segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

O Notalatina traz dois artigos dos jornalistas venezuelanos Eleonora Bruzual e Ricardo Mitre, dois bravos guerreiros de quem tenho privado da amizade, ultimamente. Ambos abordam com toda a indignação de que é capaz um Ser Humano com sentimentos e amor à Liberdade, dois fatos graves ocorridos na Venezuela dos últimos dois dias: a invasão criminosa e truculenta das fábricas de Coca-Cola e cerveja Polar, e a prisão e tortura do jovem estudante Jesús Armando Soriano Martínez.



A perplexidade dos venezuelanos cresce a cada dia com a ousadia e desfaçatez, também crescentes, do seu mandatário Chávez, pois com esses atos de barbárie inaugura-se o projeto do fim da propriedade privada e as torturas e prisões por motivos políticos. Pobre Venezuela! Nunca esteve tão próxima de cubanizar-se e triste Brasil, que ainda não consegue enxergar que legitimou com seu voto, um processo semelhante para o seu povo.



Mas antes de editar os artigos sobre a Venezuela, quero sugerir aos leitores uma passada no site Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org) que está repleto de artigos esclarecedores sobre o que nos espera com o novo governo. Entretanto, peço especial atenção para o artigo Enquanto isso, em Cuba..., que mostra a mais nova técnica de se eliminar opositores indesejáveis, de forma insuspeita. Fuzilamento, depois de 44 anos de terror, dominação e escravatura, é coisa do passado; ficou obseleto...



CHAVEZ PRONTO PARA APAGAR COM SANGUE, SE NECESSÁRIO FOR, A RESISTÊNCIA – CARACAS – URGENTE



Via telefone – 17 de janeiro – Informam que estão levando bolsas de plasma em grande quantidade aos diferentes hospitais da grande Caracas. Além disso, pessoal do Governo está distribuindo entre os diferentes hospitais, grandes quantidades de sacos de polietileno de grande resistência e cor negra, típicos para transportar cadáveres. Isto vem ocorrendo há vários dias.



Isto confirma os rumores de algumas ações do oficialismo para o dia 23 de janeiro. Ao que parece, forças oficialistas estão dispostas a chegar a extremos sangrentos para reter o poder sem oposição, ao estilo de Cuba de Fidel Castro.



Fonte: La Voz de Cuba Libre – www.lavozdecubalibre.com



AS BESTAS PRÓ-AGONIZAM EM UMA VENEZUELA QUE AGONIZA



Elonora Bruzual – Caracas



Sou uma simples jornalista, escrevo isto horrorizada, depois de ter visto através dos distintos canais de televisão, as ações empreendidas por uma espécie de gorila branco, um animal falante, que cumprindo ordens do golpista assassino Hugo Chávez violentou e violou a propriedade privada, golpeou indefesas mulheres, desrespeitou, tirou fora do seu local de trabalho honoráveis venezuelanos que cumprindo com suas obrigações como gerentes e empregados da Empresa Polar e Coca-Cola – Panamco, trataram de exigir respeito ao Estado de Direito, algo que em mãos destes facínoras, e do resto de uma força armada genuflexa e cúmplice que já não deixa dúvidas sobre o caráter da ditadura militar que exerce este abominável regime, é uma palavra morta, um recurso fenecido. Um ser repulsivo de nome Felipe Acosta Carles, que ao portar o uniforme da Guarda Nacional, enlodoa e compromete uma Força, que uma vez pode dizer – sem que nos ríssemos em seus rostos – que “A honra era sua divisa”.



