Hoje um leitor postou um comentário tão importante que resolvi rejeitá-lo no espaço próprio e publicá-lo aqui, como parte da edição de hoje. Trata-se de um brasileiro que vive na Bolívia e que, por esta razão, sabe perfeitamente bem o que está acontecendo naquele país. A mensagem é uma carta encaminhada à revista “Isto É”, e como tenho certeza que ela será jogada com desprezo e nojo na lixeira, faço o que deveria ser a primeira responsabilidade de um órgão informativo: divulgar para o público leitor os fatos e não as versões encomendadas, maquiadas e censuradas.
A reportagem da “Isto É” é falsa, mentirosa, desinformação pura. Como o presidente-cocalero Morales classificou o embaixador Philip Goldberg como “persona non grata”, alegando que ele contribuía para a desestabilização do país, a repórter Luiza Villaméa endossa concluindo: “Os Estados Unidos revidaram, classificando da mesma forma o embaixador boliviano em Washington. É o fantasma do golpe de Estado rondando, de novo, a Bolívia”. Moça, vai estudar, pára de repetir tanta mentira e desinformação que o leitor merece respeito!
Esta revista tem a ousadia (ou cara de pau) de se dizer “independente” mas, do mesmo modo que 99% da mídia nacional, repete as mesmas baboseiras, mentiras e chavões do esquerdismo nacional e internacional, com a mesma linguagem viciada do politicamente correto. Dá vergonha ver os noticiários ou tentar ler o que dizem os jornais e revistas brasileiros sobre esta crise gravíssima que atravessa a Bolívia porque, é como diz aquela máxima comunista: se a teoria não corresponde aos fatos, pior para os fatos! A notícia que vai ser divulgada é aquela que foi estabelecida “por consenso” e fim de conversa; o leitor que se dane.
Pois muito bem. O Notalatina não tem rabo preso com ninguém, não é patrocinado ou subvencionado por nenhum órgão público ou privado, partido político, políticos ou empresários. Meu objetivo é buscar a verdade e desmascarar a fraude da “informação confiável” que alardeiam mas sonegam os nossos meios de comunicação.
E como já era previsto, Lula respaldou a atitude de Morales de expulsar o embaixador americano. Disse ele: “Se for verdade que o embaixador dos Estados Unidos se reunia com a oposição de Evo Morales, Evo está correto em expulsá-lo. É a famosa ingerência das embaixadas americanas em vários momentos da história do continente americano. Então, creio que houve um incidente diplomático, se o embaixador estava tendo injerência na política, Evo tem razão”. Nesta entrevista que Alejandro Peña Esclusa concedeu ontem de Santa Cruz de la Sierra a Marianella Salazar, uma das jornalistas mais combativas da Venezuela e por isso mesmo preseguida pelo psicopata Chávez, ele faz mais uma análise lúcida, clara, realista da situação atual da Bolívia e desmascara a farsa de um Lula “moderado” e democrata. Não deixem de ouvir porque as revelações que ele faz são importantíssimas e estão sendo sonegadas nas tv’s, jornais e revistas brasileiras.
E antes de transcrever a mensagem do leitor à revista “Isto É”, sugiro a leitura do documento que os governadores da “meia-lua” enviaram aos membros da UNASUL, considerando que estes não quiseram recebê-los em uma audiência onde pretendiam explicar o que estava acontecendo em seu país. E estes presidentes não quiseram recebê-los porque não estavam reunidos como chefes de Estado de nações irmãs mas como MEMBROS DO FORO DE SÃO PAULO, cujos interesses são diversos dos que deveriam ter caso fossem independentes e pensassem no bem dos seus países. O documento é este: A LOS EXCELENTISIMOS SEÑORES PRESIDENTES Y PRESIDENTAS DE UNASUR
Agradeço a importantíssima colaboração deste leitor - que não pode se identificar - porque o que ele diz em sua mensagem só vem corroborar o que o Notalatina e Peña Esclusa têm informado desde o início da semana.
Fiquem com Deus e até a qualquer momento!
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Por uma questão de segurança, pois vivo na Bolívia, deixarei de identificar-me. Justamente por ser testemunha ocular dos fatos e conhecer um pouco do passado recente desse país, gostaria de respeitosamente corrigir algumas informações no que se refere ao artigo “O risco do apagás” (Edição 2028 – 17/09/08)
Primeiro que não está comprovado absolutamente que os que fecharam as válvulas do gasoduto ao Brasil e causaram a explosão tenha sido gente da oposição. Embora considere que isso seja possível, afirmá-lo como fato pronto e acabado é descartar muito rapidamente a possibilidade de que tenha sido gente do próprio governo como uma maneira de despertar antipatia brasileira para o movimento oposicionista, além de encaixar-se na busca de pretextos para militarizar os departamentos (estados) da chamada meia-lua.
