quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A Cuba que eu conheço

O delinqüente ditador da Venezuela continua infernizando o presidente Uribe e a vida da Colômbia, ameaçando com guerra e em seguida recuando, desmentindo o que disse mas que está gravado em vídeo. Entretanto, este é um assunto que devo tratar nos próximos dias porque é um tema que tem muitos detalhes e incontáveis implicações, falsidades, manipulações e não pode ser tratado assim “de raspão”. Por isso, hoje eu volto a falar de Cuba, a Cuba que eu conheço e da qual o mundo nunca reclamou, nem fez passeatas de protesto, tampouco abaixo-assinados em sua defesa.

Na última edição eu denunciei a degradante situação a que estavam submetidos 11 opositores do regime castro-comunista da Ilha, que se mantinham “plantados” (esta expressão não tem tradução exata para o português, mas seu sentido quer dizer “aquele que resiste”, “resistente”) a todas as barbaridades que a Polícia Política praticava e permitia que se cometesse contra eles, e que culminou em uma greve de fome iniciada no dia 10 de novembro. Eles resolveram encerrar a greve na segunda-feira e emitiram um comunicado que traduzo abaixo, dada sua importância.

Em seguida, apresento alguns vídeos que, ao que tudo indica, se não foi do conhecimento do público que diz se preocupar com a situação dos cubanos “a pé”, pelo menos não suscitou qualquer reclamo ou espanto. Me refiro ao Brasil, é claro, pois o primeiro vídeo foi divulgado no mundo inteiro com uma repercussão espantosa, motivo pelo qual seu principal “ator” acabou preso e condenado num julgamento sumaríssimo a 2 anos de reclusão. Mas esta história só pode ser contada e compreendida na seqüência dos três vídeos (de poucos minutos cada) que faço após o comunicado da Rede Cubana de Comunicadores Comunitários.

*****

Opositores cubanos finalizam o “plantão” de 40 dias, porém anunciam protestos

Uma dúzia de opositores cubanos puseram fim nesta segunda-feira ao “plantão” e jejum que realizavam desde há 40 dias, sem obter seu objetivo de devolução de uma câmera fotográfica confiscada pela polícia; porém, proclamaram sua vitória e que continuarão seus protestos contra o regime.

“Os plantados durante 40 dias e depois de um jejum de oito dias, queremos comunicar nossa decisão de cessar esta atividade, porém não nosso protesto contra o regime (...) que nos confiscou todo tipo de liberdade”, disse em um comunicado lido por um deles, na presença de seus líderes Martha Beatriz Roque e Vladimiro Roca.

Ambos os dirigentes, os quais declinaram de oferecer declarações à imprensa nesta segunda-feira, iniciaram o plantão (protesto) na casa de Roca, no bairro havanero de Nuevo Vedado, junto com outros 10 dissidentes.

A câmera fotográfica que estamos reclamando não é o objetivo final deste protesto, senão o símbolo de nossos direitos, e entendemos que a negativa oficial em devolvê-la mostra que o governo não tem vontade de mudança”.

Com respeito ao “ato de repúdio” que mais de uma centena de partidários do governo realizou durante vários dias em frente à casa de Roca, os dissidentes disseram que “essa retórica transmite cansaço aos que sabem da necessidade de uma mudança democrática na ilha”.

Também consideraram que, em que pese haver cessado o protesto, este não foi “em vão” e que desta vez “o governo cubano perdeu”, sem explicar as razões que os levam a essa afirmação.

*****

É possível imaginar que alguém possa ser condenado a dois anos de prisão, por dizer frente às câmeras de televisão que em seu país se passa fome? Pois foi o que aconteceu com Juan Carlos González Marcos, conhecido como “Pánfilo”, um cubano de 48 anos de idade como milhares de outros que não fazem parte da Nomenklatura e que passam todo tipo de privações, inclusive e sobretudo, fome. No começo de agosto a televisão cubana fazia uma entrevista na rua sobre música quando Pánfilo, que passava por perto, postou-se frente à câmera e gritou completamente bêbado: “O que nos faz falta é um pouco de comida! Faz falta comida, pois há uma tremenda fome!”. Este vídeo logo começou a circular pelo YouTube e em questão de dias alcançou o expressivo número de 460.000 visitas.

