O Notalatina de hoje está, ao mesmo tempo, comovente e revoltante. Em duas notas distintas, uma de Cuba e outra da Venezuela, as histórias de homens perseguidos pela sanha criminosa e patológica de dois ditadores que se admiram, se apoiam e se completam mutuamente: Fidel Castro e Hugo Chávez.
No primeiro caso, condenações injustas e inumanas em alguém cujo “delito” foi ter a ousadia de acreditar que é um ser livre e não escravo de um tirano que se julga dono de toda uma ilha, com tudo o que nela há. Não há, em Cuba, uma só família onde não haja algum membro que não tenha historia de detenção em um dos 200 cárceres da Ilha. Será que isto não é, por si só, um fato alarmante e completamente anormal?
O segundo caso é uma dolorosa resenha feita pelo corajoso jornalista cubano-venezuelano Robert Alonso que deveria servir de alerta para todos nós brasileiros (embora haja muita gente imbecil que ache minha preocupação com esses países despropositada e ridícula – para dizer o mínimo do que me rotulam), considerando o posicionamento francamente comunista de ambos os governos – do Brasil e da Venezuela.
O que este delinqüente abjeto do Chávez fez com a família Alonso, e fará ainda com muitas outras, é uma cópia fiel do que ocorreu em Cuba há 45 anos. A cubanização castro-comunista da Venezuela já é fato consumado; resta saber quanto tempo falta ao Brasil para implantar, de direito (porque de fato muita coisa já vem ocorrendo) um regime similar.
As mensagens de hoje servem como um alerta e uma profunda reflexão sobre o que poderá nos advir num futuro próximo. Que Deus tenha piedade de nós!
A ira contra preso político não cessa
Por Pablo Rodríguez Carvajal
20 de maio de 2004 – É um grande prazer telefonar a algum familiar de um reso político, ou a algum dos tantos opositores que vivem sob a constante perseguição e na conversação amena, fazer-lhe rir com qualquer disparate que te venha à mente. Porém, este não é sempre o caso. Há vezes em que é tanta a dor, tanta a amargura, que ao encerrar a comunicação ficas como quem concluiu uma longa jornada de trabalho forçado.
E quando se trata da família de um amigo, alguém com quem tiveste relações de trabalho, com quem chegaste a sentir irmandade, torna-se muito mais difícil ainda. Este é o caso de Miguel Sigler Amaya, prisioneiro político e de consciência que encontra-se na prisão de Agüica, província de Matanzas, cumprindo duas condenações que somam 26 meses.
Miguelito, como tantos outros, foi detido em 18 de março de 2003, no que chegou a chamar-se a primavera negra de Cuba. Dias depois da detenção, recebe do tribunal de Jovellanos uma condenação de 6 meses, seguida por outra do Tribunal Popular Municipal de Pedro Betancourt, ambos na província de Matanzas, de 20 meses de privação da liberdade. Porém, a fúria não pára aí. Fica pendendo sobre ele, como a espada de Dâmocles, uma petição fiscal de 15 a 25 anos mais de prisão, o que seria um terceiro julgamento.
Tal terceira sanção é o que seus carcereiros têm tratado de utilizar para dobrar seus joelhos e fazer com se submeta ao jogo que eles pretendem. Há que perdoá-los: eles não conhecem Miguel Sigler Amaya!
A frustração de não poder dobrar seu espírito, levou o “reeducador” a recorrer aos golpes. Tampouco sabe o pobre senhor, representante da força, que golpes Miguel já recebeu muitos, sem que tenham conseguido amedrontá-lo nem por um instante sequer.
Refere Josefa López Peña, esposa do opositor, que na visita do dia 4 de maio, ainda se notava o golpe que Miguel levara na cabeça, produto de uma porretada que recebera em 22 de março, a menos de 72 horas da infame declaração que fizera o chanceler do Regime, Felipe Pérez Roque, onde assegurou que “nenhum preso era maltratado nos cárceres cubanos”. Miguel está padecendo de fortes dores de cabeça, segundo Josefa.
A pena dos Sigler Amaya não vem em doses pequenas. Também no mesmo dia 18 de março, são detidos Ariel e Guido, seus irmãos, e condenados em abril, em julgamentos sumaríssimos, a 25 e 20 anos de prisão respectivamente.
Hoje Gloria Amaya, uma anciã que já passa das 70 primaveras, sofre ao ter três filhos na prisão, em três províncias distintas: Guido encontra-se recluso no Combinado del Este, em Havana; Ariel, na prisão de Canaleta, em Ciego de Ávila e Miguel, enquanto espera pelo terceiro julgamento, cumpre suas duas injustas
condenações na prisão de Agüica, em Matanzas.
A todas estas condenações não dão a Josefa López Peña uma data para o julgamento, mas a instruem que telefone semanalmente para que possam avisá-la. Uma forma a mais de castigo aos familiares.
Fonte: http://www.payolibre.com/presos.htm
FAZENDA DAKTARI
Robert Alonso autoriza a publicação deste artigo em qualquer meio de comunicação social que queira fazer eco com ele.
Ontem à noite, do meu refúgio na clandestinidade e através da telinha da GLOBOVISIÓN, vi como saqueavam nossa fazenda, DAKTARI. A primeira coisa que me perguntei foi porque demoraram tanto a fazê-lo. Devo confessar que às vezes me equivoco, pois pensei que o fariam muito, muitíssimo antes.
