sábado, 9 de novembro de 2002

O Notalatina sai hoje um pouco de sua temática (América Latina) para divulgar um discurso proferido pelo presidente da República Tcheca, Vaclav Ravel, em 19 de setembro deste ano, no Centro para Licenciados da City University, em Nova York, na sua despedida à última visita feita aos Estados Unidos.



Observem a lição de humildade e simplicidade que este homem dá. Coisa de sábio... Deveria ser apreendida por muitos dirigentes que conhecemos. Lendo esse discurso, não posso deixar de emocionar-me até às lágrimas, pensando em todo o sofrimento dos povos que viveram e ainda vivem sob o tacão do comunismo, e não posso deixar, também, de lamentar o retrocesso do nosso país. Enquanto povos lutam para livrar-se desse inferno vermelho, os brasileiros regozijam-se em recuar 100 anos no tempo e na História.



ADEUS À POLÍTICA



VACLAV RAVEL



Ainda conservo vivas lembranças do concerto de quase 13 anos, em fevereiro de 1990, quando Nova York me acolheu como presidente eleito da Tchecoslováquia. Naturalmente, não celebrou-se só para honrar-me pessoalmente. Foi uma forma de honrar, através de minha pessoa, a todos os meus compatriotas que tinham sido capazes de derrotar sem violência o corrompido regime que governava o país. E também foi para honrar a todos os que, antes de mim, ou comigo, haviam resistido a este regime, de novo sem violência. Muitos amantes da liberdade de todo o mundo viram a vitória da Revolução de Veludo da Tchecoslováquia como estandarte da esperança em um mundo mais humano, um mundo em que os poetas possam ter uma voz tão poderosa quanto os banqueiros.



Nossa reunião de hoje, não menos cálida e impressionante, me leva de um modo quase natural à questão de se mudei ou não nestes quase 13 anos, que têm feito de mim nessa permanência incompreensivelmente longa como presidente, e como tenho me modificado nas inumeráveis experiências que tenho vivido nestes tempos tumultuados.



E descobri algo assombroso: embora devesse esperar que esta riqueza de experiências me tivesse dado mais tranquilidade, mais rodagem e confiança em mim mesmo, o certo é que aconteceu tudo ao contrário. Neste tempo perdi muita segurança em mim mesmo, e sou muito mais humilde. Pode ser que não acreditem, porém cada dia padeço mais e mais de medo do público; cada dia tenho mais medo de não estar à altura de minha tarefa, ou de estropiar tudo. Cada vez mais, me resulta mais difícil escrever meus discursos e quando os escrevo, tenho mais medo do que nunca de repetir-me uma ou outra vez. Cada vez tenho mais medo de ficar lamentavelmente sem expectativas, de que, de alguma forma tornarei manifesta minha falta de preparo para este trabalho, de cometer erros ainda maiores, apesar da minha boa fé, de deixar de ser alguém em quem se possa confiar e, por conseguinte, perder a legitimidade para fazer o que faço.



E enquanto outros presidentes mais jovens que eu, em termos de tempo de permanência no cargo, desfrutam de cada oportunidade de conhecer-se, ou de conhecer gente importante, ou de aparecer na televisão ou fazer um discurso, a mim tudo isto cada vez produz mais temor. Às vezes ocorrem situações em que deveria agradecer por ser uma grande oportunidade, e deliberadamente tento evitá-las pelo medo quase irracional em desperdiçar a oportunidade de uma ou outra forma, e talvez inclusive prejudicar uma boa causa. Em poucas palavras, parece que cada vez tenho mais dúvidas, inclusive de mim mesmo. E quantos mais inimigos tenho, mais me ponho do seu lado mentalmente, com o que me converto no meu pior inimigo.



Como poderia explicar esta evolução completamente imprevisível de minha pesonalidade?



Talvez reflita mais detidamente sobre isto quando já não for mais presidente, coisa que ocorrerá em princípios de fevereiro próximo, quando tenha tempo para afastar-me um pouco, para distanciar-me um pouco da política e quando, como homem completamente livre outra vez, comece a escrever coisas que não sejam discursos políticos.



Porém, no momento permitam-me sugerir uma das muitas possíveis explicações para esta situação. Conforme vou envelhecendo, à medida em que amadureço e adquiro experiência e razão, me vou dando conta plenamente do alcance de minha responsabilidade e das estranhamente diversas obrigações derivadas do trabalho que aceitei. Além disso, vai-se aproximando inexoravelmente o momento em que os que me rodeiam, o mundo – o que é pior –, minha própria consciência, já não me perguntam quais são meus ideiais e objetivos, nem o que é que desejo conseguir, nem como quero mudar o mundo, senão que começaram a perguntar-me o quê efetivamente consegui, quais dos meus propósitos tornei realidade e com quais resultados, qual gostaria que fosse meu legado e que tipo de mundo gostaria de deixar atrás de mim. E de repente sinto que a mesma intranquilidade espiritual e intelectual que uma vez me levou a fazer frente ao regime totalitário e ir preso por isso, agora me faz duvidar completamente do valor de meu próprio trabalho, ou do trabalho daqueles que apoiei, ou daqueles cuja influência eu tenho possibilitado.



Antes, quando recebia títulos honoríficos e escutava discursos laudatórios que se pronunciavam em ocasiões assim, muitas vezes ria ao ver que em muitas dessas homenagens me descreviam como um herói de conto de fadas, um rapaz que, em nome do bem, saiu dando cabeçadas contra o muro de um castelo habitado por reis malvados, até que o muro caiu e o mesmo se converteu em rei e governou sabiamente durante muitos longos anos. Não é minha intenção obstaculizar a importância dessas ocasiões: valorizo profundamente todos os meus doutorandos e sempre me comove recebê-los.



Todavia, meciono este outro aspecto das coisas, em certo sentido cômico, porque estou começando a entender que, na realidade, tudo tem sido uma trama diabólica que o destino me impôs. Porque efetivamente me vi catapultado de um dia para o outro em um mundo de conto de fadas e depois, nos anos posteriores tive que voltar ao mundo real para dar-me conta de que os contos de fadas são só uma projeção dos arquétipos humanos, e que o mundo não está absolutamente estruturado como um conto de fadas. E assim, sem nem sequer haver tentado converter-me em um rei de conto de fadas, e apesar de encontrar-me praticamente obrigado a ocupar este cargo por um acidente da história, não recebi nenhuma imunidade diplomática por essa dura queda à terra, do estimulante mundo de emoção revolucionária, ao mundo terreno da rotina burocrática.