A repercussão deixou o regime apavorado e no dia 12 de agosto Pánfilo foi sentenciado, num julgamento sumaríssimo, a dois anos de prisão pelo “delito” de “periculosidade social pré-delitiva”. Segundo o Código Penal cubano, o delito de “periculosidade” se aplica a pessoas cuja conduta é “inclinada” a cometer delitos e que incluem “embriaguês, narcomania e conduta anti-social”. Vale salientar a subjetividade da expressão “conduta anti-social” no dicionário castrista, pois no meu (e em todos os dicionários psiquiátricos) significa alguém que se comporta de maneira repulsiva e inadequada na sociedade, podendo ser agressivo, obsceno, desrespeitoso da lei e da ordem, separadamente ou tudo ao mesmo tempo. Em Cuba, entretanto, é sinônimo de alguém que se posta contra o regime ditatorial, por mais manso, pacífico e educado que seja.

Abaixo vocês podem ver o momento de explosão de Pánfilo denunciando a fome endêmica que se passa na Ilha.




Pánfilo foi condenado no dia 12 de agosto e permaneceu na prisão por um mês, quando então seu advogado conseguiu reverter a pena à reclusão no Hospital Psiquiátrico “Enrique Cabrera” para tratamento de alcoólicos e em seguida foi transferido para o Hospital Psiquiátrico “Mazorra”. Este hospital Mazorra ficou conhecido como um centro de reclusão de presos políticos, que eram levados para lá para sofrerem torturas, eletro-choque, os quais deixaram seqüelas físicas e psicológicas gravíssimas e muitas vezes levou os “pacientes” à morte. O mais notável torturador deste centro de experimentos psiquiátricos, onde as mais aberrantes torturas eram infligidas aos presos políticos, foi o enfermeiro Eriberto Mederos, conhecido como o “Anjo da morte”, que lamentavelmente morreu sem cumprir a condenação que lhe foi imposta em um julgamento legítimo realizado nos Estados Unidos, em julho de 2002, pois padecia de câncer e morreu logo após receber a sentença.

No vídeo abaixo, feito com grande risco e sob ameaças, a repórter consegue em breves cinco minutos conversar com Pánfilo que se diz agradecido por poder se tratar do alcoolismo. Entretanto, é possível perceber o estado confusional em que o mesmo se encontra, repetindo a mesma frase para qualquer pergunta feita. Não é possível avaliar a quantidade de drogas que haviam lhe fornecido mas é evidente que estavam fazendo uma “faxina mental” e não desintoxicação ao alcoolismo, tanto que ele já voltou ao vício. Tudo que este homem de sorriso largo e dentes perfeitos deseja é trabalhar e levar uma vida que para nós é normal, inclusive ele diz que foi da Marinha mas que pode trabalhar em qualquer coisa, o que importa é ter um trabalho.




Agora em novembro apareceu outro vídeo de Pánfilo, completamente embriagado, novamente fazendo acusações ao regime e inclusive chamando Raúl Castro de “maricón”. O vídeo foi publicado pelo Canal 41 de Miami, América TeVe e nele Pánfilo diz que quer sair de Cuba, que vai sair de Cuba e pergunta: “Até quando é isto?”, referindo-se ao regime. Mais adiante, quase em desespero grita em sua embriaguês na escuridão do Malecón de Havana: “Eu vou em um pau, em uma lata ou em uma bacia, mas eu vou! Tu podes estar seguro que Pánfilo se vai”, e acrescenta que a Segurança do Estado conhece suas intenções. Vejam o vídeo:




