domingo, 20 de outubro de 2002

MEMÓRIAS, SONHOS, REFLEXÕES



Hoje eu resolvi escrever alguma coisa de minha, tomando emprestado do Mestre Jung esse título, que está muito longe de se assemelhar a uma de suas mais belas e brilhantes obras. Entretanto, presta-se muito bem ao que quero comentar.



Há dois dias venho recebendo de minhas fontes no exterior (latino-americano) uma carga de informações, todas muito graves, dando conta da preocupação desses correspondentes com a situação pela qual o Brasil passa, na iminência de eleger um governante que, malgrado toda a maquiagem, mudança repentina e oportunística de discurso e aparência indumentária, não nega porque não pode, por mais que tente, suas raízes comunistas, seu discurso autoritário, sua prática nefasta.



Quem me fala dos seus medos, mesmo não vivendo aqui, fala por ter sentido na carne o que é estar sob o jugo de um tirano, sob um regime que não deu certo em lugar nenhum do mundo onde foi implantado e onde a vida humana é tratada como reles objeto sem valor, propriedade do Estado, como tudo o mais que nele exista.



Então, me veio à memória a era do Plano Cruzado. Qualquer pessoa com mais de 30 anos poderá lembrar-se do que passamos, todos nós, no racionamento e nas imensas filas para comprar uma simples lata de leite. Lembro-me bem que naqueles tempos meu filho era pequeno e tomava muito leite, como é normal à alimentação de qualquer criança, e do sacrifício que eu tinha que fazer para adquirir apenas uma lata, tendo que chegar na fila às 5 horas da manhã para não perder o horário do trabalho. Nessa época tudo sumiu misteriosamente das prateleiras dos supermercados e quando encontrávamos o que comprar, eram filas enormes de produtos de uma só marca, geralmente ordinária ou de qualidade inferior ao que costumávamos comprar ou de fabricante desconhecido.



Quem não lembra dos “fiscais do Sarney”? Eram verdadeiros batalhões de donas-de-casa com tabelas e calculadoras nas mãos, a anotar e comparar preços, estampados em seus rostos um prazer quase sádico na delação, quando flagravam e apresentavam diante das câmeras de tv, humilhados gerentes de lojas e estabelecimentos comerciais “infringidores da lei”. Os preços eram tabelados pelo governo e quem descumprisse essa regra era exemplarmente punido, alguns até com prisão.



Tenho lido nos jornais que grande parte do empresariado depositou seu apoio ao candidato do PT, o partido que nega hoje, mas já afirmou em muitas ocasiões querer implantar no Brasil, o regime adotado em Cuba, ou seja, o castro-comunismo, inimigo da iniciativa privada e das liberdades individuais. Outras notícias me dão conta de que uma delegação de 23 empresários brasileiros estarão indo à Cuba, em princípios de novembro, firmar acordos comerciais com o ditador assassino da ilha-cácere. Essas pessoas parecem não ter memória, ou não têm noção precisa do que representam esses dois atos: o apoio à candidatura e o acordo comercial. O que vivemos na era do Plano Cruzado foi um modelo simplificado do socialismo, onde esses próprios empresários foram impedidos de praticar seus preços, estimulando a livre concorrência, onde o Estado regulava tudo, onde se criou a cultura da delação como virtude, onde o racionamento beirava o caos e onde a moeda nacional quase nada valia, tamanha era sua disparidade em relação ao dólar.



