Ontem eu divulguei aqui uma declaração maliciosa e infeliz do emissário do presidente Lula à Venezuela, sr. Marco Aurélio Garcia, e não quis tecer nenhum comentário a respeito, pois queria ver a reação da comunidade jornalística venezuelana, diante da afronta da qual fora vítima. Hoje a trago, pela pena do economista e escritor Francisco Alarcón, um lúcido libertário venzuelano que coloca as coisas nos seus devidos lugares. Tivesse o sr. Garcia um pouco que fosse de senso de proporções, faria uma retratação pública. Mas isso já é exigir demais de um petista...
Ainda nessa edição o Notalatina traz mais um artigo sobre a situação venezuelana, indispensável para o leitor brasileiro que queira saber o que de fato está acontecendo bem aqui do nosso lado, uma análise crua e fria de quem está vivendo esse drama na carne, diariamente, sob o domínio do medo mas com muita garra e patriotismo.
PRIMEIRO ERRO DE LULA
Francisco Alarcón
Não sabemos na realidade se o erro coresponde a Lula ou ao seu enviado à Venezuela, o cidadão Aurélio Garcia, que manifestou-se sobre nosso acontecer irresponsavelmente, e em sendo esta apreciação compartilhada, comprometeria o futuro político de Lula. A solidariedade não se dá adiante nem muito menos servilmente. O problema venezuelano deixou de ser enigmático para o resto do mundo, quando existe um Presidente eleito democraticamente, porém que perdeu sua ligitimidade, sua popularidade, por gravíssimos erros que supomos que para qualquer espectador, ao revisar o sistema de Contas Nacionais da ONU, dar-se-á conta de como dilapidou U$ 100.000.000. Lucros enormes obtidos pelo governo chavista e os quais não redundaram em minorar nada em quatro anos, nenhum encargo social; emprego, saúde, obras públicas, nem um político colocado como vestígio de uma gestão decente, contribuindo à maior corrupção em nossa história republicana. A pobreza na Venezuela que já vinha com governos anteriores, floresceu desproporcionalmente com a ascenção de Chávez ao Poder, indivíduo inepto e incapaz de conduzir um governo. Seus quatro anos são uma triste realidade para os venezuelanos, deslegitimado e desprezado pelo povo por seu pertinaz discurso dissociador, grosseiro e ofensivo dirigido a todos, e causador da divisão atual da nação, nunca antes vista nas memórias do século XX, talvez com antecendentes na Venezuela ignara e agreste do século XIX.
Algo insólito e desprezível para o mundo atual, onde as idéias correm de um lugar a outro com a “velocidade da luz” e quando “o populismo e o comunismo” deixaram seus restos com a queda do Muro de Berlim. Este senhor delegado por Lula brindou apoio a priori ao governo ditatorial de Chávez e condenou, também a priori, os meios de comunicação e setores democráticos. Testemunho o que apareceu no Globo News.
É lamentável que a intenção de Lula, que ao menos foi boa em princípio, tenha sido deformada por seu emissário e, desejamos que a comunidade Brasileira não tenha uma versão falseada do contexto Venezuelano através do Sr. Garcia. Por isso, é oportuno um esclarecimento antes de concretizar-se um pronunciamento, que por desconhecimento ou omissão excessiva, serviria de reforço a um governo autoritário e deslegitimado, o qual teme confrontar-se em eleições democráticas com a máxima brevidade possível, tratando de enganar os incautos no âmbito internacional, e que dentro de muito pouco será recordado na América Latina como um acontecer infausto.
Vêde-o ali, amigo Lula, o povo da Venezuela lutando palmo a palmo para recobrar sua liberdade; é uma exortação sincera de um venezuelano.
Francisco Alarcón – Economista-escritor
TUPAMAROS E CARAPAICAS NÃO EXIBIRAM SEU PODER DE FOGO
Rubén Flores Martínez
Uma preocupação me embarga cada vez que assisto às concentrações públicas convocadas pela Coordenadora Democrática e a sociedade civil. Advito que já perdi a conta das marchas, manifestações, trancaços, caçarolaços e ações cívicas nas quais tenho participado com minha família e amigos. Em cada uma delas, o que nos move é o mesmo: a defesa de nossas instituições públicas (sequestradas por este governo) e a renúncia de Hugo Chávez.