Bem, não sei o que vai acontecer com este pobre homem mas sei que esta é a cotidianidade cubana. Esta é a Cuba que eu conheço desde que comecei a estudar o assunto e a fazer amigos dentre os dissidentes, alguns exilados pelo mundo, outros, muito poucos pela precariedade de comunicações, dentro da Ilha mesmo. Há 10 anos... E não vi mudar NADA, nem conheço qualquer tipo de liberdade de expressão dentre a gente comum, aquela que mesmo sem qualquer envolvimento político, como é o caso de Pánfilo, foge apavorada a qualquer pergunta nesse sentido feita por um turista curioso. E é importante tomarmos conhecimento disso porque, depois da CONFECON (Conferência Nacional de Comunicações), poderemos estar marchando a passos largos para um sistema de mordaça e confiscação da liberdade de expressão, do mesmo modo como ocorre hoje em Cuba, esta que trancafia em hospitais psiquiátricos de tortura quem ousa falar verdades inconvenientes.

Mas eu estava fechando esta edição de hoje quando recebi uma nota do Pe. Lodi, informando que inaugurou um blog intitulado “Extravio de Bagagem”, segundo ele, “para que todos possam acompanhar os acontecimentos e postar seus comentários”. O endereço do blog é este: http://extraviodebagagem.blogspot.com. Espero que o visitem! Fiquem com Deus e até a próxima!

Comentários e tradução: G. Salgueiro

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A estratégia das tesouras de Raúl Castro

O Notalatina hoje volta a falar de Cuba, do sofrimento dos seus dissidentes esquecidos do mundo, banidos dos noticiários da mídia cúmplice – nacional e internacional – porque “não dão Ibope”, não foram graciosamente adotados e cujo sofrimento ultrapassa qualquer limite de crueldade imaginável, mesmo nas mentes mais perversas. Me refiro à ilustre economista Martha Beatriz Roque Cabello e mais nove jornalistas independentes, que jamais foram motivo de preocupação de qualquer blog da moda e que padecem como ninguém por defender os mesmos princípios que nós defendemos. Agora Martha está à beira da morte mas, quem se importa com isso, a não ser os que a acompanham e acompanham o seu trabalho há décadas?

Antes, porém, quero transmitir aqui um apelo do estimado Padre Lodi, para o qual peço a valiosa ajuda dos amigos e leitores, sobretudo os que vivem em Portugal. Trata-se de uma bagagem enviada por ele pela TAP e que foi extraviada, contendo material de trabalho e estudos importantíssimos para sua tese de doutorado. Mesmo que não fosse coisa tão importante, o simples fato de ser de sua propriedade lhe dá o direito de recebê-lo, sobretudo porque deve ter-lhe custado muito caro esse envio. A TAP está se fazendo de tonta para ver se ele esquece mas nós podemos pressionar esta empresa de aviação a que encontre e entregue os pertences do Pe. Lodi, pois isto é um dever dela e um direito dele. Segue abaixo a solicitação dele e em seguida volto ao tema de hoje.

Prezado amigo pró-vida

Peço sua ajuda para recuperar dois dos seis pacotes perdidos pela TAP Cargo, contendo livros e importante material bibliográfico para minha tese de doutorado em Bioética.

A tragédia ocorreu assim:

Estava em Roma visitando bibliotecas e fotocopiando livros e artigos, a fim de levá-los ao Brasil e elaborar a tese de doutorado.

No dia 6 de novembro remeti de Roma para Brasília pela TAP Cargo (um serviço de transporte de cargas da TAP) seis pacotes, pesando ao todo 88 kg, contendo livros, fotocópias e uma impressora que usava nos trabalhos escolares.

Essa carga foi remetida com muita antecedência, no dia 6, para que, quando eu chegasse ao Brasil, no dia 11, pudesse apanhá-la no aeroporto de Brasília.

Quando cheguei a Brasília no dia 11, dirigi-me ao escritório da TAP Cargo e recebi a trágica notícia de que, dentre os seis volumes que partiram de Roma, apenas quatro haviam chegado a Lisboa. Dois haviam sido extraviados. Mas nem sequer os quatro que não se perderam foram enviados ao Brasil. Permaneceram - e permanecem até hoje - em Lisboa.