Em Cuba tudo é assim... Um dólar vale 28 pesos cubanos e só uma minoria privilegiada tem acesso a ele; a libreta de racionamento determina e quê e o quanto você pode comprar; há um fiscal em cada quarteirão (os CDR - Comitês de Defesa da Revolução, verdadeiros cães de caça) esquadrinhando toda a sua vida para, com o mesmo gozo daquelas donas-de-casa delatar o infrator. Será que alguém guarda boa lembrança daqueles tempos? Será que esses mesmos empresários que hoje escancaram os dentes para um ventríloco farsante, não lembram dos tempos dificeis que atravessaram com essa amostra grátis do modelo socialista? Será que é isso mesmo que pretendem ver implantado numa terra onde temos liberdade de expressar o pensamento, de ir e vir, de comprar o que queremos, de falar com quem quisermos? Eu nem chamo a atenção para exemplos da História Universal com seus monstros psicopatas como Lênin, Trotski, Mao, Pol Pot, Fidel ou mesmo Hitler, porque nem todas as pessoas a conhecem ou por elas serem apenas uma “idéia” não vivenciada do que são realmente, mas trago à lembrança uma vivência nossa, uma experiência ínfima mas que retrata uma realidade desagradável e que ninguém, em sã consciência, pode dizer que foi boa ou desejar tê-la de volta.



Continuando por esse exercício de giro mental, chego mais perto no tempo e leio as últimas notícias dos acontecimentos dramáticos que estão ocorrendo na vizinha Colômbia. Os narco-guerrilheiros das FARC, maior e mais antigo movimento guerrilheiro daquele país, vêm há três dias provocando o mais violento massacre na cidade de Medellín, desafiando a Polícia e as Forças Armadas, acuando pessoas mantendo-as prisioneiras em suas próprias casas, fazendo dezenas de vítimas. Volto ao candidato do PT e suas alianças com esse tipo de organização criminosa. O horizonte é sombrio e como tantas outras pessoas que não se deixaram contaminar pela falsa propaganda de “Lulinha paz e amor”, sinto medo, não por mim individualmente, mas por todos nós, pelo qua vai acontecer ao meu país. O que esse partido fez, nas cidades e estados onde teve oportunidade de dirigir, foi uma destruição sem termos de comparação. O melhor exemplo é o Rio Grande do Sul, hoje devastado, anárquico, doente e mendicante. A Venezuela está aí mostrando seu exemplo claro da insatisfação popular, com um governo que agiu do mesmo modo que vem agindo o candidato petista em sua campanha.



Na década de 80 a esquerda marxista venezuelana encabeçada por Douglas Bravo e alguns militares, tenta derrubar o governo através de um golpe, que no entanto fracassou. Nessa ocasião, Hugo Chávez Frias, então perencente à juventude comunista, ingressa nas Forças Armadas e prepara-se para dar continuidade a este plano. Em 92, já na patente de Ten. Cel. e com muitos homens sob o seu comando, Hugo Chávez tenta dar o golpe e, fracassando mais uma vez, é preso. Quando é libertado, começa a particpar do Foro de São Paulo, aquele mesmo criado por Fidel Castro e o Sr. Lula da Silva e desde então, começa a ser delineado o projeto de reconstrução na América Latina o que se perdeu na Europa Oriental, conforme palavras do próprio Fidel.



Em 98, diante do descontentamento geral da população com o governo vigente, Hugo Chávez, tal e qual o candidato petista brasileiro, num discurso populista e messiânico alcança a vitória nas urnas, de forma legítima e democrática. Hoje a população percebe o erro cometido e pede a renúncia do seu mandatário que, debochadamente e com o apoio do seu “padrinho” Fidel Castro, zomba do sofrimento do seu povo e nega-se a dar-lhes ouvidos. Sua resposta é a truculência nas atitudes e declarações, mas mais do que isso, ele não cede porque tem um compromisso firmado desde o Foro de São Paulo.



Prepara-se para amanhã uma greve geral nacional, cuja expectativa é de terror, não essa palavra tão desgastada e mal empregada pelas esquerdas nossas de cada dia, mas pressupõe-se que vá haver muita violência porque as Milícias Bolivarianas estão preparadas e já vêm ameaçando comerciantes com depredação de seus estabelecimentos, caso esses adiram à greve.



Diante disso tudo fica a minha reflexão: é isso que queremos para o nosso país? É isso que desejamos para o futuro dos nossos filhos, amigos e compatriotas? Até quando a população vai permanecer nesse sono letárgico, entregando-se docilmente às mãos dos seus próprios carrascos? Só o tempo dirá, mas haverá muito choro e ranger de dentes...



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