Por favor, entendam-me: não estou dizendo que tenha perdido minha luta, nem que tudo foi em vão. Pelo contrário, nosso mundo, a humanidade, e nossa civilização, encontram-se atualmente no que talvez seja a encruzilhada mais importante de sua história. Temos mais oportunidades do que nunca nos últimos tempos, de compreender nossa situação e a ambivalência do rumo que levamos, e escolher o caminho da razão, da paz e da justiça, não o que nos leve à nossa própria destruição.



Só digo isto: seguir o rumo da razão, da paz e da justiça exige muito trabalho, abnegação, paciência e conhecimento, uma análise geral sossegada, a vontade de arriscar-se em não ser compreendido. Ao mesmo tempo, significa que todos deveríamos poder julgar nossa própria capacidade e operar, em consequência, com a expectativa de que nossas próprias forças cresçam com as novas tarefas a que nos destinamos, ou se esgotem. Em outras palavras, já não vale confiar em contos de fadas nem em heróis de contos de fadas. Já não vale confiar nos acidentes da história , que levam os poetas a lugares onde caem impérios e alianças militares. Deve-se escutar detidamente as vozes de alarme dos poetas e levar-lhes muito a sério, talvez muito mais a sério do que as vozes dos banqueiros e dos agentes da bolsa. Porém, ao mesmo tempo, não podemos esperar que o mundo se transforme em um poema da mão dos poetas.



Seja como for, de uma coisa estou seguro sim: independentemente da forma com que tenha desempenhado o papel que se me foi concedido, independetemente de se o queria desempenhar, ou de se o merecia ou não, e independentemente do muito ou pouco satisfeito que esteja de meus esforços, entendo que minha presidência tem sido um magnífico presente do destino. Ao fim e ao cabo, tive a oportunidade de participar de uns acontecimentos históricos que verdadeiramente mudaram o mundo. E isso, como experiência vital e oportunidade criativa, valeu a pena apesar de todas as armadilhas que jazem ocultas.



E agora, se me permitem, tentarei finalmente distanciar-me um tanto de minha pessoa e formular três idéias que sempre têm dado certo ou , melhor, três velhas observações que minha passagem no mundo da alta política não tem feito senão confirmar:



1. Se a humanidade quer sobreviver e evitar novas catástrofes, a ordem política mundial tem que ir acompanhada de um respeito mútuo e sincero entre as diversas esferas da civilização, da cultura, das nações ou dos continentes, e por um esforço sincero de sua parte para buscar e encontrar os valores ou imperativos morais básicos que têm em comum, em transformá-los nos cimentos de sua coexistência neste mundo globalmente conectado.



2. Há que fazer frente ao mal em seu próprio seio e, se não há outra forma, terá que fazê-lo mediante o uso da força. Se é necessário utilizar-se o incrivelmente sofisticado e caro armamento moderno, que se use de uma forma que não prejudique as populações civis. Se isto não é possível, terão desperdiçado os milhares de milhões gastos nessas armas.



3. Se examinarmos todos os problemas que o mundo enfrenta hoje em dia, quer sejam econômicos, sociais, ecológicos ou os problemas gerais da civilização, queiramos ou não sempre nos encontraremos com o problema de se um determinado roteiro é ou não adequado, ou se é responsável desde o ponto de vista planetário a longo prazo. A ordem moral e suas fontes, os direitos humanos e as fontes de legitimação desses direitos humanos, a responsabilidade humana e suas origens, a consciência humana e a penetrante visão daquele no qual nada pode ocultar-se com um manto de nobres palavras, são segundo minhas mais profundas convicções e experiência, os temas políticos mais importantes do nosso tempo.



Queridos amigos, ao olhar ao meu redor e ver tantas pessoas famosas que parecem haver descido de algum lugar dali de cima, do firmemento estrelado, não posso evitar de sentir que no final de minha longa queda de um mundo de conto de fadas à realidade crua, de repente me encontro novamente num conto de fadas. Talvez só haja uma diferença: agora posso valorizar esta sensação mais do que quando, há 13 anos me encontrava em circunstâncias similares.



sexta-feira, 8 de novembro de 2002

A América Latina está parecendo um paiol de pólvora prestes a estourar, tantos são os acontecimentos que diariamente temos a oportunidade de tomar conhecimento. A situação da Venezuela ultrapassou o limite do crítico e, sinceramente, não creio que seja resolvida de forma pacífica e sem derramar muito sangue.



Na segunda-feira passada foi entregue ao presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), uma pergunta que acompanhava a relação de assinaturas dos cidadãos que pediam a deposição do presidente Hugo Chávez e um plebiscito convocando novas eleições. O sr. Roberto Ruiz então presidente do CNE, segundo os noticiários, acatou com respeito a petição, dando mesmo a entender que também era favorável a esta medida. Dois dias depois este senhor misteriosamente “renuncia ao cargo”, o que levantou, entre os opositores de Chávez, a suspeita de que essa demissão fora induzida ou que não partira dele. A estranheza e o desapontamento é geral, obviamente.



A desobediência civil desses militares e demais cidadãos que lotam a praça Altamira desde 22 de outubro está assegurada na Constituição, entretanto, o secretário geral da OEA, César Gaviria que se encontra em Caracas para “facilitar” a negociação entre o presidente e os opositores, simplesmente pediu aos militares que “se quiserem se dedicar à política, tirem os uniformes e abandonem a carreira”. Comenta-se, a respeito deste secretário, que ele “vê com simpatia” (para não dizer que é conivente) os guerrilheiros das FARC e as alianças de Chávez com Fidel Castro. Onde ficaria então, a imparcialidade desse “mediador”, em caso tão grave e explosivo como o que está ocorrendo na Venezuela? No jornal “La Nacion” de hoje há uma extensa matéria analisando vários aspectos da tensão venezuelana, muito boa. Não a reproduzo aqui por ser muito longa, mas os interessados podem conhecê-la acessando o site: http://www.el-nacional.com/Articulos/Articulo.asp?Plantilla=3&Id=16552&IdSeccion=121



Ainda nesta edição, notinhas reflexivas do meu amigo e colaborador Carlos Reis, em “Como o Diabo gosta”.



POUCAS E BOAS – COMO O DIABO GOSTA



Tenho estado em silêncio olhando a conjuntura. Mas agora chega! Já é hora de restabelecer algumas verdades, aliás, algumas delas já comentadas pelos amigos.



