quarta-feira, 10 de março de 2010

Biblioteca Manuel Marulanda e carta de Cano parabenizando a iniciativa

Antes de começar a discorrer sobre o tema de hoje, quero agradecer, de coração, as inúmeras mensagens de felicitações que recebi, tanto aqui no blog como no Mídia Sem Máscara, no Facebook e em particular. Muito obrigada a todos pelo apoio!

O assunto de hoje, conforme prometi, é sobre as FARC. No programa True Outspeak desta segunda-feira, Olavo explicou um fato que tem ocorrido com freqüência na mídia brasileira que se chama “espiral do silêncio”. Este fato consiste em duas coisas: ocultar-se alguma notícia importantíssima que, ou exalta a direita ou denuncia os crimes da esquerda, ou então, repetir-se seguidas vezes uma desinformação, de preferência em notas destacadas, criando no inconsciente coletivo a idéia de que aquilo é que é a verdade verdadeira.

Há ainda desdobramentos. Muito esporadicamente a mídia informa em notinhas curtas e escondidas, uma informação que deveria ganhar as manchetes, dada sua gravidade. Só no espaço compreendido entre fevereiro deste ano e ontem, duas notícias deste tipo foram veiculadas nestas circunstâncias – notinhas curtas jogadas no meio de outras que ninguém lê – e que serão motivo de um artigo posterior e a edição de hoje. Penso que todos estão lembrados de quando a revista “Cambio”, da Colômbia, publicou um artigo de 4 páginas relatando as ligações das FARC com o governo brasileiro e o PT, em documentos encontrados nos computadores de Raúl Reyes. O que fez toda a mídia brasileira? Blindar o Sr. da Silva, desacreditando e até debochando (como fez a estúpida comunista Eliane Cantanhêde) dos documentos comprobatórios. Muito rapidamente passou-se a tratar de outra coisa, como se aquilo não fosse grave o bastante e motivo para uma investigação séria por parte dos órgãos competentes, como está fazendo a Espanha, que ficou durante todo este tempo analisando as provas que assinalavam os vínculos do ETA, com as FARC e Chávez. Demorou, mas agora é um juiz quem acusa e bem fundamentado.

E o que se tem feito no Brasil a esse respeito? Os órgãos de inteligência, que trabalham para o Governo e não para a Nação, engavetam, põem uma pedra em cima – se é que não destroem as provas – e miraculosamente a coisa deixa de existir. Foi assim que fez o general Jorge Armando Felix, Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no caso da denúncia de que Oliverio Medina, “embaixador” das FARC no Brasil, teria dado 5 milhões de dólares para a campanha presidencial de Lula em 2002. Num país decente, com instituições comprometidas com a Verdade e a Justiça, imprensa isenta e homens que honram as calças e/ou fardas que vestem, isto seria motivo para profundas investigações, denúncias em letras garrafais e apuração até as últimas conseqüências. Mas o resultado todo mundo conhece: “seu” Jorge negou a importância da denúncia e deu o caso por encerrado, a mídia logo mudou de assunto, Lula foi eleito e Oliverio Medina ganhou status de refugiado político e vive hoje às nossas custas, seguindo com seu “trabalho” de “embaixador” das FARC impunemente.

Fiz este retrospecto para dar melhor compreensão do tema que quero abordar. Ontem (9), foi publicado pela Folha de São Paulo, no site do Terra e no portal G1 de O Globo, a informação de que foi inaugurada na Venezuela, no estado Aragua, uma biblioteca que leva o nome de Manuel Marulanda, vulgo “Tirofijo”, comandante geral do Secretariado do Estado-Maior Central das FARC. Não sei como classificar isto, mas apenas um desses grandes jornais faz a matéria (em geral é a Folha), absolutamente seca e fria, e os outros replicam sem mudar uma vírgula! Como eu havia recebido a informação pelo jornal El Tiempo, de Bogotá, resolvi pesquisar para ver se encontrava mais coisas, quando dei de cara com a informação nos jornais brasileiros.

Ocorre que esta biblioteca foi fundada em 9 de outubro de 2009, mas só agora o assunto transpirou. Então, prefiro me ater – como sempre faço – às informações das fontes primárias. A Folha, como sempre muito bem informada, afirma que a biblioteca foi fundada em “uma populosa comunidade do estado venezuelano de Aragua” (se quiserem leiam a matéria aqui, e depois busquem no Google com o mesmo título que vão encontra o mesmo texto nos jornais que citei); entretanto, não é o que afirma o jornal “El Tiempo”, justificando exatamente porque só agora tomou-se conhecimento de um fato ocorrido em outubro do ano passado. Diz “El Tiempo”: Talvez por ser pequena e ficar em um povoado não muito conhecido – Los Valles de Tucutunemo, a umas três horas de Caracas, no estado Aragua – a abertura da biblioteca comunal ‘Manuel Marulanda’ passou por baixo dos panos quando ocorreu na realidade em 9 de outubro de 2009.

E aí entra, novamente, o que citei acima sobre a “espiral do silêncio”; prestem bem atenção. Ainda segundo El Tiempo: “Embora sua criação, promovida pelo Conselho Comunal Los Bagres, que funciona no mencionado povoado, não tenha sido de maior conhecimento midiático, chegou justo a tempo aos ouvidos das FARC, pois seu comandante, Alfonso Cano, enviou em setembro do ano passado uma carta de agradecimento e felicitação pela iniciativa que, segundo suas palavras, ‘contribuirá para estreitar os laços de amizade e solidariedade entre nossos povos irmãos, a divulgar o pensamento, a obra e o exemplo deste herói insurgente (Marulanda) e patriota da América Latina e colocar merecidamente seu nome com letras de ouro no lugar mais alto do pódio da história...”.

