O Notalatina traz mais informações sobre a dramática situação da Venezuela, hoje um pouco mais longo do que o normal, considerando o volume de notícias que me chegam dos correspondentes daquele país vizinho. Curiosamente, os canais de televisão e jornais brasileiros nada informam, parecendo não dar-se conta da gravidade do que ocorre com nossos irmãos aqui do lado. O governo venezuelano já deu ordens às Forças Armadas para que sejam retirados os sinais das emissoras de rádio e televisão que não retransmitirem notícias favoráveis a Chávez. Há um projeto meticulosamente elaborado para este fim e já deve estar sendo posto em prática nos próximos dias. Não sei se a imprensa brasileira sabe disso e acautela-se, ou se é mesmo por descaso e conivência com o presidente daquele país, que tem feito um silêncio tão eloquente em torno do assunto.
É nítido o desespero de Chávez porque sabe que perdeu mas não quer render-se aos fatos. Apoia-se no seu mentor Fidel Castro que, por sua vez, estimula e orienta seu pupilo a manter acesa a chama do ódio e da violência. Fidel não quer ver Chávez fora do poder, porque depende do petróleo venezuelano que recebe em troca do treinamento e adestramento das “milícias bolivarianas”.
Enquanto isso, o presidente eleito, Sr. da Silva, enviou ontem um emissário de seu futuro governo à Venezuela, mesmo antes de ser empossado, com a intenção de inteirar-se da situação e “colaborar” nas negociações para resolver o conflito. O enviado foi Marco Aurélio Garcia, assessor da presidência para Assuntos Internacionais. Em declarações ao jornal La Nacion de Caracas, Garcia foi diplomático com relação ao governo de FHC, afirmando apenas que “Pode haver uma mudança de estilo, embora saibamos que as relações de Chávez com Cardoso são boas. Porém não é o momento de fazer críticas à forma com que a diplomacia deste governo tratou a Venezuela, inclusive porque não teríamos nada importante para criticar.” Disse ainda que o presidente Lula tomou a decisão após uma conversa por telefone com Chávez, de quem é amigo e que, independente disso, ”Tem que haver respeito por um governo constitucional eleito, e vamos oferecer tudo o que o presidente Chávez julgar que for necessário”. Vale lembrar aqui que tanto o presidente Chávez, quanto o presidente Lula são membros participantes do Foro de São Paulo. Ficou, entretanto uma dúvida, e vou aguardar a opinião dos jornalistas e amigos correspondentes venezuelanos, acerca de uma declaração muito estranha do emissário brasileiro, sobre a situação da imprensa daquele país, quando ele declara: ”Nós não estamos aderindo a uma pessoa mas a um governo constitucional. Sei que pode haver excessos populares. Porém o comportamento da imprensa venezuelana... Dizem que a imprensa venezuelana transformou-se num partido político”. Não precisa de muito esforço mental para entender aonde ele quis chegar, mas, ainda assim vou aguardar o parecer dos venezuelanos.
Hoje além dos informativos, há um artigo muito interessante de Alfredo Anzola Méndez que vale a pena ser lido.
A GREVE CONTRA CHÁVEZ COMPLETOU 17 DIAS
A oposição voltou a paralizar Caracas
Pela segunda vez em uma semana, houve bloqueio à passagem das principais autopistas e ruas da cidade; houve incidentes isolados.
O Governo advertiu que não permitirá que as marchas cheguem até a sede presidencial.
CARACAS – Pela segunda vez em menos de uma semana a oposição bloqueou ontem as autopistas e avenidas da capital venezuelana para pressionar a renúncia do presidente Hugo Chávez, enquanto a greve que paraliza a vital indústria petroleira entrou em sua décima sétima jornada; vários países europeus exortaram seus cidadãos a não viajarem para a Venezuela.
Desde às 6 da manhã e até o meio-dia de ontem, milhares de adversários de Chávez colocaram veículos, peneumáticos encendiados e pedras nas autopistas, tal como sucedeu há três dias com o primeiro “trancaço”.