Esta afronta, a vejo imediatamente depois de transmitir a chegada à medicina legal de Bello Monte, do jovem venezuelano Jesús Armando Soriano Martínez, que foi privado ilegalmente da liberdade, pelo único motivo de ser um opositor às pretensões totalitárias do “tropero de Sabaneta”, levado pela DISIP, submetido a terríveis torturas, e “entregue de bandeja” ao monstro De Gouveia, o assassino de Altamira e braço executor dos crimes ordenados por Chávez, J. V. Rangel, Diosdado Cabello, Aristóbulo Istúruz, García Carneiro, Isaías Rodríguez e o resto de um bando que chegou ao poder através do disfarce de democratas, imediatamente fazendo honra ao mesmo Lula da Silva, esse que em breve trará sobre o povo brasileiro, igual desastre e igual pesadelo, Lula da Silva e Marco Aurélio Garcia, ambos invasores de nossa soberania, que uma vez disseram: “A democracia é simplesmente uma farsa para tomar o poder”. Jesús Armando que na medicina legal de Bello Monte, aparentemente entra vivo, embora saibamos que seus direitos, sua condição de cidadão, sua honra e seus sonhos foram assassinados...



Esta é a Venezuela e ao mundo inteiro denuncio o que se passa em meu país. Estes vândalos, estes delinqüentes, usaram a democracia até tomar o poder e agora, por não despertar todo esse universo político que serve-se de inocentes úteis para que ganhem tempo, até conseguir humilhar toda a dissidência e toda rebelião, nos conduzirão a masmorras, nos massacrarão, nos levarão ao exílio e à morte.



Publicamente denuncio ante o mundo uns delinqüentes que, baseados em que nenhuma pessoa normal pode crer ou entender que alguns bandidos detêm o poder em um país aparentemente civilizado, e que sejam capazes de cometer aberrações extremas, enquanto com absoluto descaramento mentem em foros e organismos internacionais. Umas bestas depredadoras e ávidas, capazes de todo crime, todo delito, e que jamais, repito, jamais por vias democráticas e constitucionais soltarão a presa em que converteram uma nação emblemática, da liberdade no continente americano.



Não nos enganemos, não pemitamos que com a complacência ou a estupidez de políticos como Eduardo Fernández e Teodoro Petkoff, ou com clérigos que buscam fazer-se perdoar o que esta roubolução ditou como pecados, demos mais tempo a uns carniceiros, a uns foragidos, para que terminem de fechar as tenazes com as quais nos manterão amordaçados e vencidos quem sabe, e por quanto tempo.

Não esperemos nem dignidade nem coragem de enfrentar a real invasão estrangeira em nosso território, Força Armada cujos integrantes chamam ”Meu comandante” ao sátrapa cubano, o ditador com mais anos de permanência no poder, na história mundial, esse que leva nosso patrimônio, dá ordens a seu lacaio Chávez e reprova e destrói a tradição honorável do contingente militar da Venezuela.



Eles não sairão, eles estão por sua vez sequestrados por uma camarilha corrompida e indigna, cujo único interesse é encher alforjas e enriquecer aceleradamente, e para os que a pátria não é outra coisa que um bom pretexto para fazer negocios, buscar apoios e trair ideais. Força Armada que começou a ser desmantelada, quando um ser amoral e ladino conseguiu cumprir seu sonho doentio de vê-la convertida em braço armado para defender seus planos inconfessáveis. J. V. Rangel, o sinistro e cínico carniceiro de Puente Llaguno, o mesmo que durante anos, denunciava através dos meios de comunicação as corrupções do mundo militar, enquanto simultaneamente extorquia seus chefes e conseguia vultosos contratos de venda de armamento. Esse que vê tudo “normal”: a morte, o roubo, a entrega da soberania, a ditadura, a barbárie...



Hugo Chávez não sairá com referendum, nem consultivo, nem revocatório. Não sairá por vias constitucionais. Hugo Chávez terá que ser enfrentado por homens e mulheres valentes, cuja coragem permita assumir decisões históricas que salvem o futuro em liberdade. Que garantam uma Pátria para a Paz e a Esperança, e não uma guarida de sociopatas, terroristas, delinqüentes, transgressores e ladrões nacionais e estrangeiros. Homens e mulheres dignos que sacudam a vergonha e a consciência desses que nos quartéis calam, aceitam e garantem, com sua covardia, um regime que passará para a história do continente como a pior farsa e a mais terrível vigarice a um povo bom, que merece respeito.