A TAP Cargo pediu meus contatos e disse-me que avisaria tão-logo tivesse notícias da bagagem extraviada.

Infelizmente, parece que a TAP Cargo se esqueceu do assunto. Nunca tomou a iniciativa de entrar em contato comigo, seja para dar informações, seja para oferecer alguma perspectiva de solução.

Peço que você envie uma mensagem à TAP Cargo solicitando providências para o caso. As sociedades empresariais costumam ser muito sensíveis ao clamor da opinião pública. Ao enviar sua reclamação, não se esqueça de mencionar o código de consignamento 047 97478636. É esse número que identifica a minha bagagem, que eu espero, com a graça de Deus, reaver.

Deus lhe pague pelo apoio.

O escravo de Jesus em Maria,

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis

Telefax: 55+62+3321-0900

Caixa Postal 456

75024-970 Anápolis GO

http://www.providaanapolis.org.br

"Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto"

*****

Martha Beatriz é uma economista cubana, fundadora do Instituto de Economistas Independentes de Cuba e líder da Assembléia para Promover a Sociedade Civil. Martha foi presa pela segunda vez durante a “Primavera Negra de Cuba”, em março de 2003, sendo a única mulher condenada a 20 anos de prisão e confinada à Prisão de Mulheres “Manto Negro” em Havana, em uma cela isolada de segurança máxima. Aqui pode-se ler a súmula do processo condenatório, que insisto que leiam para conhecer os “argumentos” utilizados para condená-la e o material de sua propriedade confiscado dentro de sua residência, tidos como “peças do crime”.

Chamo a atenção, também, para este trecho do processo que informa acerca de sua testemunha de acusação (textualmente): “...conclusões que coincidem plenamente com o expressado no relato fático e na declaração de Aleida de las Mercedes Godinez que foi agente secreta do Departamento de Segurança do Estado infiltrada como funcionária do Escritório de Estatísticas do chamado Instituto de Economistas Independentes de Cuba e da Assembléia para promover a Sociedade Civil em Cuba”. Esta agente trabalhou no instituto dirigido por Martha Beatriz durante 13 anos como secretária, ouvindo conversas íntimas e confidenciais e retransmitindo para o órgão repressor. E como ela existem incontáveis outros agentes, se passando por dissidentes, falando a mesma linguagem, fazendo as mesmas críticas e queixumes, até a hora do bote final.

Depois de meses sem receber assistência médica para seus problemas de saúde, incluindo tonturas, paralisia do lado esquerdo do corpo, dores no peito, desorientação, vômitos, diarréia e sangramentos pelo nariz, e graças à pressão internacional, Martha foi finalmente transferida para o Hospital Militar Carlos J. Finaly em Havana, em agosto de 2003, onde foi diagnosticada com diabetes e outros problemas graves. Diante do debilitamento de sua saúde, Martha foi excarcerada em 22 de julho de 2004, mas sua condenação de 20 anos de cárcere permanece vigente, ou seja, ela vive com uma “licença extra-penal por motivos de saúde”, como outros tantos presos-políticos que foram libertados da prisão em circunstâncias semelhantes.

Martha, já em sua casa, resolveu criar um blog para publicar todo tipo de informação, artigos, denúncias e reflexões que, com risco de sua própria vida, continuam saindo de sua mesa de trabalho em Havana. O endereço do blog é este: http://marthabeatrizinfo.blogspot.com/. Também em decorrência dessa “liberdade” Martha Beatriz criou a Rede Cubana de Comunicadores Comunitários, cujos jornalistas reportam os problemas pelos quais atravessam os cidadãos cubanos que não têm uma atividade político-partidária a favor ou contra o regime, mas que padecem os abusos ou a perseguição das autoridades. O trabalho da Rede é reportado para um blog que foi adquirindo prestígio pela objetividade da informação e, ao mesmo tempo, granjeando o ódio e a perseguição por parte do regime contra os jornalistas da entidade.

