terça-feira, 25 de maio de 2004

Hoje trazemos apenas duas notas, uma delas do México e outra de Cuba. A notícia do México refere-se à retaliação que o governo do Presidente Fox já começa a enfrentar, por causa da ruptura diplomática deste país com o ditador Fidel Castro. Um novo bando “rebelde” põe bombas em três bancos, deixando clara sua raiva e vingança por causa da cobrança judicial feita – e ganha – do México contra Cuba.



A outra nota, mais longa, merece também um comentário maior, embora muita gente possa dizer que este não é um problema meu e que não devo meter minha colher por não ser cubana; já ouvi isso inúmeras vezes. Ocorre, entretanto, que a mensagem que retransmito, do senhor Oswaldo Paya, não me cheira bem por vários motivos e vou me meter no assunto, sim.



Oswaldo Paya é um cidadão cubano que difundiu e coletou assinaturas para o chamado “Projeto Varela” que, dentre outras coisas, pede a retomada da democracia na Ilha. Por causa destas assinaturas e do próprio projeto, há várias pessoas presas nos cárceres cubanos, passando por todo tipo de tortura e privações, inclusive ausência de assistência médica e correndo risco de vida. Outros tantos, que ainda permanecem “livres”, têm sofrido incessantemente ameaças de prisão, agressões físicas por “desconhecidos” que lhes acossam nas ruas e o sr. Paya? Este jamais sofreu o mais leve arranhão, ou qualquer um de seus familiares foi de algum modo molestado, pelo contrário. No ano passado ele foi agraciado com o “Prêmio Sakarov” e foi, pessoalmente, recebê-lo na Suécia. Quando voltou, uma comitiva de parentes a amigos o aguardava no aeroporto e o recebeu com festa, sem que a polícia impedisse qualquer manifestação.



A carta que ele hoje dirige aos cubanos e ao povo de outras nações de um modo geral, deixa escapar uma linguagem que, se não é, lembra as idéias daquilo que ele diz combater, ou seja: o castro-comunismo. A carta convida os cubanos para um “Diálogo Nacional”, através de “Círculos de Reflexão e Diálogo” (quem me lembrou as “mesas redondas” do ditador) onde todos, sem excessão, são chamados a opinar e ouvir. Ora, desde quando o ditador da Ilha vai permitir que as pessoas se reúnam “na paz e no amor”, para elaborarem uma proposta de “transição pacífica”, sem perseguirem e prenderem tais participantes? O sr. Paya certamente não está falando para os cubanos que fazem semanalmente a “vigília da vela”, ou os bibliotecários, ou para aquelas bravas “mulheres de branco” que pedem a soltura de seus entes queridos que estão apodrecendo nas prisões infectas! Ele poderá, sem nenhuma perturbação, sentar-se com os membros do PCC, com os CDR, com os da Brigada de Resposta Rápida que, em torno do “Grande Líder” vão discutir, “na paz e no amor”, baseados na “reconciliação nacional” (e perdão incondicional), quem vai ficar com as fatias do bolo.



Os cubanos que me perdoem, mais é pelo carinho e respeito que lhes tenho – e tenho muitos amigos cubanos, sinceramente muito queridos – que sinto um cheiro muito ruim nessa proposta. Não se faz acordo com comunista; JAMAIS! No entanto, o sr. Paya quer fazer acordo com uma das pessoas mais perversas e sem escrúpulos que o mundo já produziu, “perdoando-lhe” todas as atrocidades cometidas – contra os outros – e sentando-se na mesa com ele e seus capachos para “negociar”. Ou o sr. Paya é muito ingênuo – o que não acredito – ou então é “um deles”. Tomara que eu esteja errada, pelo bem daquele povo tão espoliado e escravizado há quase meio século.





Atentados contra Bancos Mexicanos



O ramo mexicano do terrorismo controlado pela Internacional Socialista começa a atuar com violência, depois que os Bancos Mexicanos embargaram na Itália 40 milhões de dólares do governo de Castro, em uma tentativa de cobrar uma dívida que varia entre os 400 e os 700 milhões de dólares.



Três sucursais bancárias foram alvo de atentados com explosivos na madrugada do dia 23 de maio, no município de Jiutepec, Morelos, México.



Um grupo desconhecido, Comando Jaramilista Morelense 23 de Mayo assumiu a autoria dos ataques. As explosões produziram-se nas sucursais dos bancos Banamex, Bancomer e Santander Serfin.



Outro explosivo colocado no interior do banco HSBC foi encontrado pelas autoridades e desativado por membros do Exército.



As dependências afetadas sofreram graves danos materiais, porém em nenhum dos casos houve vítimas.



A polícia de Jiutepec afirmou ter encontrado um comunicado do grupo rebelde no qual se acusa diretamente o presidente Fox. “O foxismo tem demonstrado que sob a hegemonia imperialista da degradação política e moral não têm limites”, reza o escrito.



O documento refere-se também à crise política em Morelos e acusa o governador, Sergio Estrada, do governante Partido de Ação Nacional, que está sendo investigado por corrupção.



O comunicado define o governador como “o rei do narcovarejo morelense”. Estrada aproveitou uma coletiva de imprensa para condenar os fatos e chamou a todos os habitantes de Morelos a formar uma frente comum contra a violência.



