Se o ex-presidente Álvaro Uribe tivesse uma bola de cristal e pudesse nela ver o futuro de seu país, seguramente não teria indicado Juan Manuel Santos como seu candidato, nem teria ajudado a elegê-lo. Desde os primeiros dias do governo de Santos venho denunciando a traição monumental que ele fez, não só a Uribe, mas sobretudo ao país e aos mais de 9 milhões de colombianos que o elegeram acreditando que ele iria cumprir o prometido em campanha, ou seja: dar continuidade ao Plano de Segurança Democrática implantado por Uribe, acabar com as FARC e os outros bandos terroristas, e dar continuidade ao desenvolvimento econômico.
Nada disso foi feito, ao contrário. No dia seguinte à posse, sua primeira providência foi fazer as pazes com o ditador venezuelano Chávez, a quem o apelidou de seu “mais novo melhor amigo”, retirou as denúncias que pesavam contra ele na OEA, com fartas e fidedignas provas documentais de acampamentos das FARC na Venezuela, com o conhecimento e apoio de Chávez, cancelou o convênio de cooperação militar que mantinha com os Estados Unidos, e montou seu ministério inteiro com sabidos opositores e inimigos declarados de Uribe.
A indignação dos eleitores não tardou e as reações começaram a aparecer através das redes sociais, sobretudo Twitter e Facebook. A mídia toda tornou-se “anti-uribista” e “santista”, e a perseguição e censura aos que se opunham aos desatinos do novo presidente calou a voz de muitos comentaristas vinculados a Uribe, como José Obdulio Gaviria e o ex vice-presidente Francisco Santos, primo de Juanma que, no entanto, não apoiava a mudança de rumo que nitidamente estava levando o país aos caos.
Santos passou a agredir publicamente aqueles que se sentiam traídos em seu voto, chamando-os de “mão negra”, “tubarões” e, finalmente, no discurso que fez na Convenção Nacional do Partido da U, referiu-se ao ex-presidente Uribe - que foi ovacionado quando chegou, várias vezes durante seu discurso e na saída - de “rufião de esquina” que traz “um punhal debaixo do poncho” (referindo-se a traição). Aí ele extrapolou todos os limites porque, além de rotular um ex-presidente digno com tamanha baixeza, para os colombianos o “poncho” é um símbolo quase sagrado daqueles que trabalham duramente nos campos e que Uribe sempre o trouxe dobrado no ombro para reafirmar suas origens.
Finalmente, quando começou a farsa das “negociações de paz” com as FARC, onde os terroristas estão lavando a burra às custas do erário público com passeios entre Oslo e Havana, fazendo exigências descabidas e sendo indultados de seus incontáveis crimes de lesa-humanidade, enquanto os militares estão sendo encarcerados e condenados a longuíssimas penas com base em testemunhos falsos, os colombianos resolveram dar um basta a tudo isto e mostrar seu descontentamento através de um “cacerolazo” (panelaço) que ocorre hoje à noite em todo o país.
A idéia foi inspirada no “cacerolazo” que houve em princípios de novembro na Argentina e que inundou as ruas de Buenos Aires, deixando a presidente Cristina Kirchner de cabelos em pé. O mesmo ocorre na Colômbia, onde, “curiosamente”, num só dia 15 pessoas, das mais atuantes, tiveram suas contas de Facebook e Twitter bloqueadas.
Eu havia feito entrevista com dois amigos colombianos que estão liderando o cacerolazo em suas respectivas cidades, mas lamentavelmente não disponho de tecnologia ou assessores para trabalhar a parte técnica do blog e, mesmo contando com a abnegada generosidade de dois amigos brasileiros, o canal de vídeo onde se colocou as entrevistas não permitiu que as mesmas saíssem como deveria ser, isto é, com entrevistador e entrevistados, em imagem e som. Apenas minhas perguntas se ouvem, enquanto a imagem do entrevistado aparece sem som algum. Diante disso, e com um profundo desgosto, essas magníficas entrevistas não vão constar da edição de hoje.
Entretanto, para que se conheça algo dessa manifestação, publico o editorial do Dr. Fernando Londoño de ontem, em seu programa “La Hora de la Verdad”, em que ele justifica os motivos para que se faça tal evento, e uma entrevista de Angela Zuluaga, praticamente a “mãe” do “cacerolazo”, grande líder colombiana, a um canal argentino, para substituir a entrevista que fiz a ela e que, lamentavelmente, não foi possível publicar. Abaixo a entrevista com Angela Zuluaga, “Dama Verde-Oliva” de Manizales.
Os motivos básicos desta manifestação são esses: recrudescimento das ações terroristas, reforma da Justiça, vítimas das FARC, reforma da educação, política agrária, a sentença de Haya sobre o arquipélago San Andrés, o abandono das denúncias de presença das FARC em território venezuelano, o tal “acordo de paz” com as FARC e muitas outras mais. Sobre este acordo e a sentença de Haya posteriormente farei um artigo que será publicado aqui no Notalatina, pois há muitos detalhes (sórdidos) que tornariam a edição de hoje demasiado extensa.
As ilustrações desta edição foram todas elaboradas pelos “caceroleros” colombianos, a quem agradeço mas não posso nomeá-los, porque foram se espalhando pelo Facebook sem que soubéssemos a autoria. Em breve falarei de como foi o evento, tão logo receba fotos e/ou vídeos das diversas cidades onde a manifestação ocorreu. Fiquem com Deus e até a próxima!
Comentários: G. Salgueiro