segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Eu havia decidido “tirar uma folguinha” hoje, depois da exaustiva semana acompanhando cada passo do movimento pelo referendum da Venezuela ocorrido ontem, mas diante das notícias dos jornais brasileiros e dos comentários e artigos que tenho lido pela Internet, não dá para ficar calada.


Em primeiro lugar, os resultados das pesquisas que os jornais brasileiros divulgaram NÃO correspondiam à realidade vivida e divulgada na Venezuela por jornais de credibilidade incontestáveis, e fico sinceramente me perguntando: onde esses jornalistas tupinikins fabricaram tais resultados? Em segundo lugar, é preciso que se conheça a realidade e as normas eleitorais daquele país para poder se entender - e julgar - a abstenção como arma, e não ficar dizendo tanta estupidez como tenho lido, não apenas em relação a esse referendum mas toda vez que a Venezuela realiza algum sufrágio.


A “pérola” de hoje vem de dona Míriam Leitão, no artigo “Razões e reflexos da derrota de Chávez”, que pode entender de economia (digo “pode” porque eu não entendo nada e por isso não posso julgá-la) mas não sabe NADA do que se passa realmente na Venezuela. E digo isto com a autoridade (sem qualquer modéstia) de quem estuda o Movimento Comunista na América Latina há quase 10 anos e tem fontes de informação sérias, confiáveis e isentas, enquanto que dona Miriam pauta-se pela cartilha comuno-petista dos jornalões tupinikins. Até parece palavra de ordem, pois só os jornais brasileiros, empenhados em desinformar e entortar a cabeça dos leitores com mentiras, divulgaram que o “SIM” tinha a preferência do eleitorado e que a vitória de Chávez era dada como certa.


Bem, ano passado se fez isto também (no Brasil e no mundo, nos jornais de esquerda), anunciando apenas as pesquisas pagas pelos petrodólares chavistas que não refletiam a realidade, e naquela ocasião ele logrou êxito através de uma mega-fraude já fartamente provada, inclusive pelo Notalatina. Desta vez, porém, a situação foi bem diferente e mesmo lá na Venezuela, ninguém se atrevia a dizer que a vitória do “SIM” era certa porque todas as pesquisas diziam o contrário, com uma margem de vitória da oposição em mais de 15%.


Então, o que foi que aconteceu este ano que Chávez perdeu? O pleito foi limpo, sem fraudes? A maioria do povo rejeitava de fato a modificação da Constituição? Dona Miriam afirma, baseada em suas fontes confiabilíssimas, que “Além de todas as bocas de urnas trazerem a vitória de Hugo Chavez, o alto índice de abstenção indicava isso: 50% não tinham ido votar. Os analistas achavam que isso favoreceria Chavez porque quem não ia votar é porque estava desanimado”. É preciso saber, dona Miriam, em primeiro lugar, que o voto não é obrigatório na Venezuela e em segundo, os abstencionistas não são “pessoas desanimadas” mas opositores, que utilizam deste recurso como uma forma de protesto por não querer legitimar uma coisa ilegal e ilegítima. Além disso, se o número de abstenções for superior ao número de votantes, a eleição será anulada. Ademais, não foi permitido a boca de urna, sendo qualificado como “delito eleitoral” e passível de punições judiciais, conforme informei ontem.


Com relação à vitória do resultado REAL e esperado do “NÃO”, não foi porque este ano não se fraudou mas porque surgiram fatos novos que Chávez não esperava, como o movimento estudantil que surgiu em maio em protesto ao fechamento da RCTV (que não guarda NENHUMA semelhança com os “caras-pintadas” tupinikins), e que ganhou a confiança e apoio de boa parte da população; alertas contundentes e com ampla divulgação sobre a fraude que estava sendo montada pelo governo – como das vezes anteriores; pronunciamentos denunciando o crime que era a implantação do modelo comunista, por parte do alto prelado da Igreja Católica e do Gen Baduel, uma força opositora de última hora mas de grande impacto nas FAN; uma vigilância e fiscalização rigorosa por parte da oposição praticamente colada nas 33 mil mesas de votação em todo o país, durante o escrutínio e validação das atas no CNE, conforme pude comprovar durante todo o dia e madrugada de ontem, através da cobertura da televisão e informes de amigos na Venezuela, como nos confirma Alejandro Peña Esclusa nesta nota: A verdadeira “Operação Torquês”.


