O dia 2 de julho vai ficar marcado na história da Colômbia, depois que o mundo conheceu a espetacular operação denoninada “Jaque” (xeque-mate) que libertou 15 prisioneiros das FARC, dentre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e os três norte-americanos, sem que um só tiro ou qualquer outro tipo de violência física se produzisse. Nesta operação sem precendentes na história, por sua audácia, precisão e extremo profissionalismo, o serviço de Inteligência das Forças Armadas e Policiais ludibriaram os comandantes das FARC numa ação só imaginável em filmes de espionagem.
O canal de tv CNN em Espanhol fez uma cobertura completa, desde o fim da tarde, à qual assisti emocionada. Quando esta edição for divulgada certamente todos os jornais já terão dado a notícia da libertação de Ingrid, por isso não quero me ater muito ao fato em si mas a alguns detalhes mais relevantes, por exemplo, como, quando e de que modo foi montada a operação, a reação dos presidentes mais envolvidos com o caso e o aspecto político-estratégico deste acontecimento.
Quando o material apreendido dos computadore de Raúl Reyes começou a ser examinado, encontrou-se uma troca de mensagens entre a senadora comunista Piedad Córdoba e o comando das FARC, onde esta sugeria que não se libertasse Ingrid pois ela representava o maior trunfo que eles tinham em mãos; era a “galinha dos ovos de ouro” com a qual as FARC poderiam fazer exigências e chantagens ao governo colombiano por tempo indeterminado. Noutra oportunidade, tanto ela quanto os aliados das FARC – Chávez, Correa, Insulza -, dona Yolanda (mãe de Ingrid) e os próprios ex-reféns, viviam afirmando que as FFAA não deviam tentar um resgate pois seria fatal – superestimando o poder das FARC e subestimendo a competência das Forças de Segurança Nacional -, apelando para que o presidente Uribe cedesse aos apelos dos chefes da guerrilha decretando “zona desmilitarizada” os departamentos de Pradera e Florida.
O presidente Uribe, sempre muito diplomático, nunca respondeu a estas sandices e continuou trabalhando com sua equipe com o sigilo que o caso requeria, com o apoio incondicional do governo americano. Segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Gordon Johndroe, “Apoiamos a operação e proporcionamos apoio específico. Este resgate vem sendo planejado há muito tempo, e nós trabalhamos com os colombianos durante cinco anos, para libertar os reféns desde que foram presos”.
Segundo informou o Gen Freddy Padilla, Comandante das Forças Militares e chefe desta operação, os planos começaram a ser traçados com informações passadas pelo policial John Frank Pinchao, depois de sua fuga de 9 anos de cativeiro como prisioneiro das FARC; posteriormente Clara Rojas, libertada em janeiro, proporcionou mais alguns dados e, somando às imagens de satélite, o pessoal de Inteligência pôde ir montando o quebra-cabeças. Através deste Documento, elaborado pela Chefatura de Operações Especiais Conjuntas (JOEC, na sigla em espanhol) constante no site do Ministério da Defesa Colombiana, pode-se ver os detalhes da operação: os comandantes encarregados dos reféns, os possíveis locais onde se encontravam, como se daria o cerco e até fotos dos helicópteros utilizados na operação. Há ainda no site do Comando Geral da Força, a descrição verbal deste documento feito pelo Gen Padilha, disponível apenas no site, e que pode-se ouvir acessando este link: http://www.cgfm.mil.co/CGFMPortal/index.jsp?option=noticiaDisplay.
No início da tarde o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, fez um Comunicado à Radio Caracol, explicando a operação e enfatizando que “o país, o mundo e os seres queridos dos seqüestrados não terão como agradecer a estes generais e seus homens, semelhante operação de resgate. Minhas felicitações muito sinceras a nossos homens de Inteligência do Exército, ao General Mario Montoya, seu Comandante, e ao General Freddy Padilla quem esteve à frente da operação do princípio ao fim”. E Ingrid Betancourt tão logo pôde falar, igualmente mostrou seu emocionado agradecimento a Deus e à Virgem Maria e em seguida disse: “Obrigada ao meu Exército, de minha pátria Colômbia, obrigada pela impecável operação de resgate, a operação foi perfeita. Estão nos demonstrando que a paz é possível sim”. Pediu que os colombianos acreditem em seu Exército que “nos vai levar à paz” e agradeceu ao presidente Álvaro Uribe “que se arriscou por nós”.
