é o “Payo Libre” do querido amigo Pablo Carvajal, também constante no menu ao lado, e cujas denúncias passam ao largo dos comentários de doña Yoanis.
Então, ontem a rede agitou-se por causa de uma denúncia postada por essa moça e eu comentei com um amigo, depois do ler o que ela escreveu sobre a intimação: “Isso não vai dar em nada!”. Bingo para mim! E por que eu tinha tanta certeza disso? Primeiro, porque ela não pertence nem representa qualquer organização anti-castrista na ilha, não é jornalista nem vinculada a nenhuma associação cubana de jornalismo. Mas, apesar disso, vem sendo homenageada e recebendo prêmios de jornalismo num flagrante desrespeito àqueles que DE FATO se arriscam para denunciar ao mundo o que sofrem os opositores. Confiram o relato feito por ela sobre a “visita” à delegacia e depois leiam os relatos dramáticos dos opositores perseguidos e fustigados diuturnamente no site “Payo Libre”. Ser premiado lá fora e não ter permissão para viajar e receber a honraria é rotina na vida dos opositores mas ninguém nunca denunciou isto; por que, então, o espanto quando foi negada a vigem dessa moça?
Ademais, a biografia dela é tão nebulosa, escorregadia e contraditória quanto a do farsante Barack Obama. Quem conhece o modus operandi do regime SABE, perfeitamente bem, que a vida e as regalias que essa moça goza só são possíveis e permitidas a um MEMBRO do regime, a alguém que serve fielmente ao sistema e que inclui passar-se por opositor, infiltrado no meio das agremiações para depois delatar, como ocorreu com a economista Martha Beatriz Roque que foi presa na “Primavera Negra de Cuba” em março de 2003, vítima de sua secretária que a entregou ao tribunal e lá confirmou ser uma agente infiltrada há nada menos que 13 anos. Há ainda o caso de Ana Belém, que era funcionária do Pentágono e incontáveis outros casos que os cubanos com boa memória sabem melhor do que eu. Quem, da verdadeira dissidência possui um notebook (vejam na foto), telefone e internet em casa por 24 horas? Qual a fonte de renda dessa moça? Ela alega que dá aulas de alemão para turistas mas como, se os cidadãos fora da Nomenklatura são proibidos (com perseguição da polícia) de se aproximarem dos turistas? E o marido, trabalha em quê e para quem? E o apartamento onde ela mora (este da foto), a liberdade de ter celular e telefonar passeando pela rua, qual dos legítimos opositores tem essas regalias? E como se tudo isso não fosse suspeito o bastante, mesmo depois de descoberto o blog e sua identidade, por que eles nunca foram chamados ou perseguidos pelos ferozes e insanos CDR? E por que, vivendo na Suiça voltou para Cuba, entrou sem qualquer atropelo e vive até hoje sem ser minimamente molestada? Os que saem não têm direito de voltar, pois são considerados traidores e se tentam, ou são deportados ainda no aeroporto ou vão direto para a prisão. Só se sai de Cuba com permissão da Nomenklatura e, ainda assim, essa liberdade de ir e vir dentro e fora do país só a possuem os membros do regime. Reflitam!
Então, mesmo sabendo que vou chocar e desagradar a muitos, peço-lhes que considerem com seriedade este texto que traduzo abaixo (é grande mas não deixem de ler!) de um dos sites opositores mais respeitados, sérios e dignos por sua coerência e integridade de trabalho em prol dos irmãos que ainda sofrem com a escravidão na Ilha-Cárcere. Este Editorial foi escrito em 7 de outubro e eu pretendia divulgá-lo na ocasião mas precisei me afastar da rede e ele acabou ficando guardado. Só quem não conhece absolutamente NADA sobre o regime ditatorial castro-comunista ou os ingênuos ou coniventes com o regime podem acreditar nas desculpas esfarrapadas que essa moça divulga no seu blog. A dissidência cubana, eu e os estudiosos, já vimos esse filme incontáveis vezes...
Fiquem com Deus e até a próxima!
****
EDITORIAL
A redação de Noticuba Internacional deu-se ao trabalho de se comunicar com um bom número de jornalistas independentes na ilha para saber disto e poder dar uma resposta fiel à realidade, sem parcialidades com nada nem ninguém, e com o único objetivo de honrar seus princípios noticiosos que não são outros que ser um meio onde se difunde a verdade e nada mais que a verdade.
Saber estas coisas nos alarmou e, como opositores e imprensa continuamos indagando a notícia para poder ser fiéis ao que ocorre com esta blogueira, e analisando cada comentário que chega à nossa redação do jornalista Mario de Llano, onde de forma livre expõe seus critérios sobre este caso.
Achamos ser honesto destacar que o tema da violência contra jornalistas e meios de comunicação durante as crises sociais e os recentes processos eleitorais na América Latina devem ser debatidos por jornalistas independentes cubanos que sejam vítimas desta repressão, inclusive que tenham cumprido condenações, perseguição, repressão e expulsões de seus centros de trabalho, e para os quais informar é o maior dos delitos na ilha e que, ainda assim, continuam na linha de combate sem se deixar vencer.