Em primeiro lugar, pacto social, uma ova! Social-democracia petista, bullshit! Diabo, que é diabo, não se converte! O Paulo Zambonni matou a pau! Lula está construindo a teia – ou a Rede, como a chama o pessoal da 5a Internacional Socialista -, do pacto social; uma artimanha que colocará toda a oposição, ou o que restar dela, contra o Brasil e o povo brasileiro. Quem for contra será chamado de traidor! No “Pato Social”, quem piar contra é galinha frita!



Além disso, o projeto de Segurança que está sendo gestado na Lulolândia é de arrepiar os cabelos! Vem aí o mais moderno e democrático regime policial e totalitário que alguém já elegeu. Em breve, em cada rua, em cada quarteirão desse Brasil, um espião, um informante de plantão, a serviço do “guia genial do povo” tupiniquim. Voltarei ao assunto de forma séria assim que juntar mais elementos.



Por aqui (Zero Hora) já se fala em um Ministério das Cidades no governo Lula. Não sei se essa patifaria saiu nos jornais do centro do país, mas é certo que o nome dela é Tarso Genro. Um ministério ad hoc para quem ficou desempregado pelo povo. Deve ser o de bedel empoado e finório da 5a Internacional.



Boa notícia. Por falar em 5a Internacional, a 3a edição do Fórum Social Mundial – a 5a Internacional -, não sai mais, pelo menos em Porto Alegre. Se sair, não vai ser com o dinheiro do governo do Rigotto! O Rigotto não é galinha. A confirmar no ano que vem.



O PMDB, a continuar babando e chocando ovos petistas como já está fazendo, se inscreverá como forte candidato a campeão da Taça Prostituição Política do Annus. Do Tudo pelo Social de Sarney, ao Topa Tudo por Dinheiro desses governadores. É de dar inveja aos parasitas dos anos 20 e 30. Triste safra essa de políticos que chegaram ao poder. Como diz o personagem do Chico Anísio, seu Rolando Lero, “foi o que deu para arranjar”.



Aqui em Porto Alegre, 14 anos de influência petista no pensamento dos gaúchos produziu a pérola de que a “obra” mais vendida na Feira do Livro, ora em realização na cidade, é sobre culinária. O Brasil acaba de eleger um regime totalitário para nos liquidar, e aqui em Porto Alegre, é bom dizer, no preciso momento em que nos livramos dos totalitários gaudérios, o povão é levado a consumir ninharias e amenidades. Acho que não deu tempo. Espero que no ano que vem...



E, para encerrar:

A. O toque do Heitor de Paola é precioso: nenhuma palavra na mídia sobre el comandante en jefe, Fidel, cumprimentando seu funcionário, Lula, pela vitória da causa (deles). Como dizia um amigo meu: vocês acham que eu não sou bobo?



B. Eles perderam! Lá. Dá-lhe Bush!



C. O presidente da FIESP (antigamente uma instituição liberal), Laffer Piva, anda falando em congelamento de preços e salários! Remember “ekipeconômica” do Sarney! São os mesmos canalhas! Não admira que elegeram o Lula!



D. Vem aí: “Gramsci não é isso tudo que andam falando”.



Carlos Reis



quinta-feira, 7 de novembro de 2002

Diz o didato que a mentira tem pernas curtas e a vida se encarrega de mostrar que essa “máxima” tem sentido e, mais cedo ou mais tarde, ela acaba por se revelar. O PT, partido do candidato eleito, tem feito malabarismos de invejar grandes artistas circenses, para mostrar ao distinto público que o “ungido” não tem nenhuma ligação simbiótica com o propalado “eixo do mal”, composto por Cuba-Colômbia (leia-se FARC)-Venezuela. O próprio neo-presidente teve a pachorra de, numa entrevista na televisão, dizer que essa afirmação era coisa de um “jornalista picareta”, ao referir-se ao escritor e ex-preso político cubano Armando Valladares. No entanto, discute-se o adiamento da data da posse, de 1º para 6 de janeiro, considerando que nessa data comemora-se em Cuba, o aniversário da Revolução, o que impediria a presença do autor dessa façanha, o assassino do Caribe, Fidel Castro.



Pois muito bem. Hoje, uma nota divulgada no jornal O Estado de São Paulo dava conta da insatisfação do líder do PT no Senado, Tião Viana (AC), porque o ainda presidente FHC disse que “indicação de diplomatas é só rotina”. Os novos donos do poder querem indicar os embaixadores que susbstituirão os atuais, especialmente os que vão representar Cuba, China, Bolívia e Venezuela. Para o líder Tião Viana, o partido gostaria de rediscutir algumas indicações, por considerar as embaixadas desses países “estratégicas”. Será que nem depois disso as pessoas vão se convencer dos reais interesses e acordos do sr. da Silva?



Ainda nesta edição o Notalatina traz duas notícias sobre Cuba: a primeira delas é a respeito de uma carta escrita pelos dissidentes cubanos à Cúpula Iberoamericana que acontecerá nos dias 15 e 16 na República Dominicana, pedindo liberdade e democracia para o povo cubano. A segunda relata a expulsão de quatro cubanos dos Estados Unidos, tidos como espiões de Fidel Castro naquele país.



DISSIDÊNCIA CLAMA POR DEMOCRACIA EM CUBA EM MENSAGEM À CÚPULA IBEROAMERICANA



HAVANA – (AFP) – O movimento “Todos Unidos” que agrupa os principais grupos de dissidência interna em Cuba, remeteu nesta quarta-feira uma mensagem aos Chefes de Estado e Governo que participarão da XII Cúpula Iberoamericana, na qual exigem uma abertura democrática na ilha.



Na nota os dissidentes denunciam as “violações sistemáticas e a ausência de justiça social, democracia e a promoção dos direitos humanos”, sob o governo do presidente cubano Fidel Castro, e reclamam aos mandatários que “não permanceçam em silêncio” ante esses fatos.



”Seria uma contradição continuar silenciando expressamente a situação de violações a estes direitos em Cuba e não chamar o governo de nosso país a cooperar com seu próprio povo, para superar entre cubanos esta situação”, disse a declaração opositora. O documento foi lido ante representantes da imprensa estrangeira e jornalistas cubanos independentes, pelo dirigente Oswaldo Payá, líder do Movimento Cristão Liberação e recém agraciado com o Prêmio Sajarov do Parlamento Europeu por sua luta em favor dos direitos cívicos em Cuba.