AS NOTAS DISSONANTES DO EVENTO
Segundo informou a CNN em Espanhol no início da reportagem, o cocalero Evo Morales enviou uma mensagem felicitando pela libertação dos prisioneiros mas, como era de se esperar, enaltecendo o papel de mediador de Chávez e Correa no episódio. O jornalista Daniel Viotto que fazia a cobertura do especial, após ler a nota de Morales corrigiu esta afirmação, lembrando que a vitória pertencia unicamente ao governo e Forças Militares da Colômbia. Vale salientar que Viotto, que conduz o excelente programa “Encuentro”, tem-se mostrado um crítico contumaz desses governos comuno-populistas da América Latina e teve no ano passado um problema com Chávez, que ameaçou processá-lo, quando noticiava o assassinato de um famoso jogador de beisebol e mostraram a imagem de Chávez.
A segunda nota dissonante veio do presdidente francês Nicolas Sarkozy que, junto com os filhos e a irmã de Ingrid Betancourt, fez um pronunciamento dizendo de sua alegria com a libertação de Ingrid mas era visível seu desconforto, uma vez que o ocorrido fugira totalmente dos seus planos. Pior do que essa inadequação foram sua palavras de agradecimento a Chávez, Correa e Piedad Córdoba, afirmando que sem suas intervenções essas libertações não teriam sido possíveis. No final de tudo, como se tivesse se dado conta da asneira dita, agradeceu também a Uribe.
Durante todo o depoimento de Ingrid, numa coletiva de imprensa oferecida ainda no aeroporto militar de Catam, ela não economizou elogios ao grandioso trabalho dos Militares que realizaram a operação, tampouco ao presidente Uribe a quem repetiu diversas vezes sua gratidão. Elogiou a admistração de Uribe, alegando não saber se teria sido tão boa presidente quanto ele. Foi, de certo modo, um tapa na cara na idiota útil dona Yolanda, sua mãe, que demonizou Uribe, associou-se aos comunas oportunistas Chávez e Piedad Córdoba e ainda reciclou ranços contra a atuação do governo colombiano na Cuba de Fidel Castro. Em nenhum momento de sua longa explanação Ingrid falou da atuação desses nefastos comunistas, até que um repórter veio lembrar-lhe da importância da intervenção de Chávez; por cortezia, me pareceu, ela agradeceu acrescentando que tanto ele quanto Correa poderiam desempenhar um papel importante para a libertação dos demais reféns.
COMO FICAM AS COISAS AGORA?
É evidente que o fim das FARC se aproxima. Semana passada Alfonso Cano convidou os para-militares e o ELN para somarem forças com eles, o que demonstra que ele tem consciência da fragilidade da guerrilha. Respondendo a uma pergunta, Ingrid disse não poder afirmar que as FARC estavam derrotadas mas lembrou que, pelo menos em termos de logística, a situação estava muito ruim, pois há um ano a comida era escassa, não havia botas, roupas ou mesmo simples material de higiene como sabonete ou pasta de dentes.
Por outro lado, sem alguém importante como Ingrid, as FARC perderam sua força de chantagear ou manipular o opnião pública com a balela de “troca humanitária”. Nessa esteira arrastam-se Piedad Córdoba, que sonhava ser a autora do feito para alanvancar seus planos de candidatar-se à presidência e, caso eleita, conceder às FARC o direito de tornar-se um partido político. E Chávez, que vem amargando uma derrota atrás da outra, não vai mais poder limpar sua imagem às custas da farsa de uma benemerência com os seqüestrados das FARC. Tanto era uma farsa este interesse pela sorte dos presos, que nenhuma palavra de felicitação foi dirigida à família daquela que ele dizia defender!
O Governo brasileiro tampouco se manifestou até o momento mas deve ter sido um duríssimo golpe para Marco Aurélio Garcia, Lula e todos os membros do Foro de São Paulo pois, observem que os únicos que se manifestaram – Morales e Cristina Kirchner -, o fizeram enaltecendo os camaradas deles, que nenhuma participação tiveram no episódio.
A lição que eu extraio de tudo isso – e que serve para nós brasileros também – é a importância fundamental da Inteligência para se estabelecer uma estratégia vitoriosa. Não se negocia com criminosos, bandidos, marginais. Pastrana fez isso e a guerrilha cresceu; Uribe agiu com pulso firme e determinação, com gente capaz e treinada para agir na hora certa, do modo que deve ser. Estão sendo vitoriosos. São heróis e merecem nosso respeito e admiração. E são os heróis de hoje que ilustram esta edição do Notalatina. Da esquerda para a direita: Gen Freddy Padilla, Comandante das Forças Militares; Gen Oscar Naranjo, Comandante da Polícia Nacional; Juan Manuel Santos, Ministro da Defesa e Gen Mario Montoya, Comandante do Exército. Que Deus abençoe, proteja e ilumine esses heróis, o presidente Uribe e todo o povo pacífico e ordeiro da Colômbia!
Fiquem com Deus e até a próxima!
Comentários e traduções: G. Salgueiro
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