Aqueles que com máscara de opositores e democratas pretendem motorizar tal barbaridade, devem ser assinalados como responsáveis também, de uma das mais terríveis épocas de nossa história republicana. Hugo Chávez deve responder por traição à Pátria, e junto com seus esbirros e comissários políticos serem julgados por crimes que não podemos perdoar.



Esse pedaço de nossa terra, onde estão os ossos dos que nos amaram e amamos, onde nascemos e nasceram nossos filhos, esta Pátria que uma vez esquecemos e que agora que sabemos o que significa, agora que sabemos o que nos tem dado, agora que sabemos do horror de perdê-la, morre de desesperança, verga-se de desolação ao ver que uns verdugos arrogantes buscam dominá-la. A Venezuela se nos morre nas mãos, e sua morte é a morte da fidalguia e a esperança do Bravo Povo.

A VENEZUELA MERECE QUALQUER TEMERIDADE, A VENEZUELA CLAMA POR NOSSA CORAGEM!



EU ACUSO!



Ricardo Mitre



1. Na sexta-feira 6 de dezembro de 2002, João de Gouveia, um português naturalizado venezuelano, chegou às 6:30 PM à Praça Altamira do município de Chacao, Caracas. Nesse lugar, que desde outubro do mesmo ano um grupo de militares que se declarou em “desobediência”, em tudo de acordo com o artigo 350 de nossa Constituição, um engendro feito à imagem e semelhança do Tenente Coronel Hugo Chávez, que a mercê de um ganho eleitoral, conseguiu 95% dos Constituintes que a promulgaram, apesar de haver obtido 60% dos votos em uma eleição onde a abstenção rondou os 50%. Os militares “rebeldes” mantiveram-se nessa praça apoiados por um setor da sociedade civil, em princípio numeroso e paulatinamente diminuído para umas centenas de pessoas, como sucedia nessa sexta-feira de dezembro, na qual a parada cívica nacional tinha quatro dias de iniciada e quando o português alienado disparou.



João de Gouveia, o personagem desse filme de terror, chegou a essa Praça, sacou uma pistola Glock calibre 40 e disparou indiscriminadamente, assassinando três pessoas e ferindo umas vinte. Foi detido em flagrante e se declarou culpado ante os meios de comunicação que o entrevistaram. Dois dias antes, o assassino apareceu em um vídeo amador ao lado do Prefeito de Caracas, que aparecia repartindo armas diante da Sede Central da PDVSA, estatal petroleira, que aderiu á parada decretada em 2 de dezembro. Dois dias depois o Presidente Chávez em seu programa, o desculpou. Ignorou sua cifissão, o chamou de “senhor João” e invalidou sua confissão. Já havia feito isso antes com outros assassinos, que foram chamados de “heróis” da Revolução.



O “senhor” João, assassino confesso, não foi recolhido a um cárcere comum e ficou alojado na sede da Polícia Política, que aqui se chama DISIP. Alí ficou e “se recolheu” o assassino. Alguns pensam que ficou alojado entre seus pares.



2. O jovem Jesús Armando Marcano, notório promotor do diálogo entre opositores e oficialistas, ao ponto de ser promotor de uma partida de “futebol” entre ambos os grupos, enquanto se desenvolvia um “trancaço” em uma importante via de Caracas, foi detido há dois dias. A detenção ocorreu em circunstâncias irregulares, já que fo feito por um bando de policiais do regime que o remeteram, omitindo todas as garantias judiciais, às masmorras da polícia política, sem que o mesmo contasse com nenhuma garantia constitucional. Na mídia ele foi visto golpeado e “detido”, por um notório delinquente que portava um crachá de jornalista do governo da cidade de Sucre, literalmente uma vergonha nacional.