Verão vocês que as revoluções, por mais “bonitas” que sejam, trazem à luz o mais perverso que se encontra dentro de cada um de nós... embora haja quem seja mais perverso que outros, claro. Não é a primeira vez que vejo como saqueiam uma propriedade de minha família e espero - com a ajuda do bravo povo venezuelano - que seja a última; nem tanto por mim, senão pelo que significam estes atos impunes de vandalismo coletivo, amparados pela vista gorda e, inclusive, apoiado pelas autoridades (“revolucionárias”) da “lei e da ordem”.
Na Cuba de Fidel, que deixamos atrás há mais de quatro décadas, nossa casa –“Korea” - foi saqueada por nosso jardineiro, um pobre homem a quem meus pais haviam ajudado a curar-se de tuberculose, custeando a hospitalização no prestigioso hospital (capitalista-imperialista) de Tope de Collantes. Estando nós ainda em Havana, esperando o turno para subirmos no navio espanhol “Marqués de Comillas” que nos traria às terras da liberdade na Venezuela, nos chegou a notícia de que Mateo, o jardineiro, havia entrado em “Korea” por um dos buracos onde fazia tempo havia um aparelho de ar condicionado e se deu à mui revolucionária tarefa de saquear nosso lar, como costumavam fazer aqueles “soberanos” (a plebe) de Cuba em cada casa do vizinho que se ia para o exílio em total derrota espiritual.
Com profundo mal-estar, já recebi demasiadas cartas solidárias, carregadas de lamento e tristeza, quando o que deveriam refletir estas notas de condolências é uma tremenda raiva ante o evidente desmoronamento final de nossa sociedade, provocada pelo ódio e rancor que este desajustado social tem provocado no coração mesmo de nosso povo.
DAKTARI, no plano material, era tudo o que minha família tinha. Quero compartilhar com vocês do portal privado do que um dia foi nosso lar, cujo endereço é o seguinte: http://www.geocities.com/daktari_alonso/. Aí verão seu começo e crescimento. Grande parte das estruturas foram construídas por nossas próprias mãos e muitos dos vizinhos que ontem a saquearam, foram contratados na ainda inconclusa obra que durou vários anos. Se passearem pelas fotos verão como foi crescendo, mudando de cor e enchendo-se de jardins e flores. Aí nasceram dois de nossos filhos e cresceram outros dois. Houve uma época na qual cada noite se abria um lírio de água, ou nascia um potro. Jamais vi um amanhecer ou um pôr de sol mais espetacular que os que se viam desde suas varandas.
Tudo o que conseguimos reunir o investimos em DAKTARI. Essa fazenda foi testemunha de muita alegria e tristeza. Aí morreu nosso bebê, Verónica... e está plantada uma chiflera gigante que trouxe de Cuba – acomodada em uma bolsa com terra cubana – minha já falecida avó; em
sua honra lhe chamávamos “Carmelina”.
O jovem que a GLOBOVISÓN entrevistou enquanto saqueava nossa propriedade e alegava estar muito aborrecido comigo por haver perdido – por causa do “parashow” – duas semanas de aulas, é irmão de “Panchito”, um menino a quem sua família me levou à DAKTARI uma madrugada, “picado” por uma mapanare (cobra venenosa de listas amarela e preta), em quem injetei soro polivalente e levei ao hospital de carro, para evitar que morresse sangrando, em meio a horripilantes dores. Me perguntou se José Urdaneta e Miguelito (meus vizinhos ex-capitalistas – ex-adeco, o primeiro – convertidos em “soberanos” dirigentes do “Círculo Bolivariano” que funciona a escassos metros da entrada da fazenda) levaram algo de minhas lembranças para suas casas... e se Milagros Nieto participou do festim.
Porém, as coisas materiais não contam. Me dói muitíssimo mais haver perdido as velhas e malogradas fotos e películas em branco e preto que com tanto esforço conseguimos tirar em Cuba, onde – entre outras coisas – aparece minha irmã Maria Conchita dando seus primeiros passos em “Korea”, quando aprendia a caminhar. Me pergunto, também, quanto tempo durarão meus guardados na casa do “soberano”. Estou seguro que nenhum deles saberá dar o sagrado valor sentimental que têm para minha família aquelas cartas que escrevi quando criança, do meu internato na Loyola Military Academy, relatando os acontecimentos da “Noite das Cem Bombas”, em Havana... ou quanto sentia saudades de minha casa em Cienfuegos, de meus amigos e irmãos que se encontravam, então, muito longe de mim. Talvez “o soberano” não entenda dessas coisas tão simples e edificantes o dinheiro que eles tanto asseguram desprezar, jamais poderá repor.
Por outro lado, todavia, me orgulha muito que o povo da Venezuela possa ver os logros – refletidos na Fazenda Daktari - de um rapaz que chegou com sua família e 50 dólares escondidos no entre-forro da bolsa de sua mãe e que graças a seu esforço, e a liberdade que encontrou nesta terra, conseguiu construir uma residência, ainda quando esta – do mesmo modo que o resto do país – tenha terminado nas mãos de uns desalmados e apátridas depredadores, atrozes promotores da destruição desta nação, Venezuela, à qual devo tudo e ainda mais.
Não chorem pela sorte de DAKTARI nem pelas desventuras que hoje tocou viver à família Alonso. Ponham, muito mais, suas barbas de molho e olhem-se em meu espelho. Se não fizermos algo - E JÁ - vossas residências terminarão da mesma maneira e – além de perder a dignidade – poderão perder o mais precioso que o ser humano tem: a terra que nos viu nascer!
Da clandestinidade, em 20 de maio de 2004
Fonte: www.VenezuelaNet.org
Tradução: Graça Salgueiro
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