Desde o dia 10 de outubro, nove jornalistas cubanos e mais Martha e Vladimiro Roca, diretores da organização, encontram-se privados da liberdade, cercados pela polícia política na casa de Vladimiro Roca Antúnez em Havana.

O conflito começou com ameaças de um oficial da Segurança a Martha e com o confisco da máquina fotográfica de um dos jornalistas da entidade, alegando que não devolveriam seu equipamento porque iam realizar “uma perícia”, pois havia mais duas fotos além das que ele havia declarado. Que delito tão grave! No dia seguinte a este fato os onze se reuniram na casa de Vladimiro Roca para protestar pelo ocorrido. Eram apenas 11 pessoas desarmadas e pacíficas que queriam apenas que uma máquina fotográfica fosse devolvida a seu proprietário. A casa foi imediatamente cercada pela Segurança do Estado que interceptou ao menos 36 pessoas que se dirigiam para lá para se solidarizar com eles. Grupos dissidentes de toda a Ilha apoiaram o protesto, mas isto não é do interesse da mídia brasileira, afinal, Martha Beatriz não tem marketeiros à sua disposição; ela possui apenas a coragem de uma guerreira, sua integridade de caráter e sua honestidade.

Outros fatos degradantes seguiram-se a esse acosso. Os familiares dos jornalistas foram procurados pela polícia política para obrigá-los a pressionar os manifestantes a “desistir de sua posição”. A filha da jornalista Niurka de la Caridad Ortega Cruz, de 15 anos, foi expulsa do colégio por causa das atividades de sua mãe e a filha de Elizabeth de Regla Alfonso Castellanos foi interrogada na rua pela polícia. Durante cinco dias a polícia usou alguns estudantes de uma escola primária e de uma secundária básica próximas da casa, para que fustigassem os jornalistas insultando-os, jogando pedras e fazendo gestos obscenos com as calças abaixadas. Outros estudantes passaram correndo pela frente da casa, com medo de serem agredidos, pois a polícia lhes disse que aquelas pessoas que se manifestavam na casa de Vladimiro eram terroristas.

No dia 14, quando Vladimiro saiu para conseguir alguma comida para o grupo que se encontrava retido em sua casa, foi novamente agredido por esses grupos e um homem disse que ele seria apunhalado. O “terrorismo” que esses onze opositores praticavam se resumiam a cartazes que eles seguravam a princípio na frente da casa (depois foram forçados a entrar por causa das agressões físicas violentas) e que diziam: “SOMOS CUBANOS. EXIGIMOS NOSSOS DIREITOS”; “O POVO NECESSITA O QUE LHE PROMETERAM”; “NÃO DIREITOS – NÃO PESSOAS”; “LIBERDADE, LIBERDADE, LIBERDADE” e “VAMOS RESISTIR”.

Em um Comunicado emitido à comunidade internacional o grupo faz um chamamento para a grave situação que estão passando estes dissidente. Nele, além do que já foi relatado acima, eles denunciam que esses “Mitines de Repúdio” chegaram a durar até 7 horas diárias e que foram trazidas pessoas até de ônibus para pressioná-los e intimidá-los. Grupos que chegaram a ter até 200 pessoas, utilizavam-se de crianças para proferir palavras e gestos obscenos, ameaças verbais, jogaram ovos, paus, pedras, preservativos cheios de líquido. Nesta turba encontram-se vários oficiais da Segurança do Estado, não só instigando mas também participando das agressões.

25 dias este grupo permanece protestando pelos direitos mais elementares de todos os cubanos – e não apenas de si próprios – mas estão ameaçados de não poder sair da casa para comprar comida porque são agredidos a pedradas na rua. A luz, o gás e a eletricidade foram cortados. Fotos deste episódio nefasto que ainda não acabou e piora a cada dia, podem ser vistas aqui.