A vitória foi aceita e divulgada porque não havia como enganar o povo mais uma vez, mas o que estava programado era mesmo a fraude. Para tanto, algumas providências foram tomadas:


1. O CNE emitiu um “Aviso Oficial” que copio textualmente:
“O Conselho Nacional Eleitoral, no uso das atribuições conferidas no artigo 209 da Lei Orgânica do Sufrágio e Participação Política, no marco da celebração do Referendo da Reforma Constitucional de 02 de dezembro de 2007, informa aos representantes dos Blocos em torno das opções do SIM e do NÃO, assim como os representantes dos meios de comunicação social que, de acordo com o previsto nas Normas para Regular o Referendo da Reforma Constitucional, publicado na Gaceta Eleitoral nº 401, fica terminantemente proibido a publicação de pesquisas, estudos ou sondagens de opinião, a partir da segunda-feira 26 de novembro de 2007”. E assina, Tibisay Lucena, Presidenta do Conselho Nacional Eleitoral.


Como se pode ver, desde que a reforma constitucional foi aprovada na Assembléia, criou-se um mecanismo oficial para impedir que a população (e a opinião pública) tomasse conhecimento da preferência, porque todo mundo sabe que as pesquisas da última semana podem modificar o cenário, através da divulgação da mídia que pode manipular para um lado ou para o outro e influenciar os eleitores idecisos.


2. Durante todo o dia, em entrevistas ou coletivas de imprensa, tanto Chávez quanto membros do Governo insistiam em pedir que a “as partes” aceitassem o resultado, fosse ele qual fosse, do mesmo modo como no ano passado porque a “vitória” já estava sacramentada pela mega-fraude;


3. Mais ou menos por volta das 10 h. recebi um informe dando conta de que fora colocado um palanque na frente do Palácio de Miraflores e de que Chávez havia convocado a imprensa para uma coletiva, sendo confirmado pela repórter da CNN que se dirigia para lá, certo que estava da vitória;


4. No referendum do ano passado a votação encerrou-se às 4 da tarde mas estendeu-se até mais ou menos às 5 h., porque fora determinado pelo CNE que as mesas só encerrassem suas atividades quando não houvesse mais pessoas na fila. Em torno de 7 da noite o CNE anunciava a vitória de Chávez, tendo apurado pouco mais de 50% das urnas. Este ano o encerramento foi mais ou menos na mesma hora mas o resultado só foi revelado 1:30 da manhã do dia 03.


Por que a demora? Nenhuma justificativa plausível era dada por parte do CNE, que dizia que tinha havido um acordo com as partes de que só se revelaria o resultado quando 80% ou 90% das urnas estivessem apuradas porque, segundo eles, a disputa estava muito emparelhada. Os líderes da oposição, que SABIAM dos resultados porque estavam acompanhando através das atas, emitiam pronunciamentos exigindo que o CNE informasse ao público por uma questão de respeito ao povo, uma vez que eles estavam proibidos de falar.


Soube através de uma amiga venezuelana, durante este intervalo, que o palanque havia sido retirado do palácio. A demora em fazer o anúncio foi porque não havia como fraudar, com toda a fiscalização da oposição presenciando o escrutínio, e a vitória era mesmo do NÃO. Chávez não aceitava isto e o CNE não tinha como satisfaser os caprichos do “menino voluntarioso”. Então, deu-se um resultado onde a derrota do ditador foi pequena, apertada, pois assim se mascarava um pouco a realidade acachapante de que a maioria absoluta do povo o rejeita e rejeita sua ideologia sinistra e criminosa.


Mas a grande vitória ainda não foi alcançada, pois Chávez tem pela frente 5 anos de mandato e os poderes da Lei Habilitante. Através dessa LH ele pode fazer e desfazer o que lhe der na telha, legalmente, o que é um perigo a partir dessa derrota sofrida ontem, pois não podemos esquecer que Chávez é um psicótico em surto, comunista e com um projeto revolucionário para toda a América Latina. De todo modo, essa vitória serviu como um oásis em meio ao deserto que os venezuelanos estão vivendo.


E ontem também houve eleições em Cuba e na Rússia, onde Putin e seu partido Rússia Unida (RU) sairam vitoriosos, na base da fraude, e das pressões do FSB sobre quem não dança de acordo com a música do Kremlin. E em Cuba, Fidel foi indicado mais uma vez para o cargo de deputado, podendo “concorrer” à Presidência no próximo ano. Como se vê, as ditaduras se servem sem qualquer pudor de um instrumento da democracia, para consolidar sua ditadura. Mas, como o sr. da Silva não feqüentou escola e detesta ler ou estudar, fica apregoando que na Venezuela há excesso de democracia somente porque as pessoas votam. Fiquem com Deus e até a próxima!


Comentários: G. Salgueiro



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