Payá, também candidato ao Prêmio Nobel da Paz para 2003, solicitou aos chefes do Governo que participarão da Cúpula Iberoamericana, prevista para 15 e 16 de novembro na República Dominicana, a pronunciarem-se em favor de ações que promovam um processo democrático em Cuba.



O “silêncio, além de uma incoerência, converte-se em uma exclusão do povo cubano dos altos e nobres propósitos dos Estados iberoamericanos, em seu afã de fomentar e fazer respeitar todos os direitos sociais, políticos e econômicos em nossas sociedades”.



A missiva solicita também que os governantes expressem seu apoio denominado Projeto Varela, iniciativa que promove a convocatória a um referendo para modificar leis eleitorais, a libertação de presos políticos e o chamado a eleições livres na ilha.



O Projeto Varela foi apresentado em maio passado à Assembléia Nacional (Parlamento) com o aval de mais de 11.000 assinaturas, segundo exige a Constituição, e ainda não recebeu uma resposta oficial nem foi dado a conhecer à população cubana.



”A resposta que esperamos (dos governantes iberoamericanos) é o apoio aos cubanos, para que lhe dê voz no referendo que encaminhamos sobre o Projeto Varela e o chamado ao governo de Cuba para que respeite os direitos que a Constituição concede a seus cidadãos”, assinala a declaração dissidente.



O documento da oposição interna, que opera de forma ilegal porém tolerada na ilha, foi subscrito por dirigentes de mais de 60 agremiações. Entre os assinantes figuram Oswaldo Payá, o presidente do Partido Social Democrata, Vladimiro Rocca – filho do falecido Blas Rocca, um dos fundadores do Partido Comunista de Cuba – e Elizardo Sánchez Santa Cruz, líder de um movimento de defesa dos Direitos Humanos.



ESTADOS UNIDOS EXPULSAM QUATRO DIPLOMATAS CUBANOS



O governo de George W. Bush informou ontem que expulsará do país dois diplomatas cubanos, e pedirá a outros dois que se vão, em represália pela recente condenação de uma analista de inteligência dos Estados Unidos de alto cargo, por espionar para Havana.



”Em resposta a certas atividades inaceitáveis, decidimos atuar energicamente”, disse Charles Barclay, porta-voz do Departamento de Estado da Secretaria de Assuntos Hemisféricos.



Há quase três semanas, um juiz federal sentenciou 25 anos de prisão para Ana Belén Montes, analista da ultra-secreta Agência de Inteligência de Defesa (DIA), por seu longo histórico de espionagem. Montes tinha sido a espiã a favor de Cuba mais importante que se descobriu dentro do setor de inteligência dos Estados Unidos.



Barclay informou que dois diplomatas da Seção de Interesses de Cuba, a missão diplomática da ilha em Washington, receberam sexta-feira a notificação de que tinham 10 dias para sair do país. Seus nomes são Oscar Redondo Toledo e Gustavo Machín Gómez, ambos com cargos diplomáticos de primeiro secretário.



”Essas expulsões são nossa resposta às inaceitáveis atividades dos cubanos, atividades pelas quais se deteve e condenou Ana Belén Montes”, disse Barclay. “O caso de Montes é sumamente sério”, acrescentou.



Apesar disso, aos diplomatas da missão Cuba na ONU, em Nova York “foi-lhes pedido que se vão do país, por haverem realizado atividades que estão fora de suas capacidades oficiais”, indicou Barclay, embora não tenha identificado os indivíduos.



Apesar de os funcionários estadunidenses não terem dito que os quatro diplomatas cubanos tenham dirigido as atividades de Montes em seus 16 anos como espiã, indicaram que estes funcionavam como agentes de inteligência, e um alto fucionário dos Estados Unidos indicou que é possível que os cargos diplomáticos que ostentavam tenham ocultado cargos superiores no governo cubano.



Gustavo Machín Gómez, um dos diplomatas cubanos em Washington declarado persona non grata, serviu de porta-voz, primeiro secretário e secretário de negócios desde 1997. O outro, Oscar Redondo Toledo, aparentemente operava com mais discreção.



Fonte: El Nuevo Herald



quarta-feira, 6 de novembro de 2002

Conforme imaginávamos ontem, a manifestação pacífica dos opositores venezuelanos para a entrega do documento ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) pedindo o plebiscito ou a renúncia do presidente Hugo Chávez, teve represálias por parte dos ensandecidos chavistas. A reportagem é do jornal “El Nuevo Herald”



Ainda nessa edição de hoje, o Notalatina traz com exclusividade uma entrevista dada pelo recém libertado preso político cubano Oscar Elías Biscet, por telefone, à jornalistas em Miami. Essa entrevista demonstra a coragem desse homem que, mesmo tendo cumprido sua pena integralmente, ainda que injusta e ilegal, foi libertado em “condicional”, e proibido de falar. Mas os bravos não se curvam diante de um déspota assassino. A ele, todo meu respeito e admiração.



CHAVISTAS ATACAM MARCHA OPOSITORA EM CARACAS



Silene Ramirez – Reuters – Caracas



A oposição ao presidente venezuelano Hugo Chávez, entregou ontem as assinaturas para pedir um referendo sobre a permanência do mandatário, após uma marcha cercada de distúrbios que foram repelidos pela Polícia com gases lacrimogênios e balas de borracha.



Os fatos violentos se prolongaram por mais de quatro horas nos arredores da sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no centro de Caracas, e onde concluiu a marcha de milhares de adversários, que custodiaram em seu recurso o que os dirigentes opositores afirmaram serem mais de dois milhões de assinaturas, transportadas em um caminhão blindado.



Boletins médicos e dos bombeiros registraram nove feridos, dois por armas de fogo, e entre eles um jornalista estrangeiro. Umas 50 pessoas mais foram atendidas por asfixia e contusões leves, ocasionadas por pedradas e outros objetos.



Os choques se produziram quando centenas de adeptos do mandatário se aglomeraram no entorno do CNE, para tentar impedir que fossem entregues as assinaturas recolhidas pela oposição em 18 dias, e exigir a celebração de um referendo que consulte a população de 23 milhões de habitantes se quer a renúncia imediata de Chávez.



Líderes oficialistas os exortaram a desistir de seu intento para evitar a violência, porém os “chavistas” estiveram renitentes e inflamados; ergueram barras de ferro, tampas de esgoto e caixas de papelão às quais tocaram fogo para colocar barricadas nas ruas.