Como vocês puderam atestar, a Folha deu a notícia da biblioteca mas OMITIU este dado importantíssimo que prova as alianças de Chávez com as FARC, considerando que este estado é governado por Rafael Isea do PSUV (partido de Chávez, conforme pode-se ver nos cartazes da biblioteca na foto) e que teve total apoio da Biblioteca Nacional, dependente direta do Ministério da Cultura da República Bolivariana da Venezuela, como também pode-se confirmar através do blog dos “Conselhos Comunais Zamoranos”. Neste blog eles agradecem o apoio do Sindicato de Empregados da Biblioteca Nacional e da Associação Nacional Bolivariana de Trabalhadores Bibliotecários (ASONATRABI). Esta associação faz descarada propaganda das FARC e exalta Marulanda e Raúl Reyes como “heróis” e “defensores do povo”.

A carta que Cano escreveu foi endereçada a José Prudencio España, identificado como “representante da missão Calarcá-Aragua”, que precisa ser melhor investigado mas “sugere” ser o elemento de contato entre “Marcos Calarcá”, que atuou como “relações internacionais” no México, e o governador Rafael Isea. Não afirmo por não ter provas; apenas sugiro a possibilidade. Segue então a carta, traduzida, que pode ser lida no original aqui:

“Cidadão

JOSÉ PRUDENCIO ESPAÑA

Representante da Missão Calarcá-Aragua

Venezuela

Estimado compatriota:

Recebemos com imensa satisfação e profundo sentimento de gratidão sua iniciativa de construir na Venezuela uma biblioteca que recolha a obra e o pensamento de nosso comandante Manuel Marulanda Vélez e ademais leve seu nome.

Manuel Marulanda, o herói insurgente da América representa exemplo heróico imperecível de máximo comprometimento, persistência e lealdade com a causa dos oprimidos e deserdados deste continente e do mundo em sua luta para alcançar a libertação nacional, preservar os valores pátrios e enfrentar com altivez e denodo a feroz repressão, a violência, a guerra suja e o genocídio, com que esta oligarquia ultramontana e fascista pretende defender seus odiosos privilégios, submeter o povo e entregar nossa soberania ao império.

Estamos seguros que sua importante iniciativa contribuirá para estreitar os laços de amizade e de solidariedade entre nossos dois povos irmãos, em divulgar o pensamento, a obra e o exemplo deste herói insurgente e patriota da América Latina e a colocar merecidamente seu nome com letras de ouro no lugar mais alto do pódio da história, ao lado dos grandes que lutaram pela liberdade, pela dignidade, pela igualdade e pelo socialismo em nosso continente: Bolívar, San Martín, Martí, Zapata, Sandino e o Che.

Com imensa gratidão e sentimentos de consideração e apreço,

Pelo Estado Maior das FARC-EP.

Alfonso Cano

Montanhas da Colômbia, 18 de setembro de 2009”.

E para confirmar tudo isto que Alfonso Cano diz, segue um vídeo muito educativo e inspirador de boas e caritativas obras. Eu assisti a esse vídeo ontem à noite e o reservei para ilustrar a edição de hoje. Entretanto, quando fui confirmar o link vi que o haviam tirado do ar. Aí entrou em ação o meu “assessor para assuntos tecnológicos”, o querido amigo e salva-vidas Alex, que o resgatou, permitindo que vocês possam deleitar-se com a obra “fariana”. Certamente estas cenas fazem Chávez, Lula, MAG, Celso Amorim e bando, revirar os olhos em perfeito êxtase...

Na próxima edição quero comentar o filme “FARC: Insurgência do século XXI”, que não recomendo a ninguém mas não posso deixar passar batido pela gravidade dos crimes que se cometem até mesmo na telona. Fiquem com Deus e até a próxima!

Traduções e comentários: G. Salgueiro


Um comentário:

  1. Cara Graça:
    Sobre o "oligarquia ultramontana e fascista" usada no papelote das FARC, veja o que achei na Wikipedia no verbete "ultramontanismo":

    Aqueles que, não obstante os descaminhos da política, mantinham-se fiéis à Roma, localizada, em relação à Europa, além dos Alpes, receberam o nome de ultramontanos, pois “professavam fidelidade inquestionável ao pontificado romano, aceitando simultaneamente o projeto de dar às expressões de fé católica características ‘universais’, embora na realidade fossem todas originadas da própria tradição romana.” Desta questão histórica, o ultramontanismo passou a significar uma total subordinação às ordens de Roma para qualquer católico, desconsiderando-se as idiossincrasias políticas e culturais dos países

    Quer dizer que os comunistas desgraçados acusam as malditas elites de fascistas e, como se isto não fosse já muito grave, ainda as acusam de CATÓLICAS!!!!

    Que elites abomináveis, se reunindo aos domingos nas missas para conspirar contra o "outro mundo possível", ao invés de procurar o socialismo na bíblia, como diz ter feito a louca da Heloísa Helena!


    Abraços, e firme na luta.

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