Isso está muito bem, porém não lhe concede o direito de representar uma oposição aguerrida, perseguida, fustigada e reprimida que leva muitos anos lutando sem internet, sem liberdade de expressão e neste momento minimizada. Não é notícia para ninguém que a imprensa independente cubana, fundada em meio a uma sociedade totalitária e repressiva, foi fortemente reprimida pelo governo cubano, inclusive os jornalistas fundadores, e os que atualmente continuam na linha de combate têm que redigir suas notícias em pedaços de papel reciclável, suplicar horas de tempo da máquina de alguma das sedes diplomáticas existentes em Havana, ou na SINA, onde para poder ir têm que burlar a custódia policial da Segurança do Estado.
Por isso não é justo calar ante esta situação e muito menos permitir que no Segundo Fórum da Sociedade Interamericana de Imprensa, realizada fora do continente americano, com uma participação flagrante de países assediados pela imposição à livre expressão, se permita participar como exemplo de repressão e como expert sobre jornalismo digital Yoanis Sánchez, única cubana com liberdades para utilizar o serviço de internet sem interrupções.
O mundo sabe que o malogrado panorama da liberdade de expressão e os obstáculos que o exercício jornalístico encara em países como Cuba, não pode ser exposto por uma pessoa que além de não ser jornalista independente, nem opositora reconhecida, não tenha sido objeto destes desmandos governamentais que relaciono no parágrafo anterior.
Com todo o respeito que o rei Juan Carlos de Espanha merece, que inaugurou o evento com sua presença oficial, assim como o resto da concorrência diplomática deve conhecer a realidade de Cuba através dos que realmente têm voz e voto neste tema repressivo. Saber que apesar de o atual governante Raúl Castro ter permitido a venda de computadores para o povo, os opositores e jornalistas independentes cubanos não têm impunidade para possuí-los e muito menos para fazer denúncias.
Também nos alarma e necessitamos que alguém nos explique, como foi possível que Yoanis Sánchez conseguisse uma intervenção especial de sua casa em Havana para Madri, quando as linhas telefônicas cada vez que são utilizadas para informar sobre liberdades, denúncias ou participações com o estrangeiro são cortadas, e disto há muitas testemunhas, tanto dentro quanto fora de Cuba. A única negativa que a blogueira recebeu, segundo se informa, foi não lhe permitir ir receber seu prêmio em Madri. Perguntem ao resto da oposição e imprensa independente cubana, tanto fora como dentro do exílio, quantas coisas lhes são e lhes foram negadas, e como transcorre a vida de um dissidente e a de seus familiares.
Quem tem mais direito a ser entrevistado: Yoanis Sánchez, que há somente um ano empreendeu – sabe-se lá como – a idéia de criar um espaço para comentar criticamente a realidade cubana e se permitir dizer o que lhe está vedado em seus direitos cívicos, com as comodidades de um serviço de internet 24 por 24 sem interrupções onde somente o exílio lê, ou o grupo de prisioneiros políticos e de consciência que estão morrendo diariamente submetidos às mais cruéis torturas físicas e psicológicas? Ou a imprensa independente e os opositores que buscam a notícia a pé, rua a rua, cidade a cidade, e depois arriscam a vida e a liberdade tratando de transmiti-la para o exílio sem meios sofisticados?
Afirma Sánchez: “A internet é muito corrosiva para o monopólio informativo que o Governo cubano possui” ao mesmo tempo que destacou que a rede lhe permitiu superar “a atmosfera de irrealidade” na qual as autoridades cubanas afundaram a população cubana durante 50 anos. Graças à internet, expôs a blogueira, “conhecemos coisas ocorridas ao nosso lado nestes 50 anos, às quais não nos havíamos nos inteirado..., recuperamos passagens da Historia que estiveram veladas pela imprensa oficial”.
Fogel destacou a força do blog “Generación Y” e o caráter diferencial de Sánchez com a dissidência clássica contra o regime cubano, uma vez que o que ela busca é “falar de sua vida” e da rotina diária que os cubanos da rua enfrentam. Para dar uma dimensão de seu impacto na blogsfera, Fogel contou que antes de entrar no seminário consultou o último escrito incluído por Sánchez em seu blog sobre “a volta à normalidade” após o último furacão, e que os apenas dois parágrafos – “quase filosóficos” – do comentário já haviam recebido 2.964 comentários.
Em que pese que a internet funcione em Cuba de uma maneira “rudimentar”, Sánchez assegurou que “chega às pessoas” e supõe ser um estímulo na luta “contra a apatia, a inação e as insatisfações”. Depois de ler e reler as palavras da blogueira Yoanis Sánchez, não nos resta outra alternativa a não ser expor que a única blogueira com essas liberdades em Cuba é ela, que nenhum outro opositor, jornalista independente ou povo em geral tem acesso à internet, e que se alguém a tem é uma minoria e quase todos comprometidos com o regime.
E se estas explicações não são suficientes, quem desejar pode se remeter a um jornalista independente ou opositor pacífico, tanto em Cuba como fora dela, que eles poderão contar a realidade porque são os únicos que têm a última palavra. Em Miami vive um grande número de opositores pacíficos e jornalistas independentes com experiência em repressão, perseguição e cativeiro; quem não compreender o que se expõe neste Editorial, por favor comunique-se conosco que, com muito prazer, qualquer um deles lhes contará de suas vivências e a realidade de fazer oposição em um país totalitário. O texto original pode ser lido aqui.
Comentários e Tradução: G. Salgueiro