No dia 10 de novembro os membros da Rede Cubana de Comunicadores Comunitários resolveram fazer uma grave de fome e emitiram um comunicado onde responsabilizam o Estado cubano pelo que possa acontecer às suas vidas. Martha Beatriz é diabética e este jejum (apenas toma água) pôs em risco sua delicada saúde. O marido de uma das jornalistas é medico e a examinou, dizendo que apesar dos desmaios e da fraqueza que a mantém na cama, seu quadro é “clinicamente estável mas que essa estabilidade poderia mudar e, além disso, não se podia fazer provas laboratoriais para medir o nível de açúcar no sangue”. O padre de sua paróquia foi chamado e lhe deu a Extrema Unção, pois não se sabe até onde esta guerreira vai resistir.

Apesar deste fato ter sido divulgado até pelo jornal El Nuevo Herald, não se ouve uma mísera palavra de apoio de grupos que se auto-intitulam de “direitos humanos”, nem dos “blogs dissidentes”. Nem da “Anistia Internacional”, nem da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) que age com muita celeridade para condenar o “embargo norte-americano” a Cuba mas não enxerga que o pior embargo é aquele imposto pelo maldito regime a seus cidadãos, como fazem agora com estes legítimos opositores. O ditador hereditário Raúl utiliza a estratégia das tesouras: enquanto “tolera” que alguns blogs novatos divulguem as mazelas da Ilha e até permite manifestações públicas, dando a falsa ilusão de que está começando uma abertura política, continua com mão de ferro esmagando a verdadeira oposição.

No dia 10 de novembro a Rede emitiu uma nota de imprensa informando do jejum e explicando seus motivos. Preferi traduzi-la abaixo para que seja lida na íntegra e para que se conheça o que é DE FATO ser perseguido por ter idéias diferentes e ter a ousadia de se crer um cidadão livre como qualquer outro filho de Deus. Divulguem, para que todos possam conhecer aquela realidade omitida, escondida, negada, menosprezada. Fiquem com Deus e até a próxima!

*****

JEJUM VOLUNTÁRIO – NOTA DE IMPRENSA

Os membros da Rede Cubana de Comunicadores Comunitários, resistentes na casa situada em 36, nº 105, entre 41 e 43, Nuevo Vedado, para exigir seus direitos e os do povo, infringidos por um governo que detém o poder, queremos dar a conhecer que a Polícia Política, mão negra da ditadura totalitária, intensificou com seus controles sobre as únicas duas linhas de possibilidade de pequenos fornecimentos que tivemos em todo este tempo, 33 dias de resistir a repressão, ameaças e intimidações de todo tipo, provados através de fotos, gravações e vídeos, localizáveis na Internet no blog: http://redcubanacc.blogspot.com.

Esta última arremetida tem como objetivo nos render pela fome, já que não puderam dobrar a vontade dos que nos encontramos resistindo. O governo cubano demonstrou uma vez mais seu caráter violador dos direitos do povo, exercendo pressão inclusive sobre pessoas não vinculadas à oposição interna.

Nos próximos dias, este grupo de comunicadores se verá forçado a fazer jejum, o que implica ingerir liquido sem açúcar, utilizando para isso a vegetação do jardim da casa onde se leva a cabo o plantão. É por isso que decidimos – a partir de hoje – começar um jejum voluntário, antes que se submeter aos desígnios do regime.

Alguns dos membros do plantão, devido a suas enfermidades crônicas, não poderão resistir muito tempo a esta falta de alimentos, pelo qual responsabilizaremos o governo cubano pelo que possa suceder nos próximos dias aos membros da Rede que se encontram nesta situação.

Assinam: Elizabet de Regla Alonso Castellanos, Zoila Hernández Diaz, Heriberto Liranza Romero, Yasmany Nicles Abad, Yuniet Reina Hernández, Armando Rodríguez Lamas, Martha Beatriz Roque Cabello y Lazaro Yuri Valle Roca.

Cidade de Havana, 10 de novembro de 2009.

Comentários e tradução: G. Salgueiro