Se bem que a parada cívico-nacional encontre-se em sua fase mais conflitiva e decisória, também é certo que apesar das reiteradas violações do estado de direito por parte do Executivo Nacional, os enfrentamentos entre venezuelanos não têm acontecido a maior. E alí tenho minha preocupação e meu instinto jornalístico, o que me leva a pensar que algo raro se está conhecendo do outro lado.
Onde está Lina Ron e sua gente? Que têm feito os grupos violentos que ocupam a esquina quente da Praça Bolívar? Por que não têm atuado os grupos armados da 23 de Janeiro e da La Veja, onde é público e notório que possuem armas subtraídas do Forte Tiuna e da Polícia Metropolitana, para usá-las contra nós? Pois nada, estão esperando o momento propício para atuar.
Um intinerário efetuado, dias atrás, pelas Urbanizações 23 de Janeiro, Propatria, Los Frailes de Catia, Monte Piedad e a Av. Sucre (justo no preciso momento quando se iniciava em Caracas o ruído estrondoso das caçarolas), confirmam minha apreciação de que algo raro se está montando contra nós. Tratode prevenir.
Embora soe duro dizer, é mentira que no Oeste se escutam as caçarolas na medida em que o otimismo democrático quer crer. Em meu intinerário por essas urbanizações quase não as escutei. Observei pouca gente nas sacadas, nas varandas ou embaixo dos edifícios soando as caçarolas ou gritando contra o regime.
Ali se respira a desilusão do regime e a ausência de alguém em quem encarnar a esperança. O que vi e me encheu de assombro, foi a presença de grupos de três até cinco pessoas, paradas em quase todas as esquinas, com grossas jaquetas e gorros (tipo capuz onde só os olhos aparecem),olhando de maneira fixa e desafiante para as sacadas dos edificios e prédios da 23 de Janeiro e Propatria; dispostos a acionar suas armas de fogo (presumo que estavam armados) se alguém ousasse levantar sua voz de protesto contra o regime. Em Cuba, chamam a estes homens Comissários Políticos ou membros do CDR (Comitês de Defesa da Revolução). Há que levar-se em conta que o Oeste está tomado.
Na Av. Sucre de Catia, justo em frente do Parque do Oeste, caíram três venezuelanos feridos por desafiar as regras da “revolução bonita”. Na Campiña, nos salvamos (por milagre) de cair na armadilha preparada por Bernal, Rodríguez Chacín, Barreto e João De Gouveia, que paciente e criminosamente haviam preparado uma emboscada para massacrar-nos, justo em frente da PDVSA. Na Av. Panteón de San Bernardino, também nos esperavam os carniceiros do regime, que igual ao dia 11 de abril, desejam silenciar nossos apitos, desejam que novamente desapareçam de nossos rostos o sorriso que tanto nos custou recuperar depois desses dias azarados que viveu a república, quando um grupo majoritário de venezuelanos marchamos até o Palácio do Governo para solicitar sua renúncia e fomos massacrados. São os mesmos assassinos que ontem impediram que a cidadania mobilizada chegasse de maneira pacífica e ordenada até a Praça “Das Três Graças” para brindar um justo reconhecimento aos valentes venezuelanos da Marinha Mercante.
São os mesmos bandidos que desejam que a bandeira tricolor que com tanto orgulho exibimos nas marchas contra o regime, não continuem tremulando em nossos corações e que a brisa alegre e descontaminada que dá vida a nossos símbolos pátrios se transforme em uma núvem de pólvora e gases tóxicos. Os mesmos que desejam que nossos caminhos se banhem de sangue e morte. Pois não, nós não vamos permitir. Nem um morto mais vamos dar a essa miserável revolução.