O deputado Julio Borges, do opositor Primero Justicia, destacou ao entregar as assinaturas que “conseguimos entrar aqui sem pedras, sem bombas, sem paus, simplesmente com bandeiras, com gritos e com a alegria do povo venezuelano... para manifestar-se com uma caneta e com o voto”.



A polícia Metropolitana (PM) de Caracas lançou gases lacrimogênios e balas de borracha para dispersá-los, enquanto “chavistas” lhes devolviam pedras, paus e garrafas.



Os acontecimentos geraram tensão e nervosismo entre a população do quinto exportador mundial de petróleo bruto, que há quase sete meses viveu choques violentos entre “chavistas” e adversários em meio a uma massiva marcha opositora, com um saldo de 19 mortos e centenas de feridos, que precedeu a saída de Chávez do poder por 47 horas em abril.



Desde então, enfrenta uma férrea oposição e a “desobediência” declarada por um grupo de militares – investigados por sua possível participação no golpe – que pedem a renúncia do mandatário, a quem acusam de exercer uma ditadura e culpam pela recessão econômica em que vive o país.



Finalmente a marcha chegou ao CNE, onde em meio a um alvoroço e aplausos algumas pessoas transportaram as caixas com as listas de assinaturas e outras cantaram o hino nacional. O presidente do órgão eleitoral, Roberto Ruiz, ao recebr as assinaturas condenou os “atos de vandalismo”. Ruiz expressou seu “mais categórico repúdio a esse grupo de pessoas, a esse grupo de vândalos que queria impedir que esta manifestação chegasse às portas do CNE”.



Ante um cenário de opositores que gritava “liberdade, liberdade”, o funcionário comprometeu-se em um prazo máximo de 30 dias revisar as assinaturas contidas nos 360 volumes e fazer a análise jurídica da pergunta que se formula, e em outros 60 dias fixar a data do referendo.



Chávez afirmou que essa consulta é anti-constitucional. Embora tenha deixado claro que não teme ir às eleições, sustenta que a via legal é esperar até agosto de 2003, quando na metade de seu mandato a Constituição permite um referendo reconvocatório.



Líderes empresariais, sindicais e políticos da oposição ameaçaram concovocar uma greve indefinida se for fechada a possibilidade de um referendo.



”O POVO CUBANO NECESSITA VIVER EM LIBERDADE”, AFIRMA O OPOSITOR BISCET



Wilfredo Cancio isla



O dissidente cubano Oscar Elías Biscet, recém ex-encarcerado por uma condenação de três anos, lançou ontem contundentes acusações contra o regime de Fidel Castro e exortou a comunidade internacional a desfazer os vínculos com um governo que viola os direitos dos cidadãos da ilha.



”Enquanto exista em Cuba a ditadura castro-comunista, nós, os cubanos não podemos viver em liberdade e democracia, e continuarão sendo violados os direitos humanos”, afirmou Briscet em uma ligação telefônica de Havana.



Em uma coletiva de imprensa convocada na sede do Conselho pela Liberdade de Cuba (CLC) em Miami, Biscet conversou com uma concorrida audiência de repórteres, apenas quatro dias depois de sua libertação do cárcere Cuba Sí, de Holguín.



”Peço aos governos democráticos do mundo, às pessoas amantes da justiça e da liberdade seu apoio ao povo cubano, e não ao governo da ilha, que usurpou o poder e traiu o povo, desonrando-o”, manifestou o opositor.



Biscet leu uma declaração e logo sustentou um animado diálogo por mais de meia hora, com jornalistas e representantes do exílio cubano que se reuniram no lugar. Também se escutou uma mensagem gravada de Jeb Bush, que elogiou o exemplo do dissidente como “um desafio aos que usam a força e a repressão para dobrar os cidadãos e esmagar a liberdade”.



O dissidente, presidente da ilegal Fundação Lawton de Direitos Humanos, disse que após três anos de cativeiro regressou com a idéia clara de que “o povo cubano necessita viver em liberdade” e explicou que ”para a conquista dessa prioridade encaminhará seus passos, seguindo a estratégia de resistência pacífica”.



”Sou um lutador não violento e sempre encaminharei meus passos nessa direção, porém não nego outras opções de luta, porque então estaria negando o que fizeram patriotas cubanos como José Martí, Antonio Maceo e Máximo Gómez”, especificou.



A uma pergunta do El Nuevo Herald sobre sua posição ante o Projeto Varela - iniciativa da oposição interna para um referendo democrático baseado na Constituição vigente –, Biscet foi rotundo: “Quando me apresentaram o projeto em 1997, lhes disse (aos seus promotores) que tudo o que juntasse o povo era bom, porém que eu pessoalmente não assentia, porque jamais jurarei essa Constituição (aprovada em 1976)”, asseverou. “Só jurarei quando se estabeleça uma constituição democrática que respeite os direitos do meu povo”.



Interrogado sobre o embargo e a possível eliminação de restrições para as viagens de americanos à ilha, Biscet apelou para uma metáfora: “Minha postura é pragmática: se você tem um indivíduo que maltrata sua família em sua casa, o correto é expulsar esse indivíduo da casa, não dar-lhe mais dinheiro para que continue maltratando as pessoas”, considerou. “Se a comunidade internacional houvesse agido com Cuba da mesma forma que fez (o regime do apartheid) da África do Sul, há tempo que nosso país seria livre”.



Biscet anunciou que amanhã convidará representantes da imprensa estrangeira credenciados em Havana e, inclusive os jornalistas oficiais, para denunciar as arbitrariedades que se cometem nos cárceres cubanos.



Todas as informações desta edição foram extraídas do jornal El Nuevo Herald



segunda-feira, 4 de novembro de 2002

A situação na Venezuela está cada dia mais tensa e crítica. Estava marcada para hoje a entrega de um abaixo-assinado, ao Conselho Nacional Eleitoral, reiterando o pedido de renúncia do presidente Chávez ou a convocação imediata de um plebiscito que autorizasse nova eleição presidencial. A princípio Chávez debochou dos manifestantes, alegando que a Constituição lhe conferia direitos legais de só convocar esse plebiscito em agosto de 2003. Vendo que seus opositores estavam firmes no seu propósito, e que não arredam pé da praça Altamira desde a parada iniciada em 22 de outubro, esse delinquente ameaça reagir com armas, tal e qual fez no movimento que o depôs por 47 horas em 11 de abril pp.