Segundo, a revista fala de posições irreconciliáveis. A primeira e corretamente contada é a de Evo Morales, estatizante e indigenista. Porém, ao falar do outro lado como sendo os “autonomistas das elites políticas e econômicas da oposição” a revista reproduz, ainda que talvez que sem saber o discurso do governo central, que cinicamente insiste em desconhecer a luta autonomista que vem praticamente desde a fundação de Santa Cruz e não está restringida às chamadas elites ou, como preferem os do partido de Evo Morales e seu “amigo” Hugo Chávez, as “oligarquias”. É inegável que há uma elite política e econômica em Santa Cruz, mas o apelo pela autonomia é um desejo das massas, como se pôde comprovar, entre outras coisas, pelo referendo relacionado ao tema realizado em junho, onde os números falam por si só. A favor da autonomia: 86% em Santa Cruz, 80,2 % em Beni, 80% em Tarija e 81,8% em Pando. O departamento de Chuquisaca prepara-se para realizar seu referendo sobre o assunto em novembro (conferir: http://www.la-razon.com/versiones/20080505_006263/nota_249_590407.htm, http://www.la-razon.com/versiones/20080602_006291/nota_249_606835.htm, http://www.la-razon.com/versiones/20080623_006312/nota_249_619442.htm).
Historicamente falando, todas as vezes que Santa Cruz tentou falar de autonomia, o discurso do governo central (ou seja, não é de hoje) foi de que o que desejavam era separatismo. Isso é reforçado agora, pois evidentemente autonomia (que é algo muito mais tímido que federalismo) não combina com governo centralista e autoritarismo.
Terceiro, Evo Morales teve seu mandato ratificado e não posso negar que tristemente as pessoas, principalmente as mais simples e incultas, foram fortemente influenciadas pelo maquinário propagandístico estatal, que funciona muito bem por sinal. O que a imprensa brasileira se esquece de contar é que o referendo revogatório foi realizado apesar das fortes e comprovadas acusações de que o padrão eleitoral boliviano está contaminado, com pessoas com dois até quatro cédulas de identidade com nomes diferentes, “mortos” votando, estrangeiros, tudo previamente azeitado por Venezuelanos que foram flagrados nos escritórios da Polícia (responsável pela emissão de documentos) altas horas da noite para “ajudar” nesse trabalho (ver, por exemplo, http://www.fmbolivia.com.bo/noticia2397-denuncian-que-venezolanos-ingresaron-al-registro-civil.html, http://www.eldiario.net/noticias/nt080810/2_02plt.php, http://www.eldeber.com.bo/2008/2008-08-10/vernotaahora.php?id=080810130643).
As acusações de fraude são tão evidentes que a Corte Nacional Eleitoral, composta no momento por apenas três elementos por obra e graça do senhor Evo e cujo presidente da instituição é partidário de Morales, num lampejo de bom senso resolveu não administrar o referendo sobre o projeto de constituição do MAS (partido do governo) enquanto não for feita uma auditoria completa (http://www.eldeber.com.bo/2008/2008-09-03/vernotaahora.php?id=080903173255).
A revista diz que “os governadores da oposição, que também tiveram seus mandatos ratificados, se negam a aceitar as regras do jogo democrático e decidiram radicalizar”. Primeiro, que quem já deu amplas mostras de que não estar interessado em respeitar o jogo democrático é o próprio presidente. Há vários exemplos, mas o mais recente é fato de que convocou o referendo sobre a constituição para 7 de dezembro com um Decreto Supremo (equivalente a nossa medida provisória), quando a lei expressamente diz que tem de ser convocado pelo congresso (mas no senado o governo é minoria, esse o temor). Além disso, disse com todas as letras que quando lhe informam que algo é ilegal, ele não se importa e diz a seus advogados que o legalizem (http://mirabolivia.com/foro_total.php?id_foro_ini=54885, http://www.eldiario.net/noticias/nt080809/3_01ecn.php).
Depois, é muito fácil falar para quem está de fora sobre “rebelião” dos governadores contra as regras do jogo. Pode ser que isso não seja justificável, mas é perfeitamente explicável quando se é testemunha dos freqüentes atropelos do governo central, sem um mínimo de respeito pelas regiões ditas autonômicas que, além do fator político, envolve sérios problemas de preconceito racial para com os “cambas” (habitantes do oriente). A medida é de extremo desespero, horrível para nós que vivemos aqui, mas, tristemente, parece ser um mal necessário para tentar pôr freio aos desmandos desse senhor que, com conexão direta com Caracas, não se importa uma vírgula com o que seja institucional.
Em que momento os governadores da oposição falaram de separatismo? Quando de depor ao presidente? Perguntem aos repórteres brasileiros que estão aqui. O que reclamam é o respeito à votação a sua autonomia, contra o projeto de constituição do MAS aprovado em um quartel e pela devolução do que têm direito por lei e que foi retirado pelo governo que é o Imposto Direto de Hidrocarburo (IDH). Embora a revista afirme corretamente que o dinheiro tomado é usado “para pagar aposentadoria para maiores de 60 anos pobres”, o valor necessário para fazer isso é muito inferior ao valor confiscado, evidenciando a verdadeira intenção do governo: debilitar economicamente os departamentos autonômicos (www.santacruz.gov.bo/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=645).
Peço que, por favor, investiguem os fatos aqui expostos para que os leitores possam ter uma idéia mais realista sobre o que realmente está se passando. É muito triste ver os acontecimentos serem distorcidos pelos órgãos de informação do governo e que esses consigam passar sua versão adiante. Um exemplo é o atual estado de sitio em Pando, onde o governo “estranhamente” não permite que cheguem jornalistas (somente os de Televisão Boliviana, do governo) nem gente dos direitos humanos ao mesmo tempo em que divulgam sua versão dos fatos e ameaçam com prender ao governador.
Na expectativa de poder haver cooperado, desde já agradeço.
Comentários e Traduções: G. Salgueiro