3. O jovem foi “entregue” nas masmorras da polícia, sem que se lhe respeitasse nenhuma garantia constitucional. Ali ele foi alojado na mesma cela do assassino Gouveia que permanece como convidado na Sede da Polícia Política. Marcano foi golpeado pelo criminoso, que possui a “chave da cela” e convida “presos amigos” a golpear Marcano e a produzir-lhe outras humilhações. Os criminosos gozam, é indubitável, dos favores do regime que os trata como o que são: seus companheiros.



4. Quando se libera Marcano, o jovem caminha apoiado nos ombros de seus advogados de defesa, apresenta evidentes lesões físicas, muito mais graves do que as de suas aparições ante a opinião pública, só registrada pelo canal estatal.



5. Eu acuso: a política desta flagrante violação aos direitos humanos de Jesús Marcano. Igualmente o faço com a deputada Iris Varela, que fabricou um “prontuário televisivo” ao rapaz, para converter-se em uma repugnante encobridora das torturas as quai foi submetido.



6. Eu acuso a Procuradoria Geral da República que não outorgou a Marcano as garantias que a Constituição impõem.



7. Eu acuso a Defensoria Pública que ignorou o caso com o cinismo costumeiro.



8. Eu acuso os jornalistas da VTV, mercenários interrogadores e polícias vocacionais das violações aos direitos humanos contra a pessoa de Jesús Marcano. Tergiversadores da verdade com vocação de torturadores.



9. Eu acuso Jesús Romero Anselmi, diretor do Canal do Estado, de mendacidade e indignidade. Esse tipo, que teve um prestígio entre os venezuelanos, seguiu o mesmo destino do vendedor de esculturas, que detém o cargo de vice-presidente.



10. Eu acuso igualmente os amanuenses internacionais do regime e vem à minha memória Miguel Bonasso, autor de “Lembrança da Morte” que deveria saber, se não ficou tão quebrado como outro de seus “companheiros de estrada”, que não há torturadores justos.



11. Eu acuso igualmente Mario Benedetti e o diremos com suas palavras “Quando mataram meu amigo irmão, apaguei as árvores e seu balanço”. Benedetti não deveria assinar qualquer pendência que lhe ponham na frente, haja visto que poderíamos pensar que não quis abandonar as vantagens que lhe proporciona ser “um intelectual de esquerda”.



12. Eu acuso meus amigos do Sul, por assinar manifestos sem averiguar. De apoiar ditaduras por seu discurso populista, para evitar o trabalhoso dever de analisar. De evidenciar, outra vez, seu amor oculto pelos uniformes que lhes fizeram vestir seus militantes, na plena repressão das ditaduras do Cone Sul. Esses anistiados dos mesmos regimes que absolveram seus assassinos, fato que aceitaram sem nenhum respeito a seus mortos, ao sangue que negociaram de seus companheiros, hoje pretendem dar lições aos povos que lutam.



Acusamos igualmente aos que querem entregar a luta que mantemos nas ruas, além do rumo que devemos suportar. Acusamos aos que nos querem entregar em altar de sacrifícios, acordos ilusórios. Demos uma enorme e desigual luta pela sensatez, nos tempos em que Fernández estava de férias.



Todo o país político sabe a que nos opusemos, porém também sabe que não trairemos os que nos seguiram. O senhor Eduardo Fernández quer um bombeiro para apagar os incêndios, um cirugião para operar e um político e um estadista para negociar. E tem razão, porém o político e o estadista não é ele. Como velho político que é, repetiu o discurso três vezes em uma semana. Deveria ter ficado dormindo no rancho onde alguma vez passou uma noite como turista.



O jovem Marcano não necessita de discurso de estadistas de opereta.



Em nosso país se tortura.



Nós vamos ficar quietos?



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