Em vários pontos da cidade houve princípio de enfrentamentos entre opositores do mandatário e seus seguidores, que tentavam retomar as vias de acesso para brí-las, enquanto em duas avenidas próximas ao centro de Caracas os manifestantes foram dispersados por policiais com bombas lacrimogênias e balas de borracha.
Não obstante, na autopista Francisco Fajardo, a principal de Caracas, os grupos enfrentados encontraram uma maneira de resolver seu conflito: armaram uma barra de futebol que serviu para aliviar a tensão reinante que ameaçava com um desenlace violento.
O Ministro do Interior, Diosdado Cabello, criticou o “trancaço” alegando que violentava direitos civis como o da livre circulação, e advertiu que o governo se reserva o poder de atuar para preservar a calma nas proximas horas.
”Grande tomada” da capital
A oposição já anunciou uma “grande tomada de Caracas" para estes dias, e não descarta incluir uma marcha que chegue até o palácio presidencial de Miraflores.
Neste sentido, Cabello sentenciou que impedirá qualquer tentativa de desviar as marchas opositoras até a sede governamental, como ocorreu terça-feira.
”O palácio é uma área de segurança, em nenhum lugar do mundo se aceita que uma marcha opositora chegue ao palácio do governo”, declarou o ministro, um dos homens fortes do governo e próximo a Chávez.
No entanto, as chancelarias da Grã Bretanha, Alemanha e Hungria emitiram ontem vários comunicados em que aconselham aos cidadãos de seus respectivos países que não viagem à Venezuela. “Não temos notícias de ameaças específicas, porém a atmosfera política em Caracas e em outras cidades é muito tensa”, lê-se em um comunicado da chacelaria britânica.
A chancelaria de Relações Exteriores da Grã Bretanha geralmente não emite esses alertas, porém, foi muito criticada quando não advertiu seus cidadãos sobre o perigo de visitar Bali, na Indonésia, antes dos devastadores atentados de outubro, em que pese possuir informação da inteligência sobre possíveis ataques.
Por seu turno, o Ministério do Exterior alemão recomendou a seus cidadãos que não viagem à Venezuela “a menos que seja estritamente necessário”, enquanto que o ministério húngaro precisou: “Os que não possam adiar sua viagem à Venezuela, devem contactar imediatamente nosso consulado em Carcas”.
O governo venezuelano admitiu ontem a queda “em um terço” de seus níveis de produção petroleira, enquanto faz tentativas desesperadas para reativar a indústria com pessoal não qualificado e toma medidas para o racionamento de nafta nas transbordadas estações de serviço do país. “Conseguiram abater a produção até um terço dos níveis que havíamos alcançado e pretendem paralizar totalmente”, disse o presidente da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), Alí Rodríguez, aludindo aos gerentes petroleiros que se uniram à parada.
Até agora, a greve causou a redução da produção do petróleo bruto de quase 3 milhões de barrís diários a menos de 400.000 barrís, o que ocasiona perdas de 40 milhões de dólares por dia.
Fonte: EFE, AP, AFP e ANSA. Diário “La Nacion”
PERU ADVOGA PELO DIÁLOGO E A CONCILIAÇÃO NA VENEZUELA
O Peru considera que a “única via” para que a Venezuela solucione sua grave crise política “é o diálogo e a conciliação”, disse hoje o ministro peruano de Relações Exteriores, Allan Wagner. Da Argentina, onde conclui uma visita oficial, o chanceler destacou que o Peru liderou junto a outros quatro países “uma iniciativa diplomática no marco” da OEA, para respaldar a democracia venezuelana.
”A única via é o diálogo e a conciliação. Não há outra forma de afiançar a democracia em um país”, afirmou. Wagner disse que o Peru promoveu junto a Argentina, Bolívia, Canadá e Costa Rica a aprovação de uma resolução do Conselho Pemanente da OEA sobre a situação na Venezuela, onde a oposição reclama do presidente Hugo Chávez e a convocatória a eleições.