Ocorre que os manifestantes estão amparados juridicamente pelo artigo 350 da constituição bolivariana que lhes garante a desobediência civil: “O povo da Venezuela, fiel em sua tradição republicana, em sua luta pela independência, a paz e a liberdade, desconhecerá qualquer regime, legislação ou autoridade que contrarie os valores, princípios e garantias democráticas ou menospreze os direitos humanos”. E ainda contraria as atitudes do governante, em seu artigo 68, que afirma com toda a clareza: “É proibido o uso de armas de fogo e substâncias tóxicas no controle das manifestações pacíficas”. Se ele tenta fazer uso da violência, conforme anunciou, acaba dando mais motivos e munição para uma deposição legal e constitucional.



Um manifesto perguntando “você está de acordo que seja solicitado ao presidente Hugo Chávez que renuncie voluntariamente de seu cargo?”, e mais o abaixo-assinado com mais de um milhão de assinaturas recolhidas desde o início da manifestação em 22 de outubro, deve ter sido entregue hoje pela manhã, ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), pelo dirigente de grupo Primero Justicia, Julio Borges. Além disso, esse manifesto dá ao referido órgão eleitoral um prazo até o dia 04 de dezembro para convocar o plebiscito, ou então convocarão outra greve por tempo indeterminado.



Cinco mil efetivos policiais, bombeiros e Defesa Civil custodiariam a manifestação que seguia em marcha até o CNE, onde acontecerá um ato interno, transmitido para o exterior através de painéis gigantes. Essa marcha coincidiu com o retorno à Venezuela do secretário geral da OEA César Gaviria, que vinha intermediando as negociações entre Hugo Chávez e os manifestantes, sem nenhum sucesso até então. Particularmente, eu não creio que esse impasse seja resolvido pacífica e racionalmente, porque nenhum dos lados quer ceder. Os rebeldes estão cobertos de razão, posto que a constituição foi violada, os direitos humanos desrespeitados, a república democrática venezuelana vem sendo gradativamente transformada numa república socialista e o país está caminhando para o caos, a miséria e a incerteza, bem característico de todos os países onde esse regime infame se estabeleceu.



Mas, tem ainda o outro lado da questão que são os acordos feitos no Foro de São Paulo, há 10 anos (sim, porque Chávez passou a integrá-lo em 1992) entre seus fundadores Fidel Castro e o Sr. da Silva, entre outros, de que poriam esse delinquente mental como presidente da Venezuela, para restaurar o socialismo na América Latina. Pactos dessa natureza não se rompem facilmente, muito menos agora, que o outro “ungido” chegou lá, completando a triangulação revolucionária que iria reacender as brasas já quase apagadas do comunismo no continente Sulamericano.



Vamos ver amanhã em que deu essa manifestação...



Ainda nessa edição de hoje, o Notalatina apresenta uma matéria divulgada no jornal “El Nuevo Herald”, que mostra as relações estreitas entre as FARC colombianas e o governo da Venezuela.



ARMAS DA VENEZUELA EM MÃOS DAS FARC



Associated Press - BOGOTÁ



Militares venezuelanos venderam armas caras aos rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), segundo uma investigação realizada pela revista Cambio.



A revista cita um homem de 33 anos de idade e 10 de militância nas FARC, identificado como “El Técnico”, que segundo a consta, forneceu dados à Procuradoria colombiana sobre as remessas de armas e munições que recebeu dos rebeldes da Venezuela, em troca de dinheiro e inclusive gratuitamente.



Segundo a revista, “El Técnico” colaborou com as autoridades ao dar a localização exata de cinco pistas e aeroportos clandestinos, o que prova sua confiabilidade. Também teria ajudado o Exército colombiano a prevenir um ataque aéreo contra instalações militares nas planícies orientais e a capturar em abril de 2001 o narco-traficante brasileiro Fernando Beira-Mar, aliás, ”Fernandinho”, que é acusado de intercambiar armas por drogas com os rebeldes.



”El Técnico” teria assegurado em uma de suas declarações, que em 20 de julho do ano passado acompanhou um chefe regional das FARC, que reuniu-se com cinco militares venezuelanos em uma fazenda localizada na fronteira.



Dessa reunião teria sido acordado que a frente 10 da guerrilha teria como missão garantir as pistas onde seriam entregues os embarques das armas.



Um dos episódios mais representativos deste tráfico teria ocorrido em outubro do anos passado, quando um avião venezuelano que levava metralhadoras modelo MP5, cartuchos para fuzis R-15 e AK-47, além de explosivos C-4, aterrizou em uma pista conhecida como Tranquilandia. O embarque foi entregue por um homem chamado Miguel Moncada, emissário de um coronel venezuelano. Moncada era o dono do avião que em 31 de janeiro passado foi derrubado pela Força Aérea Colombiana (FAC), quando trazia 15.000 cartuchos para a guerrilha. Além disso, o colaborador teria revelado que o meio das rotas para o tráfico de arsenais está disposto estrategicamente, em solo venezuelano, em um aeroporto clandestino conhecido como “El Mono”.



”Está situado exatamente nestas coordenadas: 06 38’ 05,3” latitude norte e 69 37’ 48,4” latitude oeste. Pode ser utilizado como alternativa de escape para aqueles aviões que são interceptados (pelas FAC) ao passar a linha divisória. Inclusive, quando as naves estão plenamente identificadas, são destruídas ali. Segundo a testemunha colombiana, a própria Guarda Venezuelana se encarrega de passar-lhes fogo”, disse a revista.



Embora “El Técnico” tenha assegurado que grande parte dos embarques de armas e munições são pagos com dinheiro fruto do narcotráfico, alguns deles são feitos sem pagamento algum.



O ex-piloto do presidente Hugo Chávez, major Juan José Castillo – hoje na oposição – indicou à Cambio que o governo de seu país “ajudou com armas e dinheiro (da guerrilha) e tem protegido seus membros quando vêm a Caracas”.



Em reiteradas oportunidades se denunciou o suposto apoio de Chávez aos rebeldes colombianos, mas o mandatário venezuelano sempre negou.



domingo, 3 de novembro de 2002

O Notalatina apresenta hoje uma análise da situação sócio-político-econômica de Cuba, de autoria de Ismael Sambra e, embora longa, é fundamental que seja conhecida, pois revela aspectos da situação que poderemos viver nesses próximos 4 anos de governo socialista.



