domingo, 27 de outubro de 2002

NOTALATINA EDIÇÃO EXTRA



Apesar de já ter sido editada a nota deste sábado, acabo de receber um comunicado da Venezuela que julgo necessário divulgar. A situação lá está cada vez mais tensa. Ontem, Chávez fazendo de conta que o movimento da Praça Altamira não existe, convocou a população e seus seguidores para antecipar os festejos de Natal, uma atitude bem própria de alguém sem vínculo algum com religião ou temor a Deus. Compareceram grupos folclóricos, “gaiteros”, houve música e dança bem próprios do “Pão e Circo”.



Entretanto, o que se comenta é que Chávez não está em Caracas, mas em Ilha Margarita, de onde surgem rumores de que lá também está o ditador Fidel Castro, que foi levado com enorme séquito para submeter-se a uma cirurgia de emergência; não se confirma, nem nega-se. Curiosamente, Chávez desmarca um encontro que teria ontem, com presidentes de vários países, sob a alegação de que o momento não era oportuno por estarem vários desses países envolvidos em campanhas eleitorais. No entanto, mesmo à distância, este aprendiz de tirano não deixa de mandar seus recados e estes acenam para um futuro sangrento, pois em declaração dada ontem, Hugo Chávez disse: "Que não se equivoquem. Se é que pretendem dar outro golpe de Estado, se é que pretendem arremeter contra as instituições pela via armada, pois responderemos pela via armada". Só que esse é um movimento pacífico e que, até agora, sem a intervenção das Milícias Bolivarianas, não aconteceu nenhum incidente que merecesse preocupação.



Quando as cornetas não deixam de soar



Hoje é sábado, 26 de outubro de 2002.



São 8 PM e parece que o leste de caracas está em completa festa. As ruas repletas de carros por toda parte fazendo tocar suas buzinas e com as luzes intermitentes acesas. Situação que vem durando todo o dia.



A Praça Altamira transbordada por uma parte da população que apoia a posição assumida pelos militares dissidentes do governo. Já são 99 horas de permanente apoio cívico, político, cultural e econômico.



Os meios de comunicação resenham muito limitadamente o que está acontecendo. Continua a mordaça ? Na terça-feira todos os canais de televisão foram ameaçados pelo governo de cortar o sinal, se transmitissem ao vivo o que estava ocorrendo em Altamira. Continuará mantendo-se tal ameaça?



A “rede de esquálidos” pela internet foi fechada e estão recebendo mensagens em nome da rede que são falsas.



Nos quartéis militares, há incomunicabilidade total. Não têm contato com rádio, imprensa ou televisão e muitos tiveram seus celulares tomados, de maneira que não podem se comunicar com seus familiares. Continuam aquartelados, apesar do Alto Comando Militar negar. E se não estivessem, por que, sendo fim de semana, não deixaram sair os oficiais e as tropas às suas respectivas residências?



Enquanto isto sucede, continuam chegando ônibus e carros particulares de Maracaibo, Mérida, Táchira, Valência, San Juan de los Morros, etc., à praça de Altamira de Caracas,



...enquanto o governo celebra na Avenida de los Próceres, adiantando as festas natalinas, “O Gaitaço” com assistência obrigatória da parte de todos os membros da administração pública, em uma triste tomada de “cachaça popular”.



Estamos frente a uma delicada situação que se debate entre a desobediência cívico-militar, o pedido de renúncia do Presidente da República e o desejo da celebração de uma imediata consulta popular ou referendo consultivo.



Silvia Schanely de Suárez



Internacionalista, doutorado em Ciências Políticas



Membro da Coordenadoria Democrática



Fonte: La Voz de Cuba Libre



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