O nome do grupo faz referência ao líder camponês Rúben Jaramillo que lutou sob as ordens de Emiliano Zapata. Jaramillo se levantou em armas contra os caciques de Morelos nas décadas de 40 e 50, porém foi assassinado em 23 de maio por militares associados com civis.



Fonte: www.contactomagazine.com



Anúncio do início do Diálogo Nacional



Na manhã de hoje, Oswaldo Paya Sardiñas deu a conhecer em Havana, Cuba, o início do Diálogo Nacional com este documento que transcrevemos.



Julio Hernandez – Movimento Cristão Libertação



Anunciamos que a partir do dia de hoje, 25 de maio, começa a realizar-se o Diálogo Nacional que estivemos preparando nos últimos meses.



Neste diálogo podem praticipar todos os cubanos, sem exclusões, vivam dentro ou fora da ilha, sejam ou não, afins ou membros do governo e de todas as posições políticas, credos religiosos, experiências, idades, situação social e econômica. Também devem participar todas as instituições, organizações e grupos, oficiais ou não, que queiram abordar suas considerações sobre a transição pacífica e sobre todos os aspectos da vida nacional.



Já tornamos público o Documento de Trabalho que servirá de base para este diálogo. Este documento não é um programa, senão apenas um instrumento para realizar o processo e poderá ser criticado e mudado.



Também fazemos pública hoje a Metodologia para o Diálogo Nacional, que o Comitê Cidadão Gestor do Projeto Varela, impulsionador deste processo, entregará aos cidadãos que queiram participar. O diálogo se realizará em Círculos de Reflexão e Diálogo que poderão formar espontaneamente os cidadãos e organizadores que o solicitem. As instituições que queiram fazer algum aporte podem apresentá-las aos coordenadores e se desejarem, formar Círculos de Reflexão e Diálogo. Esclarecemos que participar do Diálogo Nacional não implica apoiar o Projeto Varela.



O mais importante é que neste processo, os próprios cubanos desenharão seu Programa de Transição e começarão a experimentar a participação democrática e responsável na definição e preparação do futuro de nossa sociedade.



Embora a maioria o deseje, alguns consideram inalcançável a transição pacífica. Porém muitos cubanos tomam a determinação de oferecer à sua Pátria o aporte solidário para tornar possíveis essas mudanças pacíficas. Assim o demonstra o fato de que cada vez são mais os cidadãos que assinam o Projeto Varela, essa campanha pelo Referendo que não se detém e não se vai deter até conseguir os direitos para todos.



Porém os cubanos se fazem muitas perguntas sobre o futuro e há muitas incertezas.



A primeira grande angústia é a que lhes produz a negação permanente do Governo à abertura econômica e política. Negação que fecha as portas do progresso familiar e social e impede o exercício dos direitos fundamentais. Esta situação estanca a maioria na pobreza e uma minoria nos mais desproporcionais privilégios, sem perspectivas para os primeiros. Por esta razão, muitos jovens pensam, equivocadamente, que a única forma de conseguir um futuro melhor é emigrar, inclusive lançando-se ao mar, desgarrando-se das famílias cada vez mais.



Outras angústias e incertezas se produzem pelas diferentes versões catastróficas sobre o final desta etapa, como se não existisse mais alternativa a este imobilismo que a morte, a violência, o caos ou a intervenção estrangeira. A isto se somaria supostamente a destruição ou negação de tudo o que de positivo tenha conseguido e construído o povo cubano com seu amor e seu trabalho.



É verdade que há um sofrimento imenso para os cubanos e que existem graves perigos para o futuro imediato, porém também como nunca antes a esperança é maior. Uma esperança fundada na determinação de muitos cidadãos, de conseguir as mudanças pacificamente e não uma esperança resignada pela catástrofe, pela morte, ou pelas medidas estrangeiras. É uma esperança fundada na boa vontade dos próprios cubanos. Porém, de pouco serve a vontade se está apanhada por medos ou interesses. Há que liberar essa vontade com o amor para que neste grande movimento de solidariedade e reconciliação, nosso povo supere o negativo e renasça para uma nova etapa livre, independente e em paz. Assim potencializará as imensas capacidades humanas e naturais com que o Criador dotou a nossa Pátria.



Estamos chamando os membros das Igrejas e seus pastores para que não neguem a seu povo o direito de sua palavra, sua cooperação e sua participação enriquecedora neste Diálogo Nacional, que é o caminho para a Paz e a Justiça. Também às instituições fraternais, a todos os grupos dissidentes e especialmente a nossos irmãos os prisioneiros políticos e a seus familiares. Este não é um projeto de um partido, senão um processo participativo para realizar a esperança. Porém, são os próprios cubanos os que devem dar o passo se verdadeiramente querem conseguir uma vida melhor, aqui na terra que Deus nos deu como lar de todos.



Todos os que no mundo tenham boa vontade para com o povo de Cuba, o que devem fazer é apoiá-lo na ralização deste Diálogo Nacional. Esta seria a autêntica posição em solidariedade com respeito à nossa soberania. Porque os cubanos o que queremos são mudanças pacíficas à democracia e à reconciliação, e é aos cubanos que nos corresponde realizá-las.



Comitê Cidadão Gestor do Projeto Varela



Havana, 25 de maio de 2004.



Trinta e dois do Aniversário da morte na prisão, em greve de fome de Pedro Luis Boitel



Cortesia de Roberto Jiménez



NetforCuba International - http://www.netforcuba.org



Tradução: G. Salgueiro



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