Tudo isto me leva à nefasta conclusão de que os Carapaicas e Tupamaros não instruíram seu poder de fogo e contra essa ameaça latente há que se ter cuidado. Celebro à maneira do futebol de ontem entre venezuelanos que demonstraram que apesar das diferenças que nos separam, ninguém nos pode arrebatar o sentimento de irmandade que sempre existiu entre nós, porém é meu dever compartilhar com vocês estas reflexões que, apesar de pessimistas, não deixam de ser válidas na hora de vestir-nos de alegria e tomar as ruas.
Temo que cedo ou tarde vão acionar suas armas de fogo e estou convencido disto, entre outras coisas, porque tanto a FAN, como esses grupos paramilitares denominados “Carapaicas” e “Tupamaros”, têm entre suas fileiras elementos da guerrilha colombiana e milhares de milicianos cubanos, treinados precisamente para cumprir missões especiais como a de reprimir massas ou a de atuar como franco-atiradores. Para eles, a Megamarcha de hoje é sua prova de fogo. Por Deus, vamos com cuidado!
Fonte: www.elgusanodeluz.com
Uma notícia me acaba de chegar, dando conta de que cubanos estão operando os navios petroleiros venezuelanos. Ontem recebi, também, a informação de que Chávez teria pedido ajuda ao presidente FHC, para que enviasse técnicos da Petrobras para realizar a extração do petróleo e depois enviar-lhe os derivados. Chávez também falou com o emissário enviado pelo futuro presidente Lula, o sr. Marco Aurélio Garcia, mas não quis revelar o teor das conversações alegando, apenas, que “foram muito boas para o povo venezuelano”. Pelas declarações desastrosas e irresponsáveis desse senhor, a respeito da imprensa venezuelana, e pelo comportamento inconsequente e despótico do delinquente Chávez, dá para se ter uma idéia dos “planos” que articularam. Abaixo, a nota completa sobre os petroleiros da PDVSA.
ORTEGA: CUBANOS MANEJAM NAVIO DA PDV MARINHA
Caracas – Após anunciar pelo vigésimo primeiro dia consecutivo a extensão da parada cívica, o presidente da Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV), Carlos Ortega, rechaçou a mobilização que o governo efetuou no Navio Petroleiro Pilín León supostamente com tripulação cubana.Ortega repudiou o fato de que a ''marinha cubana esteja capitaneando as unidades da frota petroleira venezuelana''. ''Isso demonstra e ratifica frente ao país o que temos denunciado sobre a intervenção direta do governo cubano nos assuntos internos da Venezuela e que nós não vamos permitir sob nenhuma hipótese'', assinalou, enquanto nas telas de televisão observava-se o petroleiro navegando nas águas do Lago de Maracaibo.
Assegurou que esta ''invasão'' de pessoal cubano se extende também à Força Armada Nacional, onde pessoas dessa nacionalidade desempenhariam funções como assessores de altos oficiais.
''Tiraste a careta, derrubaste a máscara; o desespero e a responsabilidade com que este nobre povo tem atuado, te desmascarou; já não podes ocultar ao mundo tua condição de ditador da República Bolivariana da Venezuela'', assinalou.
Depois destas denúncias, Ortega juntamente com o presidente da Fedecâmaras tiveram que sair rapidamente do salão, escoltados por guarda-costas, onde ofereciam uma coletiva à imprensa, após dissipar-se o rumor de uma possível detenção devido à presença de uma patrulha da Disip na entrada do Hotel Eurobuilding.
Para amanhã, domingo, a principal atividade da oposição será procurar os templos para ''orar pela Venezuela''.
Ortega admitiu que as ''estratégias da oposição mudaram radicalmente'' dada as últimas ações do Executivo Nacional. Assinalou que ainda não se considerou a provável marcha até Miraflores.
A OEA está vacilando
Um comunicado emitido hoje pela oposição, deu conta do rechaço produzido pela desasistência da delegação do governo à Mesa de Negociação tutelada pelo Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, César Gaviria.
''Isto se chama irresponsabilidade, vacilo'', assinalou, após qualificar como uma ''falta de respeito'' ao trabalho de Gaviria, sobre a decisão dos oficialistas de não trabalharem nessa instância até a próxima segunda-feira.
Fonte: La Voz de Cuba Libre – www.lavozdecubalibre.com