domingo, 2 de dezembro de 2007



O clima deste domingo na Venezuela é de aparente normalidade, até o momento. As pessoas estão procurando os centros de votação e comportadas pacientemente em enormes filas, aguardam sua vez de fazer papel de bobo. Os canais de televisão, CNN, Globovisión e VTV, não mostram imagens de militares nas ruas ou locais de votação entretanto, segundo informações do Gen Jesús González González (não confundir com Néstor, também general e com o mesmo sobrenome), chefe do “Plano República”, há 100 mil efetivos espalhados por todo o país para gantir a normalidade do pleito. Disse que tudo corre normalmente mas que já havia (às 10 e pouca da manhã) 16 pessoas detidas por “delitos eleitorais” que vão desde rasgar o papelzinho da votação à quebra de máquinas.


Foram entrevistados o Vice-presidente Jorge Rodrigues, Yon Goicoechea, a presidenta do CNE Tibisay Lucena, Manuel Rosalez, ex-candidato à presidência pela oposição ano passado e finalmente, Chávez. Goicoechea acredita que votar é o caminho para mudar os rumos do país e convocou a todos a não se absterem. Jorge Rodrigues e Tibisay falaram o previsível, de que tudo estava ocorrendo dentro da normalidade e que o sistema de voto eletrônico da Venezuela era o mais seguro do mundo. Rodrigues ironizou (ou delirou?), alegando que na Venezuela há mais democracia do que nos Estados Unidos porque há muitos referendos e eleições, e que a vontade popular é satisfeita porque ela participa das decisões do país. Como se as fraudes não existissem.


Odecepcionante foi Rosales afirmar que hoje é um dia de “muita alegria e festa, porque é uma oportunidade que os venezuelanos têm para traçar um caminho para a paz e o diálogo com tranqüilidade”. Como afirmei no ano passado, quando Rosales aceitou sem discussão a mega-fraude que se cometeu contra a vontade do povo COM sua aquiescência, ele não é macho o bastante para lutar pela verdade. Hoje, seu discurso foi quase idêntico ao de Chávez. Que vergonha! Até parece a nossa “oposição”...


Mas Chávez foi um espetáculo à parte. Chegou para votar por volta do meio-dia, acompanhado da filha e dos netos e ao entrar na cabine de votação, benzou-se, blasfemamente, ante de digitar sua opção. Anda cercado de hordas de homens com camisas vermelhas, com ar assustado e cara de mau. Após votar fez um rápido pronunciamento dizendo que aquele era um dia de muita alegria em que as famílias se uniam com o espírito democrático. “Nunca antes na história da Venezuela se fez um referendo, votou tanto, com alegria, com júbilo”, disse, utilizando o bordão do seu amigo Lula.


Afirmou que “vamos aceitar o resultado seja ele qual for, porque estamos construindo uma verdadeira democracia”. Esta frase foi dita também na eleição de dezembro de 2006, porque Chávez SABIA, como SABE hoje, que o resultado será manipulado para garantir que sua vontade seja feita. Afirmou ainda que “isto que estamos vivendo hoje não é para ser copiado pelo resto do mundo mas que sirva de referência” e pediu que “a outra parte aceite os resultados”. O recado é claro. As imagens que vi hoje pareciam um replay do ano pasado, porque a tranqüilidade momentânea, a alegria, as frases de que aceitaria o resultado fosse qual fosse, e o recado para a outra parte também aceitá-lo, foram idênticas às que a televisão mostrou em 3 de dezembro de 2006.


Entretanto, as coisas não estão assim tão calmas e tranqüilas como querem nos fazer crer. Nos bastidores o desrespeito é patente e a fraude se faz de forma dissimulada. Há ainda o “medo” pelo que pode vir depois das 4 da tarde. O jornal El Nuevo Herald de ontem informou que os cubanos residentes na Venezuela através das “missões” receberam aviso de se manterem em estado de alerta e com seus pertences embalados para um possível retirada às pressas do país.


