Neste fim de semana a Venezuela recebe dois presidentes indesejáveis: Ollanta Humala, do Peru, que chegou hoje para estreitar laços com Chávez após acertos feitos durante a inútil reunião da CELAC, e amanhã à noite o ditador do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Ele diz que vem “estreitar laços” com os países da América Latina, mas na verdade o que significa sua presença na Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador, é conspirar junto com seus aliados contra os Estados Unidos e Israel.
A esse respeito, existe muita preocupação por parte dos venezuelanos residentes no país e exilados no exterior, mas muito mais por parte de congressistas republicanos, notadamente a cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen, que faz parte do Comitê de Relações Exteriores dos Estados Unidos. Todos pedem ao governo Obama que tome medidas mais drásticas em relação às investidas de Ahmadinejad que, como retaliação “preventiva”, fez um ensaio de mísseis de Teerã no Estreito de Ormuz.
Ahmadinejad já anunciou que empregaria toda sua força caso Washington não renuncie à presença de sua força naval no Golfo Pérsico, coisa que a Casa Branca já alertou que não fará, e o ditador iraniano ameaçou fechar o Estreito de Ormuz por onde transita 35% do tráfego marítimo de petróleo.
É sabido há anos que a Venezuela é rica não só em petróleo mas também em urânio, e que o interesse do Irã por aquele país não é somente por afinidades ideológicas com Chávez. Desde 2005 eu venho alertando sobre os negócios do urânio entre Venezuela e Irã, que pode-se ler numa nota desta edição aqui. Depois disso eu falei mais a respeito, inclusive nos misteriosos vôos Teerã-Caracas, nas fábricas de cimento, tratores e bicicletas, e os estados ricos nesse mineral, mas o tempo exíguo de que disponho para fazer esta edição não me permitiu pesquisar mais para re-publicar.
Entretanto, como esse tema agora tem tido comprovações e denúncias daquilo que os venezuelanos já desconfiam há tempo, publico nesta edição um artigo produzido pelo jornal espanhol ABC, publicado em 12 de dezembro passado, que é praticamente uma seqüência de outro publicado simultaneamente pelos sites Mídia Sem Máscara e Papéis Avulsos do Heitor De Paola. A foto que ilustra esta edição é uma vista aérea da “fábrica de tratores Venirán” que é, na verdade, uma empresa de fachada. Não deixem de ler os links indicados para compreender toda a trama por trás desta “inocente” visita, e o perigo que todos nós sul-americanos corremos com estas alianças nefastas. Fiquem com Deus e até a próxima!
O Irã procura urânio na Venezuela para desenvolver seu programa nuclear
O regime de Teerã utiliza suas concessões para a extração de ouro no país bolivariano e emprega várias empresas civis como fachada
Emili J. Blasco/Correspondente em Washington
Técnicos iranianos estabeleceram quais são as áreas de maior riqueza de urânio na Venezuela e já estariam extraindo o estratégico mineral sob a cobertura do regime de Hugo Chávez, de acordo com documentação confidencial à qual o jornal ABC da Espanha teve acesso. Não só o acordo de colaboração nuclear firmado entre ambos os países viola as sanções internacionais impostas a Teerã, senão que, além disso, uma complexa trama de empresas e bancos estaria permitindo ao Irã a lavagem de dinheiro para seu alívio financeiro.
Os últimos dados sobre colaboração militar, com a venda de aviões não-tripulados à Venezuela (transações comprovadas por este jornal) e a possibilidade de que também mísseis de fabricação iraniana já estejam em solo venezuelano (assim apontam algumas fontes mas sem evidência gráfica), fizeram soar os alarmes nos Estados Unidos. Esta semana a consulesa da Venezuela em Miami, Livia Acosta, poderia ser expulsa do país, depois que um documentário de Univisión revelou com uma câmera oculta sua implicação na obtenção de informação para cometer atentados em solo norte-americano.
A conexão do regime de Chávez com elementos do Hizbolah, já levou Washington a tomar medidas no passado, porém em meio à presente crise entre o Irã e os Estados Unidos a vinculação entre a república islâmica e a bolivariana começa a atrair a atenção da CIA. Assim revelou Roger Noriega, alto funcionário na administração Bush, que agora investiga a penetração do Irã na América Latina, em uma recente intervenção no American Enterprise Institute. A aproximação entre os dois países consumou-se em 2005, ano em que o presidente Jatami visitou Caracas. Chávez devolveu a visita em 2009, correspondida meses depois pelo presidente Ahmadinejad. Na documentação oficial desses encontros, que ABC pôde consultar, se contabilizavam alguns projetos de colaboração de 30 bilhões de dólares, cifra desmedida quando se analisa pormenorizadamente cada investimento. As vultosas quantias teriam como finalidade facilitar divisas ao Irã.
Vista aérea da "fábrica de tratores Venirán" (Crédito: jornal ABC da Espanha) |
Entre os suspeitos investimentos está a fábrica de cimento Cerro Azul (na foto), no estado Monagas. Seu orçamento é de 750 milhões de dólares, o que no julgamento de consultores externos é desproporcional para a produção que deseja realizar. O fato de que leve seis anos planejada e ainda não começou sua produção, levou os grupos opositores a pensar que pode se tratar de uma empresa de fachada, principalmente quando ademais está proibido seu sobrevôo. Suspeitas não confirmadas apontam que a instalação, com fácil acesso ao rio Orinoco, poderia servir como lugar de carga do urânio que o Irã poderia estar obtendo no vizinho estado Bolívar, em uma concessão para a suposta extração de ouro.
Esta mina, igualmente sem permissão de sobrevôo, encontra-se em uma das áreas mais ricas em urânio da Venezuela. Embora a zona conte com jazidas de ouro, curiosamente a empresa pública iraniana que a explora, IMPASCO, não aparece na relação de companhias que extraem ouro na Venezuela. A IMPASCO, além de se ocupar de diversos minerais, está vinculada ao programa nuclear iraniano.
Determinar precisamente onde se encontram os pontos mais eficientes para a obtenção de urânio, foi tarefa dos técnicos iranianos que realizaram estudo geológico em 2007, para o Instituto de Indústria e Minas (INGEOMIN). O estudo foi apresentado depois por Chávez ante a OIEA para explicar seu projeto de erigir uma usina nuclear própria, cuja construção se encarregou a mesma companhia russa que levantou a central iraniana de Bushehr. Outra das zonas com potencial de urânio é em Baúl, no estado Cojedes.
Similar falta de atividade normal para o que seria sua produção declarada é a fábrica de tratores Venirán. Supostamente, o acoplamento de peças trazidas do Irã permitiria tirar da cadeia de montagem cerca de 3.000 tratores por ano, segundo os dados oficiais. Porém, o escasso número de trabalhadores e as medidas especiais de segurança fazem pensar em outro uso. Com duplo muro de segurança, o exterior está custodiado pela Guarda Nacional Venezuelana. Parte de seu interior só é acessível a pessoal iraniano. Em 2008, um total de 22 conteiners que partiam do Irã e se dirigiam à fábrica de tratores foram interceptados na Turquia: tratava-se de material químico supostamente para a fabricação de explosivos.
Comentários e tradução: G. Salgueiro