O objetivo “é fortalecer a mesa de diálogo que preside” o secretário geral da OEA, César Gaviria, que encontra-se em Caracas, “para alcançar uma solução pacífica, democrática, constitucional e eleitoral à crise venezuelana”.
”As fórmulas concretas de solução têm que ser analisadas pelos próprios venezuelanos. Não corresponde a um país amigo, que respeita a soberania venezuelana, adiantar um juízo sobre qual é a solução que eles devem encontrar”, esclareceu. Wagner assinalou que está certo de que “há um leque de possibilidades que estão considerando e esse é precisamente o trabalho facilitador de Gaviria na mesa de diálogo e conciliação que está em marcha” na Venezuela.
Fonte: El Nacional
DEMASIADO EGOÍSTAS
Parecerá que nós merecemos Chávez. Além disso, por longo tempo mais. É insólito que enquanto tantos venezuelanos da PDVSA, da indústria, das franquias, do comércio e de tantas outras áreas da vida nacional arrisquem suas empresas, seus postos de trabalho e que muitos deles arrisquem o todo pelo todo – já que até a vida vários lhe têm dado – para derrotar este regime fascista, autoritário e autocrático criador de ódios divisores, é incrível que, todavia, venezuelanos privilegiados economicamente, os quais com seus respectivos graus de culpabilidade do que hoje nos passa – no menor dos casos, culpados por omissão –, lhes resvale o sacrifício natalino de tantos outros e assumam para eles esta época como se tudo estivesse normal. Olimpicamente se vão de caracas em férias, muitos de viagem ao exterior somente para desfrutar a liberar-se deste pesadelo em um grotesco e imenso ato de superior egoísmo patriótico e insensibilidade solidária.
O que está se passando na Venezuela não é uma brincadeira. É a crise mais grave que no plano político e libertário se tenha estabelecido nas últimas décadas. É uma crise que está destruindo os alicerces de nossa natureza fraternal e tradição generosa do venezuelano. Nem sequer é uma crise onde o componente ideológico tenha um piso de sustentação compatível com os lineamentos de nossa história. É uma crise onde um presidente quer, por razões autocráticas que justifica com uma salada de idéias e referências históricas torcidas, escravizar-nos a todos. Individualmente a cada um de nós venezuelanos alvejamos com seus epítetos, com suas classificações e desqualificações, com suas ameaças militares e de seus círculos do terror. Além disso, de escravizar também aos poderes institucionais republicanos como o legislativo e o judiciário. Que raios têm, senhor presidente, ordenar o desacato do ditamem de um Juíz ou de um Procurador da República? O senhor já tragou o Defensor Público, o Controlador e o Fiscal. As palavras deste último na segunda-feira, até agora, são só isso: palavras. Queremos fatos Fiscal, e o senhor tem brilhado por não contribuir com nem um só. Porém, tragar-nos a todos os venezuelanos, Presidente, aposto que não vai!
Esta luta é de todos. Dos adultos, das mães e dos pais. Dos profissionais e dos trabalhadores. Porém é sobretudo dos jovens. Dos universitários, porque deles será a Venezuela de amanhã. O exemplo do Embaixador Fernando Gerbasi ao renunciar é bom, algo sacrifica. E o de Marcel Granier na noite de segunda-feira, enfrentando diretamente a Chávez na televisão sem capuz nem disfarces com a realidade de seus feitos e o propósito de seus objetivos, é exemplo de máxima demonstração de inteireza e valor. Exemplo que devem seguir nossos jovens. Lembrem de José Félix Ribas. Averiguem quem era. Como disse um amigo cubano: se em Cuba houvesse venezuelanos, Fidel não estaria mandando. Por isso a Pátria necessita de todos: aqui e agora.
Alfredo Anzola Méndez
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