“Temos instruções de ter as mochilas prontas e estar disponíveis para cumprir as orientações da Embaixada [cubana]”, disse um médico que trabalha nos arredores de Caracas. Segundo a fonte, funcionários da embaixada enviaram instruções desde a sexta-feira passada para que se mantivessem “aquartelados”, com a recomendação para não saírem às ruas e ficarem atentos às decisões que se possam tomar “no caso de uma crise interna após o referendo deste domingo”.


Outra anormalidade na aparente tranqüilidade é que, como no ano pasado, o líquido “idelével” que se passa no dedo para apôr a digital no documento de votação, SAI COM ÁGUA SANITÁRIA. Segundo informações da CNN e depois por informantes venezuelanos, havia desde às 3 da manhã pessoas na fila para uma votação que começaria às 6 h. Segundo meus informantes, os que estavam comparecendo antes dos centros de votação abrir eram justamente as milícias chavistas que, depois de lavar o dedo, seguiam para outros centros e votavam duas, três vezes.


Segundo informou a presidenta do CNE, Tibisay Lucena, há cerca de 100 observadores internacionais dos 4 continentes acompanhando a votação mas foi negada ao ex-presidente boliviano Jorge Quiroga a credencial de observador e depois retirada a de “acompanhante” porque ele é opositor do cocalero Morales. Segundo informou Sandra Oblitas, diretora do CNE, Jorge Quiroga foi convidado pelo “bloco do NÃO e deu opiniões políticas muito agressivas contra as instituições do Estado. Por esta razão, o CNE apegado às normas da Constituição, e em respeito à majestade do poder eleitoral e à soberania de nossa pátria, está procedendo a retirar a credencial que lhe foi expedida”. Quiroga denunciou que esta decisão foi tomada horas depois dele se queixar de ter sido credenciado apenas como “acompanhante”, que não lhe permitiam o acesso aos centros de votação. Democracia em excesso é isto: só pode entrar no baile quem pertence ao “clube”, que não é o seu caso, por isto foi barrado.


E em Porto Rico aconteceu uma situação ainda mais democrática. O Cônsul Geral da Venezuela em Porto Rico, José Pérez Jiménez e a Vice-Cônsul Nelly Vargas, acabam de suspender a votação dos venezuelanos residentes nesta ilha. Os votantes levaram cartazes com o NÃO e se postaram na praça em frente ao consulado quando os funcionários decidiram, de forma arbitrária fechar as mesas e suspender as votações até que os manifestantes retirassem os cartazes.


Os venezuelanos estão lançando a denúncia na rede informando que “esta praça é um território americano onde existe SIM liberdade expressão, assim como fazemos notar que os venezuelanos tinham suas manifestações autorizadas pelo governo local. A praça NÃO é território venezuelano, então não se entende a atitude aberrante destes funcionários”. Tudo isto foi filmado pelas televisoras locais e os manifestantes apresentaram provas com vídeos e fotos, de acordo com informe de Gustavo Martines.


E para encerrar este primeiro boletim, antes do encerramento e apurações, acaba de ser divulgado pela CNN que o General Raúl Baduel sofreu um atentado quando dava entrevista no local em que acabara de votar, na cidade de Maracay. Um carro em alta velocidade passou atirando nele que, até onde se sabe, não foi atingido. Aguarda-se sua chegada a Caracas onde dará maiores explicações. Quer dizer, quem teria interesse em eliminar Baduel, a oposição ou Chávez e seus partidários? Não é necessário ser um gênio para saber “quem” anda muito incomodado com a virada de 180° que este general deu, passando a defender publicamente o voto pelo NÃO.


Bem, estas são as primeiras informações de hoje. Há pouco foi divulgado pela CNN que “está proibido TODO TIPO DE MANIFESTAÇÃO DE RUA”, sacramentando, mais uma vez, o excesso de democracia na Venezuela. Logo mais, quando o CNE anunciar o resultado final, faremos outra edição com mais detalhes. Fiquem com Deus e na torcida para que tudo ocorra em paz na Venezuela, embora eu não creia nisso. Este atentado a Baduel é um exemplo disto, infelizmente.


Comentários: G. Salgueiro


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