sexta-feira, 22 de novembro de 2002

As notícias veiculadas hoje deveriam ter sido editadas ontem, dia 21, mas por problemas técnicos não foi possível retransmití-las. Preferi divulgar a mesma edição que fora preparada para ontem, considerando a gravidade das mesmas.



Continua o impasse na Venezuela. O mediador da OEA, César Gaviria, não parece demonstar muito empenho em resolvê-lo, sobretudo por ser colombiano e simpático às FARC, além de ter sido embaixador da Colômbia na Venezuela antes de ir para a OEA.



O jornal El Nuevo Herald nos informa, dia a dia, a crítica situação que atravessa nosso vizinho e, pelo que venho acompanhando, o delinquente Chávez está, junto com Gaviria, cozinhando a crise em banho-maria, até a tomada de posse do novo “ungido” da múmia assassina do Caribe, seu amigo e aliado Lula da Silva, que lhe dará mais força e poder.



Ainda nesta edição, a carta de um correspondente venezuelano acerca do movimento de desobediência civil, na ótica de quem está participando e se arriscando em nome da liberdade de sua pátria.



E como não podia deixar passar sem uma referência, as FARC fazem neste fim de semana que passou, 16 novas vítimas de sua inominável barbárie. Em confronto com o grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), um grupo guerrilheiro ultra-direitista que disputa com as FARC a liderança de espaços (e poder de fogo), 16 de seus integrantes são mortos, decapitados e castrados sumariamente. Não sou a favor de nenhum dos dois grupos, mas o que impressiona é o requinte de crueldade que caracteriza as FARC em suas ações, que não poupa ninguém: civis, militares, para-militares, crianças, idosos, clero. Não há nada que detenha a sanha assassina dessa escória. E imaginar que o “carro-chefe” da transição governamental é um forte defensor dessa sub-raça e que o novo presidente assinou um pacto de solidariedade com marginais dessa espécie, é qualquer coisa de assustador e inimaginável. E ainda há calhordas bastantes em nosso país que qualificam como delirantes àqueles que insistem em alertar sobre o risco que corremos todos com o “Eixo do Mal”. “Seu Marcito”, o lambe-botas mór do “ungido” e do psicopata assassino da ilha-cárcere tem-se mostrado incansável, nessa tarefa da desinformatzia...



PEDEM VIGOROSA REAÇÃO DA OEA PARA PARAR O CAOS NA VENEZUELA



Agência France Press – Washington



A Organização dos Estados Americanos (OEA) deveria aplicar vigorosamente a Carta Democrática Interamericana para evitar que a Venezuela caia em uma guerra civil ou se instaure um regime autoritário, afirmou ontem o vice-presidente do Diálogo Interamericano, Michael Shifter. “Uma vigorosa resposta às explosivas condições na Venezuela está mais do que justificada”, disse Shifter em um artigo de opinião no jornal The Washington Post.



”A polarização política e social tem posto o país à beira da paralização, do caos, e possivelmente de uma guerra civil, e é urgente que os demais membros da OEA, especialmente Brasil e Estados Unidos, ponham-se de acordo para exercer uma pressão construtiva para uma solução pacífica e democrática”, estimou o analista.



Para Shifter, os confrontos recentes entre ogverno do presidente Hugo Chávez e seus opositores, manifestam que a violência poderá crescer e facilmente ficar fora de controle, enquanto os Estados Unidos “queimado por sua torpe resposta à fracassada tentativa de golpe de estado de abril passado, insta a um compromisso”.



Para o Secretário Geral da OEA, César Gaviria, “é agora o único canal de comunicação entre as partes e representa a melhor opção para uma saída pacífica”, porém necessita de ajuda dos governos membros da OEA, entre os quais o Brasil é especialmente influente na Venezuela, apontou Shifter. Considerou, todavia, que o papel dos Estados Unidos é vital, e recomendou que Washington mobilize o apoio de outros governos e ponha seu próprio peso na balança para criar as condições para uma solução democrática na crise venezuelana.



”Se os Estados Unidos e outras nações do hemisfério não atuam mais afirmativa e construtivamente, a Venezuela poderá continuar deslizando para um confronto ou Chávez poderá consolidar um regime mais autoritário. Qualquer dos dois cenários seria desastroso”, concluiu.



TODOS À RUA



Ricardo Mitre



O regime quer expulsar a parada na provocação. Põem os tanques na rua, reprimem a população civil, de modo que Maduro reitera seu cínico chamado a negociar e um “reaparecido” Fiscal da República (?) se apressa em explicar que a intervenção da Polícia Metropolitana está “apegada” à Lei que foi invocada para fazê-lo.



O Tenente Coronel* maneja com os conceitos de Von Clauwsevitz como livro de cabeceira. Definitivamente nos declarou guerra. E se sabe, na guerra vale tudo. Nós somos o inimigo a aniquilar. Não importa se “na arte da guerra” há que se mentir, enganar ou reprimir. O regime não padece de cargas éticas nem de pesos nas consciências.



Tudo dá no mesmo: a mesa de negociação ou a repressão da Guarda Nacional, são apenas um recurso, um cenário no qual se desenvolve a contenda. Para o regime, tanto faz um discurso ou uma granada de gases lacrimogênios. A utilização de qualquer um dos dois, é um simples problema de funcionalidade.