Quando Fidel Castro tomou o poder, em 1959, Cuba era um país promissor e em franco crescimento. 43 anos depois, em absoluta decadência, miséria e opressão do seu povo, o tirano do Caribe cinicamente acusa o embargo norte-americano pelo caos que o país vive. É bom prestarmos atenção porque o governo que breve irá conduzir nosso país, certamente irá acusar o presidente que sai pela “ingovernabilidade”, o que demandará medidas de recessão. Ainda não tomou posse, mas já vem dando mostras sutis disso, quando se refere ao teto do salário mínimo que, com fins nitidamente eleitoreiros prometia elevá-lo para R$ 240,00 entretanto, depois de ganha a batalha afirma que dará o aumento “que for possível” e não o que prometera em campanha.



A MISÉRIA EM CUBA COMO POLÍTICA DE GOVERNO



Por Ismael Sambra



Desde sua chegada ao poder em 1959, Fidel Castro quis demonstrar que antes em Cuba se vivia mal e que seu governo levou justiça e riqueza ao país. Todavia, quando Fidel Castro chega ao poder se encontra com uma economia florescente, onde o peso cubano tinha o equivalente a um dólar e até o superava. Hoje em dia, 43 anos depois daquele “acidente histórico”, a ilha vive submergida na pobreza e com uma economia totalmente arruinada. Porém, a Fidel Castro não importa este fracasso. De todos os modos as privações, a escassez e a miséria criadas por seu nefasto regime, lhe serviram para defender-se e sustentar-se. É mais do que isso, a ruína econômica foi provocada por ele e finalmente manejada como uma arma ideológica e como estratégia política para manter o povo submisso.Com muito menos da metade das catástrofes criadas por Fidel Castro, qualquer outro governo no mundo teria inevitavelmente colapsado. Entretanto, a deterioração social, moral e econômica provocadas na nação, o têm ajudado paradoxalmente a sustentar-se. Como se explica isso?



Na perene incerteza tem vivido o povo cubano, com um governo que vive culpando um inimigo externo, os Estados Unidos, dos problemas internos. Não devemos estranhar. Com tal justificativa têm governado os comunistas desde que tomaram o poder em 1917 na Rússia, até que perderam quando em 1989 a cúpula governante aceitou que o único culpado do descalabro sócio-econômico era o inoperante sistema adotado, incapaz de produzir benefícios e riquezas reais para o homem. Fidel Castro escolheu tal sistema como modelo, não porque confiasse nele como modelo para o desenvolvimento, mas porque era o que mais lhe convinha para perpetuar-se no comando. Viu que na Rússia Stálin e seus sucessores se mantivera, apesar dos milhões que morreram de fome e frio. Não importa que o povo viva na miséria, sempre haverá em quem jogar a culpa.



Desta maneira, Fidel Castro pode distrair o povo. O povo se emaranha dia a dia em uma luta tenaz pela sobrevivência. O fato de ter que se deitar pensando no que vai comer no outro dia e em como resolver as necessidades básicas para a família, não deixa a ninguém espaço nem tempo para mais nada e muito menos para organizar um protesto massivo e lutar contra o verdadeiro culpado pelo desastre: o totalitarismo comunista. A miséria em Cuba é muito mais que um acidente, é um fato premeditado. Nem sequer nos melhores anos da década de 80 se eliminou o Cartão de Racionamento de roupas e alimentos, quando se abriram os chamados “Mercados Paralelos” a preços exagerados com as importações de países socialistas. Isto vem completar a diabólica fórmula de repressão da chamada “Ditadura do Proletariado” que tem sido na prática, uma ditadura contra o proletariado.



A POLÍTICA EM PRIMEIRO LUGAR



Em Cuba não existe liberdade política e a política está em primeiro lugar. A presença de um só partido em Cuba contradiz as idéias de José Martí, nosso Apóstolo da Democracia, que proclamou que “a liberdade política assegura... a dignidade do homem” e que “os partidos vêm a ser o molde visível da alma do povo, seu braço e sua voz...” (Obras Completas, t. 2, p. 35). O doutrinamento político tem sido e é um elemento de primeira ordem nos governos comunistas. Em Cuba e nos países que se empenharam na construção do comunismo, a política sempre predominou acima dos valores e princípios econômicos. Os comunistas esqueceram de propósito a regra de que “sem o crescimento sustentável da economia, é falsa qualquer tipo de conquista social”. Em sua maioria as chamadas leis revolucionárias não têm sido outra coisa que leis populistas para conseguir adeptos, distanciados de toda lógica e dos pilares econômicos que sustentam um país.



Assim o Estado cubano se sustenta não com o que produz, mas com o que rouba do povo. A gratuidade da educação e a atenção à saúde é uma das maiores vigarices que inventaram contra os trabalhadores, pois estes são mal pagos, mal alimentados e obrigados ao silêncio. A inconformidade e a dissidência estão vedadas e só levam ao exílio, ao cárcere e ao “paredón” de fuzilamento.



Nisto é que unicamente tem sido eficiente Fidel Castro. Sua máquina repressiva atuou sempre em ponto, desde as repressões psicológicas até as físicas. Durante anos tem sido capaz de paralizar as fábricas para obrigar os operários a assistirem os desfiles, os atos de recepção de altos funcionários ou para celebrar qualquer acontecimento político que beneficie seu regime. O vimos recentemente paralizando a escassa produção e o débil funcionamento da economia, para mobilizar os estudantes e os trabalhadores no caso do menino Elián González. Tudo isso se traduz em gastos e perdas econômicas. Jamais um país com economia de mercado, onde se respeitam as leis da produção e onde os operários são pagos por cada hora de trabalho físico e produtivo, cairia em semelhante disparate. Daqui começam as economias para a prosperidade. Os milhões que Fidel Castro gasta em Cuba e no estrangeiro para propagandear seu nefasto regime, teriam servido melhor para desenvolver o comércio e alimentar melhor seu povo. As ruas de Toronto, para citar só este exemplo, estão cheias de gigantescos anúncios luminosos que dizem somente CUBA SIM e sabemos que cada um custa mil dólares.



DILAPIDAR MILHÕES



CUBA SIM, CASTRO NÃO, diriam então nossos cartazes, se contássemos com dinheiro; porque Castro é o problema e demasiadas são as suas violações. Todas as nações democráticas devem exigir de Castro o respeito à livre expressão e aos direitos humanos em troca de ajuda econômica. Espanha e Canadá podem desempenhar um papel fundamental neste sentido. Estas violações não são um problema de assuntos internos de Cuba, mas um problema que importa a todos, porque Fidel Castro continua zombando de todos quando nas Cúpulas Iberoamericanas e outros eventos internacionais assina acordos de respeito aos direitos humanos e ao pluripartidarismo, mas imediatamente persegue e encarcera os cubanos quando fundam outros partidos e defendem a liberdade. O diálogo sobra, porque não se pode dialogar com um vigarista, nem com alguém que só quer fazer monólogos.



Em Cuba a miséria e a prostituição aumentaram, não por culpa do Bloqueio Americano, como disse Mr. Gilbert Parent, um Speaker da Câmara dos Comuns no Canadá e como dizem alguns, ao querer culpá-lo pelos altos níveis. O principal bloqueio foi imposto por Fidel Castro, à livre atividade econômica dos cubanos em seu país. Castro continua como dono das empresas que agora reparte entre os ambiciosos capitalistas a quem não importa dar oxigênio a um tirano. A miséria e a prostituição aumentaram por culpa de um sistema que fracassou desde o ponto de vista político, econômico e social e por culpa de Fidel Castro que não faz profundas mudanças. As meninas se prostituem em Cuba cada dia mais, por um prato de comida ou por alguma roupa para vestir, porque ele arruinou a nação enviando tropas internacionalistas a lutar em Angola e outros países, onde morreram inutilmente milhares de cubanos, e prestando ajuda logística a grupos terroristas. Seu descarado apoio aos grupos ETA na Espanha e as FARC na Colômbia, o põem na lista dos governos que apoiam o terrorismo. Milhões, tudo isto tem custado ao povo cubano.



Castro pode comercializar com outras nações que querem comercializar e realizam políticas independentes às dos Estados Unidos, como por exemplo, o Canadá. Então temos que em Cuba não há comida nem outros recursos elementares para a população, simplesmente porque Castro não tem interesse nem dinheiro com que comprar. Castro ficou na ruína depois de haver dilapidado de 4 mil a 5 mil milhões de dólares anuais, do dinheiro recebido como subsídio soviético, os quais estavam muito interessados em mantê-lo como satélite frente aos Estados Unidos, quando da Guerra Fria. Castro pode exportar e importar quanto quis.



Por exemplo, Cuba exportou ao Canadá na primeira metade de 2000, uns 187 milhões de dólares. Todavia, Cuba importou somente uns 132 milhões de dólares em bens do Canadá. E se compararmos com as importações realizadas em 1999, as quais ascenderam a 188 milhões no mesmo período, vemos que houve uma diminuição de 56 milhões de dólares (The Report, Newsmagazine, Canadá, 11.20.2000, pg. 24 – www.report.ca). Onde estão então o bloqueio, se o Canadá vende a Cuba tudo que Fidel Castro quer? Cuba, apesar do bloqueio americano, comercializa com mais 150 países do mundo! Não me cansarei de repetir que o único bloqueio que afeta Cuba, é o bloqueio interno que Fidel Castro criou a todas as liberdades.



A VERDADEIRA INFORMAÇÃO



Os jornalistas e a imprensa credenciada não deveriam perder isso de vista, na hora de publicar informações e comentários sobre Cuba. Com uma descrição adulterada e/ou tergiversada, se alimenta a mentira. Melhor não dizer nada, se não somos capazes de dizer tudo. Hitler trabalhou sua propaganda nazi-fascista sobre o princípio goebeliano de que ”a mentira repetida muitas vezes adquire categoria de verdade”. Fidel Castro faz isto e os jornalistas, em primeiro lugar, temos o dever supremo de desmascará-lo. Ele investiu milhões de dólares para confundir e chantagear, para prender lacaios e fanáticos detrás dos seus bastidores.



Alguns jornalistas credenciados em Cuba se fazem de tolos frente aos desmandos do ditador e a repressão que vive a nação cubana, porque não querem ser assinalados pelo tirano e expulsos de Cuba. Optaram, lamentavelmente, pela mancha da tibieza. Já sobram exemplos. Os jornalistas cubanos da linha oficial, como são assalariados por Castro, evitam desgostá-lo. Mas o que dizer dos que no estrangeiro usam sua pena, aproveitando-se da livre expressão para defender a tirania de Fidel Castro? São oportunistas frustrados porque “a tirania é una em todas as suas formas”, como disse José Martí. Respeitem os jornalistas cubanos independentes que trabalham para refletir informação e valorizar a realidade do que ocorre em Cuba. No enfrentamento com o regime terminam marginalizados, difamados, perseguidos, encarcerados e acusados de servir à CIA, porque a máquina repressiva do sistema não permite a ninguém a mais mínima liberdade de discordar.



Frente à disjuntiva, muitos cubanos se vêem forçados a ceder, a adotar uma dupla moral e a esperar uma boa oportunidade para escapar. O exemplo nos deram há umas poucas semanas os 25 peregrinos cubanos que desertaram da delegação que chegou a Toronto para celebrar com o Papa a Jornada Mundial da Juventude. Lhes perguntávamos se haviam assinado o documento que Fidel Castro inventou para eternizar o comunismo em Cuba. Nos disseram todos que sim, que não tinham outra opção a não ser assinar e quando lhes foi dada a oportunidade de viajar, escaparam. Todos são profissionais, todos merecem nosso profundo respeito, apoio e amor, porque escapar da opressão, vemos também como uma forma de rebeldia.



Só os homens da vanguarda enfrentam os sistemas despóticos a expensas de suas vidas. Fidel Castro acusa seus opositores de serem uma minoria, porém nunca se atreverá a realizar eleições livres nem nenhum referendum que o ponha em perigo. Sabe que não há tal minoria e que sua aceitação é cada vez menor. Sob seu governo, o trabalhador cubano se converteu no mais mal pago do mundo, com um salário mínimo equivalente só a 10 dólares por mês, em um país onde tudo se vende por dólar.



A catástrofe que confronta a Argentina há uns meses não é nada se a compararmos com a catástrofe que confronta Cuba, há mais de quatro décadas. A diferença reside em que os argentinos acostumados ao bem-estar, levaram ao colapso a quatro governantes e os cubanos acostumados às crises, suportam o seu, porque Castro utilizou, além disso, a miséria como arma ideológica para manter-se no pdoer e anulou qualquer capacidade de protesto. A miséria em Cuba já não assusta ninguém. Os cubanos parecem resignados a esperar e a viver dentro dela.



Fonte: La Voz de Cuba Libre (www.lavozdecubalibre.com)