Os delírios do Tenente Coronel: filho de Bolívar, irmão de Fidel, novo Che latino-americano, trata o país a patadas que em seu mandato estreou três milhões de novos pobres, que aplica políticas do mais cru neoliberalismo. . Não importa; ele a tudo ignora. A corrupção crescente, também. O país está no imaginário dos “iluminados”. O país virtual é o deles.



Não interessa, assim mesmo, que a PM tenha intervindo em nome da Não-Repressão e que para sustentá-la se reprima mais. Nas ditaduras só existe a história oficial. O dia em que metam a mão nos meios de comunicação, será tudo como no Canal 8 ou Granma. Esse dia, por nosso intermédio, não chegará.



Enquanto escrevo estas linhas, a televisão me devolve a imagem de um regime que, nas moças, foram tiradas definitivamente as máscaras, ante o imenso músculo democrático deste povo que esteve o dia todo na rua, às vezes organizado por sua liderança e em outras, espontaneamente.



Os acontecimentos entraram em sua fase final. O regime nos provoca, porque não quer medir-se nas urnas, porque lhe aterroriza o espelho que quer afanosamente quebrar. Se bem que a saída eleitoral é o último objetivo desta luta, não podemos ficar de braços cruzados ante estas agressões e devemos dar a resposta que lhe demos hoje: as pessoas nas ruas desmascarando-os. Não há nada que doa mais a uma ditadura, do que desmascará-la.



O outro campo de luta é a Mesa de Negociações e Acordos. Nossos negociadores devem aproveitar essa tribuna que o regime quer derrubar a todo custo, para patentear ante os organismos internacionais que esta ditadura está tirando a máscara. Há motivos para invocar a Carta Interamericana. Esperamos que o genuflexo anúncio do “chefe da revolução” no sentido de garantir o fornecimento de petróleo aos Estados Unidos, não seja um obstáculo insolúvel: agora Shapiro se parece demasiado a Isaías Rodríguez. Há, não obstante, otras testemunhas e demasiadas evidências.



Não devemos perder a paciência. A Parada Cívica é nossa última instância e assim devemos administrá-la. Há que continuar na rua. As ações que nossos prefeitos e o povo emprenderam ontem, em Marí Pérez, deixaram descobertos os rostos dos violentos. O repressor (Cel.) Alcalá Cordones parecia muito satisfeito em fazer ameaças ante civis desarmandos. Que o mundo veja, uma vez que nós, é bom que se saiba, não esqueceremos. Hoje continuaresmo exercendo a desobediência. Não temos medo, é mais que uma ordem. Teremos a ardente paciência que faz falta para continuar nas ruas.



* Tenente Coronel é a patente do presidente Hugo Chávez. Assim se referem a ele de vez em quando, em vez de chamá-lo pelo nome.



AS FARC MATAM 16 PARA-MILITARES



Associated Press – BOGOTÁ



Ao menos 16 para-militares da ultra-direita mortos, foi o saldo do combate que empreenderam no fim de semana as guerrilhas, na aldeia de Cupica, uma zona selvática do noroeste da Colômbia, segundo um primeiro balanço da Defesa Civil e das autoridades policiais, divulgado ontem.



Uma comissão da Defesa Civil entrou na segunda-feira nessa aldeia do município Bahía Solano, no departamento de Chocó e encontrou 16 corpos, identificados como membros das para-militares Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). “Contaram 16 cadáveres e viram alguns decapitados. Estavam muito próximos da praia, pelo que é possível que a maré os leve”, manifestou Eustorgio Perea, diretor departamental da Defesa Civil.



Perea relatou à imprensa que a comissão desse organismo de socorro, após superar dificuldades de acesso ao terreno e ao mau tempo, conseguiu chegar de lancha ao local do enfrentamento, porém não desembarcou por precaução. “Os 16 cadáveres são de membros das Autofesas, porém não se descarta que haja mais mortos. Hoje (ontem, terça-feira) logo cedo da manhã saiu uma tropa de Infantaria da Marinha, e acompanhados da Procuradoria e das entidades de controle para verificar a situação”, acrescentou o comandante da Polícia de Chocó, coronel Ricardo Vargas.



O Exército retomou ontem o controle de Cupica, seundo informes da agência de notícias do Exército. Em impressionantes imagens televisivas, aparecem os corpos jogados na praia do Pacífico, alguns sem cabeça e com as braceletes das AUC. O diretor da Defesa Civil do Chocó, Eustorgio Perea, afirmou na segunda-feira que os cadáveres dos para-militares foram encontrados mutilados e castrados.



Várias famílias da área se deslocaram por causa dos enfrentamentos entre os grupos para-militares e a guerrilha das FARC, que disputam o controle de Chocó, uma rica região selvática, com abundantes recursos naturais. A governamental Rede de Solidariedade Social afirmou que já está prestando ajuda às pessoas que se deslocaram fugindo. “As famílias se refugiaram na Bahía Solano e manifestaram sua vontade de regressar, tão logo o Exército tenha assegurada a área”, disse Luis Angel Moreno. “Pensamos que quinta-feira voltarão”.



Moreno afirmou que as pessoas que não conseguiram chegar à Bahía Solano, já retornaram a suas casas e o deslocamento conseguiu ser freado. Um pai de família está desaparecido desde o domingo, dia dos combates em Cupica.



O deslocamento na Colômbia aumentou no último trimestre, onde quase 150.000 pessoas fugiram de seus lares pelo aumento da violência, de acordo com a ONG Conselheiria para os Direitos Humanos e o Deslocamento (CODHES).



Todas as informações, exceto a carta do venezuelano, tiveram como fonte o jornal El Nuevo Herald.



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